O Brasil tem estudante de luta, por Myllene Santos*


A jovem estudante Myllene Santos da Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, no município de Nova Olinda, usou a rede social facebook para ironizar uma fala do presidente Michel Temer que diz estar do lado ao lado dos estudantes.

Citando esta passagem “Você que quer frequentar a universidade e talvez não tenha condição, nesse momento, de fazer o pagamento saiba que o governo está do seu lado” do então presidente pmdbista, Myllene não poupou críticas e fez diversos questionamentos:

Myllene Santos. Foto: reprodução facebook.
O governo está do meu lado? Então onde estão PROUNI e SISU? Qual a vantagem de um estudante de escola pública, sem condição nem uma de pagar uma faculdade, aderir ao FIES?”. E argumenta afirmando “não vejo vantagem de um financiamento em um país que não gera emprego e inclusão social em todas as áreas. Não há vantagem em cursar universidade pelo FIES, se somos de classe baixa, não podemos pagar nesse momento e não há certeza alguma que poderemos depois, não há certeza de um emprego com um bom salário, que me der condições pra pagar uma universidade e não passar necessidade”.

A estudante é enfática ao dizer “se o governo está do meu lado. Melhore a infraestrutura das escolas, a merenda escolar, o transporte escolar, o acervo de livros nas bibliotecas e incentive as escolas a ensinar a pensar e não a obedecer”. Ressalta ainda “caso contrário, o governo não está do meu lado” e conclui com a hashtag mais usada nos últimos meses #FORATEMER #FORA e com a frase em caixa alta de “O BRASIL TEM ESTUDANTE DE LUTA!”.

* Myllene Santos é estudante do segundo ano do ensino médio integrado a educação profissional e curso edificações.




“Políticos, vocês não me representam”, por Kézia Adjanne


Kézia Adjane estudante do ensino médio na Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda –Ce, usou seu canal no youtube para discutir acerca da forma de se fazer política partidária, principalmente nos municípios pequenos.

Kézia Adjane é aluna do segundo ano do ensino médio integrado a educação profissional, cursando redes de computadores e é presidenta do Grêmio Estudantil. Foto: reprodução.

A aluna aproveitou o momento em que os eleitores irão no próximo dia 02 de outubro eleger seus e suas representantes para compor o legislativo e o executivo municipal para tratar de má utilização dos comícios, das músicas de cunho machistas nas campanhas, compra de votos, voto consciente e das minorias nos espaços de poder como negros/as, comunidade LGBT, mulheres, dentre outros.

Em vários momentos do vídeos Kézia argumenta que muitos candidatos e candidatas usam em seus discursos o/a negro/a, homossexuais, as mulheres, mas é só porque a causa está em evidência. “Falam em minoria, mas não deixam a minoria protagonizar”, afirma ela.

A líder estudantil que completou 16 anos não se sente representada e não se sente segura em depositar um voto.

Veja abaixo o vídeo.

         

Negro Nicolau: Fique por dentro de 5 propostas de Temer que acabam com direitos trabalhistas


O anúncio de que a reforma trabalhista proposta pelo governo poderá ampliar a jornada diária em até 12 horas, feito pelo ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, nesta quinta-feira (7), trouxe preocupação ao Planalto.

Dada a repercussão negativa da declaração, o presidente não eleito Michel Temer (PMDB) orientou Nogueira a reafirmar que não haverá retiradas de direitos dos trabalhadores.

Publicado originalmente no Revista Fórum

As centrais sindicais não receberam a notícia com surpresa, já que esta medida é apenas uma das ameaças à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) propostas pelo governo Temer. Junto a novos planos do Executivo, somam-se projetos antigos em andamento no Congresso Nacional, que agora devem ser priorizados e ganham mais força para aprovação.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) convocou uma greve nacional no dia 22 de setembro. Já os sindicatos de metalúrgicos de diversas regiões do país devem paralisar suas atividades no dia 29 de setembro contra os retrocessos.

Entenda cada uma das propostas:

1) Flexibilização da jornada de trabalho

Alvo de críticas mais recentes, o ministro Ronaldo Nogueira afirmou durante encontro com representantes da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) que o governo pretende ampliar a jornada de trabalho a 48 horas semanais, com um teto de 12 horas diárias. Hoje a carga diária é limitada a 8 horas. O ministro teve que se explicar, devido à grande repercussão.

