Da Revista Cult: A arte de escrever para idiotas


Para aqueles que não lerão este artigo

Em nossa cultura intelectual e jornalística surge uma nova forma retórica. Trata-se da arte de escrever para idiotas que, entre nós, tem feito muito sucesso. Pensávamos ter atingido o fundo do poço em termos de produção de idiotices para idiotas, mas proliferam subformas, subgêneros e subautores que sugerem a criação de um nova ciência.

Estamos fazendo piada, mas quando se trata de pensar na forma assumida atualmente pela “voz da razão” temos que parar de rir e começar a pensar.

Artigos ruins e reacionários fazem parte de jornais e revistas desde sempre, mas a arte de escrever para idiotas vem se especializando ao longo do tempo e seus artistas passam da posição de retóricos de baixa categoria para príncipes dos meios de comunicação de massa. Atualmente, idiotas de direita tem mais espaço do que idiotas de esquerda na grande mídia. Mas isso não afeta em nada a forma com que se pode escrever para idiotas.

Diga-se, antes de mais nada, que o termo idiota aqui empregado guarda algo de seu velho uso psiquiátrico. Etimologicamente, “idiota” tem relação com aquele que vive fechado em si mesmo. Na psiquiatria, a idiotia era uma patologia gravíssima e que, em termos sociais, podemos dizer que continua sendo.

Uma tipologia psicossocial entra em jogo na história, baseada em dois tipos ideais de idiotas: oidiota de raiz, dentre os quais se destaca a subcategoria do idiota representante do conhecimento paranoico, e o neo-idiota, com destaque para o “idiota” mercenário que lucra com a arte de escrever para idiotas.

Vejamos quem são:

1- O Idiota de raiz é fruto de um determinismo: ele não pode deixar de ser idiota. Seja em razão da tradição em que está inserido ou de um déficit cognitivo, trata-se de um idiota autêntico.

O Idiota de raiz divide-se em três subtipos:

1. 1 – Ignorante orgulhoso: não se abre à experiência do conhecimento. Repete clichês introduzidos no cotidiano pelos meios de informação que ele conhece, a televisão e os jornais de grande circulação, em que a informação é controlada. Sua formação é “midiatizada”, mas ele não sabe disso e se orgulha do que lhe permitem conhecer. No limite, o ignorante orgulhoso diz “sou fascista”, sem conhecer a experiência do fascismo clássico da década de 30 e o significado atual da palavra, assim como é capaz de defender sem razoabilidade alguma ideias sobre as quais ele nada sabe. Um exemplo muito atual: apesar da violência não ter diminuído nos países que reduziram a maioridade penal, a ignorância da qual se orgulha o idiota, o faz defender essa medida como solução para os mais variados problemas sociais.  Ele se aproxima do “burro mesmo” enquanto imita o representante do conhecimento paranoico, apresentados a seguir.

1.2 – “Burro mesmo”: não há muito o que dizer. Mesmo com informação por todos os lados, ele não consegue juntar os pontinhos. Por exemplo: o “burro mesmo” faz uma manifestação “democrática” para defender a volta da ditadura. Para bom entendedor, meia palavra…

1.3 – Representante do conhecimento paranoico: tendo estudado ou sendo autodidata, o representante do conhecimento paranoico pode ser, sob certo aspecto, genial. Freud comparava, em sua forma, a paranoia a uma espécie de sistema filosófico. O paranoico tem certezas, a falta de dúvida é o que o torna idiota. Se duvidasse, ele poderia ser um filósofo. O conhecimento paranoico cria monstros que ele mesmo acredita combater a partir de suas certezas. O comunismo, o feminismo, a política de cotas ou qualquer política que possa produzir um deslocamento de sentido e colocar em dúvida suas certezas, ocupa o lugar de monstro para alguns paranoicos midiaticamente importantes.

Curioso é que o representante do conhecimento paranoico pode parecer alguém inteligente, mas seu afeto paranoico o impede de experimentar outras formas de ver o mundo, abortando a potência de inteligência, que nele é, a todo momento, mortificada. Isso o aproxima do “ignorante orgulhoso” e do “burro mesmo”.


