Petição contra a Redução da Maioridade Penal já reune mais de 5.000 assinaturas. Participe


A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados entendeu ser constitucional, no último dia 31/03/2015, a proposta mais antiga acerca da Redução da Maioridade Penal, datada de 1993, apresentada pelo então deputado Benedito Domingues (PP/DF), de nº 171/1993, que tem como objetivo alterar o art. 228 da Constituição Federal, com o fim de reduzir de dezoito para dezesseis anos a idade mínima ali prevista para a maioridade penal. A justificativa central da proposta é o desenvolvimento mental verificado nos adolescentes da atualidade quando em comparação com os jovens da década de 40, época de edição do Código Penal vigente e o crescente aumento do número de delitos praticados pelos menores de 18 anos.

Petição contra a redução da maioridade penal já reúne mais
de cinco mil assinaturas.
Ao que tudo indica, pela formação conservadora da bancada da Câmara dos Deputados e por depoimentos dos próprios parlamentares, a PEC será votada e provavelmente (mas infelizmente) aprovada.


Para que não cometam tamanho retrocesso legislativo e aprovem medida inconstitucional, que vai na contramão dos Tratados Internacionais do qual o Brasil é signatário, além de toda sistemática idealizada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, cabe à população mobilizar-se para impedir tal absurdo.

A maioria da população brasileira, refém da violência, influenciada pela mídia sensacionalista, patrocina a gritos a redução da maioridade penal para os 16 anos de idade, na crença infundada de que tal medida solucionaria os problemas de criminalidade do país. Ocorre que essa é uma ideia totalmente infundada, sem parâmetros sociológicos ou científicos, vendida e veiculada pela maior parte da imprensa brasileira - e de parlamentares na busca de votos -, que despeja e repete ações bárbaras praticadas por adolescentes, tratando o caso de tal maneira que incute nas pessoas um sentimento de impunidade e revolta, que as leva a enxergar os adolescentes como se fossem seres sem perspectivas de melhora, criminosos natos e irrecuperáveis. Quando indagados acerca do assunto, defendem fervorosamente a diminuição, justificando sua posição nos crimes bárbaros veiculados pela mídia, nos quais o sujeito ativo é um adolescente. Outros argumentos, como os de que os menores de 18 anos já possuem discernimento suficiente para terem consciência da ilicitude de seus atos, devendo, assim, serem punidos como se adultos fossem, a permissão do voto a partir dos 16 anos, a utilização de menores como "laranjas" para a prática de tráfico de entorpecentes e o aumento da criminalidade no país também são recorrentes aos defensores da redução.

Advém que não é veiculado pela mídia como as crianças e adolescentes são seres excluídos da sociedade, renegados ao segundo, ou até terceiro plano do Estado, das políticas públicas e das famílias, sendo verdadeiras vítimas do caos que é a política social e criminal do nosso país.

A criança e o adolescente só passaram a ser considerados sujeitos de direitos com o advento da Constituição Federal de 1988 e a Doutrina da Proteção Integral. Até esse momento, o menor infrator era tratado como um pária da sociedade, totalmente estigmatizado, um pervertido, que deveria ser segregado, sem que lhe fosse conferido o devido processo legal nem medidas que o pudessem inserir na sociedade. Lembrando que o mesmo tratamento dado ao adolescente que praticava atos ilegais era dispensado ao menor que era VÍTIMA de atos ilegais, como maus-tratos.

Com o advento da Constituição Federal de 88 e do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, mudou-se a ótica de tratamento do menor, respeitando sua condição peculiar de sujeito em desenvolvimento e tendo como princípios o melhor interesse do menor, possibilitando que todos os adolescentes em conflito com a lei passassem a serem tratados como verdadeiros cidadãos, por serem sujeitos de direitos, que devem receber a proteção do Estado, numa visão mais garantista de cidadania, abjurando por completo a antiga fase que os via como um perigo à sociedade.

Por conseguinte, os menores de dezoito anos não são mais considerados seres inferiores aos adultos, alvos de compaixão e assumem a qualidade de sujeitos de direito em formação. Por derradeiro, sua responsabilização deve ser correspondente ao seu estágio de desenvolvimento, respeitando suas peculiaridades e tendo em vista a implementação de políticas sociais afim de diminuir a necessidade de medidas mais rígidas.