À Rádio Estadão, ele ponderou que o padrão normal e legal continuará sendo o de 8 horas diárias e 44 horas semanais, e que a reforma permitirá que as convenções coletivas tenham a opção de flexibilizar a forma como a jornada será realizada.

O governo estuda também a criação de dois novos contratos de trabalho: por horas trabalhadas ou por produtividade, com jornadas inferiores a 44 horas semanais e salários proporcionais. As centrais sindicais refutam a proposta.

A polêmica da jornada de trabalho se arrasta desde julho quando, após uma reunião com Temer, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, citou que a França, antes com limite de 36 horas semanais, teria permitido jornada semanal de trabalho de até 80 horas, e que isso era um exemplo para o Brasil.

Andrade errou duas vezes em sua declaração. Em primeiro lugar, a legislação trabalhista francesa estabelece 35 horas semanais normais, e não 36; em segundo, a nova lei estipula que, em casos de emergência e após negociação com sindicato, as horas extras poderão chegar às tais 12 horas diárias e 60 horas semanais.

Após o rebuliço nas redes sociais, a declaração foi corrigida pela CNI, que afirmou que o presidente se enganou com a citação.

2) Terceirização

Aprovado na Câmara (PL 4330/2004) e tramitando atualmente no Senado, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 30/2015 autoriza a terceirização das atividades-fim. A proposta universaliza, assim, tipos de contratos que hoje só podem ser realizados quando se referem a atividades-meio, como limpeza e segurança — ou seja, serviços que não tenham relação com o produto ou serviço oferecido pela empresa.

Além disso, o projeto diminui a responsabilidade da empresa que contrata a prestadora com a Justiça, caso não haja cumprimento de obrigações trabalhistas. Desde que exija da contratada comprovantes mensais, a empresa fica isenta da responder a processos judiciais.

O governo já deu indícios que deve se esforçar para que o PLC seja aprovado ainda em 2016. Desde que assumiram pastas, Ronaldo Nogueira e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, mostraram-se favoráveis à ampla regulamentação da atividade terceirizada.

Padilha chegou a dizer a empresários que o país precisa “caminhar no rumo da terceirização”.

3) Negociado sobre o legislado

O termo diz respeito à prevalência das negociações em detrimento da lei. Atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 4193 autoriza que os direitos previstos na CLT possam ser amplamente negociados entre os trabalhadores e contratantes.

De acordo com o projeto, todos os itens listados poderiam ser negociados e, após alterados em acordos coletivos, as novas regras não poderiam ser derrubadas na Justiça. Neste sentido, outro projeto de lei discutido é o PL 427, que institui a negociação individual entre empregado e empregador. A negociação coletiva seria fragilizada com a prática.

Na prática, a iniciativa não revoga a CLT, mas a enfraquece a tal ponto que  benefícios como o 13º salário, as férias, o adicional noturno, licença-paternidade e salário mínimo podem ser relativizados.

A reforma trabalhista do PMDB estuda permitir que convenções coletivas prevaleçam sobre as normas legais. Ou seja, empresas poderão reduzir salários e aumentar a jornada diária de trabalho dos seus empregados.

A CLT, afirmou o ministro Nogueira, teria se transformado uma “colcha de retalhos” que permite “interpretações subjetivas”.

4) Reforma da Previdência

Uma das principais medidas previstas por Temer, a Reforma da Previdência deverá aumentar a idade mínima de aposentadoria para 65 anos e igualar a idade entre homens e mulheres e entre trabalhadores do campo e da cidade.

Além disso, a proposta prevê vinculação dos benefícios da previdência aos reajustes de salários mínimos, que hoje são atualizados pelo crescimento da economia nos dois últimos anos e pela inflação do ano anterior.

A ideia é que as aposentadorias passem a ser ajustadas apenas pela inflação, reduzindo os gastos do governo.

Neste vídeo, o Brasil de Fato explica o porquê especialistas refutam a tese de que exista um déficit da Previdência Social, o que justificaria essa reforma.

5) Congelamento dos editais para servidores públicos

Um dos maiores temores dos movimentos sociais, já que congela em 20 anos o orçamento para Saúde e Educação, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241 também tem impactos no mundo do trabalho, mais precisamente sobre os servidores públicos.


Complementar à Reforma da Previdência, a PEC também congelará, se aprovada, a realização de novos concursos públicos e os salários dos servidores, além de impedir a criação de novos cargos e a reestruturação de carreira.