Em termos vulgares e compreensíveis por todos: ele é a brochada da inteligência.

Foto: Reprodução.
2 – O neo-idiota: o neo-idiota poderia não ser um idiota, mas sua escolha, sua adesão à tendência dominante, o coloca nesse lugar. Não se pode esquecer que, além de cognitiva, a inteligência é uma categoria moral. O neo-idiota não é apenas um idiota, mas também um canalha em potencial.

Há dois subtipos de neo-idiota:

2.1 – O “idiota” mercenário quer ganhar dinheiro. Ele serve aos interesses dominantes, mas é um idiota como outro qualquer, porque não ganha tanto dinheiro assim quando vende a alma.
Nessa categoria, prevalece o mercenário sobre o idiota. Por isso, podemos falar de um idiota entre aspas. Ganha dinheiro falando idiotices para os idiotas que o lerão. Seu leitor padrão divide-se entre o “burro mesmo” e o “idiota cool”. Ele escreve aquilo que faz o “burro mesmo” pensar que é inteligente. O idiota cool, por sua vez, se sente legitimado pelo que lê. O que revela a responsabilidade do idiota mercenário no crescimento do pensamento autoritário na sociedade brasileira. Apresentar Homer Simpson ou qualquer outro exemplo de “burro mesmo” como modelo ideal de telespectador ou leitor é paradigmático nesse contexto.

2.2 – O “idiota cool” lê o que escreve o idiota mercenário. Repete suas ideias na esperança de ser aceito socialmente. De ter um destaque como sujeito de ideias (prontas). Ele gosta de exibir sua leitura do jornal ou do blog e usa as ideias do articulista (do representante do conhecimento paranoico ou do idiota mercenário) para tornar-se cool. Ele segue a tendência dominante. Ao contrário do “burro mesmo”, nele sobressai o esforço para estar na moda. Como, diferentemente dos seus ídolos, ele não escreve em jornais ou blogs famosos, ele transforma o Facebook e outras redes sociais no seu palco.

Diante disso, temos os textos produzidos a partir da altamente falaciosa arte de escrever para idiotas. O sucesso que alcançam tais textos se deve a um conjunto de regras básicas. Identificamos dez, mas a capacidade para escrever idiotices tem se revelado engenhosa e não deve ser menosprezada:

1-    Tratar como idiota todo mundo que não concorda com as idiotices defendidas. O texto é construído a partir do narcisismo infantil do articulista. O autor sobressai no texto, em detrimento do argumento. Assim ele reafirma sua própria imagem desqualificando a diferença e a inteligência para vender-se como inteligente.

2-    Não deixar jamais que seu leitor se sinta um idiota. Sustentar idiotices com as quais o leitor (o burro mesmo, o ignorante orgulhoso e o idiota cool) se identifique, o que faz com que o mesmo se sinta inteligente.

3-    Abordar de forma sensacionalista qualquer tema. Qualquer assunto, seja socialmente relevante ou não, acaba sendo tratado de maneira espetacularizada.

4-    Transformar temas desimportantes em instrumentos de ataque e desqualificação da diferença. Por exemplo, a “depilação feminina” já foi um assunto apresentado de modo enervante, excitante, demonizante e estigmatizante. Nesse caso, o preconceito de gênero escondeu a falta de assunto do articulista.

5-    Distorcer fatos históricos adequando-os às hipóteses do escritor. Em uma espécie de perversão inquisitorial, o acontecimento acaba substituído pela versão distorcida que atende à intenção do autor do texto para idiotas.

6-    Atacar alguém. Este é um dos aspectos mais importantes da arte de escrever para idiotas. A limitação argumentativa esconde-se em ataques pessoais. Cria-se um inimigo a ser combatido. O inimigo é o mais variado, mas sempre alguém que representa, na fantasia do escritor, o ideal contrário ao dos seus leitores (os idiotas: o burro mesmo, o ignorante orgulhoso e o idiota cool).

7-    Reduzir tudo a uma visão maniqueísta. Toda complexidade desaparece nos textos escritos para idiotas.  O mundo é apresentado como uma luta entre o bem e o mal, o certo e o errado, o comunismo e o capitalismo ou Deus e o Diabo.

