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Nos 150 anos da Lei do Ventre Livre, Brasil ainda não é uma democracia racial

Retrato de mulher negra com criança às costas e cesto de bananas na cabeça. (FOTO Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles).

Neste 28 de setembro estaremos completando 150 anos de uma das leis abolicionistas, a Lei do Ventre Livre, também conhecida como “Lei Rio Branco”.

Criada em 1871, por José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, trazia a proposta de abolir gradualmente a escravidão no país, determinando que os filhos de escravizadas nascidos a partir daquela data seriam considerados livres. Essa lei criou dois cenários para dar a liberdade, pois previa que a mãe ficasse com os filhos até os 8 anos. Após esta idade, até 21 anos, poderia ser entregue a uma instituição do Estado, com direito a uma indenização pelos anos trabalhados, ou ficar com a mãe sob cuidados do senhor. Essas propostas desagradaram tanto aos senhores como a vários ativistas do movimento abolicionista.

É importante assinalar que na segunda metade do século 19, o Brasil era um dos últimos países no mundo que mantinham o uso do trabalho escravo. Por conta disto este período ficou marcado pelo debate sobre escravidão. A partir de 1860 tal discussão ganhou força, com José Bonifácio de Andrada e Silva defendendo o fim da escravidão —não por motivos humanitários, mas porque acreditava que o desenvolvimento do país passava pelo crescimento da mão de obra livre e pelo branqueamento da população brasileira.

Posturas racistas como a de José Bonifácio eram comuns na década de 1860 e continuam até hoje.

As desigualdades sociais da população brasileira continuam presentes em nossos dias. O movimento das mulheres negras com a participação eficaz da juventude negra, além das organizações quilombolas e das denúncias contra os ataques às religiões de matriz africana, mostram como neste país insistem em negar cidadania e respeito à população negra, jovem e periférica que representa oficialmente 56% da população.

O debate contra a escravidão com contornos humanitários esteve ligado a muitas formas de resistência desde o tempo dos escravizados, tais como fugas coletivas ou individuais, revoltas contra feitores e senhores, recusa em trabalhar, criação de quilombos e mocambos.

A revolta começava nos navios negreiros, sendo mocambos lugares de esconderijo e quilombos os acampamentos militarizados, como o Quilombo dos Palmares que chegou a ter 20 mil habitantes, tendo resistido ao longo de todo o século 17. Suicídios e abortos também foram usados como formas de resistência.

Constatamos assim, que nossos passos vêm de longe e que na atualidade sabemos não existir um caminho fácil para mudar concepções que há séculos desumanizam a existência e a experiência de vida da comunidade preta. No entanto, para benefício de todos, é um caminho que precisa ser feito com honestidade, escrita, solidariedade e respeito. É preciso romper os silêncios impostos pela escravidão e pelos açoites à caminhada negra brasileira.

Os abolicionistas sofriam a pressão dos grupos econômicos mais poderosos, como os grandes fazendeiros do Sudeste, e para evitar rupturas drásticas, passaram a defender uma transição lenta e gradual que evitasse prejuízos imediatos aos fazendeiros e impedisse a desordem e os levantes dos escravizados.

A pressão dos grupos econômicos mais poderosos continua existindo, apresentando uma lógica política de que a riqueza do país deve beneficiar quem investe e não as pessoas do povo. Assim, os mais ricos são beneficiados em detrimento da população menos favorecida, basicamente a comunidade negra.

O Brasil não é uma democracia racial. Deveria ser porque quase 4 milhões de africanos —homens, mulheres e crianças— foram brutalmente traficados para cá como escravos e, ao longo de mais de 350 anos, foram responsáveis por criar este país e, portanto, deveriam ter seus direitos como cidadãos e cidadãs plenamente assegurados. Isso, definitivamente, não tem sido o caso.

O Brasil não é uma democracia racial porque a discriminação racial e o racismo são, ao mesmo tempo, uma prática e uma ideologia que assolam, insidiosa e brutalmente, o cotidiano das pessoas negras, suas famílias e suas comunidades. Na atualidade, devemos reconhecer, esses assuntos avançaram como debate necessário à formação da opinião pública contra o racismo e, até mesmo, à construção de uma opinião pública antirracista.

