Temer quer ser presidente em 2019. Mas ficaria feliz com ministério e foro


Representantes e emissários de Michel Temer, aproveitando a nova campanha publicitária do governo federal ''Intervenção federal no Rio: Guerra e você, tudo a ver'', começaram a circular a informação de que o ocupante do Palácio do Planalto passou a ser um nome viável para as eleições presidenciais de outubro.

Logo ele, que continua menos popular que aquela broca mais fininha do dentista.

Diante disso, colegas com boa fé passaram a calcular suas chances, abusando do uso do tempo condicional. Ou seja, se as Forças Armadas entregarem o esperado efeito placebo na capital carioca, se houver geração em massa de empregos formais, se o Brasil não levar outro chocolate alemão na Copa.

Ou se Mercúrio retrógrado fizer com que os brasileiros esqueçam a forma como enxergam Temer. Em outras palavras, um denunciado por corrupção que comprou votos com dinheiro público para escapar; um vice que, ao invés de esperar o desenrolar do processo de impeachment, conspirou contra sua colega de chapa; um homem que no Dia Internacional da Mulher disse que a maior participação do gênero feminino na economia era através da administração do orçamento doméstico; um presidente que mentiu, afirmando que fiscais do trabalho haviam caracterizado escravidão em uma construtora devido à falta de uma mera saboneteira em um chuveiro de um alojamento, escondendo mais de 40 outras irregularidades.

Temer é um político pragmático. A menos que esteja usando alguma droga forte, sabe bem que é mais fácil o tal camelo passar pelo buraco da tal agulha do que ele conseguir se eleger. Sobre esse feito, deixo claro que há dúvidas se o camelo do trecho bíblico é mesmo o animal ou uma tradução da palavra ''corda'' e se a agulha refere-se, na verdade, a uma passagem em um muro. Mas esse questionamento é uma informação completamente irrelevante para o texto, tanto quanto uma análise eleitoral, hoje, com Temer no páreo.

Caso se candidate, dirá que é para resgatar um mínimo de respeito público através da defesa do seu, digamos, ''legado''. Mas é provável que esteja tentando vender alto o apoio da máquina do governo a outro candidato, seja no segundo turno (caso ele resolva sair candidato) ou já no primeiro.

O custo para isso pode ser a garantia de um foro privilegiado para ele, que ficará descoberto sem mandato, diante de pendências criminais. O oferecimento de um ministério, como o das Relações Exteriores pode ajudar ao futuro ex-presidente a não cair nas mãos da Lava Jato na primeira instância e, portanto, estaria de bom tamanho.

Claro que esse combinado teria que ser garantido por baixo do pano, afinal poucos candidatos competitivos gostariam de Temer a menos de 100 metros de distância de suas campanhas. Por outro lado, se ele resolver sair, será o para-raios mais que perfeito, atraindo todas críticas ao seu mandato e aliviando para os aliados.

Particularmente, se eu fosse ele, tomaria cuidado com promessas. Tem gente que garante que vai estar junto até o fim. Mas, quando fareja o poder, abandona qualquer um no meio da rua. Imagino que ele conheça pessoas desse tipo. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).

(Foto: Ueslei Marcelino/ Reuters).

A história das lésbicas que enganaram a Igreja para se casar e que agora inspira filme

Marcela Gracia Ibeas e Elisa Sánches Loriga, em foto de casamento.
(Foto: José Sellier).
Em 1901, Marcela e Mário se casaram na Igreja Católica de São Jorge, na cidade de La Coruña, noroeste da Espanha. Mário tinha sido batizado no mesmo dia, dizendo que era filho de pais ingleses protestantes e que queria se converter ao catolicismo.

O detalhe incrível da história é que Mário, na verdade, era Elisa Sánchez Loriga, disfarçada com conhecimento de Marcela, para conseguirem se casar na Igreja. Até hoje, esse é o único casamento do mesmo sexo conhecido na história da Igreja Católica espanhola. É também um caso pioneiro de união homossexual no mundo.

Agora, a história do casal vai virar filme. "Quando eu penso sobre essas duas mulheres e a coragem de uma delas de se passar por homem, foram muito valentes", afirma Isabel Coixet, realizadora do filme.

Enredo elaborado

Elisa e Marcela Gracia Ibeas se conheceram em meados dos anos 1880 em La Coruña. "Marcela era aluna da escola de magistério. Elisa tinha estudado anteriormente para a mesma carreira e estava trabalhando na escola. Foi então que elas se apaixonaram", conta o escritor Narciso Gabriel, autor do livro Marcela e Elisa, muito além dos homens.

O casal enfrentou objeção da família de Marcela, que a enviou para Madri para que ficasse longe de Elisa. Mas, de acordo com Narciso Gabriel, as duas deram um jeito de continuar a se ver. Nessa época elas teriam planejado o casamento.