8-    Desconsiderar distinções conceituais. Nos textos escritos para idiotas, conservadores são apresentados como liberais, comunistas são confundidos com anarquistas, etc.

9-    Investir em clichês e ideias fixas. Clichês são pensamentos prontos e de fácil acesso. Sem o esforço de reflexão crítica, os clichês dão a sensação imediata de inteligência. Da mesma maneira, o recurso às ideias fixas é uma estratégia para garantir a atenção do leitor idiota (o burro mesmo, o ignorante orgulhoso e o idiota cool) e reforçar as “certezas” em torno das hipóteses do escritor (nesse particular, Goebbels, o chefe da propaganda de Hitler, foi bem entendido).

10-Escrever mal. A pobreza vernacular e as limitações gramaticais são essências na arte de escrever para idiotas. O leitor idiota não pode ser surpreendido, pois pode se sentir ofendido com algo mais inteligente do que ele. Ele deve ser capaz de entender o texto ao ler algo que ele mesmo pensa ou que pode compreender. Deve ser adulado pela idiotice que já conhece ou que o escritor quer que ele conheça.

(Para além do que foi identificado acima, fica a questão para quem deseja escrever para idiotas: como atingir a pobreza essencial na forma e no conteúdo que concerne a essa arte?)

A arte de escrever para idiotas constitui parte importante da retórica atual do poder. Saber é poder, falar/escrever é poder, e o idiota que fala e é ouvido, que escreve e é lido, tem poder. O empobrecimento do debate público se deve a essas “cabeças de papelão”, fato que é identificado tanto por pensadores conservadores quanto por progressistas.

O grande desafio, portanto, maior do que o confronto reducionista entre direita e esquerda, desenvolvimentistas e ecologistas, governistas e oposicionistas, entre machistas e feministas, parece ser o que envolve os que pensam e os que não pensam. Sem pensamento não há diálogo possível, nem emancipação em nível algum.

Se não houver limites para a idiotice, ao contrário da esperança que levou a escrever esse texto, resta isolar-se e estocar alimentos.





Atualizando: Lista de trabalho escravo tem 421 nomes de empregadores



Uma liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal impedindo o governo federal de divulgar a “lista suja” do trabalho escravo, no final do ano passado, continua em vigor. Por conta disso, a Repórter Brasil e o Instituto do Pacto Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (InPACTO) solicitaram com base na Lei de Acesso à Informação (12.527/2012), que o Ministério do Trabalho e Emprego (responsável pela lista desde 2003) fornecesse os dados dos empregadores autuados em decorrência de caracterização de trabalho análogo ao de escravo e que tiveram decisão administrativa final, entre maio de 2013 e maio de 2015.

Pará aparece em primeiro lugar da lista com 180 nomes, seguido por Minas Gerais, com 45.
O extrato com o resultado, recebido pelas organizações na quinta-feita (3), pode ser obtido abaixo:


A primeira solicitação dessa listagem com base na Lei de Acesso à Informação foi feita por iniciativa do blog de Leonardo Sakamoto e também solicitada pela Repórter Brasil e o InPACTO. Divulgada em março deste ano, trouxe os casos entre dezembro de 2012 e dezembro de 2014.

Esta nova solicitação, uma iniciativa dessas duas instituições da sociedade civil, engloba os casos entre maio de 2013 e maio de 2015, e contém 421 nomes de pessoas físicas e jurídicas. O Pará é o Estado mais presente, com 180 empregadores, seguido por Minas Gerais, com 45, e Tocantins, com 28.

O objetivo das organizações ao veicular essa “Lista de Transparência sobre Trabalho Escravo Contemporâneo no Brasil” é garantir o direito da sociedade e do setor empresarial à transparência sobre o tema, fornecendo informações sobre os flagrantes confirmados por trabalho análogo ao de escravo realizados pelo governo.

Suspensão pelo STF

Em meio ao plantão do recesso de final de ano, o ministro Ricardo Lewandowski garantiu uma liminar à Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) suspendendo a “lista suja” do trabalho escravo (cadastro de empregadores flagrados com esse tipo de mão de obra). A entidade questionou a constitucionalidade do cadastro, afirmando, entre outros argumentos, que ele deveria ser organizado por uma lei específica e não uma portaria interministerial, como é hoje.

