9 de março de 2022

Osso de ancestral de dinossauro mais antigo da América do Sul é encontrado no RS

 

Representação artística dos ancestrais dos dinossauros no Triássico Médio no Rio Grande do Sul - Divulgação/Caetano Soares.

Paleontólogos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) estudaram o fêmur do antecessor do mais antigo dinossauro da América do Sul, encontrado em um sítio fossilífero de 237 milhões de anos, situado no município de Dona Francisca, no Rio Grande do Sul.

O osso, descrito em uma pesquisa publicada no periódico científico Gondwana Research, possui 11 centímetros de comprimento e indica que o animal pode ter feito parte do grupo Dinosauromorpha, que inclui dinossauros e seus ancestrais próximos.

Até então, materiais desse tipo não haviam sido encontrados em rochas mais antigas do que as que guardaram registros dos primeiros dinossauros. A Argentina, por exemplo, preserva alguns de seus precursores em pedras de 236 milhões de anos.

Com o recém-descoberto registro, é possível estimar que os ancestrais dos dinossauros habitaram o continente sul-americano cerca de 1 milhão de anos antes do que se pensava, como reportou a revista Galileu.

Embora tivéssemos registros dos mais antigos dinossauros no Brasil, ainda não tínhamos registros desses precursores em rochas tão antigas”, explicou o paleontólogo Rodrigo Temp Müller, do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia da UFSM, responsável pela análise em conjunto com Maurício Silva Garcia, estudante de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal, à publicação.

Mesmo tratando-se de um elemento isolado, o novo exemplar serve para mostrar que esse grupo de animais existiu aqui antes do que imaginávamos e também nos estimula a buscar por exemplares mais completos, acrescentou.

No estudo, os pesquisadores sugeriram que as criaturas seriam pequenas, com cerca de 1 metro de comprimento, assim como indicou a análise do fêmur para o tamanho do esqueleto. A partir disso, é possível entender que os animais tiveram que enfrentar adversidades para crescer e dominarem ecossistemas nos períodos consequentes.

No momento em que esses precursores dos dinossauros surgiram, as faunas estavam dominadas por parentes distantes dos mamíferos e também por animais relacionados com a linhagem dos crocodilos”, destacou Müller. “É possível que a forma de locomoção (bípede) e algum fator fisiológico tenham tido um papel fundamental no sucesso posterior do grupo”.

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Com informações do Aventuras na História.

8 de março de 2022

No campo e na cidade, mulheres se unem contra o machismo e a fome; veja como foi o 8 de março

 

Em Feira de Santana (BA), marcha reuniu movimentos populares que seguiram para ocupar a Câmara de Vereadores - @levantepopular.

Mulheres de mais 40 cidades, em todas as regiões do Brasil, marcharam nesta terça-feira (8), Dia Internacional da Mulher. O lema “Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome!” deu o tom dos protestos, que não ficaram apenas no discurso.

Além de ocuparem ruas dos centros urbanos, mulheres integrantes de organizações populares articularam a pauta feminista com ações políticas concretas no campo, fortalecendo a luta em favor da terra, da agricultura familiar e contra a violência de gênero.

Casas de acolhimento são inauguradas

Pela manhã em Recife (PE), o Movimento de Mulheres Olga Benário (MMOB) ocupou um imóvel abandonado para a criação de uma Casa de Referência para mulheres vítimas de violência. Batizado de Centro de Referência Soledad Barrett, o local já está de portas abertas para receber mulheres que rompem com o ciclo da violência e precisam de abrigo.

O MMOB inaugurou, também, a Casa de Referência da Mulher Almerinda Gama no centro do Rio de Janeiro (RJ). A iniciativa surge da primeira ocupação organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário no estado. O imóvel estava vazio havia mais de oito anos, sem cumprir função social, segundo o movimento.

"Com esta ação, o Movimento Olga Benário chama atenção para os números alarmantes de violência de gênero, que apesar de subnotificados já se mostram muito superiores à capacidade de atendimento das ferramentas oferecidas pelo Estado”, disse o movimento em nota.