Primeiro, Elisa e Marcela simularam que brigaram e que não estavam mais juntas. Além disso, Marcela, estava grávida de um homem não identificado e anunciou que se casaria com um primo de Elisa, chamado Mário, que teria sido criado em Londres.


Então, com corte de cabelo curto e vestida de terno, Elisa se passou pelo rapaz.

Assédio da imprensa e da sociedade

Após o casamento, Elisa e Marcela tiveram pouco tempo de sossego. Uma foto do casal acabou na primeira página do jornal local, La Voz de Galicia, com os dizeres: "Um casamento sem um noivo".

A história se espalhou rápido. "O público mostrou um interesse enorme em saber os detalhes da história, a imprensa competiu para publicar a foto exclusiva. O caso teve uma grande repercussão não só na Galícia, mas também em Madri e na imprensa de outros países, como França, Bélgica e Argentina", contou Gabriel. A Justiça, por sua vez, decretou um mandado de prisão.

Diante do assédio da imprensa e da perseguição da Igreja e da polícia, o casal fugiu para a cidade do Porto, em Portugual.

Elisa e Marcela se mudaram para Portugal, fugindo da justiça espanhola. (Foto: Getty Images).

Em terras portuguesas, Elisa passou a se chamar de Pepe. Sob o disfarce de um casal heterossexual, as duas viveram por dois meses. Nesse período, nasceu a filha de Marcela. Porém, em agosto de 1901, a pedido da polícia espanhola, foram detidas e levadas para a prisão em Portugal.

Segundo Gabriel, o caso começou a ganhar "uma cobertura em Portugal tão espetacular como a que aconteceu na Espanha". Mas, ao contrário das notícias espanholas, a imprensa portuguesa foi favorável ao casal. "A imprensa tomou partido da causa de Marcela e Elisa, assim como parte da sociedade portuguesa e alguns residentes espanhóis do Porto", conta ele.

Apesar de toda essa comoção, Portugal aceitou a extradição do casal, solicitada pela Espanha. Porém, antes de serem enviadas de volta, Elisa foi inocentada da acusação de adulteração de documento e Marcela, de tentar encobrir o crime.

Antes da extradição, no entanto, Marcela e Elisa escaparam. Desta vez, rumo à Argentina, onde, novamente, mudaram suas identidades. Em Buenos Aires, Marcela passou a se chamar Carmen; Elisa assumiu o nome de Maria.

Como milhares de imigrantes galegos, casal Elisa e Marcela começou uma nova vida em Buenos Aires.
(Foto: Getty Images).
Nova vida na Argentina

Elisa desembarcou na Argentina em 1903, dois anos após o casamento. Pouco tempo depois, chegou Marcela, acompanhada da sua filha.

A vida das jovens em Buenos Aires, a princípio, não parecia ser muito diferente da de milhares de imigrantes galegos que viviam na cidade.

Alguns meses depois, no entanto, a história sofreu uma nova reviravolta. Elisa - que na Argentina tinha o nome Maria - se casou com um homem de origem dinamarquesa. "O casamento não foi feliz e termina mal, entre outras coisas, porque Elisa se recusa a ter relações sexuais com o marido", conta Gabriel. O homem acabou denunciando Maria, dizendo que suas intenções ao se casar com ele eram fraudulentas.

O que aconteceu depois? Elisa continuou vivendo com seu marido dinamarquês? Para onde foram Marcela e sua filha? O desfecho desta história é desconhecido. As pistas das vidas das protagonistas se perderam nesta época, afirma Gabriel. Há apenas um relato de um jornal mexicano, de 1909, dizendo que Elisa havia se suicidado no país.

Verônica e Tiana foram as primeiras mulheres a se casarem no civil na Espanha, em 2005. (Foto: Getty Images).

Apesar de o casamento civil entre homossexuais ser legal na Espanha há mais de uma década, ativistas LGBT no país dizem que ainda hoje há ecos da luta de Elisa e Marcela.

"Uma lei não provoca uma mudança automática na sociedade. Ainda hoje há pessoas que mantêm sua sexualidade em segredo. Outras ainda se casam mas não tiram a licença a que têm direito após o casamento, devido a vergonha ou medo de ser demitidas", fala a socióloga e ativista Inmaculada Mujika Flores.

Mais de cem anos depois, o "casamento sem homem" de Elisa e Marcela continua causando admiração. (Com informações do BBC).

Livro discute crise política brasileira pelo olhar das mulheres


Será lançado no próximo dia 2, às 19 horas, na sede do PSOL, em Fortaleza, o livro “Tem Saída? Ensaios Críticos sobre o Brasil”, da Editora Zouk. A publicação reúne formulações de dezenas de mulheres que buscam apresentar um panorama nacional sobre a situação política brasileira. Na programação, a presença de Helena Vieira (uma das autoras) e de Joanna Burigo (organizadora) que baterão papo com convidados.

