Acontece nesta terça (28), no Sesc Crato, Encontro de Pontos de Cultura do Cariri realizado pelo Coletivo Camaradas
Na próxima terça-feira (28), o Coletivo Camaradas realiza encontro com os pontos de cultura da Região Metropolitana do Cariri, na cidade de Crato. O evento acontecerá na unidade do Sesc do município. Com o tema “Agitação e Propaganda na Contemporaneidade”, o evento acontece a partir das 14 horas e deve reunir cerca de 100 pessoas de diversos pontos.
Tendo como objetivo fortalecer a rede de comunicação e a articulação dos pontos de cultura da região do Cariri, o encontro também aprofundará o debate sobre o conceito de agitação e propaganda para os movimentos sociais na contemporaneidade. A mesa contará com falas de Alexandre Lucas, da comissão cearense do Cultura Viva e portal Vermelho e Natália Alves, Naju Sampaio e Paulo Rossi, graduandos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA) com atuações voltadas à cultura.
Cada ponto de cultura poderá inscrever três participantes. As demais organizações e coletivos culturais ainda sem certificação também podem se inscrever. Atualmente, o município do Crato conta com 37 pontos certificados pelo município e/ou Estado. Esta é uma das ações do projeto “Agitprop – Cultura Viva Crato”, aprovado pelo Coletivo Camaradas em edital da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. O encontro conta ainda com o apoio da Rede Cearense do Cultura Viva, a Rede Municipal do Cultura Viva Crato, Sesc e a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará - Secult/CE.
SERVIÇO:
Encontro dos Pontos de Cultura do Cariri - Agitação e Propaganda na Contemporaneidade
Data: 28/02/2023
Horário: 14 horas
Local: Sesc Crato - R. André Cartaxo, 443 - Palmeiral, Crato - CE, 63100-555.
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Texto de Paulo Rossi, Bolsista de comunicação do Coletivo Camaradas.
Página de Angola Janga, de Marcelo D´Salete. Foto: reprodução.
Desde o início do século XX, o passado é objetode histórias em quadrinhos. Tintim (1929) e Spirou (1938) são os exemplos mais populares ao mobilizar eventos do passado em narrativas do presente. No Brasil, a narrativa histórica em quadrinhos (bandas, em Portugal) ganhou grande impulso nos 1990, quando o formato deixou de ser associado somente à leitura infanto-juvenil e passou de vez a ser vista como objeto cultural de consumo de adultos. Nos últimos anos, são várias as opções que contemplam a História do Brasil, sobretudo abordando temas como povos indígenas e escravizados. Há por aí material excelente de sobra para quem deseja conhecer a história do país de forma lúdica e professores em busca de bons materiais para uso em sala de aula. Confira a nossa seleção.
(1) “Revolta da Vacina” (André Diniz)
Trabalho muito cuidadoso de André Diniz. Amparado em pesquisa histórica, Diniz explora a conhecida revolta ocorrida em 1904, no Rio de Janeiro. Naquele ano, a cidade vivia uma crise social e sanitária. Insatisfeitos com a falta de transparência e planejamento humanizado das autoridades sanitárias da então capital, parte do povo, especialmente a parte mais pobre, se revolta contra o poder público. Diniz é autor premiado. Em 2012 venceu o conceituado prêmio HQ MIX, como melhor roteirista nacional.
(2) “Ditadura no ar: coração selvagem” (Raphael Fernandes e Rafael Vasconcellos)
A história se passa em São Paulo, 1969, depois da promulgação do AI-5. Após o desaparecimento de sua namorada Lenina, o fotógrafo Félix Panta entra em uma investigação para descobrir o que os militares fizeram com a estudante comunista. Músicas de protesto, exilados políticos, reportagens proibidas e o terror das torturas estarão em seu caminho nesse Brasil onde a população alienada encobre a ação de ódio dos que estão no poder. Baseada em relatos reais e em uma extensa pesquisa histórica, a HQ é uma ficção inspirada nos anos de chumbo. “Ditadura No Ar” reúne as quatro edições da minissérie independente ganhadora do Troféu HQMix, mas com artes e textos revisados. O roteiro policial é de Raphael Fernandes e a arte é de Rafael Vasconcellos, o Abel.