Infelizmente, está embutida na mentalidade brasileira a crença de que a promulgação ou a modificação de uma lei resolve tudo. O que vem na mente do brasileiro, quando se procura uma solução para o aumento da criminalidade é a redução da maioridade penal e o aumento das penas. Repressão, punição, redução, repressão, punição, redução. Afinal, essa é a saída mais “fácil” e a mais rápida, na visão dessas pessoas. Porém, não a mais efetiva nem adequada.

Resultado disso é o incalculável número de leis não dotadas de eficácia no país. A produção de leis, sobretudo as penais, sem um anterior estudo de impactos sociológicos, criminológicos e sociais, justificadas apenas no pleito da população influenciada pela mídia sensacionalista, culmina em um amplo depósito de leis que não são aplicadas e nem resolvem os problemas para os quais foram editadas, contribuindo para o papel simbólico a que está sendo reduzido o Direito Penal Brasileiro.

A verdadeira solução só poderá ser encontrada e implantada quando os verbos imperativos mudarem. O foco mudar. Ao invés de repressão, pensar-se em prevenção. Ao invés de punição, pensar-se em ressocialização. Ao invés de redução, pensar-se em integração.

Nesse diapasão, não se pretende afirmar que os adolescentes não praticam condutas delituosas, muito menos que não devam ser responsabilizados, pelo contrário. A Constituição Federal brilhantemente instituiu um sistema de responsabilização das crianças e adolescentes, por meio de Estatuto da Criança e do Adolescente, que procura por meios pedagógicos, ressocializar e garantir os direitos do adolescente infrator, diante da sua condição de pessoa em desenvolvimento.

Portanto, não é se diminuindo a maioridade penal para 16 ou 14 anos que irá se solucionar os problemas de violência no Brasil, muito menos a violência juvenil. São investimentos em políticas públicas que melhorem as condições de vida da população – através de educação, saúde, saneamento básico, entre outros – e, principalmente, que reforcem a estrutura familiar, desencadeando-se assim uma política de prevenção, no intuito de impedir a prática criminosa, que poderá se buscar uma sociedade mais igualitária e pacífica.

IV Encontro de Negros e Negras desenvolveu o tema o “O Brasil que queremos para a população negra”



É com o tema “O Brasil que queremos para a população negra” que o 4º Encontro de Negros e Negras da UNE (ENUNE) desafia juventude negra  a refletir sobre o seu papel na luta contra o racismo. Estudantes em todo o país se mobilizam para comparecer ao IV ENUNE. Muitas universidades através das entidades do movimento estudantil realizaram o Pré-ENUNE nas mais variadas universidades do País.

IV Encontro do ENUNE ocorreu entre os dias 3 e 5 abril na UNEB.
Um dos primeiros encontros em preparação para o ENUNE acontenceu em Palmas e Araguaina no Tocantins. Logo depois aconteceu em Belo Horizonte-MG, Fortaleza-CE, Rio de Janeiro-RJ e na Bahia aconteceu em Jequié e Salvador. A expectativa da coordenação do encontro é de 700 pessoas.

Marcela Ribeiro, diretora de Combate ao Racismo da UNE (União Nacional dos Estudntes), garante que esse evento representa uma nova metodologia de disputa da consciência da juventude negra brasileira. Salienta que é essa metodologia de trabalho que se torna central para construir um país verdadeiramente democrático, mais fraterno e que enfim, apresente um cenário de justiça social expurgando a chagas do racismo na sociedade brasileira.

Está garantido na programação do evento a presença da Ex-ministra da Igualdade Racial Luiza Barros, o secretário Nacional de Juventude Gabriel Medina, o blogueiro da Carta Capital Douglas Belquior e outros nomes de formulação de Políticas para Juventude.

É também o primeiro ano que junto ao ENUNE será produzido o Festival Nacional de Cultura e Juventudes Negra. Herlon Miguel, produtor do Festival, afirma que “foi lançado um novo desafio: reunir mais de 15 grupos e movimentos de diferentes expressões da juventude negra. Além do entretenimento e da produção cultural, a ideia é consolidar uma grande articulação nacional desses mecanismos de organização da juventude negra dentro da óptica organizativa do enfrentamento ao racismo. Faremos manifestações políticas e culturais das mais diversas, do rap de São Paulo ao Afoxé de Pernambuco, dos seminários e formações políticas ao ato público nas ruas do bairro do Cabula.”