Negro Nicolau: Derrubada a tese da superioridade branca, restou a desigualdade, diz Juarez Tadeu


 “Juarez Macaco.” “Unesp cheia de macacos fedidos.” “Negras fedem.” As frases nas paredes de um banheiro no campus Bauru da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), no final de julho, escancaram o racismo crônico brasileiro. O desprezo não poupa ninguém com raízes africanas. Mesmo alguém que tenha vencido a discriminação e alcançado título de docente numa universidade estadual. Aos 55 anos, Juarez Tadeu de Paula Xavier, professor do curso de Jornalismo, cravou, em entrevista à TV Unesp: “Os banheiros sempre serão porta para esses comportamentos. Mas de forma tão orquestrada assim é a primeira vez que eu vejo”.
Publicado originalmente no Ceert

O preconceito de raça tem raízes profundas, do tempo em que o homem habitava as cavernas. Embora sua origem tenha explicação na necessidade de defesa para garantir assim a sobrevivência, a discriminação resulta de aspectos biológicos articulados com sociais e ambientais ao longo do tempo. No século 19, quando apenas os povos europeus eram considerados civilizados, raça era considerada fundamental para definir o potencial “civilizatório” de uma nação. Segundo a teoria predominante na Europa na primeira metade do século 19, o evolucionismo social, a espécie humana é uma só, mas se desenvolveria em ritmos desiguais e passaria pelas mesmas etapas até atingir o último nível que é o da “civilização”.

No topo estaria a “civilização” europeia e na base, os povos negros e indígenas. Uma teoria criticada por considerar apenas critérios ocidentais de progresso.

A partir da independência do Brasil, em 1822, a identidade nacional foi para o centro do debate. Estudiosos estrangeiros viam o país como um laboratório racial por causa da miscigenação. O naturalista alemão Von Martius, ao defender que a trajetória social brasileira funde o branco, o negro e o índio, venceu em 1844 o concurso “Como escrever a História do Brasil”, de um recém-criado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Com o fim da escravidão, em 1888, e a proclamação da República, em 1889, é concedida igualdade jurídica a todos os brasileiros. Em 1890, é promulgado o primeiro Código Penal republicano. Quatro anos depois, o médico baiano Nina Rodrigues publica As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil. Sua intenção era definir critérios diferenciados de cidadania para negros e brancos.

Ganhava força o determinismo racial, teoria criada na segunda metade do século 19 por cientistas europeus. Para eles, a raça determinava as características físicas, o caráter e o comportamento dos indivíduos. A preservação de “tipos puros” seria o remédio contra a degeneração racial e social causada pela mistura de raças. Temiam as características físicas e psicológicas do mestiço, até então desconhecidas. Acreditavam que a miscigenação poderia inviabilizar o Brasil como nação.

O livro A Curva Normal (1994) tentou consolidar um suposto conceito de raça. Segundo seus autores, os norte-americanos Charles Murray e Richard Herrnstein, a inteligência seria mais generosa entre os brancos, especialmente os mais ricos. Sem fundamento científico, o trabalho remete ao pensamento da metade do século 19, aferindo os “limites” da raça negra, biologicamente incapaz de se adaptar à “civilização” que se impunha.

A ciência, no entanto, mostra que existe apenas uma raça humana: a que surgiu na África. Em 2002, pesquisadores norte-americanos, franceses e russos se dedicaram a comparar 377 partes do DNA de 1.056 pessoas provenientes de 52 populações de todos os continentes. Concluíram que 95% da diferença genética entre os seres humanos está nos indivíduos de um mesmo grupo, e que a diversidade entre as populações é responsável por menos de 5%. Ou seja, o genoma de um africano pode ter mais semelhanças com o de um norueguês do que com o de alguém que tenha nascido na África, de família negra.

A descoberta veio a confirmar que raças são populações que apresentam diferenças significativas quanto à frequência de seus genes, embora exista entre diferentes raças um grande número de genes em comum, como aqueles que formam o fígado, por exemplo, conforme explica o pioneiro da genética humana no Brasil, Oswaldo Frota-Pessoa (1917-2010).
Para ele, o conceito de raça é comparativo porque a “raciação” é um processo longo e contínuo, produzindo raças dentro de raças, é o grau de diferença entre as raças varia. E mesmo que um grupo étnico indique o conjunto de suas características culturais e genéticas, as raças não são estáticas porque representam estágios de evolução em constante mudança.

