Unesco reconhece. Reggae agora é Patrimônio Cultural da Humanidade


Edson Gomes é um dos responsáveis pela disseminação do reggae no Brasil. (Foto: Reprodução/Hypeness).

Demorou, mas o reggae entrou na lista de Patrimônio Imaterial da Unesco. O ritmo imortalizado pelo grande Bob Marley a partir da década 1960, foi descrito pela organização como um gênero musical criado em um espaço cultural de grupos marginalizados de Kingston, na Jamaica e imprescindível para o debate de questões como a injustiça, a resistência, amor e humanidade.

O reggae possui influências marcantes da música africana, caribenha e o blues norte-americano. O estilo está associado ao desenvolvimento progressivo do ska e do rocksteady na Jamaica da década de 1960.

A ascensão do reggae se deu, sobretudo, pelo sucesso do The Wailers, grupo formado por Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer. O conjunto montado em 1963 é conhecido por abarcar os três estágios da evolução do gênero. O repertório apresenta hits do ska, como Simmer Down, uma pegada rocksteady, para desaguar no reggae.

É preciso lembrar também as contribuições de Alpha Blondy, Jimmy Cliff, Judy Mowatt, entre outros. Claro que Bob Marley é a grande estrela e o principal embaixador do reggae. Na década de 1970, o jamaicano chamou o protagonismo pra si.

Bob cruzou os quatro cantos do planeta disseminando mensagens de paz, incentivando o orgulho negro, ao mesmo tempo em que propunha um levante social contra os sistemas de opressão.

Em tempo, a crítica social é o grande diferencial do reggae. Ao cantar contra a desigualdade, fome, racismo e outros problemas sociais, inspira o desenvolvimento de cabeças pensantes. Nesse sentido, o estilo se assemelha muito com o rap.

"Emancipem-se da escravidão mental
Ninguém além de nós mesmos pode libertar nossa mente
Não tenha medo da energia atômica
Porque nenhum deles pode parar o tempo

Por quanto tempo vão matar nossos profetas
Enquanto ficamos parados olhando? uh!
É, alguns dizem que é só uma parte disso
Temos que completar o livro”.

- Bob Marley em Redemption Song

Movimento Rastafári

A estética é outro elemento do reggae. Ela está presente nas cores verde, amarelo e vermelho e também nos dreadlocks. No caso do cabelo, a opção vai além do estilo. Os locks são símbolo de resistência. Os dreads possuem ligação direta com África e a luta de negras e negros pela afirmação de sua cultura.

As madeixas de foram adotadas por seguidores do Movimento Rastafári.  O rastafarianismo é uma expressão religiosa nascida na África na década de 30 do século 20. Os seguidores adoram Haile Selassie, primeiro imperador negro a governar um país africano. Seu reino se deu na Etiópia entre 1930 e 1974 e ele é considerado a manifestação ressurrecta de Yahshya (Jesus), sendo, portanto, a reencarnação de Jah (Jeovah ou Deus).

Os dreads desembarcaram nas Américas a partir da Jamaica. Em agosto de 1834, após o fim da escravidão, eles se popularizaram. O estilo foi adotado por ex-escravizados como forma de afirmar sua cultura diante da sociedade.

Vem me regar, mãe!

O reggae é super popular no Brasil, especialmente nos estados nordestinos do Maranhão e Bahia. São Luís se tornou a capital do reggae na década de 1980. A  Jamaica Brasileira nasceu com a chegada de marinheiros ao porto da capital maranhense com discos trazidos da Jamaica. Pelo menos é o que reza a lenda.

Ao G1, o antropólogo e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Carlos Benedito Rodrigues da Silva, aponta um caminho diferente. O docente explica que as pessoas que foram trazidas escravizadas para o Maranhão e para a Jamaica pertenciam aos mesmos grupos, daí o gosto pelo reggae.

Tem algumas semelhanças dos quilombolas jamaicanos com os encontrados no Maranhão, e também nos ritmos jamaicanos com os ritmos do tambor de crioula. Possivelmente essas pessoas foram trazidas do mesmo lugar”, pontua.

Na Bahia, o movimento tem como referência o cantor Edson Gomes, autor de sucessos como Árvore e Camelô. O gênero se faz presente nas ruas de Salvador, tocando nas caixinhas de som de vendedores ambulantes e animando festas na praia. Tudo a ver com o sol dominante e o céu azul da boa terra.

Gilberto Gil chegou a gravar um disco homenageando a carreira de Bob Marley. O baiano produziu o álbum em Kingston, na Jamaica, ao lado de nomes como Rita Marley, Judy Mowatt e Marcia Griffiths, as I Threes. (Com informações do Hypeness).


