Nordestinos são alvos de preconceitos do vocalista do Ultraje a Rigor, pós resultado de pesquisa eleitoral



Roger Moreira, 59, vocalista da banda Ultraje a Rigor, foi duramente repreendido por internautas após publicar, em sua conta oficial do Twitter, uma mensagem ofensiva aos nordestinos.

Ao reproduzir uma matéria que tratava da liderança do ex-presidente Lula na última pesquisa Datafolha para a eleição presidencial, o cantor atribuiu o fato ao “alto número de ignorantes no Nordeste”.
Publicado originalmente no Pragmatismo Político

Apesar de receber diversas mensagens de repúdio, o músico ignorou as críticas e insistiu na tese.

O País continuará estagnado enquanto houver pessoas preconceituosas como você. Não esqueça que o Nordeste também consome o produto que o Ultraje a Rigor produzo… algo que vocês chamam de ‘música’. Sugiro que faça um estágio no Nordeste. De repente você aprende a compor com Alceu, Chico César, Zé Ramalho”, criticou um internauta.

Internautas lembraram ainda que sem o alto índice de votação em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, Lula e Dilma não teriam sido eleitos. A presidente afastada, aliás, se sagrou vitoriosa em Minas na última eleição presidencial — berço político de seu principal adversário no pleito, Aécio Neves.

Tese repetida

A tese que “culpa” nordestinos pelos sucessos eleitorais de Lula e Dilma não é nova e costuma vir à baila de tempos em tempos. O caso mais emblemático foi o de Mayara Petruso, estudante de Direito que defendeu o assassinato de nordestinos por afogamento após a vitória de Dilma Rousseff em 2010.

Mais recentemente, a esposa do presidente da Abril, editora responsável pela revista Veja, publicou uma mensagem de ódio contra nordestinos durante as controvérsias do processo que pedia o impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. “O Nordeste colocou Dilma no planalto, agora um nordestino não quer deixá-la sair [Waldir Maranhão]. Depois dizem que somos preconceituosos. Será mesmo?”, escreveu.

Mais polêmicas

Não é a primeira vez que Roger Moreira demonstra ódio nas redes sociais. Há dois anos, o músico envolveu-se em polêmica depois de afirmar que só eram perseguidos pela ditadura militar no Brasil “os que faziam merda”. Na ocasião, o vocalista atacou o escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens Paiva, assassinado pelo regime militar.

Roger Rocha, do Ultrage a Rigor, usa sua conta no twitter e destila preconceito contra os nordestinos.



Fim da Universidade Pública é proposta pelo O Globo


O jornal O Globo sugeriu em editorial neste fim de semana aquela que talvez seja a medida mais grave de desmonte do estado de bem-estar social brasileiro – construído a duras penas durante as últimas décadas. Em função da crise econômica, o jornal sugeriu que simplesmente se acabe com o ensino superior gratuito. Assim: acabe-se, ponto.

Publicado originalmente no Gazeta do Povo

A medida, de acordo com o editorial, serviria para duas finalidades diferentes. A primeira, diminuir o peso da educação para o Estado (a velha discussão sobre o gigantismo do Estado brasileiro e sobre a necessidade de diminuir impostos). Por outro lado, dando um aspecto “humanitário” à proposta, diz que isso acabaria com uma injustiça.

O argumento sobre a redução da carga tributária é mais inteligível, até por estar sendo debatido o tempo todo. O outro, que tenta vender como fim da injustiça aquilo que seria uma injustiça em si mesmo, é mais curioso e menos comum. Segundo o jornal, o grande problema é que quem fica com as vagas na universidade gratuita são os mais ricos. Os pobres são levados a pagar ensino privado de qualidade muitas vezes duvidosa (é O Globo quem diz, não eu).

A premissa do argumento tem uma certa verdade. Destinar as vagas do ensino gratuito aos mais ricos é injusto. A solução é bizarra. Ao invés de permitir que os mais pobres tenham acesso (mesmo que fosse em detrimento dos ricos), jogue-se tudo fora. O bebê junto com a água do banho. Décadas de investimento em uma educação pública de qualidade em função de um sistema de seleção imperfeito.

Para O Globo, a solução seria o sistema inteiramente privado, com bolsas para os mais pobres. Se essa fosse uma proposta séria, se o argumento humanitário fosse realmente a razão, e não o aspecto econômico, não faria sentido. Quem vai conseguir, dentre os pobres, as bolsas nas faculdades privadas que restariam? Os que têm melhor desempenho, os mesmos que hoje entram nas públicas gratuitas.