Os nomes permaneciam na “lista suja” por, pelo menos, dois anos, período durante o qual o empregador deveria fazer as correções necessárias para que o problema não voltasse a acontecer e quitasse as pendências com o poder público. Com a suspensão, uma atualização da relação que estava para ser divulgada no dia 30 de dezembro foi bloqueada. O cadastro, criado em 2003, é um dos principais instrumentos no combate a esse crime e tido como referência pelas Nações Unidas.

Em março deste ano, o governo federal lançou uma nova portaria interministerial (MTE/SEDH número 2/2015), garantindo mais transparência ao processo de entrada e saída da “lista suja”. Contudo, a Advocacia Geral da União (AGU), até agora, não convenceu o Supremo Tribunal Federal a arquivar a Ação Direta de Inconstitucionalidade, nem a suspender a liminar por perda de objeto diante da nova portaria.

Lei de Acesso à Informação

Considerando que a “lista suja” nada mais é do que uma relação dos casos em que o poder público caracterizou trabalho análogo ao de escravo e nos quais os empregadores tiveram direito à defesa administrativa em primeira e segunda instâncias; e que a sociedade tem o direito de conhecer os atos do poder público, a Repórter Brasil e o InPACTO, solicitaram, com base nos artigos 10, 11 e 12 da Lei de Acesso à Informação (12.527/2012) – que obriga quaisquer órgãos do governo a fornecer informações públicas – e no artigo 5º da Constituição Federal de 1988 o seguinte:

A relação com os empregadores que foram autuados em decorrência de caracterização de trabalho análogo ao de escravo e que tiveram decisão administrativa transitada em julgado, entre maio de 2013 e maio de 2015, confirmando a autuação, constando: nome do empregador (pessoa física ou jurídica), nome do estabelecimento onde foi realizada a autuação, endereço do estabelecimento onde foi caracterizada a situação, CPF ou CNPJ do empregador envolvido, número de trabalhadores envolvidos e data da fiscalização em que ocorreu a autuação.”

Direito à informação

A sociedade brasileira depende de informações oficiais e seguras sobre as atividades do Ministério do Trabalho e do Emprego na fiscalização e combate ao trabalho escravo contemporâneo no Brasil.

Informação livre é fundamental para que as empresas e outras instituições desenvolvam suas políticas de gerenciamento de riscos e de responsabilidade social corporativa. A portaria que regulamentava a suspensa “lista suja” não obrigava o setor empresarial a tomar qualquer ação, apenas garantia transparência. Muito menos a relação aqui anexa. São apenas fontes de informação a respeito de fiscalizações do poder público.

Transparência é fundamental para que o mercado funcione a contento. Se uma empresa não informa seus passivos trabalhistas, sociais e ambientais, sonega informação relevante que pode ser ponderada por um investidor, um financiador ou um parceiro comercial na hora de fazer negócios.

As informações que constam na “Lista de Transparência sobre Trabalho Escravo Contemporâneo no Brasil” são oficiais uma vez que fornecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego através de solicitação formal e transparente, que obedece a todos os trâmites legais previstos na Lei de Acesso à Informação. Solicitação que pode ser repetida por qualquer cidadão, organização social ou empresa. A lista será o principal instrumento das empresas associadas do InPACTO para o controle e monitoramento de sua cadeia produtiva com relação ao trabalho escravo.

Conheça um guia prático das Cotas



Como ainda tem muita gente que não entende (ou não quer entender) por que temos cotas raciais e sociais no Brasil, preparei um rápido guia. Ele pode ser aumentado à medida que novas dúvidas surjam. Qualquer pergunta extra, escreva para o blog.


1. Se você é preto, pardo ou indígena, tem direito às cotas; ponto. A autodeclaração vale na hora da inscrição, mas algumas universidades podem exigir comprovação após a matrícula para verificar se você atende aos requisitos. Isto é feito principalmente para não prejudicar outros pretos, pardos ou indígenas que de fato precisam das cotas.

2. Se você é preto, pardo ou indígena e veio de escola privada, mas acha que, por uma questão de reparação histórica, deve usar o sistema, tem direito.