A questão racial quando é tocada no país conta com a reação violenta das elites. As políticas de afirmação social feitas até aqui — como as cotas, o Bolsa Família, o atendimento a descendentes de escravos— mexeram com as elites, que resistiram a ver suas regalias perdidas.

A questão racial não se esgota pela questão social. As elites e os brancos pobres não foram preparados para aceitar a mudança racial. Permanece intocada a questão da raça, da relação entre patrões e empregadas/os.

A educação brasileira não dará um passo adiante sem a transformação da mídia, que precisará encarar seriamente a questão racial. A educação é visceralmente política. O modelo de educação tem que se estruturar em uma educação descolonizada, sem pensar na Europa. Um país como o Brasil tem como desafio reinventar uma forma própria de educação.

Podemos pensar que após 150 anos, de uma Lei do Ventre Livre, que não libertava, hoje as mulheres pretas continuam sem ter liberdade para seus filhos, pois ela só é assegurada numa sociedade democrática e equânime, que aceite a diversidade e possibilite oportunidade igual para todos, o que ainda não ocorre em nosso país.

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Por Helena Theodoro, publicado originalmente no Geledés.

Estudante negro ofendido na web afirma: ‘Me calar é cômodo para o agressor’,



Um álbum de fotos anônimo em um site de compartilhamento de imagens Imgur surpreendeu a estudante Lorena Monique dos Santos, de 21 anos, que produziu um projeto de fotografias para debater o racismo e a política de cotas raciais na Universidade de Brasília (UnB). No álbum, publicado no fim de semana, fotos feitas e publicadas por ela com estudantes negros e negras da instituição, mostrando frases que eles criticam pelo teor racista, foram modificadas sem sua autorização. As montagens trocaram as frases originais por outras frases de teor ofensivo contra os participantes do projeto.

Matheus teve foto alterada e publicada anonimamente em site
de imagens. Ele participou de projeto que debate o racismo e
as cotas na UnB
Um deles é Matheus Henrique Ramos, estudante de matemática. Em sua frase original, ele citou um comentário recorrente que recebe por manter os cabelos no estilo black power. Na montagem anônima, são justamente seus cabelos os alvos da ofensa preconceituosa.

Batizado de “Ah, branco, dá um tempo”, o projeto de Lorena fez parte da disciplina de antropologia social. As imagens debatem frases que negros e negras ouvem com frequência e consideram preconceituosas, em uma tentativa de levantar o debate sobre a aceitação dos negros dentro da universidade.
‘Quase desisti’

Matheus falou ao G1 na tarde desta quinta-feira (2), e confessou que, quando foi convidado a participar do projeto, chegou a pensar em desistir, justamente por considerar os efeitos negativos que poderia sofrer com a exposição. “Prontamente aceitei, logo em seguida me veio à cabeça como seriam os comentários, o que poderiam fazer com as fotos, já que iam para a internet. Pensei mil coisas e quase desisti”, disse ele.

Porém, o estudante considerou que a sua expressão valeria a pena, mesmo correndo o risco de sofrer discriminação e ser vítima do crime de racismo. “Isso foi inquietante, pensar em não me expressar, em não ser quem sou para não incomodar os outros. Percebi que me calar é mais cômodo apenas para o agressor.”

Apesar de lamentar o episódio ofensivo, ele acredita que a reação agressiva ao projeto mostra a necessidade de expandir o debate sobre racismo no Brasil. “Tenho muito orgulho de ter participado deste projeto. O que fizeram com essas fotos mostra o que muitos escutam calados todos os dias em suas salas de aula, ambientes de trabalho, na rua. Evidencia ainda mais a necessidade de debater e enfrentar o problema.”

Para Matheus, as montagens ofensivas “respondem àqueles que dizem que o racismo não existe, que isso é coisa da sua cabeça, que somos todos iguais”.

Lorena Monique, a autora do projeto e do blog com as fotos originais, denunciou as montagens ofensivas em seu perfil no Facebook. “Essas fotos só comprovaram o que eu já sabia: o racismo é um câncer. Nunca pedi que concordassem com essa campanha. Na verdade eu nem ligo, se antes perseguiam os negros e negras, hoje eles nos ridicularizam de várias formas: nada mudou!”, reclamou ela, pedindo que as pessoas denunciassem a página.