O argumento econômico também é frágil. Se a ideia fosse dar bolsas (públicas?) vê-se que o custo poderia ser enorme. Seria para todos, universal? Então o imposto seria ainda mais caro. Seria para poucos? Então seria excludente, e não humanitário. Nesse segundo caso, os mais pobres continuariam destinados a faculdades que o próprio jornal considera inferiores. Ou seja, não se resolve problema algum.

O que está verdadeiramente em jogo é um projeto de país. O desmonte de uma estrutura de inclusão que vem sendo posta em xeque nos últimos anos em detrimento de um Estado menor e mais leve – e também mais desigual.

Nos últimos anos, vêm surgindo repetidamente ideias de que a Previdência deve ser privada. De que o SUS deve diminuir. E de que o ensino gratuito, agora, é injusto. Ao mesmo tempo, propostas que realmente aumentam o atendimento aos brasileiros mais pobres, como o ProUni e o Pronatec geralmente vistas com desconfiança.

É preciso chamar as coisas pelos seus nomes. O que a proposta do fim do ensino superior público traz em si não é o fim de uma injustiça. É a ideia de que a injustiça se dá de qualquer jeito e de que devemos simplesmente deixar que ela ocorra sem pôr as mãos no nosso bolso para ajudar quem fica de fora do sistema. É a meritocracia que protege o bolso contra o assalto de quem nunca teve nada e quer ter chance de competir em condições de igualdade.

Se há algo que luta contra a injustiça nesse país é o acesso a uma educação de qualidade para todos. Se o Estado não servir para isso, servirá apenas para muito pouco. Para muito menos do que precisamos.


UFPR. para O Globo, a própria existência da universidade pública é injustiça.

Do Blogueiras Negras: Porque reverenciamos o dia da mulher afro-latino-americana e caribenha?




As mulheres negras nunca reconheceram o mito da fragilidade que sempre justificou os espaços subalternos que lhes foram dados. Aprenderam muito cedo o quanto duro é o trabalho nos espaços disponibilizados e acima de tudo que suas vidas valiam o que lutassem para ter.  O processo que desumaniza a população negra, fez com que o machismo sobre essas mulheres, tivesse um impacto maior do que nas demais, principalmente na mercantilização de suas vidas e corpos, além de sua  afetividade.

Sabemos quais são as consequências da negação do papel da mulher negra na formação da cultura dos povos, especialmente na política partidária e na área social. Mesmo entre os movimentos feministas mais avançados e plurais, há ainda hoje uma dificuldade em reconhecer as mulheres negras que estiveram presentes nas lutas e movimentos sociais e principalmente na capacidade destas de ocupação de espaços “privilegiados”. As heroínas e intelectuais  negras,  são totalmente invisibilizada nos processos históricos.

Após séculos de exploração, ainda há de forma intensa a erotização e apropriação do corpo da mulher negra, onde na divisão entre santas e profanas, acabam por ocupar o espaço de diversão casual. Nada diferente do passado por mulheres negras na diáspora como um todo  e principalmente na América Latina, onde essa identidade é legitimada a partir de raízes euro-ocidental, raiz que rejeita a presença negra na história e vida cotidiana, que exclui e discrimina estas. Por conta do entendimento desta realidade comum na diáspora negra, um grupo de mulheres negras viu a necessidade de iniciar um debate em nível internacional sobre a situação da população afro descendente, o racismo, discriminação e principalmente questionar a identidade europeia imposta a esse povo.

Diante da constatação de que é difícil ser negra latino-americana numa sociedade construída a partir do racismo e do patriarcado, essas delinearam os países latino-americanos via exclusão territorial, social, econômica e política. Esses dados confirmaram a realidade da diáspora negra na perspectiva racial e principalmente das mulheres negras, onde essa identidade implica em sofrer uma dupla opressão historicamente construída e a hegemonia de um gênero sobre o outro. Ao compreender esses fatos, surge a necessidade de construir uma identidade global com uma articulação que pudesse permitir ter uma maior visibilidade desta situação em toda região.

Essas mulheres internacionalizaram o debate que faz surgir o movimento das mulheres afro-latinas e caribenhas, contribuindo desta maneira para a criação da maior antena preta feminista. Essa união permitiu a aproximação de profissionais de comunicação, cultura, acadêmicos e áreas afins que hegemonizaram a luta negra na diáspora de forma continental. A partir desta articulação, em 1992, em Santo Domingo, na República Dominicana, realizou-se o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, do qual decorreram duas decisões: a criação da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e a definição do  25 de julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha.  Data que nos dias de hoje, temos  orgulho  em comemorar.