(3) “As Barbas do Imperador” (Lilia Moritz Schwarcz e Spacca)
O livro “As barbas do Imperador”, da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, foi lançado em 1998 e logo se tornou um marco na historiografia brasileira. O livro mostra o mito monárquico ao descrever a construção dos palácios, a mistura de ritos franceses com costumes brasileiros, como a boa sociedade se civilizava, a criação de medalhas, emblemas, dísticos e brasões, a participação do monarca e o uso de sua imagem em festas populares. Nesta edição em quadrinhos do livro, lançado em 2014, Schwarcz volta à parceria com o premiado ilustrador Spacca, na dobradinha que já rendeu o best-seller “D. João Carioca”, também HQ. Muito utilizado por professores do Ensino Básico.
Trecho de “Os Sertões” (Eloar Guazzelli e Rodrigo Rosa). Reprodução.
(4) “Castanha do Pará” (Gidalti Jr.)
O romance gráfico “Castanha do Pará” reconta, em forma de fábula, uma situação cada vez mais comum atualmente: Castanha é um menino-urubu que vive suas aventuras pelos cenários do tradicional mercado público Ver-o-Peso, em Belém. Mora sob o céu aberto e sobrevive dos furtos e das migalhas de atenção que sobram do mundo ao seu redor. O romance gráfico de estreia de Gidalti Moura Jr. uma visão lúdica e ritmada da realidade.
(5) “Jubiabá” (Jorge Amado e Spacca)
Este clássico romance brasileiro do escritor baiano Jorge Amado escrito entre 1934 e 1935 foi adaptado para uma história em quadrinhos pelo artista Spacca. A história se passa na Bahia no início do século XX e conta a história de um jovem negro chamado Antônio Balduíno, que sonha em se tornar um percussionista famoso. Além de estudar profundamente o romance de Jorge Amado, Spacca se baseou num extenso material sobre a Salvador de antigamente: livros de arte, de fotos, mapas e também outras obras de Jorge Amado. Spacca viajou ainda a Salvador, onde consultou a Fundação Gregório de Matos sobre aspectos da Salvador dos anos 1920.
(6) “A Guerra dos Farrapos” (Alexandre de Maio e Tabaja Ruas)
A Revolução Farroupilha é um dos mais importantes eventos históricos do Brasil e “A Guerra dos Farrapos” é uma quadrinização da epopeia rio-grandense. Escrita por Tabajara Ruas, esta adaptação traça um panorama que contempla os principais aspectos e personagens da guerra civil de 1835, reconstituída no traço de Flavio Colin.
(7) “Os Sertões” (Eloar Guazzelli e Rodrigo Rosa)
Nova edição do clássico do século XX adaptado para os quadrinhos chega pela Globo Livros Graphic. O livro, que levou o prêmio HQ Mix 2015 de melhor adaptação para os quadrinhos, tem roteiro do ilustrador, artista plástico e diretor de cinema Eloar Guazzelli, além da arte de Rodrigo Rosa. Ele respeita o texto original de Guimarães Rosa, mantendo a linguagem (que é uma marca) do autor mineiro.
(8) “Contra tempo – uma viagem de 200 anos” (Ana Cardoso, Hyna Crimson, Igor Marques e João Paulo Garrido Pimenta)
A jovem estudante de História Beatriz viaja no tempo para salvar o Brasil de um conjunto de retrocessos vividos em sua História contemporânea. Na viagem, a jovem ajuda a contar outras histórias sobre o bicentenário da Independêcia e se depara com os conflitos sociais de cada época. Em sua jornada pelo passado, Bia tem a oportunidade de viver na pele fatores que ajudaram a constituir o Brasil atual. Seu trunfo é ter o poder de transformá-lo. É possível fazer a leitura online da HQ neste site.