3. Se você é preto, pardo ou indígena e veio de escola privada, poderia abrir mão das cotas (se desejar). Esta é, porém, uma decisão que compete apenas aos pretos, pardos e indígenas, não aos brancos.

4. Se você é preto, pardo ou indígena e, mesmo sendo pobre, acha que as cotas são desnecessárias, é simples: não utilize as cotas. Mas estude melhor a História do Brasil para não se tornar duplamente vítima do racismo, sem se dar conta.

5. Se você é branco e veio de escola pública, tem direito às cotas.

6. Se você é branco, mas longinquamente afrodescendente e estudou em escola privada, não deveria se candidatar a cotas por uma questão moral e ética. Fazer-se passar por negro para ser beneficiado por cotas é uma espécie de corrupção e pode ser considerado estelionato.

7. Se você é branco e veio de escola privada, não tem direito a cotas.

8. As cotas foram feitas, obviamente, para atender a quem precisa delas. Como a maioria dos pobres no Brasil é preta, parda ou indígena, bingo: a maioria deles precisa de cotas porque não se pode comparar suas chances de ascender à universidade com as de estudantes de classe média ou ricos que frequentaram escola privada a vida toda. Isto se chama INCLUSÃO.

9. Coloque na cabeça: as cotas não são uma vantagem: são a correção de uma desvantagem histórica. Antes delas, apenas 2,2% de pardos e 1,8% de negros tinham concluído universidade no Brasil; após as cotas, este número subiu para 11% de pardos e 8,8% de negros. Ainda é pouco, já que eles são 53% na população. Em Medicina, por exemplo, somente 0,9% dos formandos no Estado de São Paulo em 2014 eram negros.

10. Quem gosta tanto de usar a palavra “meritocracia” deveria entender que ela só se justifica entre pessoas com condições de vida semelhantes e não entre desiguais. É moleza falar em meritocracia sendo branco, tendo papai rico e estudando nos melhores colégios. É como apostar corrida saindo vários segundos na frente do outro competidor.

11. Ao contrário do que quem é contra as cotas costuma espalhar por aí, as notas dos cotistas têm se mostrado iguais ou superiores às dos estudantes não-cotistas em várias universidades, como a UFMG, e em algumas delas o índice de evasão dos cotistas é menor que o dos não-cotistas.

12. Nos EUA, existem cotas (políticas de ação afirmativa) desde os anos 1970. Isso possibilitou que os negros avançassem na sociedade ao ponto de hoje o presidente do País ser negro. No Brasil, menos de 10% dos deputados e senadores são pretos e pardos.

13. As cotas raciais têm prazo para acabar: assim que a proporção de pretos, pardos ou indígenas em relação aos brancos chegar a números semelhantes aos da sociedade em geral, as cotas acabam. Enquanto isso não acontecer, nada mais justo que continuem.

Movimentos Sociais do Cariri promove Grito dos Excluídos em alusão ao 07 de setembro


Os movimentos sociais com forte atuação na região do cariri cearense promoveram na manhã desta segunda-feira, 07, o Grito dos Excluídos.

Movimentos Sociais do Cariri promove o Grito dos Excluídos durante o 07 de setembro. Foto: Cártias Diocesana de Crato.

Segundo Valéria Carvalho, uma das integrantes do Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) e uma das organizadores do movimento, a concentração tinha como ponto inicial a Praça São Vicente, no município de Crato, vindo a compor a bandeira de luta e pauta das reivindicações a mesma do grito – “Que país é este, que mata a gente, que a mídia mente e nos consome."

Valéria informou ainda que o tema foi trabalhado amplamente nos grupos e na feira de economia solidária dentro do Artefatos da Cultura Negra realizado entre os dias 31 de agosto e 04 do mês corrente.

Os participantes exibiram faixas se contrapondo ao racismo e a violência, demonstração de cartazes que reforçam a importância de se valorizar a cultura e  o respeito para com o outro, além de ressaltarem a garantia dos direitos básicos e a construção de espaços políticos participativos.