O 25 de Julho internacionaliza o feminismo negro via aglutinação da resistência das mulheres negras à cidadania nas regiões  em que vivem, principalmente as  opressões de gênero e étnico-raciais. Desta forma, essa data amplia e fortalece as organizações e identidade das mulheres negras, que vem construindo estratégias para o enfrentamento do racismo e do sexismo. Essa não é uma data qualquer  para nós mulheres negras, ele significa o rompimento com um feminismo que nunca nos contemplou. Resgata a luta das mulheres negras da diáspora, iniciada ainda na década 70, através das feministas negras em pontos diferentes da diáspora.

Comemorar o  25 de julho é celebrar e reverenciar a elaboração de novas perspectivas feministas, em especial da introdução da diferença na teoria feminista tradicional. Afinal não podemos esquecer que o feminismo que ressurgiu na década de 1970, afirmava uma identidade feminina homogênea, logo não se conseguia identificar e visibilizar demandas específicas de mulheres que sofriam com a intersecção de diversas condições como, gênero, raça, classe, etnia, orientação sexual e religiosidade.

Fortalecer o 25 de  julho é  dá visibilidade e energia a emancipação das mulheres negras de um feminismo que colocava a opressão de gênero como  fator opressor prioritário para as mulheres, sem levar em conta as demandas das mulheres negras. É  fortalecer a emancipação  de um feminismo que não conseguia abarcar as diferenças entre estas ou seja, o  olhar  para as múltiplas experiências e identidades femininas.


Empoderar essa data é contribuir  na luta histórica de mulheres que foram e são protagonistas   no pautar e exigir de seus países o atendimento de  demandas que nos dias de hoje melhora a qualidade de vida da população negra é lutar pela garantia e  ampliação do acesso a direitos já conquistados, principalmente  na construção enquanto continente de afros descendentes como uma  nação transnacional. É nessa construção coletiva que precisamos acreditar quando reverenciamos o 25 de julho, dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha.

Mulheres Negras do Cariri durante marcha em Brasília. Foto; Divulgação.

Conheça 15 autores negras da literatura brasileira


Mosaico com 14 das 15 autores negras da literatura brasileira. Mosaico montado por este blogueiro. Fotos: reprodução.

Aposto que não muitas, mas elas existem! E são feministas, mães, da periferia, trabalhadoras e pesquisadoras que sabem colocar em palavras o ponto de vista da mulher negra que sente tudo na pele. Tratam de diversos temas de uma maneira emocionante, mas, infelizmente, são pouco divulgadas e publicadas – é quase impossível encontrar obras em livrarias.

Publicado originalmente no Tão Feminino

Conversamos com Bianca Gonçalves, pesquisadora da USP e idealizadora do projeto Leia Mulheres Negras , e juntas, selecionarmos 15 escritoras negras brasileiras que você precisa conhecer. Afinal, como diria Alzira Rufino: o possível, estamos fazendo agora; o impossível demora um pouco mais!

Maria Firmina dos Reis

Ninguém mais, ninguém menos que a primeira romancista brasileira. Maria Firmina nasceu no Maranhão em 1825. Ao longo dos seus 92 anos de vida, teve diversas publicações, a primeira foi o romance Úrsula, considerado um dos primeiros escritos produzidos por uma mulher no Brasil. Durante a campanha abolicionista, o livro A Escrava reforçou a postura antiescravista de Maria, que é compositora do hino da abolição da Escravatura. Fundadora da primeira escola mista e gratuita do estado, a escritora sempre lutou pela educação, igualdade racial e de gênero.

Carolina Maria de Jesus

Quando questionada sobre o motivo de escrever, Carolina respondeu: “Quando eu não tinha nada o que comer, em vez de xingar eu escrevia. Tem pessoas que, quando estão nervosas, xingam ou pensam na morte como solução. Eu escrevia o meu diário”. A moradora da antiga favela do Canindé, zona norte de São Paulo, trabalhava como catadora e registrava seu cotidiano em páginas amareladas encontradas no lixo. A escritora foi descoberta por um jornalista, e assim teve publicado seu livro Quarto de Despejo – Diário de uma favelada que trata do dia a dia repleto de discriminação de uma mulher negra, mãe, pobre e favelada. Além disso, o livro é referência para os estudos socioculturais brasileiros e apesar de ter sido publicado em 1960, narra uma realidade que infelizmente ainda é a de muita gente.

Depois dessas publicações, foram lançados os livros Casa de Alvenaria, Pedaços de fome e Provérbios. Mas há também trabalhos póstumos, o mais recente é de 2014 Onde Estaes Felicidade.

