A
aguerrida resistência de boa parte dos “progressistas” do Congresso às mudanças
necessárias para voltarmos a um desenvolvimento econômico robusto e inclusivo
é, às vezes, levada à dignidade de diferenças “ideológicas”.
Por
Delfim Neto, No CartaCapital - Ledo engano: é apenas irresponsabilidade
aritmética. Creem que é no Orçamento que se criam os recursos, enquanto os
“caretas” sabem, porque é assim que funciona o mundo, que são os recursos que
limitam o Orçamento!
Não
há a menor hipótese de se conquistar um voto que se pensa “progressista” cuja
voz atinge altos decibéis e crê que um “grito” pode superar a aritmética. Resta
apenas vencê-lo com dois votos de quem sabe o que é a regra de três. Mesmo que
a esperança seja vã, cremos que vale mais um esforço para capturar um incauto
“progressista”.
Comecemos
tentando dar carne e osso ao indicador geral macroeconômico da economia que
chamamos de PIB. Num período de tempo convencional, ele é a soma dos valores
adicionados em todo processo produtivo.
E
o que é o “valor adicionado”? É o total monetário do valor comercializado de
qualquer bem ou serviço descontado de todas as compras de bens ou serviços para
produzi-lo. Por exemplo, o “valor adicionado” de um par de sapatos é igual ao
seu preço descontado de todas as compras feitas para produzi-lo.
O
que sobra quando fazemos isso? Apenas o salário dos trabalhadores e o lucro do
produtor. No final, o PIB é o valor da soma de todos os salários e de todos os
lucros realizados em todo o processo produtivo, medidos na unidade de valor do
período. Vamos chamá-lo de (Y).
Que
uso pode fazer a sociedade do que foi produzido (Y)? Para organizar suas ideias
os economistas construíram a contabilidade nacional, que o divide em consumo
das famílias (C), investimento (I), consumo do governo (G), exportação (X), da
qual se subtraem as compras externas, as importações (M). Trata-se da
conhecida, mas muito maltratada identidade convencional: Y = C + I + G + (X –
M).
Para
avaliar a evolução das quantidades de bens e serviços ao longo dos anos,
calcula-se o PIB de cada ano, com os preços de um ano-base. O IBGE faz isso com
os preços de 1995. Com isso damos concretude física à evolução da quantidade de
bens e serviços posta à disposição da sociedade. Ele mede o desenvolvimento
econômico.
Para
entender o “imbróglio” que estamos vivendo, basta lembrar que, nas últimas duas
décadas, o PIB físico cresceu à ridícula taxa de 2,2% ao ano, acumulando um
crescimento de 55%. Ficamos relativamente mais pobres, porque o mundo cresceu
cerca de 77% no mesmo período.
Esse
é um problema menor diante do fato de que, no período, a despesa real do
governo cresceu a 5,4% ao ano, acumulando o fantástico crescimento de 180%!
Aumentamos sistematicamente o consumo e reduzimos o investimento do governo.
Por
exemplo, demos ganhos de produtividade aos aposentados e pensionistas (a quem
deveríamos, apenas, manter constante o seu poder de compra), em lugar de
aplicá-los no aumento da produtividade dos que estão na atividade e que devem
sustentá-los.
Isso
autoriza três conclusões: 1. O crescimento robusto do PIB é a condição
necessária para realizar as políticas sociais civilizatórias implícitas na
Constituição de 1988, até agora sujeitas a idas e vindas. 2. Ao “populismo”
oportunista sempre faltará fôlego se não insistir no investimento e na
exportação, mas pode até se beneficiar de alguma sorte no curto prazo.
Distribuir
judiciosamente ganhos eventuais nas relações de troca é inteligente e razoável,
mas esquecer que são passageiros contém em si uma tragédia anunciada. Os
fracassos do “populismo” no mundo nos últimos 70 anos, em todas as suas
experiências, são uma prova empírica indisputável de sua insustentabilidade.
3.
O verdadeiro crescimento sustentável requer um consistente aumento da
produtividade do trabalho e toda evidência empírica revela que esta é função da
quantidade e da qualidade de capital à disposição de cada trabalhador e do
tamanho do mercado.
Estamos
reduzindo o nosso estoque de capital. Logo, estamos num processo de
subdesenvolvimento! A saída é voltar a ser colônia, o que, infelizmente, é cada
vez mais evidente.
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Temer vem todo dia quebrando o país. Foto: Divulgação. |
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