Marcelo D’Salete
Um de nossos autores preferido é o paulista Marcelo D’Salete, um dos autores de HQs mais premiados e reconhecidos da atualidade, no Brasil e no exterior. D’Salete tem formação em História da Arte, usa pesquisa historiográfica para escrever suas histórias e desempenha um papel de intelectual. Costuma visitar escolas, participa de feiras literárias, escreve artigos e participa de debates. Aqui estão três HQs dele:
(9) “Cumbe”
Coletânea de histórias que se passam durante a escravidão no Brasil. Cada uma das histórias apresenta um personagem diverso e trata de vários aspectos da vida de escravos e libertos no Brasil do século XIX. As histórias são bem fundamentadas e detalhadas, com um traço forte e expressivo que captura as emoções e os conflitos dos personagens.
(10) “Angola Janga: Uma História de Palmares”
HQ baseada na história do Quilombo dos Palmares, um dos maiores movimentos de resistência negra da história do Brasil. A narrativa acompanha a vida do líder Zumbi dos Palmares, apresentando as batalhas e táticas empregadas pelos quilombolas para se defender dos ataques dos colonizadores. A história apresenta uma visão profunda da vida e da cultura dos escravos fugidos no Brasil do século XVII.
(11) “Noite Luz”
Em ‘Noite Luz’, todos estão mortos e o protagonista é um onipresente sentimento de fatalidade nas pessoas que vagam pela noite, pelas ruas ou presas às suas condições sociais. Visa discutir-se a violência, a urbanidade e a possível fantasmagoria das pessoas nas grandes cidades.
Há 22 anos a Imperatriz Leopoldinense esperava por esse título: campeã do carnaval carioca. A Escola do bairro de Ramos, Zona Norte do Rio, levou para a avenida o enredo “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida“.
Ao receber o resultado a presidente da Escola, Cátia Drumond, agradeceu à comunidade: “Obrigada Complexo do Alemão, sem vocês não somos nada”. O carnavalesco da Imperatriz é Leandro Vieira, que estreou no Grupo Especial com a escola onde havia sido campeão da Série Ouro em 2020.
Esse é o 9º título da Escola de Ramos.
O Nordeste que foi apresentado destacou o sertão, o semiárido, registrando os signos mais próximos ao cangaço. O carnavalesco se debruçou nos cordéis que vislumbraram um destino pós-morte para a figura de Lampião, esse personagem mítico do imaginário nordestino brasileiro, que, em diferentes áreas das artes, foi abraçado como uma figura típica da brasilidade.
O destino de Lampião após a morte são nuances desse desfile. A ida ao inferno, onde não consegue abrigo; a ida ao céu, onde também não é recebido; e, por fim, seu lugar na terra, onde ocupa um lugar nos imaginários dos brasileiros, especialmente entre os nordestinos.
Representando Lampião, Matheus Nachtrgaele levantou as arquibancadas ao lado de sua Maria Bonita, interpretada por Regina Casé.
Ana Nunes, professora e diretora da EEMTI Lindalva de Morais, em Milagres-CE. (FOTO | Acervo Pessoal).
Por
Ana Nunes, colunista
09
de fevereiro, o Ministério da Educação anunciou que iria antecipar
o resultado do ENEM.Iniciamos
a louca corrida para sabermos quem teria alcançado a tão sonhada
nota mil naredação e as
melhores médias gerais para que pudéssemos “celebrar”.
Absorvidos pela lógicadacompetição,decelebrarosmelhores,deexaltaronomedaescolaatravésdessesresultados,
e colocar o ensino a serviço das necessidades do mercado, esquecemos
todos osprocessosvividosportodososestudanteseopapelsocialfundamentaldaescola.
Pensocomoeducadora,quecadavezquecelebramosresultados,semconsiderarastrajetórias,fortalecemosalógicaperversadameritocraciaquedesconsidera os
esforçosempreendidospormeninosemeninasquederamoseumelhor,quedriblaramofunileducacionalquepersistenaeducaçãobrasileira.