Elizandra Souza

A escritora e jornalista também luta para dar voz à periferia na Zona Sul de São Paulo. Elisandra Souza publicou o livro de poesias Águas da Cabaça em 2012 e tem participação em revistas e antologias literárias como Negrafias e Cadernos Negros (publicação importante que se mantém há mais de trinta anos divulgando nomes da literatura negra, vale muito a pena conhecer). Ela é editora da Agenda Cultural da Periferia na Ação Educativa e fundadora do coletivo Mjiba (Mjiba significa mulher revolucionária <3).

Jenyffer Nascimento

O conjunto da obra de Jenyffer é intenso e aborda aqueles temas empoderadores superimportantes que nós adoramos: amor, identidade, negritude, machismo e racismo. A pernambucana é mais uma das vozes feministas negras que gritam na periferia por meio da poesia. Alguns de seus poemas foram publicados no livro Pretextos de Mulheres Negras, obra de poemas que contou com a participação de 22 mulheres negras. A escritora lançou seu primeiro livro Terra Fértil pelo coletivo Mjiba (aquele fundado pela Elizandra, lembram?).

Jarid Arraes

Jarid mostra sua indignação com versos fortes e diretos por meio de cordéis engajados. Entre os mais de 40 títulos publicados, o mais popular, Não Me Chame de Mulata, rendeu muitas discussões nas redes sociais. Em seu livro de contos As Lendas de Dandara, a cearense aborda o tráfico humano e a escravidão contando a história da guerrilheira quilombola Dandara dos Palmares (Esposa do Zumbi) de um jeito leve com um toque de ficção fantasiosa. A cordelista é comprometida com projetos de direitos humanos e tem uma coluna semanal na revista fórum chamada Questão de Gênero.

Ana Maria Gonçalves

Nascida em minas, Ana Maria Gonçalves foi publicitária em São Paulo, mas foi para a Ilha de Itaparica escrever seu primeiro romance, Ao Lado e à Margem do que Sentes por Mim. O livro, escrito durante seis meses, foi publicado de forma independente. Mais tarde, Ana Maria passou a morar em Nova Orleans. Seu segundo romance, Um Defeito de Cor, de 2006, conquistou o Prêmio Casa de las Américas na categoria literatura brasileira, a obra é inspirada na história (linda) de Luísa Mahin.

Conceição Evaristo

Doutora em literatura, publicou seu primeiro poema em 1990 no décimo terceiro volume dos Cadernos Negros. Desde então, publicou poemas e contos em diversas antologias. Conceição Nasceu em uma favela na cidade de Belo Horizonte e milita dentro e fora do mundo acadêmico. Além do recente livro de contos Olhos d’Água, ela escreveu o romance Ponciá Vicêncio, publicado em 2003 e o Becos da Memória em 2006, Poemas da Recordação e Outros Movimentos, em 2008.

Alzira Rufino

A profissional na área de enfermagem é engajada no apoio às vítimas de violência racial, doméstica e sexual. Alzira foi a primeira escritora negra a ter seu depoimento gravado no Museu de Literatura Mário de Andrade, em São Paulo/SP. Pioneira em sua região ao escrever para a imprensa com recorte de gênero, raça e sobre violência contra a mulher, Alzira também é responsável pelo crescente envolvimento dessas questões na mídia, no poder público e em debates cotidianos, além de dar visibilidade política às mulheres negras da Baixada Santista.

Geni Guimarães

Geni também faz parte do time de autoras divulgadas nos Cadernos Negros. Em 1979, lançou seu primeiro livro de poemas, Terceiro Filho. A Fundação Nestlé publicou seu volume de contos Leite do Peito. Seu livro A cor da Ternura, recebeu os prestigiados prêmios Jabuti e Adolfo Aisen. Nascida no interior do estado de São Paulo, a escritora iniciou a carreira literária publicando poemas em jornais da cidade de Barra Bonita.

Miriam Alves

Miriam ministrou os cursos de Literatura e Cultura Afro-brasileira na Escola de Português de Middlebury College em 2010, nos Estados Unidos. Fez parte do Quilombohoje (grupo paulistano de escritores), pelo qual publicou diversos textos em prosa e poesias. Tem os seguintes livros de poemas publicados: Momentos de Busca, Estrelas nos Dedos, a peça teatral Terramara, ensaios em Brasilafro Autorrevelado, Bará - na Trilha do Vento e o livro de contos Mulher Mat(r)iz. Além, claro, dos poemas publicados nos Cadernos Negros e em diversas antologias nacionais e internacionais.