Câmara e Secretaria estadual ocupadas

Em Porto Alegre (RS), mais de 200 agricultoras ocuparam, na manhã desta terça-feira (8), o pátio da Secretaria Estadual de Agricultura em Porto Alegre. Elas cobram ações do governo do estado para amenizar os impactos da estiagem no Rio Grande do Sul. Já ocorreram conversas com representantes do governo estadual, mas pouco foi feito até aqui, assinalam as mulheres.

“As nossas famílias ainda estão sofrendo com a estiagem. Por isso estamos aqui novamente. Nós precisamos de ajuda urgente, diante de tantos prejuízos causados pela seca”, diz Silvia Reis Marques, produtora e dirigente estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Rio Grande do Sul (MST-RS).

Ainda na capital gaúcha, assentadas e acampadas do MST doaram 4 toneladas de alimentos da reforma agrária. O destino são as cozinhas comunitárias da periferia de Porto Alegre.

A Câmara de Vereadores de Feira de Santana (BA) também foi ocupada pela marcha que saiu da prefeitura da cidade. A ação ocorreu durante uma sessão solene promovida pelo Legislativo municipal. Mais cedo, o ato na cidade baiana teve início com café da manhã feito a partir da produção das trabalhadoras rurais. A mobilização teve a presença de movimentos sociais, partidos políticos, trabalhadoras do campo e da cidade e estudantes.

MTST pede cassação de "Mamãe Falei"

Mulheres do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) realizaram uma ação em repúdio às falas machistas de Arthur do Val, o "Mamãe Falei", sobre as mulheres ucranianas. Em frente à sede do Podemos em São Paulo (SP), mulheres cobraram uma posição do partido, além da cassação do mandato do deputado estadual pela Assembleia Legislativa de São Paulo.

Em áudios gravados pelo parlamentar em viagem à Ucrânia, Arthur do Val afirmou que mulheres ucranianas são "fáceis, porque são pobres", entre outros comentários misóginos e machistas.

O 8 de março no campo

Também na Bahia, cerca de 100 mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam a Fazenda Botafogo, área improdutiva de 313 hectares no município de Jussari (BA), com objetivo de promover a reforma agrária. A ação faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, com o lema: Terra, trabalho, direito de existir.

Outra propriedade improdutiva, a fazenda Frutelli, foi ocupada por 500 mulheres em Itabela (BA). A propriedade é pertencente à empresa falida Frutelli culturas Tropicais, que tinha como principal atividade econômica o cultivo de banana, hoje abandonado. O ato denunciou a falta de crédito para as trabalhadoras rurais, o feminicídio, o uso abusivo de agrotóxicos e a fome no Brasil.

Em Estreito (MA), a manifestação foi para denunciar os impactos da Usina Hidrelétrica do Consórcio Estreito Energia sobre famílias de pescadores. Muitas delas ficaram sem casas após a abertura de comportas do empreendimento. Os manifestantes reivindicam ainda uma assembleia coletiva com as famílias afetadas, com acompanhamento e apoio do MST.

Impactos de grandes empreendimentos também motivaram protestos no assentamento Sabiaguaba, em Amontoada (CE). Mulheres, jovens e crianças protestaram, sobretudo, contra prejuízos à agricultura familiar provocados pela instalação de parques eólicos. Além do MST, participaram do ato o Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), com o apoio do Projeto ECO Icaraí.

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Com informações do Brasil de Fato.

7 de março de 2022

URCA completa 35 anos de instalação

 

(FOTO/ Reprodução/ URCA).

Com 31 cursos de graduação e 13 cursos Stricto Sensu, mestrado e doutorado, a Universidade Regional do Cariri (URCA) conta atualmente com mais de 11 mil alunos, e já formou mais de 32 mil pessoas. A Instituição de Ensino Superior (IES) se consolida no fortalecimento do desenvolvimento regional. Atualmente a URCA passou a contar com mais dois cursos recém-aprovados pelo Conselho Estadual de Educação, o de Medicina, no campus do Pimenta, em Crato, e o de Gestão de Turismo, no campus de Barbalha. Recentemente passou pela fase de recredenciamento por um período de mais oito anos.

Criada pela Lei nº 11.191 de 09 de Junho de 1986, autorizada a funcionar por Decreto Presidencial n° 94.016, de 11 de fevereiro de 1987, foi instalada em 07 de março de 1987. Em 1º de março de 1993 ela foi transformada em fundação, com o nome de Fundação Universidade Regional do Cariri (Lei 12.007-A).