A
Secretaria de Educação do Estado do Ceará tem investidoem programas para fortalecer apermanência dos estudantes e o seu retorno à escola, como a
monitoria da Busca Ativa,ancoradosem um
discurso que se propõe para a equidade, porém essas ações se
tornamcontraditórias
frente ao destaque que é dado somente aos que obtêm determinada
nota noENEM.É desalentador presenciar a tristeza quase que depressiva com
que os meninos emeninasque fizeram tanto para chegar até o ENEM, olham para si
próprio. Sentindo-seincapazes,
inferiores, impossíveis de atingir o “OLIMPO” do ENEM. Ficam de
certa forma tãodesnorteadosquesequertêmcoragemdeentrarnosistemaetentarumavaganasuniversidadespeloSISUouPROUNI,poissegundoalinhadopensamentoliberalempreendedor,parece que quem não conseguiu foi porque não quis, não se
esforçou obastante.
Não
quero, entretanto que se conclua que sou contra que se torne público
os resultadosexitosos, o
problema está na individualização que se faz dos resultados de uma
educação quese propõe
para equidade, e quecom
essa prática de teor meritocrático,e de uma psicologiaopressora, abandona o coletivo em detrimento do indivíduo,
esquecendo quais efeitos essapráticagera neste
coletivo,e como é danosa
para a construção da solidariedade e deconsciência de classe, afinal a escola pública é composta
pelos filhos e filhas da classetrabalhadora.
Não
devemos nós da escola pública brasileira cairmos na armadilha da
meritocracia, poissabemos
que o direito constitucional à educação, precede de muitos outros
que ainda não seconcretizaramparaboapartedosestudantesquefrequentamnossasescolas.
Mocidade Alegre no desfile pelo Grupo Especial das Escolas de Samba de São Paulo — Foto: Ricardo Matsukawa/UOL/Folhapress.
A
escola de samba Mocidade Alegre é a grande campeã do carnaval de
São Paulo em 2023. Com o enredo “Yasuke”, um imigrante africano
que se tornou samurai no Japão, a escola chega ao 11º título, ao
lado de Nenê de Vila Matilde e atrás apenas da Vai-vai em número
de títulos.
Segundo
historiadores, “Yasuke” teria aportado no Japão no século XVI,
quando as missões jesuítas portuguesas chegaram ao país, junto com
o missionário Alessandro Valignano. O rapaz seria originário de
Moçambique e, até então, os japoneses nunca haviam visto uma
pessoa de pele preta.
Em
segundo lugar fico a Mancha Verde, seguida pela Império de Casa
Verde, em terceiro lugar. Unidos de Vila Maria e Estrela do Terceiro
Milênio foram rebaixadas para o Grupo de Acesso do carnaval de São
Paulo. A apuração foi realizada nesta terça-feira (21), no
sambódromo do Anhembi, Zona Norte da Capita paulista.
Ao
todo, as 14 escolas foram avaliadas em nove quesitos e a disputa
entre Mocidade Alegre e Mancha Verde foi acirrada até os 210 pontos.
A Mancha Verde perdeu um décimo no peúltimo quesito, Mestre-Sala e
Porta-Bandeira.
Nenhuma
das agremiações foi únida nesta edição do carnaval da maior
cidade do país, no entanto, as torcidas não puderam participar da
apuração na tarde desta terça-feira. O desfile das campeãs
acontece no próximo sábado (25) e vai reunir as cinco escolas mais
bem colocadas do grupo especial: Mocidade Alegre; Mancha Verde;
Império de Casa Verde; Acadêmicos do Tatuapé; Dragões da Real.
Considerado
um dos pais da sociologia brasileira contemporânea, Guerreiro Ramos (1915-82)
foi um dos pensadores de maior renome no país nos anos 1950 e 60. Foi também
professor, ensaísta, servidor público, poeta, teórico da administração e
político. Contraditório e polêmico, Guerreiro acabou sendo marginalizado e
apagado do cânone das ciências sociais do Brasil por sua independência de
pensamento e personalidade combativa.