Lia Vieira

Nosso papel é resgatar com criatividade o vasto patrimônio afro. A cultura negra é muito mais do que capoeira e cuscuz” lembra Lia, ao falar do papel das escritoras afrodescendentes. Autora do livro de contos Só As Mulheres Sangram (esse você pode encontrar em livrarias físicas e virtuais, ed. Record), ela é formada em economia, turismo, letras, doutora em Educação, pesquisadora, artista plástica, dirigente da Associação de Pesquisa da Cultura Afro-brasileira e militante. Muito ocupada, não?

Cristiane Sobral

A autora tem três obras: Não Vou Mais Lavar os Pratos, de poesias; contos em Espelhos, Miradouros, Dialéticas da Percepção; e seu último livro de poemas publicado em 2014 “Em Só por Hoje Vou Deixar Meu Cabelo em Paz temos poemas engajados contra o racismo, a partir, sobretudo, da reconstrução da feminilidade da mulher negra. Boa parte dos poemas fazem do cabelo crespo o ponto de partida lírica para a denúncia, firmando ao final seu empoderamento”, conta Bianca Gonçalves. Cristiane afirma que escreve como um grito de liberdade. A carioca moradora de Brasília é mãe e Diretora de Gestão e Produção Cultural no Sindicato dos Escritores do Distrito Federal. 

Cidinha da Silva

Você também pode conhecer essa escritora pelo blog. Sobre o seu livro Sobre-viventes! Que será lançado no dia 23 de maio, a mineira explica “Ultrapassa o dito com o dizer. Para mim, isso é literatura. Dizer para além do dito. Intencionalmente ocultar para revelar. Revelar ocultando. Nesse jogo, deslinda-se o humano. Mas, humano, é ainda genérico: nesse livro desnudam-se os sobreviventes e os viventes”.

Cidinha se tornou uma ótima escritora depois de começou a publicar artigos acadêmicos sobre relações sociais e de gênero na faculdade de História. Foi a partir daí que desenvolveu um senso crítico aguçado para falar do racismo do dia a dia. Seu primeiro livro Cada Tridente em Seu Lugar, abordou o tema polêmico do acesso e permanência dos negros nas universidades. A mineirinha já escreveu romances, literatura infanto-juvenil e crônicas.

Esmeralda Ribeiro

Escritora, jornalista e coordenadora do grupo Quilombhoje, Esmeralda participa de palestras e seminários abordando sua experiência como escritora. Além de poemas em coletâneas nacionais e internacionais, Malungos e Milongas é um livro de contos publicado pela autora. Sobre como iniciou sua carreira literária, Esmeralda diz “A morte, a dor, o amor e a saudade foram sentimentos que deram outro ritmo a minha vida; foi em 1978 com o falecimento do meu pai que escrevi um poema em prosa intitulado Sábado, com esse poema andei por caminhos até acabar com a minha solidão literária. Meus temas preferidos são suspense, magia, surrealismo, policial”.

Mel Duarte

Mel Duarte tem até poesia inspirada em Jair Bolsonaro. A escritora paulista é ativista e produtora cultural. Lançou recentemente o livro Negra, Nua e Crua. Segundo Mel, seu último trabalho é um compilado de experiências e sensações. “Ali não tem só a Mel falando. Pelo retorno que recebo de outras mulheres, percebo que tem muito de nós e isso é o que me dá gás para continuar”. Em 2013, a poeta publicou o livro Fragmentos Dispersos.


A Escola que desejo



Vou contar um segredo para você. Mas ao contrário de todos que já lhe falei, esse eu quero que você espalhe por aí. Conte para sua mãe, seu pai, seus irmãos e irmãs. Conte também para seu vizinho, sua vizinha e para quem mais você encontrar pelas ruas. 

Eu sempre gostei de ir à escola. Gostava de acordar cedinho, tomar banho, escovar os dentes, colocar a roupa da farda com aquele símbolo da escola no peito e o nome atrás, merendar e sair para ver meus amigos de sala e aqueles que não eram da mesma turma, meus professores e os demais funcionários da escola.

Como era bom. Mas, sempre senti que faltava algo. Não sabia dizer bem o que, mas faltava. Falta, porque era uma espécie de vazio que sentia todos os dias ao chegar em casa e ligava o rádio e a tv – pois nesse tempo eu nem tinha acesso à internet.  Muitas informações e eu ficava a ver navios. Não sabia o que se passava. Não sabia me posicionar diante de tantos fatos. Sequer me questionava se aquilo que ouvia no rádio e assistia na tv era de fato verdade.