Na cena da cultura personalidades como Nelson Triunfo e Afoxé Omó Nilê Ogunjá confirmaram presença. O 4º ENUNE aconteceu entre os dias 3 a 5 de abril, no campus 1 da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) no Bairro do Cabula em Salvador-BA.

Maiores informações podem ser adquiridas pelo site do ENUNE ou pela fanpage da Diretoria de Combate o racismo da UNE: www.facebook.com/pages/UNE-Combate-ao-Racismo.





Documentário “Darcy, um brasileiro”




Faz dois anos que prometi publicar aqui este documentário. Só agora apareceu na íntegra no youtube. Nunca é tarde… A TV Senado, que faz ótimos documentários, apresentou um filme sobre a vida de Darcy Ribeiro (1922-1997), inspirador deste blog e criador da ideia do “socialismo moreno”, um socialismo à brasileira, que não segue modelos pré-existentes.

Foto capturada do vídeo "Darcy, um brasileiro".
O documentário Darcy – um brasileiro, dirigido por Maria Maia, mostra o ex-ministro da Casa Civil do governo João Goulart pela ótica de amigos e colaboradores. Exilado em 1974, o simpático Darcy voltaria ao Brasil com a anistia e se tornaria vice-governador de Leonel Brizola e senador. Escritor de romances e ensaios, Darcy Ribeiro é autor de uma obra fundamental para conhecer nosso país, O Povo Brasileiro (Companhia das Letras), que já aparece em vários posts e sempre estará presente no Socialista Morena.

O documentário segue uma narrativa cronológica, da infância de Darcy em Montes Claros (MG) até seus últimos dias, internado na Rede Sarah de Hospitais, para tratamento do segundo câncer. Pontuado por imagens de arquivo de vários momentos históricos brasileiros, o documentário mostra que a vida de Darcy está entrelaçada aos acontecimentos mais importantes do país na segunda metade do século passado.

                            

Estudante negro ofendido na web afirma: ‘Me calar é cômodo para o agressor’,



Um álbum de fotos anônimo em um site de compartilhamento de imagens Imgur surpreendeu a estudante Lorena Monique dos Santos, de 21 anos, que produziu um projeto de fotografias para debater o racismo e a política de cotas raciais na Universidade de Brasília (UnB). No álbum, publicado no fim de semana, fotos feitas e publicadas por ela com estudantes negros e negras da instituição, mostrando frases que eles criticam pelo teor racista, foram modificadas sem sua autorização. As montagens trocaram as frases originais por outras frases de teor ofensivo contra os participantes do projeto.

Matheus teve foto alterada e publicada anonimamente em site
de imagens. Ele participou de projeto que debate o racismo e
as cotas na UnB
Um deles é Matheus Henrique Ramos, estudante de matemática. Em sua frase original, ele citou um comentário recorrente que recebe por manter os cabelos no estilo black power. Na montagem anônima, são justamente seus cabelos os alvos da ofensa preconceituosa.

Batizado de “Ah, branco, dá um tempo”, o projeto de Lorena fez parte da disciplina de antropologia social. As imagens debatem frases que negros e negras ouvem com frequência e consideram preconceituosas, em uma tentativa de levantar o debate sobre a aceitação dos negros dentro da universidade.
‘Quase desisti’

Matheus falou ao G1 na tarde desta quinta-feira (2), e confessou que, quando foi convidado a participar do projeto, chegou a pensar em desistir, justamente por considerar os efeitos negativos que poderia sofrer com a exposição. “Prontamente aceitei, logo em seguida me veio à cabeça como seriam os comentários, o que poderiam fazer com as fotos, já que iam para a internet. Pensei mil coisas e quase desisti”, disse ele.

Porém, o estudante considerou que a sua expressão valeria a pena, mesmo correndo o risco de sofrer discriminação e ser vítima do crime de racismo. “Isso foi inquietante, pensar em não me expressar, em não ser quem sou para não incomodar os outros. Percebi que me calar é mais cômodo apenas para o agressor.”

Apesar de lamentar o episódio ofensivo, ele acredita que a reação agressiva ao projeto mostra a necessidade de expandir o debate sobre racismo no Brasil. “Tenho muito orgulho de ter participado deste projeto. O que fizeram com essas fotos mostra o que muitos escutam calados todos os dias em suas salas de aula, ambientes de trabalho, na rua. Evidencia ainda mais a necessidade de debater e enfrentar o problema.”