"Negro
sou" é uma seleção de textos sobre a temática étnico-racial
escritos pelo autor entre 1949 e 1973 – muitos inéditos em livro –, que
contemplam sua complexa relação com a tese da democracia racial no país, a
participação ativa no Teatro Experimental do Negro e seus estudos precursores
sobre branquitude e decolonialidade.
Organizado
por Muryatan S. Barbosa, especialista no pensamento guerreiriano, o livro busca
recuperar a atenção devida a uma obra que não apenas segue atual, mas que tem
muito a acrescentar aos debates de hoje sobre racismo e identidade no Brasil.
Esta
coletânea inédita de textos sobre a questão étnico-racial por um dos mais
importantes pensadores brasileiros do século XX já está em pré-venda! Garanta o
seu exemplar.
Participantes durante a final da 11ª edição da Olimpíada Nacional em História do Brasil - Divulgação | ONHB.
A
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) abriu as inscrições para a 15ª
edição da Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB), projeto voltado para
estudantes e professores de escolas públicas e particulares de todo o país. O
prazo para se inscrever com desconto segue até 12 de março e, sem desconto, até
27 de abril.
Para
participar, os interessados devem formar equipes com um professor de História e
três alunos dos Ensinos Fundamental (8º e 9º anos) ou Médio. Na última edição,
em 2022, participaram da ONHB mais de 72 mil pessoas.
A
15ª edição terá início no dia 8 de maio e segue até 17 de junho. Ao todo, serão
realizadas seis fases online com questões de múltipla escolha e realização de
tarefas, além de final presencial, que ocorrerá nos dias 26 e 27 de agosto, na
Unicamp, em Campinas (SP).
A
coordenadora da ONHB e professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
(IFCH) da Unicamp, Cristina Meneguello, explica que o principal objetivo do
projeto é incentivar o estudo da História do Brasil, a análise crítica e o
trabalho em equipe.
“Não é necessário que os participantes tenham
estudado o conteúdo previamente para participar da Olimpíada, pois é oferecido
um amplo material de apoio como textos, imagens e mapas que embasam a decisão
das equipes na hora de enviar as respostas. Esse modelo assemelha-se ao
trabalho realizado por historiadores”, explica.
Fases da Olimpíada
As
seis fases online têm duração de uma semana cada e preveem questões de múltipla
escolha e realização de tarefas. O conteúdo apresentado nas questões permeiam,
além da História do Brasil, assuntos interdisciplinares, como geografia,
literatura, arqueologia, patrimônio cultural, urbanismo, atualidades etc. O
formato oferece aos estudantes e professores a oportunidade de discutir temas
que nem sempre são abordados em sala de aula ou estão presentes nos livros
didáticos.
Meneguello
afirma que a ONHB é uma importante ferramenta de ensino de História do Brasil.
“Nesses 15 anos, pudemos observar como a
Olimpíada estimula a análise crítica dos estudantes e contribui para a
preparação deles para vestibulares, concursos e exames, como o Enem”,
considera.
A
competição também faz parte do edital ‘Vagas
Olímpicas’ da Unicamp. De acordo com o desempenho, os participantes podem
concorrer a duas vagas no curso de graduação em História da Unicamp, sem passar
pelo vestibular.
A
ONHB é realizada com apoio do Departamento de História da Unicamp, do Serviço
de Apoio ao Estudante (SAE) da Unicamp e da Associação Nacional de História
(Anpuh). Conta também com a participação de docentes universitários, alunos de
graduação, mestrandos e doutorandos.
Desde
o começo de janeiro, mais de mil indígenas da etnia Yanomami precisaram ser
deslocados às pressas para postos médicos em Roraima, para receber cuidados de
saúde. Os indígenas sofrem de casos graves de malária e de desnutrição. Segundo
o Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Malária
(Sivep-Malária), o povo Yanomami concentrou 10% dos casos da doença registrados
ao longo do ano de 2022, quantidade desproporcional dado que os indígenas da
etnia representam 0,013% da população brasileira. Em 2023, pelo menos seis
mortes de indígenas já foram registradas.