Às vezes. Às vezes não, quase sempre desligava os aparelhos porque não sabia os significados de muitas palavras e o impacto que elas geravam em nossas vidas. Quando retornava para escola no dia seguinte era como se vivesse outra realidade totalmente distante da que vivia em casa, na rua..... Percebia dois mundos tão diferentes. O professor e a professora falavam da importância de saber regras de três, raiz quadrada. Diziam o quanto era necessário saber distinguir as palavras. Se é adjetivo ou substantivo, etc. Eles/as nos faziam decorar os fatos da revolução francesa, da colonização portuguesa no Brasil, os fatos religiosos de Grécia e Roma.

No entanto, quando eu chegava em casa me via sozinho mais uma vez e sem saber conectar o que vi na escola com a realidade nua e crua. E para piorar eu nem sabia a história da minha cidade, do meu bairro. Ainda assim, continuava a estudar e decorar algumas lições para ter boas notas. E tirava, mas instantes depois das avaliações não sabia mais. Decorava, memorizava a matéria toda, mas não entendia. Eu me sentia uma ameba. E eles e elas me faziam sentir tal qual.

Mesmo assim, eu sabia que o estudo era algo bom. Meus pais repetiam isso todos os dias. Ia muitas vezes à escola por insistência deles. Hoje sei que de fato, a escola é a porta de entrada para uma vida melhor. Hoje eu tenho parcialmente algumas respostas para aquele vazio que sentia quando retornava da sala de aula para casa. Muitas delas estavam no método de ensino. Os tempos mudaram. As escolas mudaram. Os professores mudaram, mas algo permaneceu. O sistema educacional e o método de ensino permanecem fiéis ao tempo.

Não se ensina de fato para a cidadania. Não há preocupação com a politização dos estudantes, ou seja, a escola não está preocupada em ver os alunos questionando e participando da vida política da sua cidade. Não quer nem saber de discutir as causas e consequências de seguir sem questionar determinada religião. Aliás, religião e política são os assuntos tabus. Ninguém quer ou ousa discutir essas temáticas com os alunos. Eu pouco ou nada sabia das minhas origens em sala, porque, de certo modo, conteúdos referentes à África só aparecia no período colonial brasileiro e os negros e negras sendo vistos como escravos. Eu não tinha uma história contada pelos negros e pelas negras.

Hoje eu sei explicar o que antes só imaginava. Temos uma educação que vale mais os números, do que os alunos propriamente ditos. Temos uma educação que ainda é racista, machista e homofóbica. Temos uma educação onde os avanços são muito menos sentidos do que as permanências. Por fim, quero dizer que hoje eu sei e desejo uma escola onde o que se aprenda na sala possa de fato ser aplicado em casa, na rua... Onde o que se passa lá fora possa ser trabalhado a exaustão na escola, para que meus filhos não possam se sentir estrangeiros na sua própria terra. Desejo ainda uma escola que eduque para as relações étnico-raciais e pontue o ano inteiro a história e cultura africana e afro-brasileira. 

Por fim ainda, desejo uma escola que tenha pluralidade de ideias e onde  se incite os alunos e alunas a partir do debate com textos  diferentes, permitindo que eles/as formem opinião se tornando cidadãos críticos e atuantes do meio que o cerca e não o que ora se quer para a educação - uma "escola sem partido". Quero, outrossim, uma escola de muitos partidos. 

Ah e antes que eu esqueça. Desejo uma escola onde os professores, professoras e demais companheiros/as de jornada que se preocupam com essa educação desejada, sejam maioria.

Imagem meramente ilustrativa/Divulgação.




Professor de História diz que “Escola sem Partido” é uma proposta de intimidação ideológica



O site do Senado Federal abriu nesta segunda-feira (18) uma consulta pública relativa ao programa “Escola Sem Partido”, estampado no Projeto de Lei 193/2016. De autoria do senador Magno Malta (PR-ES), o PL objetiva a proibição de manifestações ideológicas e político-partidárias por parte de professores em sala de aula.

Publicado originalmente no Brasil de Fato

Fabiano Godinho Faria, professor de História e coordenador-geral do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica e Profissional (Sinasefe), ressalta que a iniciativa de proposição do referido projeto de lei se conecta a uma postura ideológica conservadora surgida no período pré-1964, antes da instauração da ditadura militar no Brasil.

Naquela época, havia uma noção de um inimigo interno que precisava ser combatido em defesa da família e de uma noção distorcida de democracia. Eles falavam em uma democracia adaptada aos tempos modernos, que era justamente a ditadura”, explica.