O bem da mestiçagem

O determinismo racial começou a ser descartado a partir de 1933, com a publicação de Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre. O mestiço é alçado à principal marca da originalidade nacional e os símbolos étnicos negros são transformados em símbolos nacionais. Exemplo disso é o samba carioca, consagrado no país e no exterior como ícone da diversidade racial e cultural. Surgido na década de 1910, nos redutos negros dos bairros da Saúde, Gamboa e Cidade Nova, nas casas das lendárias “tias baianas”, como a famosa Tia Ciata, o samba foi ganhando espaço no Brasil e no mundo. Tanto que, em 1922, Paris recebeu o conjunto musical Oito Batutas, do qual faziam Pixinguinha e Donga – que assina ao lado de Mauro de Almeida a autoria de Pelo Telefone (1917), o primeiro samba gravado.

A obra de Freyre foi divisor de águas para o entendimento do racismo como subproduto de conflitos de classes, pondo abaixo qualquer interpretação de ordem biológica, genética ou evolucionista.

Último país a abolir a escravidão, o Brasil ainda preserva o preconceito contra afrodescendentes, embora em diversas pesquisas a maioria declare não ser racista. O racismo definido pelo cientista social Florestan Fernandes (1920-1995) como “o preconceito de ter preconceito” leva muita gente a chamar uma pessoa negra de mulata, escurinha ou moreninha.
A partir de 1989 o racismo passou a ser um crime inafiançável. A pretensa igualdade racial, porém, não se ampara no cotidiano. Os indicadores sociais também não são um atestado de fé para nossa democracia racial. O Censo do IBGE 2010 mostra que 52% da população se autodeclara negra e parda. Mas do total dos 10% mais pobres do país, 70% são negros. A renda média mensal dos que não têm instrução é de R$ 1.284 entre os brancos e R$ 1.038 entre os negros. Entre as brancas, essa média é de R$ 925, e de R$ 658, para as negras. Segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2014 a chance de um adolescente negro ser assassinado era 3,7 vezes maior do que a de um adolescente branco.

Algumas iniciativas vêm sendo tomadas para combater o racismo. Há cinco anos foi promulgado o Estatuto da Igualdade Racial, que determina a promoção da igualdade de oportunidades. Por meio dele foi criado o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, para articular políticas das três esferas do governo, as cotas nas universidades e no serviço público, além da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.


Há ainda a Lei 10.639/03, que determina o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nos currículos de Ensino Fundamental e Ensino Médio nas escolas. É possível que a partir do momento em que seja posta em prática, a disciplina possa contribuir com a formação de uma nova visão a respeito de nossa formação. Como a lei mal saiu do papel para a maioria das escolas, essa omissão ilustra tanto o racismo oculto brasileiro como o papel omisso do sistema educacional em suas origens.

Juarez Tadeu de Paula Xavier, professor e pesquisador (reprodução).

Entre a direita e a esquerda, sou preto… de esquerda


Existem militantes que costumam vir com esta idéia: que a luta contra o racismo transcende o campo ideológico. Que ser negra ou negro está acima das ideologias. Realmente a identidade racial está acima. Porém, a luta contra o racismo não. Lutar contra o racismo é necessariamente estar no campo da esquerda.
Por Dennis Oliveira no Portal Fórum
Por que isto?

Porque ser de direita é estar ao lado do capital. E o projeto político do capital, a nível mundial, hoje, é a da total desregulamentação – das relações trabalhistas, dos fluxos de capital, das normatizações sociais. É impor um ordenamento jurídico baseado no primado do contrato civil privado sobre o direito público, coletivo.

O projeto do capital é assim não por uma “desfaçatez” ética dos detentores do capital. Mas porque as formas de acumulação do capital atuais exigem isto. O capital se organiza por uma rede global de células produtivas espalhadas em todo o planeta. Na cabeça, estão os centros gerenciadores e tecnológicos, que geram os empregos mais qualificados, melhor remunerados. Estes centros estão localizados nos países mais desenvolvidos. Logo abaixo, estão espalhados as células manufatureiras, com distintos níveis de sofisticação tecnológicas e, portanto, com diferentes qualidades de trabalho e emprego, inclusive em termos de remuneração. E na base os centros fornecedores de matéria prima, com as condições mais degradantes de trabalho. Estas são as periferias do capitalismo, os países “subdesenvolvidos” ou “de médio desenvolvimento”.