Para Matheus, as montagens ofensivas “respondem àqueles que dizem que o racismo não existe, que isso é coisa da sua cabeça, que somos todos iguais”.

Lorena Monique, a autora do projeto e do blog com as fotos originais, denunciou as montagens ofensivas em seu perfil no Facebook. “Essas fotos só comprovaram o que eu já sabia: o racismo é um câncer. Nunca pedi que concordassem com essa campanha. Na verdade eu nem ligo, se antes perseguiam os negros e negras, hoje eles nos ridicularizam de várias formas: nada mudou!”, reclamou ela, pedindo que as pessoas denunciassem a página.

Sinto que somos vistos, sinto que causamos desconforto e isto é um bom sinal”, escreveu ela nesta quinta, em um segundo post sobre o assunto.

O site Imgur foi fundado em 2009 por um então estudante da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, e permite a publicação de imagens sem a divulgação da autoria. Porém, em seus termos de uso, o serviço proíbe conteúdo que incite o ódio ou a discriminação. “Não carrege materiais nojento, obscenidade, publicidade, solicitações [de prostituição], ‘discurso de ódio’ (como os que discriminam raça, gênero, idade, religião ou orientação sexual etc.), ou material que contém ameaça, assédio, difamação ou que encoraja ilegalidade”, diz trecho das normas dos usuários.

Também é proibida a publicação de imagens se autorização dos detentores dos direitos autorais.

Para subir arquivos, não é obrigatório fazer um cadastro ou fornecer dados pessoais, mas o usuário deve concordar com os termos do serviço. O site também oferece a opção de denunciar e pedir a remoção de imagens.

Procurada pelo G1 por e-mail, a equipe de relações públicas do Imgur não informou se as publicações anônimas têm registro do IP do computador de origem e se o site recebeu o pedido de remoção das imagens. Até o fim da noite de quinta (2), o álbum com as 17 fotografias ainda estava no ar, e já tinha sido visualizado mais de 2 mil vezes



Redução da Maioridade Penal, por Márcio Renato*



Em tempos de crise, pautas conservadoras e reacionárias são tomadas como soluções para todos os problemas da sociedade. As experiências totalitaristas registradas na História ilustram essa tese. A Comissão de Cidadania e Justiça (CCJ) da Câmara Federal incorpora essa pecha e - como uma anestesia populista para o descontentamento - aprova a compreensão da admissibilidade da redução da maioridade penal, como se isto fosse o remédio para a violência.

Destaco que várias lutas foram travadas pela legalidade da compreensão da importância que o Estado possui em ser um dos promotores da proteção às nossas crianças e aos nossos adolescentes, inclusive destacando os estágios específicos do desenvolvimento humano e alicerçando essa leitura na noção de dignidade humana. Longo foi o caminho percorrido para se ter, por exemplo, uma legislação avançada como a do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Hoje, a sociedade civil organizada já pode intervir em outras frentes, como batalhar para garantir a efetivação desses direitos assegurados pela lei.

A decisão tomada pela CCJ é um passo atrás na história brasileira. Não há uma relação necessária entre o aumento das punições com a redução dos crimes. Relembro ainda que, ao contrário do que é ventilado, não há impunidade com o cumprimento do ECA, pois este já prevê medidas para atos infracionais. Defendo que ao invés de diminuir a idade penal como uma fórmula mágica da paz, parafraseando os Racionais Mc’s, é preciso assegurar que nossos direitos sejam garantidos. A Constituição prevê direitos fundamentais aos cidadãos, mas o próprio Estado os descumpre.

Fortalecer as instituições públicas, no sentido de assegurar que nossa legislação seja cumprida, sem perdermos de vista os valores arrancados constitucionalmente, é uma boa resposta. Garantir que o Judiciário aja em consonância com as leis é uma boa resposta. Oferecer o direito à educação, à saúde, à segurança, à cultura, à arte, à moradia e ao esporte é uma boa resposta. Compreender as relações conflitivas não apenas na ótica da vingança, mas da alteridade é uma boa resposta. Se a sociedade desejar mudar suas bases será preciso procurar novas saídas e deslocar o eixo compreensivo do populismo e da punitividade. É um excelente início.

*Márcio Renato é sociólogo e professor da Universidade Regional do Cariri (Urca)