A
tragédia ganhou destaque no noticiário internacional. Era uma crise já há muito
antecipada. Os problemas de saúde dos Yanomami estão diretamente relacionados à
expansão do garimpo ilegal em suas terras. Predatória, essa prática polui rios,
e contamina peixes — usados na alimentação dos indígenas — com metais pesados.
A atividade também cria poços de água parada, onde proliferam mosquitos
transmissores de doenças. “A presença de garimpeiros na terra indígena
Yanomami, em Roraima, é antiga. Desde 2015, observamos o número de garimpeiros
aumentar”, disse Dario Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami
(HAY), à Brasil de Direitos em 2021. “De início, eram7 mil pessoas, subindo e descendo o rio.
Alertamos as autoridades, pedimos ajuda. Nada foi feito”.
Dados
da Hutukara e do Instituto Socioambiental (ISA) sugerem que o problema se
agravou durante o governo Bolsonaro. Um estudo conduzido pelas duas
organizações mostra que a área afetada pelo garimpo na Terra Indígena Yanomami
cresceu 309% entre 2018 e 2022. Hoje, chega a 5 mil ha: algo equivalente a 6
mil campos de futebol.
O
presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami, Junior Hekurari,
relatou à Globonews que enviou mais de sessenta pedidos de auxílio ao longo dos
quatro anos de governo Bolsonaro e nunca obteve resposta. Durante esse período,
570 crianças com menos de cinco anos morreram. Dados do jornal Sumaúma mostram
que o número de mortes de crianças Yanomamis aumentou 29% durante esse mesmo
espaço de tempo
Mulheres e crianças yanomami em Surucucu, na Terra Indígena Yanomami. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.
Essa
não é a primeira vez que os Yanomami sofrem com o avanço de garimpeiros. No
início da década de 1990, um ataque de garimpeiros resultou na morte de 16
indígenas, incluindo crianças. O episódio ficou conhecido como o massacre do
Haximu, e foi o primeiro crime ocorrido no Brasil a ser julgado como genocídio.
Habitantes
da porção norte da floresta amazônica, os Yanomami se distribuem em aldeias
espalhadas entre o Brasil e a Venezuela. São regiões de difícil acesso e, em
parte por causa disso, o contato dos Yanomami com não-indígenas é relativamente
recente. No Brasil, esse povo ocupa um território de mais de 96 mil quilômetros
quadrados. Trata-se da maior terra inígena do país, cujo processo de demarcação
foi concluído em 1992.
Diante
do avanço da crise humanitária, Brasil de Direitos reuniu informações sobre a
cultura e a história desse povo.
Quem são osYanomami
Espalhados
entre Brasil e Venezuela, os Yanomami somam cerca de 33 mil pessoas. Trata-se
de uma sociedade que fala diversos dialetos, e que está dividida em mais de 600
comunidades distribuídas pelos dois países.Isso “faz deles um dos maiores grupos ameríndios da Amazônia que
conservam em larga medida seu modo de vida tradicional”, conta o antropólogo
Bruce Albert em “A queda do Céu”, livro escrito em parceria com o xamã Davi
Kopenawa Yanomami.
No
idioma desse povo, “Yanomami” significa “ser-humano”. É um termo que eles usam
para se referir a si mesmos, em oposição aos napë— os “brancos” ou os “inimigos”. Na sua
cosmologia, os Yanomami foram criados por um demiurgo chamado Omama, que dotou
a sociedade de regras. “Omama tinha muita sabedoria”, explica Kopenawa emA Queda do Céu. “ Ele soube criar a floresta,
as montanhas e os rios, o céu e o sol, a noite, a lua e as estrelas. Foi ele
que, no primeiro tempo, nos deu a existência e estabeleceu nossos costumes”.