Para que isto funcione, é preciso que se quebre toda e qualquer barreira ou norma protecionista ou regulatória. O capital precisa de livre acesso. As normas são estabelecidas diretamente pelos seus agentes, as grandes corporações. É a Ação Direta do Capital. Ser de direita é estar ao lado deste projeto. É esta a natureza do governo golpista de Temer.
Pergunto: qual é a possibilidade de países com população negra, todos eles na periferia do capitalismo, superarem o racismo mantendo economias subordinadas ao grande capital centrado nos países de população branca?

No campo da esquerda, os projetos vão no sentido de resistir a esta Ação Direta do Capital. E aí há um amplo leque de projetos de resistência, desde propostas neodesenvolvimentistas até mais avançados com perspectiva socialista.

O projeto neodesenvolvimentista tem seus limites. É um projeto capitalista, entretanto contradiz com o do capital global. Isto porque reivindica um lugar diferente do estabelecido na divisão internacional do trabalho para os países subdesenvolvidos. Reivindica que estes países também desenvolvam uma economia avançada, com produção tecnológica e que, portanto, gere empregos com maior qualificação – e que, necessariamente, exige investimentos na formação educacional, entre outros. E também um mercado consumidor interno forte – que, por sua vez, é construído por aumento do poder de compra da classe trabalhadora.

Este foi a tônica dos governos da era Lula/Dilma.

Ora, é evidente que em um projeto como este, as condições para a luta contra o racismo são muito mais favoráveis que no projeto da direita.

A experiência histórica mostra isto. As políticas de inclusão racial avançam mais em situações em que se desenvolvem projetos de desenvolvimento. As ações afirmativas nos EUA, por exemplo, desenvolveram-se em um contexto de grande crescimento do capitalismo estadunidense.

Isto não significa que basta isto para se resolver o racismo. Evidente que não. Dentro destas condições objetivas mais favoráveis, é preciso que se fortaleça o movimento antirracista para aproveitar o momento e pressionar pelas políticas públicas de combate ao racismo. A estrada está bem pavimentada, mas é preciso saber conduzir bem o carro.

Dizer que esquerda e direita é a mesma coisa para a luta contra o racismo porque ambos são dirigidos por brancos e pouco espaço dão para negras e negros é uma tremenda obtusidade. Limitar a luta contra o racismo ao espaço dado por dirigentes de siglas partidárias é miopia. É transformar um dos aspectos do racismo (o pequeno espaço) em totalidade do racismo (que vai muito além disto).

Não há como qualquer militante do movimento negro não se posicionar contra o golpe de direita que se realizou no país.


Por isto, reafirmo: entre direita e esquerda, sou preto de esquerda, porque combato o racismo. E combater o racismo é ser de esquerda.


O impeachment de Dilma Rousseff prova que o país carece de saúde mental, diz Mino Carta


Quem, ainda dotado de um resquício de espírito crítico embora dado à autoflagelação, se dispôs a assistir às sessões de segunda 29 e terça 30, derradeiros quadros do ato da farsa trágica intitulado Impeachment, o segundo, provavelmente, terá de cair em depressão profunda.
Publicado originalmente na Carta Capital


O conjunto da obra imposto ao País, desde a eclosão do escândalo da Petrobras até os dias de hoje ao longo de um enredo tortuoso e apavorante na sua insensatez, levará aquele cidadão, peculiar em relação à maioria, a se render à evidência: o maior problema do Brasil, muito antes do desequilíbrio social e da corrupção, é o quociente de inteligência baixo, baixíssimo. Um país que se permite um golpe desta natureza carece de saúde mental.

E é o caso de rir?
No palco o espetáculo engloba a plateia por inteiro, mesmo que muitos se suponham meros espectadores, e representa um povo primitivo, da cúspide da pirâmide à base. Cordial não é certamente, como sinônimo de alegre, bonachão, malemolente. E a pirâmide, a bem da verdade, é mais um estranhíssimo contubérnio com um cone, ponta de agulha em vez da cúspide e uma base imensa e compacta. Um Frankenstein geométrico e social.

 A resignação na base explica-se ao evocar três séculos e meio de escravidão, que deixaram a marca da chibata no lombo de dezenas de milhões de cidadãos privados da consciência da cidadania e geraram um preconceito feroz, conquanto hipocritamente negado até por quem, a despeito do “pé na cozinha”, agregou-se, ao enricar, a uma aristocracia de fancaria.