O SUS sobreviverá à era Bolsonaro?


Multirão na Bahia. (Foto Públicas/Reprodução/CartaCapital).

Três décadas depois da sua criação, o Sistema Único de Saúde entra na fase mais crucial da sua história. Embora repleto de problemas, principalmente nos grandes centros urbanos, e historicamente subfinanciado, o SUS está entre os modelos mais abrangentes de atendimento no planeta. Cerca de 70% da população brasileira depende exclusivamente do serviço público e muitos tratamentos de alta complexidade só são oferecidos pela rede estatal.

O embate com Cuba no caso do programa Mais Médicos e a escolha do deputado Luiz Henrique Mandetta para o Ministério da Saúde indicam, porém, um propósito de desmonte do SUS a partir de janeiro de 2019, quando Jair Bolsonaro recebe a faixa presidencial de Michel Temer.
Apesar de ter prometido respeitar a Constituição, Bolsonaro não mede as consequências de suas diatribes ideológicas. O caso do Mais Médicos é sintomático. A partida dos cerca de 8 mil profissionais cubanos vai deixar, ao menos temporariamente, 2,8 mil municípios e 34 distritos sanitários especiais indígenas sem atenção básica de saúde, um dever do Estado, estabelece a Carta Magna.

O futuro ministro da Saúde, ortopedista e deputado federal pelo DEM do Mato Grosso do Sul (não reeleito para o próximo quadriênio), não parece preocupado. Uma de suas primeiras declarações após o anúncio de sua indicação, na terça-feira (20), teve um alto teor político.

“Esse era um dos riscos de se fazer um convênio terceirizando uma mão de obra tão essencial. Os critérios, à época, me parecem que eram muito mais um convênio entre Cuba e o PT, e não entre Cuba e o Brasil, porque não houve uma tratativa bilateral. Mas sim uma ruptura”, disse Mandetta.

A indicação do deputado para o segundo ministério com maior orçamento em 2019, 128 bilhões de reais, contou com o apoio da Frente Parlamentar da Saúde, de entidades da área médica e dos hospitais filantrópicos, como as Santas Casas – após o atentado à faca, Bolsonaro foi operado emergencialmente na unidade de Juiz de Fora (MG), que acaba de receber o repasse de 2 milhões de reais via emenda parlamentar do ainda deputado e presidente eleito.


Deputado pastor Marco Feliciano para Ministério da Cidadania. A indicação é da bancada evangélica


(Foto: Arquivo/ Reprodução/ Revista Fórum).

Em reunião com o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), nesta terça-feira (27), integrantes da bancada evangélica indicaram o nome do deputado Marco Feliciano (Podemos/SP) para comandar o Ministério da Cidadania. A informação é da jornalista Daniela Lima, da coluna Painel, na edição desta quarta-feira (28) da Folha de S.Paulo.

A pasta, que deve ser criada por Bolsonaro, abrange Direitos Humanos, Cultura, Esportes e Desenvolvimento Social.

Pastor da Catedral do Avivamento, uma igreja neopentecostal ligada à Assembleia de Deus, Feliciano já foi acusado de estupro pela jornalista Patrícia Lelis, que frequentava a mesma igreja do deputado. O chefe de gabinete do deputado federal, Talma Bauer, chegou a ser preso por sequestrar a jovem e forçá-la a gravar vídeos defendendo o deputado, para desmentir a denúncia.

Feliciano é também conhecido por declarações racistas, homofóbicas e misóginas. Ele chegou a ser processado pelo cantor Caetano Veloso por injúria e difamação por conta de postagens ofensivas que publicou nas redes sociais.

Na semana passada, os evangélicos vetaram o nome de Mozart Neves Ramos para o Ministério da Educação. A bancada disse a aliados de Jair Bolsonaro que o diretor do Instituto Ayrton Senna era contra o Escola sem Partido, plataforma defendida pelo presidente eleito e pelos religiosos.

Encontro com a bancada

A bancada evangélica e a delegação de Bolsonaro se encontraram na tarde desta terça-feira (27), por aproximadamente uma hora, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, onde funciona o governo de transição. O presidente eleito pediu à bancada evangélica no Congresso para indicar o titular do futuro Ministério da Cidadania e deu apenas um aviso: o indicado não pode responder a acusações criminais. “Não queremos réu”, afirmou.

Um dos programas mais cobiçados do novo ministério é o Bolsa Família, criado pelo governo Lula e que beneficia mais de 13,5 milhões de famílias. Fiel a um hábito recentemente iniciado pelo senador Magno Malta (PR-ES), também evangélico, a reunião no CCBB também contou com um momento de oração, com a palavra do deputado reeleito Pastor Eurico (Patriota-PE), um dos principais líderes da frente evangélica.