O grupo Cáritas Diocesana de Crato ao compartilhar imagens que ilustram este artigo fez questão de frisar os motivos da movimentação: “7 de setembro, dia de comemorar a Independência do Brasil, tão dependente de gente que mente, que não é patriota e que nos envergonha... Dia de sair nas ruas e perguntar que País é esse?!  Dia de mostrar para nossas crianças que um novo mundo é possível, que a nossa cultura tem que ser valorizada e que precisamos respeitar mais os nossos irmãos, o nosso País... Essa é a nossa bandeira!”

Confira mais fotos abaixo








Prefeito de Altaneira muda de sigla e é seguido por professores, empresária e comerciante


Seguindo o mesmo rumo político dos ex-governadores do estado do Ceará, os irmãos Cid e Ciro Gomes que, durante a semana trocaram a legenda do Partido da Ordem Social (PROS) pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), o atual prefeito do município de Altaneira, Delvamberto Soares anunciou durante encontro na noite deste sábado, 05, no restaurante Recanto Bom Gosto” com sua base aliada e alguns líderes comunitários a sua saída da legenda partidária que ora possui abrigo para encaminhar a filiação ao PDT.

Prefeito Delvamberto Soares anuncia mudança de sigla durante encontro no Restaurante Bom Gosto. Foto: João Alves.
Delvamberto assim como os demais prefeitos, vereadores e deputados terão um prazo para oficializarem a sua entrada na nova agremiação que visam se organizarem para o processo eleitoral do próximo ano. Há que se notar, porém que todas as mudanças na legislação eleitoral e partidária precisam estar de forma oficial integrada ao ordenamento jurídico nacional até o próximo dia 02 de outubro, 365 dias antes das eleições.

Segundo informações constantes nos portais locais A Pedreira e Blog de Altaneira, o encontro teve a presença a  participação do ex-prefeito João Ivan Alcântara, do ex-vice-prefeito Raimundo Nogueira Soares, dos vereadores Antonio Leite (PRB), Deza Soares (Solidariedade) e Gilson Cruz (Sem Partido), dos secretários municipais Ariovaldo Soares (Administração), Ceza Cristóvão (Agricultura), Dariomar Soares (Governo) e Dhony Nergino (Educação), diretores de escolas, coordenadores, professores, servidores municipais, empresários, comerciantes e lideranças políticas e comunitárias.

Ainda em conformidade com esses portais, o prefeito em seu discurso reprisou a parceria mantida com o ex-governadores da família dos Ferreira Gomes e ainda cogitou a possibilidade do Cid Gomes ser pelo PDT candidato a Presidente da República, solicitando o acompanhamento dos correligionários a sua mudança.  

Os parlamentares, o secretariado e os ex-gestores desta municipalidade presente no encontro se comprometeram a trocar de agremiação. Porém o atual gestor teve a companhia do professores Reginaldo Venâncio e Clécio Sousa, a empresária Fabíola Freire, o comerciante Gleudson Sousa, o contador Cristiano Freire, e o agricultor José Basto.

Antes da adesão ao PDT (seu partido de origem), Delvamberto já passou pelos partidos PMDB, PSB e PROS. Foi inclusive pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) que ele conseguiu se eleger prefeito em outubro de 2012. 

Revisando a História do 07 de setembro: “Datas são pontas de iceberg”


D. Pedro, detalhe do quadro "O grito do
Ipiranga", de Pedro Américo, em 1888.
A data oficial da independência do Brasil, o Sete de Setembro, está associada à proclamação feita pelo príncipe D. Pedro, em 1822, às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo. Mas somente décadas depois a data começou a ganhar importância no calendário de comemorações oficiais do Império. Antes disso, outras datas foram pensadas para comemorar a independência do Brasil: a convocação da Assembleia Constituinte, a coroação ou mesmo o aniversário do imperador.

No final do século XIX, os paulistas trataram de marcar o feito ocorrido em seu território: entre 1885 e 1890, construíram o majestoso “Museu do Ipiranga” (Museu Paulista), no suposto local do famoso “grito”. Em 1888, Pedro Américo concluiu a emblemática pintura O grito do Ipiranga (popularmente conhecida como Independência ou morte) para decorar o museu ainda em obras.