Sinto que somos vistos, sinto que causamos desconforto e isto é um bom sinal”, escreveu ela nesta quinta, em um segundo post sobre o assunto.

O site Imgur foi fundado em 2009 por um então estudante da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, e permite a publicação de imagens sem a divulgação da autoria. Porém, em seus termos de uso, o serviço proíbe conteúdo que incite o ódio ou a discriminação. “Não carrege materiais nojento, obscenidade, publicidade, solicitações [de prostituição], ‘discurso de ódio’ (como os que discriminam raça, gênero, idade, religião ou orientação sexual etc.), ou material que contém ameaça, assédio, difamação ou que encoraja ilegalidade”, diz trecho das normas dos usuários.

Também é proibida a publicação de imagens se autorização dos detentores dos direitos autorais.

Para subir arquivos, não é obrigatório fazer um cadastro ou fornecer dados pessoais, mas o usuário deve concordar com os termos do serviço. O site também oferece a opção de denunciar e pedir a remoção de imagens.

Procurada pelo G1 por e-mail, a equipe de relações públicas do Imgur não informou se as publicações anônimas têm registro do IP do computador de origem e se o site recebeu o pedido de remoção das imagens. Até o fim da noite de quinta (2), o álbum com as 17 fotografias ainda estava no ar, e já tinha sido visualizado mais de 2 mil vezes



Faça o “teste do pescoço” e saiba se existe racismo no Brasil



Imagem meramente ilustrativa
Aplique o Teste do Pescoço em todos os lugares e depois tire sua própria conclusão. Questione-se se de fato somos um país pluricultural; uma Democracia Racial.

1. Andando pelas ruas, meta o pescoço dentro das joalherias e conte quantos negros/as são balconistas;

2. Vá em quaisquer escolas particulares, sobretudo as de ponta como; Objetivo, Dante Alighieri, entre outras, espiche o pescoço pra dentro das salas e conte quantos alunos negros/as há . Aproveite, conte quantos professores são negros/as e quantos estão varrendo o chão;

3. Vá em hospitais tipo Sírio Libanês, enfie o pescoço nos quartos e conte quantos pacientes são negros, meta o pescoço a contar quantos negros médicos há, e aproveite para meter o pescoço nos corredores e conte quantos negros/as limpam o chão

4. Quando der uma volta num Shooping, ou no centro comercial de seu bairro, gire o pescoço para as vitrines e conte quantos manequins de loja representam a etnia negra consumidora. Enfie o pescoço nas revistas de moda , nos comerciais de televisão, e conte quantos modelos negros fazem publicidade de perfumes, carros, viagens, vestuários e etc

5. Vá às universidades públicas, enfie o pescoço adentro e conte quantos negros há por lá: professores, alunos e serviçais;

6. Espiche o pescoço numa reunião dos partidos PSDB e DEM, como exemplo, conte quantos políticos são negros desde a fundação dos mesmos, e depois reflitam a respeito de serem contra todas as reivindicações da etnia negra.

7. Gire o pescoço 180° nas passeatas dos médicos, em protesto contra os médicos cubanos que possivelmente irão chegar, e conte quantos médicos/as negros/as marchavam;

8. Meta o pescoço nas cadeias, nos orfanatos, nas casas de correção para menores, conte quantos são brancos, é mais fácil;

9. Gire o pescoço a procurar quantas empregadas domésticas, serviçais, faxineiros, favelados e mendigos são de etnia branca. Depois pergunte-se qual a causa dos descendentes de europeus, ou orientais, não são vistos embaixo das pontes ou em favelas ou na mendicância ou varrendo o chão;

10. Espiche bem o pescoço na hora do Globo Rural e conte quantos fazendeiros são negros, depois tire a conclusão de quantos são sem-terra, quantos são sem-teto. No Globo Pequenas Empresas& Grandes Negócios, quantos empresários são negros?

11. Nas programações das Tvs abertas, acessível à maioria da população, gire o pescoço nas programações e conte quantos apresentadores, jornalistas ou âncoras de jornal, artistas em estado de estrelato, são negros. Onde as crianças negras se veem representadas?