A URCA foi criada na gestão do Governador Gonzaga Mota, e se tornou um marco importante para a história universitária do Cariri, “Mãe das Universidades”, na região. O movimento pela criação da URCA foi liderado pelo Reitor Antônio Martins Filho, Dom Vicente Matos, Bispo Diocesano, Professor José Newton Alves de Sousa, Monsenhor Francisco Holanda Montenegro, e pelos professores Pedro Felício Cavalcanti, Raimundo de Oliveira Borges, Luiz de Borba Maranhão e Professora Sarah Cabral.

Em 15 de maio de 1985, na comemoração do Jubileu de Prata da Faculdade de Filosofia, foi lançado oficialmente o movimento em favor da criação da URCA, em solenidade no auditório da Rádio Educadora do Cariri. O Projeto foi aprovado pelo então Governador Gonzaga Mota, que anunciou logo a constituição de um grupo de trabalho, visando a criação da nova instituição de ensino superior, que foi fundada em junho de 1986 e instalada em março de 1987. Teve como base as faculdades de Filosofia, Ciências Econômicas e Direito do Crato e Faculdade de Engenharia Operacional de Juazeiro do Norte.

Nascida da mobilização da sociedade em torno de um ideal, a missão da URCA, expressa no seu texto regimental e evidente na sua prática sedimentou-se em suas ações destes 35 anos é: “contribuir significativamente para a transformação da realidade regional, através de atividades de ensino, pesquisa e extensão.

A URCA conta com os campi instalados em Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Iguatu e Campos Sales, além de contar com o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri, um dos mais representativos do Brasil, com mais de 7 mil peças fósseis principalmente do período Cretáceo, além da reserva técnica, atraindo cientistas do Brasil e exterior, fortalecendo também o turismo científico na região. A instituição constitui-se como agente ativo do processo de desenvolvimento das regiões do Cariri e Centro-Sul do Ceará, sendo conhecida pelo seu caráter educacional em diversos outros estados do país.

 

Nesta expansão ao longo do tempo, houve a aprovação da candidatura do Araripe Geoparque Mundial com sucessivas avaliações exitosas, projeto de grande ousadia e que já faz escola no Brasil e na América Latina; de uma universidade que antes majoritariamente formava professores, foi ampliada e incrementamos a esta estratégica tarefa a produção do conhecimento inovador pela implantação da pós-graduação e consolidação da pesquisa. Além disso, foi a primeira instituição do Cariri a implantar a pós-graduação Stricto Sensu em nível de mestrado e de doutorado.

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Com informações do Portal da URCA.

6 de março de 2022

113 anos de Patativa do Assaré

 

Patativa. (FOTO/ Fernando Travessoni).

Por José Nicolau, editor

Há 20 anos o Brasil perdia uma de suas mentes mais brilhantes. Nascido aos 5 de março de 1909, Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, deixou um legado inigualável no campo da cultura.

Ninguém usou tão bem a poesia com uma linguagem simples para retratar o nordestino, o sertanejo com seus sofrimentos, mas concomitantemente com suas lutas e resistências. Conhecido mundialmente, Patativa teve inclusive, o poema Triste Partida, cantado por outro ícone da cultura nordestina, o cantor pernambucano Luiz Gonzaga, nos anos 1960.

Nascido em Serra de Santana, no município de Assaré-Ce, Patativa teve quatro irmãos, sendo o segundo entre eles. Filho de Maria Pereira da Silva e Pedro Gonçalves da Silva, agricultores, ele foi também um defensor assíduo da distribuição e uso coletivo da terra. Ele foi um dos poucos que usou sua arte para denunciar e cobrar melhorias. Suas poesias possuem forte conotação política.

Se estivesse vivo, o poeta estaria hoje com 113 anos. Ele morreu aos 93 anos no dia 08 de julho de 2002 causando forte comoção popular e recebendo diversas reverências em todos os cantos do país e internacionalmente.

Em sua homenagem, o Blog traz abaixo a poesia intitulada “A Terra é Nossa”:

A terra é um bem comum

Que pertence a cada um.

Com o seu poder além,

Deus fez a grande Natura

Mas não passou escritura

Da terra para ninguém.