A obra, que congrega ativistas de Norte ao Sul do País, ganha forma a partir do entendimento de que as crises pelas quais o Brasil passa são antigas, enraizadas na sociedade brasileira, e remetem à mesma saída: o aprofundamento do projeto democrático desde a base.

No rol de mulheres que compõem a iniciativa, referencia-se Helena Vieira. Única mulher trans a contribuir nesta coletânea, ela é radicada no Ceará e incide politicamente nas pautas relacionadas a direitos humanos. “É preciso resgatar a imaginação como potência política”, anima a autora. Para Helena, esta é uma das saídas possíveis apontadas para as crises que permeiam a esquerda e a política – assunto discorrido no livro.

SERVIÇO

*Sede do PSOL Ceará – Avenida do Imperador, 1397.

*Organização: Winnie Bueno, Joanna Burigo, Rosana Pinheiro-Machado, Esther Solano

*Autoras: Adriana Facina, Avelin Buniacá, Catarina Brandão, Daniela Mussi, Flávia Biroli, Fhoutine Marie, Helcimara Telles, Helena Vieira, Juliana Borges, Jussilene Santana, Laura Astrolábio, Laura Sito, Linna Ramos, Luciana Genro, Luka Franca, Manuela D’Ávila, Marcia Tiburi, Marielle Franco, Sâmia Bomfim, Suzane Jardim, Suelen Aires Gonçalves, Tatiana Roque, Tatiana Vargas Maia. (Com informações do Blog do Eliomar).



Helena Vieira, única mulher trans a contribuir na coletânea. 

O grave erro de Ciro Gomes


Ciro Gomes é um candidato a presidente deveras interessante.

Sua visão dos problemas brasileiros reúne um conhecimento profundo de economia ao objetivo genuíno de melhorar as condições de vida do povão.

Ciro bate constantemente no rentismo e na concentração de renda absurda do nosso país. Foi linha de frente na luta contra o golpe. É, portanto, um aliado do campo de esquerda.

Dito isto, suas posições sobre a imprensa hegemônica são decepcionantes, para dizer o mínimo.

Ciro participou ontem de um tal “2º Encontro Folha de Jornalismo”. Foi entrevistado pela colunista Mônica Bergamo.

O início é constrangedor. Ciro elogia a Folha e sua dona, a família Frias, por prestar informações plurais e fidedignas.

Apenas o episódio da ficha criminal falsa de Dilma Roussef, divulgada em 2009 pela Folha, desmente espetacularmente os elogios de Ciro. A própria Folha admitiu depois (aqui) que não poderia assegurar a autenticidade da ficha mas complementou, de forma cretina, que a autenticidade também “não pode ser descartada”.

De lá para cá a coisa só piorou. A Folha é um veículo a serviço do capital e faz um jornalismo absolutamente desonesto, muitas vezes bandido, mentindo e manipulando loucamente para atacar a esquerda, além de ter sido uma das grandes propulsoras do golpe de Estado que Ciro tanto combateu, em um conluio aberrante com o sistema de justiça.

A primeira pergunta da entrevista é sobre Lula. O próprio Ciro, após respondê-la, brinca que quer falar um pouco das suas próprias ideias ao invés de falar do ex-presidente, “se não sai na Folha amanhã ‘Ciro mete o pau no Lula'”.

Elementar, meu caro Gomes.

Ciro sacou de pronto qual a grande motivação para que fosse convidado ao evento – gerar manchetes contra Lula a partir de críticas vindas do campo da esquerda – e mesmo assim prestou-se ao lamentável papel.

Perguntado sobre a regulação da mídia, Ciro repetiu a estúpida frase de Dilma e disse que “a melhor regulação da mídia é o controle remoto. (…) Quer mudar de canal? Muda de canal. Não precisa o governo regular”.

Na resposta anterior ele mesmo havia criticado o fato de que a mídia no Brasil é controlada por cinco famílias e uma igreja e tem uma linha ideológica única. Do que serviria o controle remoto, então? Deve ser para a pessoa escolher qual veículo de direita, anti-povo e antidemocrático irá manipulá-la.

Diz que hoje há o contraponto da internet, mas esqueceu de dizer que a brutal concentração de mídia no país tem um poder de fogo incomparavelmente maior do que qualquer post de blog ou em rede social.

A Globo, Folha e demais integrantes da máfia midiática são as grandes responsáveis pelo caos golpista no qual estamos metidos.

Seu papel no golpe de 2016 e na perseguição a Lula é fulcral. Sem a pesada manipulação midiática – a qual só é possível porque não há qualquer regulamentação que faça com que a imprensa expresse a pluralidade política da sociedade – a Lava Jato simplesmente não teria como fazer o que fez.