Os
Yanomamis são caçadores e agricultores que vivem em sociedades onde a vida é
comunitária e onde a divisão das tarefas é feita de acordo com o gênero. Todos
moram em grandes casas circulares chamadas “yanos” ou “shabonos”.
Costumeiramente, as mulheres cultivam a terra, produzindo vegetais que,
estima-se, respondem por 80% da alimentação das comunidades. Já os homens ficam
responsáveis pela caça. De acordo com os hábitos dos yanomami, um caçador não pode
comer o animal que abateu. A carne é compartilhada pelo grupo, e os homens
somente consomem a carne obtida por outro caçador.
Para
esse povo, tudo tem um espírito, sejam pessoas ou montanhas. Segundo suas
crenças, depois de morta, uma pessoa só vai para o céu (ou para “ a
terra-de-cima”) depois de todos os seus pertences serem destruído. Por isso, os
Yanomami cremam seus mortos.
À
morte de um Yanomami, segue-seum longo
ritual para que, tanto a comunidade, quanto aquele que a deixou, possam se
desprender. Por se entenderem como parte não só do mundo material, mas de todas
as dimensões existentes, visíveis ou invisíveis, os rituais podem durar
anos.Esses momentos de luto são
mediados pelos xamãs e imprescindíveis para o estilo de vida dos Yanomamis, uma
vez que é a partir das cerimônias ocorridas depois da cremação que o morto
morre como memória e permite que os vivos sigam suas existências.
O xamã Davi Kopenawa (Foto: Reprodução / Instituto Socioambiental).
Essa
existência é ameaçada pelos brancos, cujas atividades predatórias ameaçam fazer
“o céu cair”.Em um trabalho publicado
em 1995, o antropólogo Albert explica que, de acordo com as crenças Yanomami, a
terra atual surgiu depois que os xamãs ancestrais morreram. Enraivecidos, os
antigos espíritos cortaram o “céu dos primeiros tempos”, que cedeu sob o
próprio peso e caiu. O avanço do garimpo, que ameaça esse povo desde os anos
1980, provocou uma espécie de atualização desse mito. Hoje, os Yanomami
acreditam que, se o garimpo continuar a avançar, seus xamãs morrerão, e o céu
tornará a cair.
Quando todos nós tivermos desaparecido,
quando todos nós, xamãs, tivermos morrido, acho que o céu vai cair. É o que
dizem nossos grandes xamãs. A floresta será destruída e o tempo ficará escuro.
Se não houver mais xamãs para segurar o céu, ele não ficará no lugar. Os brancos
são apenas engenhosos, eles ignoram o xamanismo, não são eles que poderão
segurar o céu (...) Não são só os Yanomami que morrerão, mas todos os brancos
também. Ninguém escapará à queda do céu. Se morrerem os xamãs que o mantêm no
lugar, ele cairá mesmo. É o que dizem nossos anciãos. Nossos grandes xamãs e
nossos anciãos estão morrendo um após outro, isso me desespera. Os brancos
destroem nossa floresta e nossos anciãos morrem todos, pouco a pouco, de
epidemia. Isso me dá raiva.
Depoimento de Davi Kopenawa a Bruce
Albert, disponível em O ouro canibal: a queda do céu e uma crítica xamânica da
economia política.
A história de ataque aos Yanomami
Os
Yanomami viveram em relativo isolamento até o final do século XIX. No Brasil,
seu contato com não-indígenas se tornaria mais intensos por volta dos anos
1940. Foi quando o governo brasileiro criou postos do Serviço de Proteção ao
Índio (SPI), o órgão indigenista que antecedeu a Funai, na região. Por essa
época, também se tornaram mais comuns as missões religiosas, católicas e
evangélicas, que se estabeleceram no território.
O
quadro se agravaria na década de 1970. Sob o regime militar, o governo federal
criou projetos destinados a ocupar a Amazônia brasileira. Em 1973, o exército
iniciou a construção de uma rodovia que tinha como propósito ligar toda a
região. O projeto fazia parte do chamado Plano de Integração Nacional (PIN).