 

Se a terra foi Deus quem fez,

Se é obra da criação,

Deve cada camponês

Ter uma faixa de chão.

 

Quando um agregado solta

O seu grito de revolta,

Tem razão de reclamar.

Não há maior padecer

Do que um camponês viver

Sem terra pra trabalhar.

 

O grande latifundiário,

Egoísta e usurário,

Da terra toda se apossa

Causando crises fatais

Porém nas leis naturais

Sabemos que a terra é nossa.

Leonardo Boff - A insanidade dos cavaleiros do Apocalipse: Rússia e USA

 

(FOTO/ Reuters).

O livro do Apocalipse que narra os embates finais de nossa história,entre as forças da morte e as da vida, nos pinta um cavalo de fogo que simboliza a guerra:”ao cavaleiro foi-lhe dada desterrar a paz da terra para que os homens se degolassem uns aos outros”(6,4).A guerra entre a Rússia e a Crimeia e a ordem do presidente russo de manter as armas nucleares em alerta máximo,nos suscitam a ação do cavalo de fogo, a degola da humanidade,vale dizer, um Armaggedon humano.

As sanções severíssimas impostas pela NATO e pelos USA à Federação Russa podem levar ao colapso de toda a sua economia .Face a esse desastre nacional não se pode excluir a possibilidade de que o líder russo, não aceite a derrota como se Napoleão (1812) ou Hitler(1942) tivessem tomado o país, coisa que não conseguiram. Então realizaria as ameaças e iniciaria um ataque nuclear. Só o arsenal da Rússia pode destruir, por várias vezes, toda a vida do planeta. E um revide pode danificar toda a biosfera sem a qual a nossa vida não poderia persistir.

Por detrás deste confronto Rússia/Ucrânia se ocultam forças poderosas em disputa pela hegemonia mundial: a Rússia, aliada à China, e os USA. A estratégia deste último é mais ou menos conhecida, orientada por duas ideias-força: ”um mundo e um só império”(os USA), garantido pela full-spectrum dominance: a dominação em todos os campos com 800 bases militares distribuídas pelo mundo, mas também com a dominação econômica, ideológica e cultural. Tal dominação completa fundaria a pretensão dos USA de sua “excepcionalidade”, de ser “a nação indispensável e necessária”, a”âncora da segurança global” ou o “único poder”(lonely power) realmente mundial.

Nessa vontade imperial, a NATO, por detrás da qual estão USA, se expandiu até os limites da Rússia. Só faltava mesmo a inserção da Ucrânia para fechar o cerco. Mísseis colocados na fronteira ucraniana alcançariam Moscou em minutos. Daí se entende a exigência da Rússia da manutenção da neutralidade da Ucrânia, caso contrário seria invadida. Foi o que ocorreu com as perversidades que toda guerra produz. Nenhuma guerra é justificável porque assassina vidas humanas e vai contra o sentido das coisas que é a tendência de persistirem na existência.

A China, por sua vez, disputa a hegemonia mundial não por  via militar, mesmo aliada à Rússia, mas pela via econômica com seus grandes projetos como a Rota da Seda. Neste campo está ultrapassando os USA e alcançaria a hegemonia mundial até com um certo ideal ético, o de criar “uma comunidade de destino comum participado por  toda a humanidade, com sociedades suficientemente abastecidas”.

Mas não quero prolongar esta perspectiva bélica, verdadeiramente insana a ponto de ser suicida. Mas esse confronto de potências revela a inconsciência dos atores em tela acerca dos reais riscos que pesam sobre o planeta que, mesmo sem as armas nucleares, poderão pôr em risco a vida humana. Seja dito que todos os arsenais de armas de destruição em massa se mostraram totalmente inúteis e ridículas face a um pequeníssimo vírus como o Covid-19.

Essa guerra revela que os responsáveis pelo destino humano não aprenderam a lição básica do Covid-19. Ele não respeitou as soberanias e os limites nacionais.Atingiu o inteiro planeta. A epidemia pede a instauração de uma governança global face a um problema global. O desafio vai além das fronteiras nacionais, é construir a Casa Comum.

