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Formatura da turma de 2017 da Énois. 'Fico feliz por não precisar ter feito uma graduação para dizer que sou jornalista', diz Jeferson, um dos formandos. (Foto: Reprodução/ Facebook/Énois). |
Com
um método de ensino voltado ao olhar da comunidade, escolas como a Énois e a
Você Repórter da Periferia vão além dos padrões dos jornais tradicionais e seus
estereótipos, levando diversidade e perspectiva para os jovens. Essa é a
definição que seus integrantes e ex-alunos dão aos cursos.
Jornalista
e co-fundadora da Énois, Amanda Rahra explica que é importante ensinar o aluno
a ter seu primeiro olhar voltado à periferia. "A agenda pública é importante para o jornalismo, mas o jovem não está
representado", diz ela, que defende a diversidade de pauta como um
método para disputar a narrativa com os veículos tradicionais.
A
Énois completará 10 anos em 2019. Fundada também pela jornalista Nina Weingril,
a escola possui um portal online com cursos gratuitos apresentados por meio de
videoaulas, instrutores especialistas e materiais de referência em um formato
de tutorial, inovando a linguagem utilizada para a educação online. A
plataforma conta com mais de 4 mil alunos cadastrados, além dos 500 jovens que
já se formaram presencialmente desde 2009.
Jeferson
Delgado é um dos jornalistas formados pela Énois, onde ele diz que "se descobriu". Antes, trabalhava
como vendedor de bebidas alcoólicas, quando soube da escola. "Nunca fui de estudar, odiava a matéria
de português na escola. Porém, eu já fazia jornalismo por conta do meu canal no
YouTube, o Favela Business. Nesse momento percebi que eu já praticava
jornalismo, com as entrevistas e a apuração do canal, isso tudo sem nunca ter
pisado numa faculdade", conta.
O
curso Você Repórter da Periferia, do Coletivo Desenrola e Não Enrola, é outro
que forma comunicadores e está com inscrições abertas para uma nova turma até o
próximo dia 22. Julia Cruz, estudante de Jornalismo e integrante do coletivo,
diz que as aulas são marcadas por três sentidos: a identidade, o território e
repertório.
"Se você vai pautar a periferia, sempre se
fala da violência, falta de políticas públicas etc, mas a gente sai da dinâmica
engessada das universidades. Falam que nós ensinávamos a fazer 'jornalismo
comunitário', mas não é isso, nós pautamos o jornalismo por meio das periferias
e para elas", explica.
Diploma?
Um
dos desafios das duas escolas é abrir o espaço de fala para o jovem periférico.
Com pouco espaço dentro das faculdades, os projetos servem como um estímulo
para que continuem a estudar depois de concluir o ensino médio.
"Nós somos desestimulados todo o tempo
ouvindo que não temos que estar nas universidades. Os jovens estão no ensino
médio e acham que devem sair de lá e arrumar um emprego, mas não é isso. Nós
mostramos outras alternativas. A gente vê o pessoal falando que quer entrar na
faculdade, estamos levando uma perspectiva de vida melhor", relata
Julia.
A
co-fundadora da Énois acrescenta que essas escolas são uma plataforma de
expressão para a juventude. "Eles
têm uma vivência em um mundo que é mais urgente, e podem usar esse conhecimento
no jornalismo, que é uma leitura de mundo, já que nem todos podem chegar na
faculdade."
Jeferson,
que já publicou matéria no portal UOL e também escreve para o site do Kondzilla,
maior canal brasileiro do YouTube, diz que pode falar de assuntos próximos com
mais propriedade. "A galera que lê o
texto se enxerga lá. Fico feliz por não precisar ter feito uma graduação para
dizer que sou jornalista", descreve.
Amanda
acrescenta que o jornalismo no Brasil é feito por uma maioria de homens
brancos, e a ideia do diploma mantém esse padrão. "Isso é reserva de mercado, é manutenção de privilégios. Deveriam
existir outras escolas de jornalismo, não pode ser um conhecimento restrito",
critica.
Ela
lembra que a falta de diploma não desqualifica o trabalho, já que a Énois
produziu diversos materiais importantes, como o Prato Firmeza, o primeiro guia
gastronômico das periferias de São Paulo, o documentário sobre jovens
imigrantes “Cara do Mundo, Cara de Sampa”,
além de diversas reportagens.
"Ter uma equipe com pessoas que possuem
ideias, cores e histórias diferentes faz você entender o outro. Isso amplia a
capacidade de se desenvolver. A gente empurra o mundo para a frente quando
apoia o jovem dentro de um jornalismo diverso", conclui Amanda. (Com
informações da RBA).
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