Além de Feliciano, o nome do deputado federal Gilberto Nascimento (PSC-SP), que por ser delegado da Polícia Civil, integra também a bancada da bala. (Com informações da Revista Fórum).

Movimento iniciado em 2015 em Beberibe trabalha uma infância sem racismo


Movimento por uma infância sem racismo em Beberibe - CE / Imagem: Reprodução - Facebook - Circo Multicor.

Iniciado no ano de 2015, o movimento, desenvolvido no município de Beberibe no estado do Ceará traz a marca da relação entre o sonho e a realidade, num processo de construção coletiva, repleto de aprendizados e desafios. O trabalho partiu de um projeto de leitura que em 2010 desenvolvi numa escola pública local, enquanto professora de ensino fundamental, no desenvolvimento do trabalho de intervenção literária afrobrasileira para discutir questões relacionadas a identidade e analisar as relações étnico-raciais  na escola e comunidade por meio da literatura afro-brasileira, quando me deparei com uma cena de racismo que me fez refletir sobre a educação étnico-racial oferecida às nossas crianças e adolescentes. Esse cenário sinalizava seguir adiante. Após trabalhos de pesquisa nas escolas públicas, junto a profissionais sobre as situações de racismo na escola, foram observados dois aspectos fundamentais: que as crianças negras são vítimas de chacota e imagens depreciativas que prejudicam sua auto-estima, afastando-as da convivência em grupo.

Outro aspecto referia-se a situação da escola que apesar da implantação da Lei 10.639/03 que estabeleceu as Diretrizes da educação das relações étnico-raciais e posterioriromente alterada pela Lei 11.645/08 (BRASIL, p. 17-29), ainda limitava-se a ações pontuais. O racismo, na maioria das vezes, é naturalizado por ela, e não efetivadas as denúncias. Os  professores em sua maioria, não conseguem fazer um debate mais aprofundado da temática, principalmente no Ensino Fundamental I, a literatura afro-brasileira sequer era conhecida. O que ocorre são esforços individuais sobre o assunto “Pesquisa Direta – Lima1, 2011”.

Em 2014 a gestão municipal aprovou expandir a experiência para nove escolas da rede municipal e na linha da política de proteção envolvendo grupos de Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) do município. Por outro lado, buscou-se impulsionar os profissionais para o desenvolvimento de práticas pedagógicas de elogio à diversidade e de superação do preconceito racial, propondo uma infância livre do racismo, incluindo assim questões como identidade e raça. Sendo um trabalho contínuo e anual, inserido nos planejamentos de atividades dos espaços educacionais e de convivência, envolvendo ações de atendimento direto, destacando elementos literários afro-brasileiros e demais linguagens, como poesia, teatro, dança e música, para que crianças e adolescentes tenham contato com temas variados e que expressem respeito às diferenças sociais, étnicas e culturais do povo brasileiro, bem como ações itinerantes e envolvimento com entidades da Sociedade Civil, famílias e comunidade.

O que era um objetivo tornou-se o projeto: Beberibe Multicor – Um movimento por uma infância sem racismo. Apoiado pelo Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente (CMDCA), o qual o indicou a concorrer ao Edital de Apoio aos fundos desse Conselho formalizado pela Fundação Itaú Social, sendo aprovada a parceria através de recursos para o ano de 2015.

Uma das ações executadas pela gestão municipal em parceria com a Sociedade Assistencial de Beberibe (SABE) - Organização da Sociedade Civil, sem fins lucrativos com 34 anos de história em Beberibe, foi a publicação de 06 obras literárias infanto-juvenil de autores regionais e locais, acerca da temática, totalizando a distribuição de 4.000 livros no território local e outros estados.

No ano de 2018 a SABE assume a execução do Projeto, trazendo uma das ações itinerantes do movimento para tornar-se O Circo Multicor – Arte e Educação por uma Infância sem Racismo, como espaço de referência na valorização do patrimônio histórico e cultural dos afrodescendentes, no atendimento a 1.400 crianças e adolescentes das 34 escolas da Rede Municipal de Ensino e 04 comunidades tradicionais do município de Beberibe, na perspectiva de combater o racismo na infância por meio de vivências, intervenções artísticas e literárias, incluindo ações de mobilização dos atores sociais que compõem o SGD.

Agradecemos a oportunidade de contar a nossa história com a possibilidade de que ela chegue a outros muitos terreiros desse nosso chão chamado Brasil.