Por suas falas, Ciro aparenta ignorar tudo isso, o que não me parece provável, dada a sua inteligência. A outra hipótese é que finja ignorar deliberadamente, para talvez tentar angariar alguma simpatia dos barões da imprensa.

Caso a segunda tese seja mesmo a correta, Ciro comete um equívoco grosseiro.

Ele está sendo poupado pela velha mídia até agora porque suas críticas a Lula servem aos interesses da direita.

Assim que Lula estiver definitivamente fora do páreo, as baterias do oligopólio de mídia se voltarão para qualquer candidato do campo progressista.

Ciro cedo ou tarde será o alvo do massacre midiático que ataca impiedosamente qualquer candidato a presidente não alinhado ao projeto político da direita.

O controle remoto não vai ajudá-lo. (Por Pedro Breier, no Cafezinho).

Ciro Gomes. (Foto: Fórum).

Grupo de intelectuais lança movimento pela candidatura de Haddad à presidência



Um pequeno grupo de intelectuais lançou um movimento pela candidatura de Fernando Haddad à presidência em 2018. Em artigo publicado nesta quarta-feira (21), na Folha de S.Paulo, o antropólogo Ricardo Teperman, o engenheiro Luis Rheingantz e o economista André Kwak explicam as razões de sustentação do manifesto “Eu voto no Haddad, me pergunte por quê”.

Acompanhe a íntegra do texto:

Em tempos de esgotamento da chamada política tradicional, Fernando Haddad representa renovação ao mesmo tempo em que detém reconhecida experiência na administração pública.

Além disso, é a principal liderança com a transversalidade necessária para reunir a oposição do atual governo. Seu trânsito entre as salas de aula do Insper e os acampamentos do MTST é cada vez mais raro no Brasil polarizado de hoje.

Em suma, ele encarna como ninguém a proposta de quebrar as barreiras ideológicas e dar novo ímpeto ao pacto nacional da Constituição de 1988.

Dentre os legados da era Lula, com a devida exceção da luta contra a fome, o mais notável e de impacto transformador incontestado é a educação, área que Haddad comandou durante quase uma década.

Os inúmeros campi e escolas técnicas inaugurados, associados às cotas, ao Prouni, ao Fundeb e ao Enem transformaram o país, empoderando milhares de jovens.

O caráter inovador de sua gestão em São Paulo está sendo redescoberto graças à resiliência de projetos e realizações como a Controladoria Geral do Município, a renegociação da dívida com a União e as parcerias público-privadas.

Também se nota a percepção (tardia) por parte da opinião pública do acerto de medidas inicialmente polêmicas, como o novo plano diretor e as políticas de mobilidade urbana (diminuição da velocidade nas vias, corredores de ônibus, ciclovias), de direitos humanos, de desenvolvimento sustentável e de democratização do espaço da cidade.

Admirado e respeitado mesmo por antipetistas, está bem posicionado para liderar a transição do partido depois da possível, e deplorável, inviabilização da candidatura de Lula.

Coordenador do programa do PT, tem uma relação de confiança com lideranças tão antagonistas quanto Marina Silva e Guilherme Boulos, Ciro Gomes – que chama a aliança com Haddad de “dream team” -, Fernando Henrique Cardoso para quem Haddad é o melhor interlocutor da esquerda e Manuela DÁvila, do PCdoB, partido que foi parceiro indispensável de sua gestão em São Paulo.

A renovação e a abertura política que definem a atuação de Haddad são as únicas alternativas do PT para evitar a obsolescência – destino que tiveram os partidos sociais-democratas europeus que recusaram a se rever.

O movimento “Eu voto no Haddad, me pergunte por quê” foi criado durante as eleições de 2016. Ao longo do mês de setembro daquele ano, centenas de pessoas se empenharam em defender os avanços de sua gestão conversando com paulistanos pelas ruas da cidade.

O fato de ser uma iniciativa sem vínculo com estruturas partidárias, e tampouco com o candidato, permitia que o diálogo se estabelecesse de maneira mais aberta. Essa independência e liberdade de debate dão força para que o movimento continue ativo desde então.

Haddad se distancia da figura do político profissional pela trajetória acadêmica, à qual retornou após a passagem pela prefeitura; pela franqueza e serenidade de suas colocações; pela parceria produtiva com sua companheira Ana Estela, professora e gestora pública destacada.

Muito mais do que um “plano B”, Haddad tem tudo para ser o líder de uma frente ampla republicana, preocupada mais com os princípios programáticos do que com o velho pragmatismo, que se coloque como alternativa competitiva aos vários cenários regressivos à vista. (Com informações da Revista Fórum).

A renovação e a abertura política que definem a atuação de Haddad são as únicas alternativas do PT, diz manifesto.
(Foto: Agência Brasil).