Para o docente, ao reviver conceitos de intimidação ideológica, a proposta legislativa segue na mesma linha. “É algo típico do período da Guerra Fria. O objetivo explícito é perseguir, demitir e até prender os docentes que defendam uma visão de mundo contrária ao status quo. Colocar a educação a serviço da manutenção de uma visão de mundo dessas é um retrocesso, porque afronta avanços que tivemos nas últimas décadas. Nós chegamos ao ponto de tratar o racismo como crime, de aceitar a união homoafetiva, e o projeto tenta criminalizar esse tipo de discussão. É uma ode ao atraso”, avalia.

"Coisa da ditadura"

A proposta, que foi apelidada de “Lei da Mordaça”, vem suscitando a reação de diversos segmentos da sociedade, que criaram na última quarta (13) a Frente Nacional Contra o Projeto Escola Sem Partido, composta por mais de 100 entidades, entre elas o Sinasefe.

Não existe liberdade de expressão no exercício estrito da atividade docente, sob pena de ser anulada a liberdade de consciência e de crença dos estudantes, que formam, em sala de aula, uma audiência cativa”, diz o texto do PL. Ainda segundo o projeto, a referida liberdade de consciência dos estudantes estaria “violada” caso o professor se utilizasse do espaço escolar para promover suas concepções políticas, ideológicas e morais.

A medida tem sido interpretada por educadores e diversos formadores de opinião como sendo uma ofensiva conservadora voltada ao sufocamento de ideologias divergentes no universo da formação educacional.

É a institucionalização de uma visão reacionária da sociedade e das relações sociais que é tida como o ideal e que pretende enquadrar o pensamento crítico nas escolas, tomando como padrão a leitura conservadora do mundo. (…) É um projeto direitista”, disse Faria.

Polêmico, o PL tramita atualmente na Comissão de Educação do Senado e aguarda parecer do relator, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF). Atualmente em viagem ao exterior, o parlamentar não pôde conversar com o Brasil de Fato.

Anteriormente, ele já havia se manifestado contrário a um projeto semelhante que foi apresentado na Câmara Legislativa do Distrito Federal. “Tolher um professor é coisa da ditadura”, disse na ocasião.

A reportagem procurou ouvir o senador Magno Malta, autor do PL, mas não obteve retorno da assessoria de imprensa do parlamentar até o fechamento desta matéria.

No mesmo fluxo de raciocínio, o professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Luiz Araújo relembra que o movimento que atualmente defende o PL do programa Escola Sem Partido deu sinais na história recente do Brasil.

Em 2014, quando estava sendo discutido o Plano Nacional de Educação, houve uma cruzada contra qualquer referência às questões de gênero no Plano. A bancada evangélica fez uma pressão muito grande. Depois, em 2015, quando foram elaborar os planos municipais, eles fizeram uma articulação para alterar a parte que tratava desse tema e interditar a discussão de gênero. (…) É uma tentativa de impedir que a escola dispute conceitos progressistas, humanitários, dos quais os segmentos conservadores discordam”, analisa.

Propostas regionais

Além do Senado, a Câmara Federal e diversas casas legislativas, como as de Alagoas, do Rio Grande do Sul e do Distrito Federal, têm propostas semelhantes em andamento. Para o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), as iniciativas vão na contramão do que a escola deveria trabalhar na condição de instituição educadora.

"A escola e a universidade devem falar sobre gênero, sexualidade, política, filosofia, sobre história, ideias, ideologias e doutrinas de todo tipo, e isso precisa ser visto como algo positivo, não como um perigo. É preciso que isso seja feito apresentando diversas opiniões e educando os alunos para que possam fazer uma leitura crítica de todas as ideias que lhe são apresentadas. Precisamos ter uma escola com todos os partidos, com democracia, com diversidade, com curiosidade pelo saber, pela informação, pela pesquisa, pelo debate, pela leitura crítica do mundo — e, sobretudo, uma escola com muita liberdade”, considera o parlamentar, um dos críticos ferrenhos da proposta.

Nos últimos dias, o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) se manifestou publicamente contra esse tipo de iniciativa legislativa.

“[A proposta] fere a emancipação das instituições públicas de ensino e dos docentes e impõe a mordaça aos currículos promotores do crescimento da consciência das novas gerações”, disse em nota a entidade, que representa 41 instituições pelo país.

O professor e reitor do Instituto Federal do Maranhão (IF-MA), um dos diretores do Conif, ressalta que a proposta fere os ditames da Constituição Federal. “Se a liberdade de expressão é garantida por ela, essa proposta é algo que vai na linha da censura”, disse.

