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ROBERTO JEFFERSON |
Roberto
Jefferson é um sujeito de sorte. Apanhado em flagrante de corrupção no caso dos
Correios, encontrou na grande mídia e na opinião pública por ela influenciada a
tribuna conveniente para encobrir o próprio delito através de ataques contra as
mais destacadas personalidades do Governo Lula, imediatamente abaixo do próprio
Presidente. Sim, porque Jefferson, notável manipulador, sabia que não adiantava
atirar para baixo. Tinha que visar em cima pois do contrário não haveria
interesse da mídia e da opinião pública.
Ele
sabia, assim, que a grande mídia correria para lhe dar cobertura. Afinal, desde
que o jornalismo investigativo no Brasil, muito arriscado no tempo da ditadura,
se tornou jornalismo da calúnia impune, denunciar escândalos, reais ou
imaginários, se tornou o caminho quase único para recuperar a clientela perdida
para a Internet. Nesse jogo atira-se na lama a credibilidade de todas as
instituições da República, disseminando a ideia de que a corrupção é sistêmica,
generalizada e impune – exceto a corrupção da própria imprensa.
Pegar
para Cristo um “peixe” grande como José Dirceu, junto com outros notáveis do
PT, é como atirar cristãos aos leões do Coliseu: a própria grande mídia se
encarrega de preparar o gosto do público para o espetáculo. As forças articuladas
com esse propósito são esmagadoras. A mídia parcial não raro inventa a
denúncia, divulga-a sem crítica, investiga superficialmente, acusa e julga. Na
medida em que seu julgamento não tem peso institucional, joga todo o seu poder
ideológico para influir na decisão dos juízes, alegando que devem levar em
conta o clamor da opinião pública que ela própria manipulou.
Sorte
de Roberto Jefferson, porque, no meio da algaravia suscitada por sua denúncia
“bomba”, poucos, e ninguém da grande mídia, pararam para perguntar o que fez
com os R$ 4 milhões que confessadamente recebeu do PT. Se os embolsou, como é
provável, traiu seus próprios companheiros de partido. E foi provavelmente para
compensar de alguma forma os companheiros que fez uma tentativa desesperada de
receber mais. A explosão do escândalo dos Correios – este, sim, real -, expondo
negociatas sob sua influência explícita na direção da estatal, deu-lhe o
pretexto para colocar fogo no circo, depois de criar o circo.
A
sorte incrível de Roberto Jefferson é que a grande mídia não fez qualquer
esforço para rastrear o destino do dinheiro que
confessadamente
recebeu. Se isso tivesse ocorrido, cairia por terra, por falta de credibilidade
do autor, o único testemunho verbal de que José Dirceu teria chefiado uma suposta
quadrilha para comprar votos de parlamentares. Cairiam por terra, juntas, as
teses do “mensalão” – esta posteriormente desacreditada pelo próprio Jefferson,
diante da evidência de que não poderia ser provada – e da utilização de
dinheiro público para o esquema.
Restaria
por fim o único e grande pecado, não exatamente crime, de Dirceu: ter feito
negócios políticos com Jefferson, eventualmente pensando em política, quando
para Jefferson o importante são os negócios - especialmente captação de
dinheiro através de diretorias de estatais, como ele próprio reconheceu, sem
nenhum protesto moral da grande mídia.
A
sorte de Roberto Jefferson vai além. Diante da exposição pública das peças de
acusação e de defesa, ficou muito claro que o Procurador Geral da República, o
atual e o antecessor, montou um teatro fictício, baseado muito mais na retórica
do que em provas. Para sorte de Jefferson, a grande mídia – falo sobretudo da
televisão – foi forçada a acentuar o enredo fantasioso com depoimentos de
jornalistas e advogados de descarada parcialidade, talvez como forma de
justificar, a cada passo do julgamento, a parcialidade inicial com a cobertura
exagerada e teatral da acusação.
Não
é uma distorção apenas de texto. Os gestos também falam. O Procurador é sempre apresentado
na tevê como um exemplo de distinção, cada pedaço de sua denúncia é repetido
com ares de verdade definitiva, a expressão do olhar do apresentador quando a
ele se refere é grave.
Quando
se trata da defesa, o comentarista fala com um esgar de incredulidade, a
expressão maliciosa, às vezes uma piscadela para insinuar mentiras do advogado.
Há parcialidade também na divisão de tempo: o da defesa é frequentemente
invadido pela fala do Procurador como se fosse uma contestação em tempo real
dela própria.
O
teste definitivo da sorte de Roberto Jefferson vem agora. Veremos como se
comportará o Supremo diante da suposta pressão da opinião pública, o único
elemento que resta para uma condenação midiática. Um notável e honrado
ex-ministro do Supremo, Sepúlveda Pertence, disse-me uma vez, a propósito de
julgamentos de crimes financeiros, que os ministros são vítimas de ignorância
específica. Este, contudo, não é o caso. Não estamos diante de acusação de
crimes financeiros, exceto na parte claramente descaracterizada como crime do
Visanet. Os ministros farão história. Honrarão sua biografia, ou honrarão a
biografia de Roberto Jefferson - o qual, nessa hipótese, confirmará para sempre
a sua boa sorte.
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