A resignação do povão merece pena em lugar de tolas interpretações. Ao cidadão ainda em condições de exercer o espírito crítico há de doer entre o fígado e a alma a forma pela qual a prepotência vinga e o cenário se aquieta, como se a farsa trágica em andamento fosse obra dos fados, gregos, obviamente.

Está claro, de todo modo, que o golpe de 2016 é infinitamente mais grave do que o de 1964. Este provocou reações fortes, criou uma resistência e até uma luta armada, além do anseio de democracia autêntica, como jamais se dera até então, passível de ser atingida tão logo se fossem os ditadores.

A eleição de um ex-metalúrgico à Presidência da República
pareceu a prova da democracia conquistada. Pareceu....
Se falo por mim, a ditadura me levou ao entendimento da real serventia do jornalismo e me reteve no País graças a esse entendimento, destinado a oferecer motivação a um cético convicto ao excitar seu otimismo na ação.
O golpe destes dias devolve o Brasil aos tempos mais remotos e demole inexoravelmente todos os avanços ocorridos depois de 1985. Não foram demolidas a casa-grande e a senzala, mas avanços se deram, e o maior deles está na eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.

Foi divisor de águas na história brasileira tornar um ex-metalúrgico o primeiro mandatário. Aquele momento aparentou ser a prova provada da habilitação do Brasil à prática da democracia.

Lula teve méritos inegáveis, já apontados largamente por CartaCapital e reconhecidos mundialmente. Hoje o vemos perseguido por razões inconsistentes e até ridículas, com a pronta colaboração de uma polícia que se presta ao serviço outrora entregue pela casa-grande a capatazes e jagunços, e o beneplácito de uma Justiça de mão única.

Imaginar que a farsa trágica se encerra com o impeachment é ilusão ou parvoíce. Não faltam escribas para outro ato, o terceiro, grand finale, e nele Lula é excluído à força da disputa presidencial de 2018.

Cabe uma pergunta a quem ainda trava diálogos com seus botões: se houver eleições presidenciais em 2018, de que feitio serão? O golpe, ao rasgar a Constituição, manda às favas o presidencialismo republicano para substituí-lo pela lei do mais forte. Que surgirá dos escombros? E os eleitores, acreditarão na validade do pleito se a pesquisa de opinião e a prepotência de uma gangue sinistra que age a mando da casa-grande anulam o voto popular? Mais: se o candidato favorito é excluído ao sabor de falsas acusações?

Botões atentos responderão que a prisão de Lula é perfeitamente possível, se não provável, já que a quadrilha manda, a mesma que precipita o impeachment de Dilma Rousseff sem prova de crime de responsabilidade. A presidenta impedida defendeu-se em plenário com os argumentos justos e irretocáveis como se dirigisse a uma Câmara Alta digna da contemporaneidade do mundo e da confiança dos eleitores, e horas e horas a fio os defendeu com empenho e elegância. Aos meus botões pergunto, contudo, se não teria sido melhor dirigir-se ao povo brasileiro para ler, pacatamente, mas sem retoques, a ficha criminal daqueles que se arvoraram a julgá-la.

Sérgio Moro ainda não entendeu a possibilidade de comparar
Brasil e Itália.
Sempre tive admiração pela figura de Sansão, ele disse no lance final da sua aventura bíblica, “morra, Sansão, com todos os filisteus”, e pontualmente executou a ameaça. Dilma não dispõe da musculatura de Sansão, tampouco da mentalidade do “perdido, perdido e meio”, apesar da coragem que soube mostrar em situações diversas. Não lhe faltou energia para aguentar dois dias de uma pantomima celebrada para tornar a decisão tomada faz meses, e prolongada conforme um ritual ibérico, tão inútil quão humilhante.

Dilma teve de suportar situações deploráveis, recheadas pela retórica mais hipócrita, pelas lacunas culturais dos interrogadores, frequentemente pela lida difícil com o vernáculo, e pela aterradora atuação do presidente do STF, Ricardo Lewandowski, avalista do desastre.

Pergunta Aécio Neves algo assim como “a senhora não se sente responsável pela alta do desemprego?” Dilma responde com uma aula sobre as origens e os desenvolvimentos da crise econômica mundial em vez de desancar o torquemadinha mineiro. Será que querem puni-la por causa do desemprego?

De todos, mais deplorável e revelador, o víscido desempenho do senador Cristovam Buarque. Sim, ele reconhece, Dilma é uma mulher honesta e lhe merece muita simpatia, mas as “pedaladas” são criminosas e ele tem de se render às suas responsabilidades de cidadão e de parlamentar para cumprir a missão de condená-la.