Com a República, o Sete de Setembro tornou-se data nacional, virou feriado e foi festejado com desfiles militares, discursos de autoridades e outras manifestações.

Revisão da História

A historiografia atual tem revisto a construção do Sete de Setembro como data nacional da emancipação do Brasil. O episódio do Ipiranga, com exceção das províncias de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, não teve repercussão no resto do país no momento em que ocorreu.

Sequer havia consenso entre os diferentes segmentos da sociedade em apoiar a separação do país de sua metrópole. Além disso, as enormes distâncias dificultavam a comunicação de muitas províncias com a capital. O Piauí, o Maranhão e o Pará tinham pouca (ou nenhuma) comunicação com o Rio de Janeiro e obedeciam a Portugal.  Após o Sete de Setembro, quase metade do país estava mergulhada em conflitos armados que ameaçavam retomar o domínio português.

Câmara Municipal de Cahoeira, Bahia.
Cachoeira, a cidade pioneira da independência

Em 25 de junho de 1822, a Câmara Municipal de Cachoeira, cidade do Recôncavo Baiano, a 120 km de Salvador, proclamou seu rompimento com Portugal, apoiada pela população e pelas tropas locais. Sofreram, por isso, a intervenção militar da Coroa portuguesa.

No mesmo mês, um navio militar comandado pelo almirante português Madeira de Melo, chegou à Cachoeira pelo rio Paraguaçu decidido a submeter o povo às ordens de Portugal. A população reagiu e o confronto resultou em bombardeamento e tiroteio até a captura e prisão dos militares portugueses.

O Dois de Julho

O sucesso dos “brasileiros” de Cachoeira contagiou outras vilas do Recôncavo que aderiram à resistência e a rebelião se propagou. O movimento ganhou força e a guerra pela independência se alastrou por um ano. Nas lutas destacou-se Maria Quitéria de Jesus Medeiros que, vestida de homem (era chamada de “soldado Medeiros”), integrou o batalhão “Voluntários do Príncipe D. Pedro” e acabou sendo condecorada com a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul. Outra participação feminina na guerra da Bahia foi a da negra Maria Felipa de Oliveira, natural da ilha de Itaparica; ela liderou um grupo de mulheres que ateou fogo em 42 embarcações portuguesas.

Festa do 2 de julho, Independência da Bahia.
Finalmente, em 2 de julho de 1823, Madeira de Melo e seus homens foram expulsos da Bahia. A notícia da vitória da Bahia chegou ao Rio de Janeiro quatorze dias depois, trazida pela sumaca São José Triunfante.

O Dois de Julho é festejado até hoje como a data da independência da Bahia e, em junho de 2013, foi oficializado como data histórica nacional. Nas comemorações, desfilam os tradicionais carros da Cabocla e do Caboclo que representam a participação indígena na guerra. Na cidade de Caetité, que festeja a data com grande pompa, a figura de uma cabocla surge num dos carros, matando o “Dragão da Tirania", que representa o colonizador português vencido.

Em reconhecimento histórico pelos feitos de Cachoeira em prol do país, a cidade ganhou o título de “Heroica” e, todos os anos, no dia 25 de junho, a capital do estado é transferida para esta cidade. Aliás, a Cachoeira já foi capital da Bahia por ocasião da revolta da Sabinada, em 1835, quando o governo deposto de Salvador refugiou-se naquela cidade.

A guerra no Piauí, Maranhão e Ceará

Em outubro de 1822, na cidade de Parnaíba, no norte do Piauí, o povo se levantou para aclamar D. Pedro I como imperador do Brasil. Imediatamente, de Oeiras, capital da província, partiu a tropa portuguesa comandada pelo major João da Cunha Fidié para sufocar a rebelião. Enquanto Fidié lutava no norte, a população de Oeiras também se sublevou.

Ao mesmo tempo, “brasileiros” do Maranhão e no Ceará aderiram à independência. No Ceará, o líder sertanejo José Pereira Figueiras, comandando o povo, tomou Fortaleza de assalto, depondo o governo português e formando um novo governo fiel à emancipação.

Em São Luís, no Maranhão, onde o governo aliado a Portugal ainda tentava resistir, a independência foi aclamada pelo povo com a chegada da esquadra sob o comando do almirante Cochrane (28 de julho de 1823).