Articulação e resistência

Para o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que é membro titular da Comissão de Educação da Câmara e já foi presidente do colegiado, a sociedade precisa se mobilizar contrariamente às propostas do programa Escola Sem Partido.

Ele está colhendo assinaturas para a criação de uma frente parlamentar que possa aglutinar deputados interessados em se opor a projetos que restrinjam direitos. “Nós temos que ampliar esse movimento dentro da Câmara, mas estou certo também de que precisamos de iniciativas que extrapolem os muros da Casa, para poder dar resultado. Precisamos lutar contra essa política de restrição de direitos que estão querendo implementar”, disse. 

Segundo o coordenador-geral do Sinasefe, Fabiano Godinho Faria, o movimento vem mobilizando as bases para tentar engrossar o coro contra os PLs que promovem o programa Escola Sem Partido. Esta semana, a Frente Nacional se reúne em Brasília para definir um plano de ações. A ideia é articular comitês regionais e estaduais contra as propostas.


Vamos fazer corpo a corpo com os parlamentares e não descartamos uma paralisação nacional. Vamos responder ao ataque da direita com as nossas armas e com os nossos métodos de mobilização histórica. Se for necessário ocupar as ruas, faremos isso com força total”, garantiu.

Senador Magno Malta (PR - ES) é o autor do Projeto de Lei 193/2016/ Sandro Nascimento ( Alep).


Em Rondônia, pesquisador diz ter encontrado altar de cidade inca


Um pesquisador independente localizou um sítio arqueológico no município de Alta Floresta do Oeste (RO), a 540 quilômetros de Porto Velho, e já relatou a descoberta ao Ministério Público Federal e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Publicado originalmente no Blog da Amazônia

O farmacêutico Joaquim Cunha da Silva, especialista em citologia clínica e georreferenciamento,  acredita que trata-se de um altar onde eram realizadas cerimônias sagradas na lendária cidade perdida Paititi, que teria sido criada pelos incas em fuga após a colonização espanhola no Peru.

- Existem vários altares similares a esse, que é o primeiro encontrado no Brasil, em países como Argentina, Peru e Colômbia, onde a cultura pré-inca, inca e aruaque se desenvolveu – disse Joaquim Silva ao Blog da Amazônia.

Segundo o pesquisador, no sítio arqueológico existem evidências de assentamento humano e foram recolhidos restos de cerâmica e artefatos líticos como machadinhas e facas de pedra.

Ele disse que existe também área onde supostamente foi desenvolvida agricultura, além de outra área onde foi encontrada urnas funerárias de cerâmica antropomórfica (estátua de barro) com característica aruaque ou inca.

- Nós também já identificamos geoglifos zoomorfos e antropomorfos, ou seja, na forma de animais e pessoas. Existe uma construção em estrutura de pedra e terra no formato de uma pirâmide. No topo dessa pirâmide existem desenhos de animais e de pessoas, feitos com paisagismo vegetal. Nesse local, dois geólogos constataram que a presença de um muro de arrimo, de pedra, é resultante de trabalho humano – afirma o pesquisador.

Joaquim Cunha da Silva disse que já foram identificados 29 "pilões" ou "bacias" feitos na pedra do suposto altar. Ele acredita que correspondem ao calendário lunar. Em outra rocha próxima, existem mais sete "pilões" ou "bacias", que o pesquisador supõe que eram usados para representar as fases da lua e os dias da semana ou o solstício e o equinócio.

- Imagino que o altar poder ter sido usado em rituais para que os indígenas se guiassem com o reflexo dos astros e estrelas. Há evidências no local de que eles se valiam de plantas de poder. No entorno do sítio, por exemplo, encontramos o cipó e a folha usadas na preparação da ayahuasca. Tudo isso podia servir como oráculo, para que pudessem planejar o futuro, fazer previsão de plantações e colheitas.

Joaquim Silva lembra que Bryan, filho do explorador inglês Percy Fawcett, relatou que o pai, entre 1909 e 1911, fez viagens para percorrer uma montanha na região e escreveu sobre a existência da "Grande Paititi".  A montanha mencionada por Fawcett é a Serra do Norte ou Chapada dos Parecis, no Vale do Rio Guaporé.

- O que faço na região desde 2009 é arqueologia de paisagem. Através de pesquisa em campo, tenho observado a ação do homem no meio ambiente com a mudança ocasionada por ele, o enriquecimento da flora e a alteração no relevo. É assim que tenho localizado indicadores florestais, cerâmicas e artefatos líticos sobre a existência desse e de vários outros sítios arqueológicos que sinalizam que outros povos muito avançados viveram na região – acrescenta o pesquisador, autor do blog Eldorado Paititi.