Abjeta tentativa de se mostrar como varão de Plutarco, enquanto participa de um crime, este sim irrefutável. Honra ao mérito, em contrapartida, aos digníssimos senadores Roberto Requião e Lindbergh Farias.

Buarque prefere apostar no QI baixo, ao rés do chão, e nesta confiança não se diferencia dos demais golpistas. Parlamentares, juízes, promotores, policiais, empresários rentistas, barões midiáticos e seus sabujos. Muitos, entre estes, também não primam pelo brilho da mente. Umas dúvidas me assaltam em relação ao juiz Sergio Moro. Será que acredita no que diz ao afirmar a semelhança entre a Lava Jato e a Mani Pulite?

Com inefável candura, continua a afirmar que os vazamentos para a mídia foram uma arma eficaz da operação italiana. Saberá ele que a mídia peninsular está nas antípodas da nativa, no sentido de que se abre em leque em sintonia com ideologias e tendências políticas a representar todos os estratos da nação?

Como sabemos, a mídia nativa é do pensamento único, na linha do vento a soprar das alturas da casa-grande, mesmo porque seus patrões são inquilinos cativos da mansão senhorial. Moro já percebeu isso tudo e sabe que a Suprema Corte da Itália costuma agir como sentinela da lei e da sua aplicação, bem ao contrário do nosso altamente politizado STF?

Mani Pulite não pretendeu alvejar um partido e os seus líderes, e sim um sistema corrupto. Da investida escapou tranquilamente o Partido Comunista de conduta irrepreensível, em um país onde a Constituição permanece a mesma desde 1948.

A respeito do QI baixo de inúmeras personagens da farsa trágica, não tenho dúvida, bem como de uma classe A e B1 (adoto as terminologias correntes) nunca alcançada pelas lições do Iluminismo, estupidamente exibicionista, ignorante até a medula, arrogante e vulgar. Não são melhores os seus aspirantes, os brasileiros sequiosos de chegar lá, e mesmo aqueles que estão longe disso e se antecipam ao comungar com idênticas, parvas pretensões.

o víscido comportamento de alguém que pretende ser varão de Plutarco.
Com este gênero de brasileiros, um diálogo baseado na razão e na lógica é simplesmente impossível. Sabem tudo de antemão, nutridos pela torpe narrativa midiática, ou de ouvidos postos no que sai da boca dos graúdos.

Inúteis esperanças foram as de quem pretendeu trafegar pela realpolitik  e, embora de esquerda e desenvolvimentista, tentou agradar aos senhores e fez genuflexão ao deus mercado. Como se deu com a própria Dilma, ao chamar Joaquim Levy para a Fazenda.

Em sua defesa da presidenta afastada, dia 25 de agosto, o professor Belluzzo não deixou de apontar o erro grave, e nem por isso passível de punição pelo impeachment. Sem contar que Joaquim Levy jamais será tido como inimigo dos golpistas. Aliás, quem imagina ser possível um entendimento com a casa-grande comete um erro fatal: no Brasil, conciliação só das elites.

Diálogo equilibrado deste lado é também inviável, e buscá-lo exibe um QI frágil. No poder o PT enredou-se nas suas próprias carências, entre elas a ausência de crenças arraigadas por parte até de alguns de seus líderes, e portou-se como todas as demais agremiações políticas, melhor, clubes recreativos.

Muitos dos comportamentos de uma esquerda tão distante das consignas iniciais revelam, a seu modo, o QI baixo. Sem excluir os jovens revolucionários de tempos idos, tão desnutridos de leituras e de ideias, radicais extremados em nome da moda passageira.

Não tenho conhecimento suficiente para dissertar a respeito do exato significado de inteligência. Sei apenas que cada qual ao nascer recebe a sua horta de neurônios, cujo tamanho depende de uma série de fatores, a começar pelo DNA. Para dar frutos, a horta precisa ser cultivada, pelo estudo, pela leitura, pela busca do conhecimento. Nem todos têm a chance de cumprir a tarefa.

No Brasil de um Estado desinteressado da saúde mental e física do povo, certamente muito poucos. Não há como apurar quantos gênios são desperdiçados em um país onde o povo é valor descontável, quando é, de verdade, um tesouro inexplorado.

E esta também, e sobretudo, é prova de um quociente de inteligência baixo, baixíssimo.  A gritaria e os fogos ouvidos no encerramento do segundo ato da farsa trágica são próprios da festa da pobreza de espírito.