Batalha do Jenipapo, de Francisco Paz, 2003. Museu de
Campo Maior, Piaui.
A batalha do Jenipapo

No Piauí, a luta continuava e chegaram reforços de voluntários vindos do Ceará, do Maranhão e da Bahia que tomaram a cidade de Campo Maior. Nas vizinhanças dessa localidade, travou-se a Batalha do Jenipapo (13 de março de 1823) entre as tropas brasileiras e os soldados de Fidié.

A luta envolveu mais de 2 mil populares, entre vaqueiros, artesãos, roceiros, pequenos proprietários e até mesmo escravos. Ao final, com centenas de mortos, os sertanejos conseguiram expulsar o governador que refugiou-se no Maranhão, onde foi preso e mandado de volta para Portugal (31 de julho de 1823).

Documentário sobre a Batalha do Jenipapo, programa “De lá pra cá” da TV Brasil

                       

A tragédia do brigue Palhaço, no Pará

O governo da província do Pará mantinha-se fiel a Portugal quando, em abril de 1823, o povo se sublevou. Mas, esse primeiro levante foi rapidamente esmagado pelas tropas portuguesas. Em agosto, a população voltou a se revoltar quando chegou reforços militares enviados pelo Rio de Janeiro sob o comando do primeiro-tenente inglês John Pascoe Grenfell.

Brigue Palhaço, tela de Romeu Mariz Filho.
Animada com a perspectiva desse apoio, a população invadiu o palácio do governador, derrubou o governo e exigiu a entrega do poder aos líderes populares. Mas não estava nos planos das autoridades, nomeadas diretamente pelo governo central, que os chefes populares governassem o Pará. Sob as ordens de Grenfell, a repressão foi violenta: cinco líderes paraenses foram fuzilados e 256 foram lançados ao porão do brigue Palhaço, em Belém, e cobertos com cal.

Dois dias depois, aberto o porão, foram retirados os cadáveres dos paraenses sacrificados em sua luta pela liberdade e independência. Em outubro de 1823, em Cametá houve uma rebelião contra o morticínio no brigue Palhaço, bem como nas vilas de Baião, Oeiras, Portel, Melgaço, Moju, Igarapé-Miri, Marajó, Abaeté, Muaná, entre outras.

A Guerra da Cisplatina

Na província da Cisplatina, a situação era bem confusa em 1822. O governo provincial estava dividido entre os favoráveis a Portugal, os partidários da independência do Brasil e os que desejavam a própria independência da província.

Em agosto de 1823, Montevidéu foi submetida a um bloqueio por cinco navios enviados pelo governo do Rio de Janeiro. Em novembro, os portugueses se renderam e se retiraram definitivamente da província Cisplatina. A vitória, contudo, não significou a incorporação tranquila da província ao império brasileiro e logo eclodiu a guerra pela independência do país.

Concluindo

A independência do Brasil foi feita de várias datas, anteriores ao Sete de Setembro de 1822 e que vão muito além dele. Não foi um movimento pacífico e ordeiro, como ainda afirmam alguns. Ao contrário, foi marcado por conflitos sangrentos entre brasileiros e portugueses.

Tampouco a separação se firmou rapidamente. Na verdade, o Primeiro Reinado (1822-1831) foi um período turbulento em que D. Pedro I de herói popular foi, nove anos  depois, obrigado a abandonar o trono. Para alguns historiadores, a independência só se consolidou após a abdicação.

Como lembra Alfredo Bosi, em O tempo e os tempos, “datas são pontas de iceberg”. Em cada data que marca um acontecimento, existem outros acontecimentos submersos.


Conheça o conto de tradição oral africana - O Filho do Vento


O portal Diálogo Assessoria publicou no dia 03 de junho do ano em curso um relato sobre o conto de tradição oral africana intitulado “O Filho do Vento”.

O conto diz respeito uma história da tradição cultural africana e pode ser lido em Livros Animados, uma publicação em domínio público, vindo a combinar narração e animação.

Se você tiver ficado interessado em conhecer e se aprofundar na leitura é só clicar aqui.