Para os indígenas, o resultado foi trágico: com a estrada, chegaram epidemias
de sarampo, malária, coqueluche e ISTs que levaram a morte aos povos da região.
Em 1976, o planejamento foi paralisado.
Em
1975, o governo detectou a presença de ouro no território Yanomami. A descoberta
levou a uma corrida para a região: calcula-se que, nos anos 1980, cerca de
40.000 garimpeiros brasileiros invadiram o território Yanomami. Mais de mil
indígenas morreram.
Nos
anos seguintes, a Survival International, ONG britânica ainda sem mobilização
no Brasil, fez denúncias sobre a situação na OEA (Organização dos Estados
Americanos) e na ONU (Organização das Nações Unidas). É nesse período que ganha
destaque o xamã Davi Kopenawa. Porta-voz de seu povo, Kopenawa se tornou um
ferrenho defensor da demarcação da Terra Indígena Yanomami.
Kopenawa
nasceu por volta de 1956, no extremo norte do estado do Amazonas. Em A Queda do
Céu, Albert conta que, na infância, Kopenawa viu todo o seu grupo de origem ser
dizimado por epidemias. Por um tempo, o xamã conviveu com missionários de
organizações religiosas: foram eles que lhe deram o nome “Davi”. Rompeu com os
religiosos no final dos anos 1960, quando uma epidemia de varíola, levada pela
filha de um dos missionários, matou os membros que restaram de sua família. A
invasão garimpeira da década 1980, e a morte de Yanomamis que se seguiu a ela,
trouxeram a ele memórias dolorosas de sua infância. Nos anos 1980 e 1990,
Kopenawa visitou diversos países, denunciando os males do garimpo e o avanço da
destruição no território Yanomami. Em 1989, foi convidado pela ong Survival
International a aceitar, em nome da organização, o prêmio Right Livelihood,
considerado o “Nobel alternativo”.
Áreas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami vistas em sobrevoo ao longo do rio Mucajaí. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.
Em
1992, após uma longa campanha, a Terra Indígena Yanomami foi demarcada. O
território homologado possui 9,6 milhões de hectares, sendo atualmente a maior
Terra Indígena do Brasil.
Um
ano após a vitória, no entanto, um grupo composto por quinze garimpeiros entrou
na aldeia de Haximu e assassinou 16 indígenas Yanomami, que eram majoritariamente
crianças, adolescentes, idosos e até um bebê. Em 1996, cinco homens foram
identificados e condenados por genocídio, o primeiro caso tipificado nesse
crime no Brasil.
Um novo genocídio
A
crise humanitária que os Yanomami vivem atualmente já é, por muitos,
considerada um novo genocídio. Foi assim que o jurista Luciano Mariz Maia,
professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), classificou o quadro em
entrevista à Agência Brasil. Em 1992, Maia foi um dos três procuradores da
república responsáveis por denunciar os garimpeiros que praticaram o massacre
de Haximu.No dia 30 de janeiro, o
Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a abertura de um inquérito que deve
investigar se autoridades brasileiras negligenciaram a crise entre os Yanomami,
e se houve tentativa deliberada de exterminar esse grupo étnico.
As
doenças causadas pelo acesso restrito à comida ou sua contaminação devido ao
garimpo na região já tinham sido pauta da UNICEF, em 2019, quando divulgaram
dados preocupantes a respeito do tema no “Seminário
Nacional sobre os Determinantes Sociais da Desnutrição de Crianças Yanomami”.
Nele,
foi apontado que oito em cada dez crianças menores de 5 anos pesquisadas
apresentavam desnutrição crônica e 67,8% estavam anêmicas. Um relatório mais
recente, lançado em 2022 pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), apontou outro
problema: dos 37 Polos Base (unidades básicas de saúde indígena) existentes na
Terra Yanomami, 18 tinham registro de desmatamento causado pela mineração
ilegal.