Negro Nicolau: O Brasil precisa parar de fingir que é inclusivo, por Valéria Rodrigues*



Ridículo perceber a falsa pregação de inclusão social, quando pessoas portadoras de necessidades especiais, negros, pobres, homossexuais e até mesmo pessoas que não tem religião ou são de uma religião diferente da que predomina em maior quantidade de adeptos (católica), sofrem críticas, não são bem vistas e de certa forma deixados de lado. Que tipo de inclusão é esta onde a própria mídia trata este grupo de forma isolada?

Vamos refletir um pouco: nas novelas da Globo e não apenas desta emissora, os negros e pobres costumam ter um papel de coadjuvante, e quando tem um papel de protagonista é da forma que se passa em malhação, um negra, que é faxineira e pobre. Por que ela não poderia ser rica?

Por que ela não poderia ser a patroa? Por que tem que ser a empregada?

Por que ela precisa passar pelas humilhações e preconceito de sua irmã branca?

E não podemos esquecer da cruel e de certa forma desumana diferença entre a cobertura das Olimpíadas e das Paralimpíadas, onde a nossa "querida Globo e demais emissoras(Record, Band, entre outras)" pararam sua programação para a o evento de abertura das Olimpíadas, enquanto que as Paralimpíadas ganhou apenas um pequeno espaço nos jornais, mostrando é claro, os melhores momentos deste evento.

E ainda assim se fala em inclusão?

Acredito que nosso país precisa fazer muito mais do que simplesmente fingir que incluí as pessoas, e sim incluí-las de verdade, na prática.

Quem sabe um dia conseguimos!

Há de chegar o dia em que o nosso país, descobrirá que melhor do que fingir para o mundo uma realidade que não existe, é mostrar quem realmente somos, um povo forte, batalhador e acima de tudo humano!

*Valéria Rodrigues é professora com Bacharelado e licenciatura em Biologia pela Universidade Regional do Cariri (URCA).





Negro Nicolau: O cariri gritou FORA TEMER e pelo Restabelecimento da Democracia



Os municípios de Crato e Juazeiro do Norte, na região metropolitana do cariri cearense, foram palco neste dia 07 de setembro de manifestações organizadas por movimentos sociais, professores, estudantes, trabalhadores e trabalhadoras que tinham como base o FORA TEMER e o restabelecimento da democracia.

Em Crato, o Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), a Caritas Diocesana e a Associação Cristã de Base (ACB) protagonizaram o momento que através do tema “vida em primeiro lugar” e lema "este sistema é insuportável: Exclui degrada e mata” durante realização do XXII Grito do Excluídos gritaram não só a saída do presidente Michel Temer, mas pediram o restabelecimento da democracia no país, do ministério do desenvolvimento agrário- MDA e protestaram ainda contra a retirada de direitos previdenciários e trabalhistas.

A página da Cárita Diocesana de Crato, no facebook compartilhou diversas imagens com cartazes e faixas. Os manifestantes seguravam uma das faixas que dizia “em defesa da democracia. Diga não ao golpe”. Do mesmo modo a ACB também compartilhou e uma das faixas levava o clamor “gritamos por: reforma agrária e reforma política já”.

Segundo Maria Eliana, do Grunec, o grito dos excluídos que uniu movimentos sociais, ONGs, Pastorais Sociais, Instituições, Sociedade Civil organizada, todos ligados às populações da cidade e do campo (trabalhadorxs, mulheres, jovens, idosxs, homens, negritude, estudantes, professores(as) da zona rural estavam lá para em uma só voz dizer “não ao golpe, fora Temer e lutar pela democracia, diretas Já, reforma agrária e direitos”.

Já em Juazeiro do Norte foi realizado o 1° Grande Ato Fora Temer do Cariri. Segundo os organizadores o manifesto ocorreu de forma pacífica e contaram com a compreensão e participação da grande maioria dos espectadores e dos estudantes que desfilaram no 07 de setembro. Segundo ainda os organizadores, houve o diálogo com a população mediante panfletos, cartazes, faixas e palavras de ordem, e o mais importante, disseram eles “constatamos que a grande maioria da população também repudia o golpe de estado orquestrado pela elite brasileira”.

Não foi divulgado o número de participantes nas duas cidades. Abaixo fotos (compartilhadas nas redes sociais pelos autores das manifestações) em Crato e juazeiro do Norte.