Venham nos conhecer! (Com informações do Circo Multicor).

5 pensadores africanos contemporâneos que você precisa conhecer


Léopold Sédar Senghor, filósofo e Presidente do Senegal / Foto: Divulgação - Reprodução - Revista Galileu.

Embora seja pouco estudada em outros países, a filosofia praticada nos países da África é bastante rica e remonta à Antiguidade.

A filosofia e cultura africanas recebem menos atenção do que merecem, mas têm grande influência no pensamento ocidental. Ao longo da história, pensadores de diferentes regiões da África contribuíram de maneira decisiva para a filosofia grega, principalmente por meio do egípcio Plotino, um dos maiores responsáveis por perpetuar a tradição acadêmica de Platão. Na filosofia cristã, o algeriano Augustine de Hippo estabeleceu a noção do pecado original.

Segundo o nigeriano K.C. Anyanwu, a filosofia africana é “aquela que se preocupa com a forma como o povo africano do passado e do presente compreende o seu próprio destino e o do mundo no qual vive”. Conheça alguns dos principais pensadores da modernidade:

Léopold Sédar Senghor (Senegal)

Nascido em 1906, Senghor estudou na Sorbonne, de Paris, e foi a primeira pessoa do continente a completar uma licenciatura na universidade parisiense. Foi um dos responsáveis por desenvolver o conceito de negritude e um movimento literário que exaltava a identidade negra, lamentando o impacto que a cultura europeia teve nas tradições do continente. Em 1960, o Senegal foi proclamado independente muito graças ao apelo que Senghor dirigiu ao então presidente francês, Charles de Gaulle. Ele foi então eleito presidente da nova república, cargo que ocupou até 1980. Senghor morreu em 20 de dezembro de 2001, aos 95 anos, na França.

Henry Odera Oruka (Quênia)

Oruka viveu entre 1944 e 1995 no Quênia e foi o principal responsável por distinguir a filosofia africana em quatro grupos principais. A etnofilosofia, a abordagem que trata a filosofia africana como um conjunto de crenças, valores e pressupostos implícitos na linguagem, práticas e crenças da cultura africana. A sagacidade filosófica, espécie de visão individualista da etnofilosofia, consiste no registro das crenças dos sábios das comunidades africanas. A filosofia ideológica nacionalista, uma forma de filosofia política. E a filosofia profissional, que seria uma forma mais europeia de pensar, refletir e raciocinar. Ele era do grupo que defendia a sagacidade filosófica, e nos anos 1970 iniciou um projeto para preservar o conhecimento dos sábios de comunidades africanas tradicionais.


O filósofo Henry Oruka / Foto: Divulgação.

Cheikh Anta Diop (Senegal)

O antropólogo e historiador senegalês que estudou as origens dos humanos e a cultura da África pré-colonial é tido como um dos maiores pensadores africanos do século 20. Foi um dos responsáveis por contestar a ideia de que a cultura africana é baseada mais na emoção do que na lógica, mostrando que o Antigo Egito estava inserido na cultura africana e deu grandes contribuições para a ciência, arquitetura e filosofia. Ele viveu entre 1923 e 1986.


Cheick Anta Diop / Foto: Divulgação.


Ebiegberi Alagoa (Nigéria)

Entre as teorias do professor da Universidade de Port Harcourt, nascido em 1933, é a de que existe toda uma filosofia  baseada em provérbios tradicionais do Delta do Níger. O provérbio “o que um velho vê sentado, o jovem não vê em pé”, por exemplo, serviria para mostrar como na filosofia e cultura africana a idade é um fator crucial para a sabedoria.

Wole Soyinka (Nigéria)

Vencedor do Nobel de Literatura de 1986, foi considerado um dos dramaturgos contemporâneos mais refinados, com textos classificados como cheios de vida e sentido de urgência. Suas obras costumam retratar a Nigéria contemporânea. Soyinka nasceu em 1934 em uma tradicional cidade iorubá, uma das maiores etnias do país.

Embora sua família tenha se convertido ao cristianismo, ele se manteve fiel à visão de mundo iorubá. Soyinka é um forte crítico de governos autoritários, que incluíram o regime de Robert Mugabe no Zimbábue e, mais recentemente, e eleição de Donald Trump nos Estados Unidos (ele possuía um visto permanente norte-americano, mas o rejeitou após a eleição de Trump e voltou para a Nigéria). Ele chegou a ser preso em 1967 durante a guerra civil nigeriana e ficou em confinamento solitário por dois anos. (Com informações Revista Galileu).

Soyinka / Foto: Wikimedia Commons.