Não se deram conta de que o grande problema é o aquecimento global. Já estamos dentro dele,pois, os eventos fatais de inundações de regiões inteiras,tufões e escassez de água doce, são visíveis. Temos somente 9 anos para evitar uma situação de não retorno. Se até 2030 atingirmos 1,5 graus Celsus de calor, seremos incapazes de controlá-lo e vamos na direção de um colapso do sistema-Terra e dos sistema-vida. Encostamos nos limites de sustentabilidade da Terra.Os dados da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot) apontam que no dia 22 de setembro de 2020 esgotaram-se os recursos não renováveis, necessários para a vida. O consumismo que persiste, cobra da Terra o que ela já não pode dar. Em resposta, ela nos envia vírus letais,aumenta o aquecimento,desestabiliza os climas e dizima milhares de seres vivos.

A superpopulação associada a uma nefasta desigualdade social com a grande maioria da humanidade vivendo na pobreza e na miséria, quando 1% dela controla 90% da riqueza e dos bens e serviços essenciais, podem conduzir a conflitos com incontáveis vítimas e à devastação de inteiros ecossistemas.

Estes são os problemas, entre outros, que deveriam preocupar os chefes de estado, os CEOs das grandes corporações e os cidadãos, pois eles diretamente colocam em risco o futuro de toda a humanidade. Face a esse risco global é ridícula uma guerra por zonas de influência e de soberanias já obsoletas.

O que nos causa esperança são aqueles “Noés” anônimos que vicejam em todas as partes, a partir de baixo, construindo suas arcas salvadoras mediante uma produção que respeita os limites da natureza,por uma agroecologia, por comunidades solidárias, por democracias sócio-ecológicas participativas, trabalhando a partir dos próprios territórios. Eles possuem a força da semente do novo e com uma nova mente (a Terra como Gaia) e com um novo coração (laço afetivo e de cuidado para com a natureza) garantem um novo futuro com a consciência de uma responsabilidade universal e uma interdependência global. A guerra deles é contra a fome e a produção da morte e sua luta é por justiça para todos, promoção da vida e defesa dos mais fracos e desvalidos. Isso é o que deve ser. E o que deve ser, tem intrinsecamente uma força invencível.

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Publicado originalmente no Brasil 247.

Mulheres se mobilizam para a luta contra a ‘política de morte’ de Bolsonaro

 

As mulheres querem adesão de setores mais amplos da sociedade na defesa das pautas feministas. (FOTO/ UBM/Facebook/Reprodução).

Às vésperas do Dia Internacional das Mulheres, nesta terça-feira (8), a União Brasileira de Mulheres (UBM) e a Confederação Brasileira de Mulheres (CBM) lançaram o manifesto “Mulheres contra a política de morte: Bolsonaro nunca mais!”. O objetivo é objetivo é mobilizar e unificar as lutas de 2022 em todo o país.

Conforme o documento, as entidades lutam pela unidade na “construção de um 8 de Março em aliança com setores mais amplos da sociedade: movimento de mulheres, trabalhadoras, juventude, partidos; enfim, com todos os que se associam às pautas democráticas”.

As mulheres são as principais vítimas da violência, do racismo estrutural, da crise sanitária, da política econômica e demais impactos das políticas que têm sido adotadas pelo governo de Jair Bolsonaro.

As entidades reafirmam a urgência da “luta pela derrubada de Bolsonaro e seu projeto de poder. Esta é tarefa primordial e inadiável do movimento feminista, anti-imperialista, anticapitalista”.

Confira abaixo a íntegra do documento:

Mulheres contra a política de morte: Bolsonaro nunca mais!

Março de 2022 nasce repleto da luta das feministas e perpassado pela força transgressora e de resistência das modernistas e sufragistas. Ano do centenário da Semana de Arte Moderna, movimento vanguardista que contou com forte participação das mulheres, que oportunizou outras formas de leitura do mundo pelas artes. Esse também é o ano em que se completam nove décadas da conquista do direito ao voto pelas mulheres brasileiras. Esses acontecimentos fortalecem o resgate das históricas reivindicações por um mundo de igualdade e contra todas as formas de opressão, principalmente no contexto atual, em que o peso da exploração capitalista e da dominação do patriarcado, associadas ao racismo estrutural, à crise sanitária da Covid-19, à crise política e econômica, nos marcos de um governo de matriz nazifascista, tem significado concretamente para as mulheres, menos direitos, mais violência e pobreza, fome e miséria.

Essa realidade impõe a construção de um 8 de março em aliança com setores mais amplos da sociedade: movimento de mulheres, trabalhadoras, juventude, partidos; enfim, com todos os que se associam às pautas democráticas. Precisamos aliançar com quem se indigna com o fato de que as mulheres compõem o espectro dos 70% da população mais pobres do planeta; com aqueles que não naturalizam que, no Brasil, as mulheres são a maioria dos 51 milhões que viveram abaixo da linha da pobreza nos últimos dois anos, e dos mais de 10 milhões que passam fome.

O desemprego marca a vida das mulheres do campo, da cidade, das águas e das florestas, totalizando 8,6 milhões delas, com maior repercussão sobre as negras, que viram crescer para 19,8%, a taxa de desemprego em 2021, enquanto em relação às demais mulheres registrou-se um crescimento de 16,8% dessa taxa. As mulheres são, ainda, as maiores vítimas da crescente violência política de gênero. Mesmo presentes em reduzidos espaços de poder, inúmeros são os ataques utilizados para impedir a ação protagonista das mulheres, como assédios, assassinatos, fake news, silenciamentos, invisibilização das discriminações. Tudo isso é parte de um movimento cotidiano que acompanha a crescente misoginia, racismo e LGBTIA+fobia, que tem encontrado no governo Bolsonaro terreno fértil para sua proliferação.

Nesse contexto, é urgente a manutenção e a intensificação da luta pela derrubada de Bolsonaro e seu projeto de poder. Esta é tarefa primordial e inadiável do movimento feminista, anti-imperialista, anticapitalista. Extirpar o paradigma bolsonarista da política significa a possibilidade de construção de vida nova, pautada na defesa das liberdades, dos direitos sexuais e reprodutivo das mulheres, na proteção à saúde e ao trabalho, numa vida sem violência e sem fome. É tarefa que exige das mulheres ação organizada.

Por isso, nosso desafio é ocupar as ruas e as praças brasileiras neste 8 de março, vocalizando os nossos desejos e nossas necessidades na construção de novas formas de estar no mundo, rompendo com as amarras e superando os enquadramentos que lhes são impostos, exigindo, para além do direito de votar e ser votada, condições reais de efetiva participação política, como condição essencial para juntas podermos renovar a luta por uma sociedade justa e pelo fim de todas as desigualdades.

“Sonhe, tenha até pesadelo se necessário for, mas sonhe.”

(Pagu)

 

União Brasileira de Mulheres – UBM

Confederação Brasileira de Mulheres – CMB

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Com informações do Portal Vermelho e da RBA.

5 de março de 2022

Atos do 8M acontecem em todas as regiões do país nesta terça; confira

 

Além da Marcha Mundial das Mulheres, outros movimentos estão organizando atos para o dia 8 de março - AFP.

A Marcha Mundial de Mulheres divulgou a lista preliminar dos locais em que ocorrerão atos no dia 8 de março de 2022, Dia Internacional de Luta das Mulheres. Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome! é o lema nacional das mobilizações deste ano. Estão previstas manifestações em todas as regiões do país.

Além da Marcha Mundial das Mulheres, outros movimentos estão organizando atos para o dia 8 de março, como o Coletivo de Mulheres da Central de Movimentos Populares (CMP), que estará presente em pelo menos 15 estados. 

Segundo Melayne Macedo, do Coletivo de Mulheres da CMP de Pernambuco, “infelizmente a pandemia agravou o cenário de violência contra a mulher e exige uma maior mobilização social. O discurso de ódio de Jair Bolsonaro também tem se espalhado e faz de nós, mulheres, sermos alvo preferencial dos machistas. Precisamos lutar contra isso. Não somos números, precisamos resistir para existir. A resistência e mobilização das mulheres é uma potência de transformação latente”.

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Com informações do Brasil de Fato. Clique aqui e confira a lista completa.

4 de março de 2022

Comunicar para defender direitos: um objetivo de vida

 

(FOTO/ Reprodução).

Faz 20 anos que atuo com comunicação para o enfrentamento ao racismo e formas correlatas de discriminação. Sempre entendi a comunicação como uma ferramenta relevante para a promoção de diálogos construtivos rumo à justiça social, racial e de gênero.

Tive a sorte de começar a atuar nesse campo quando o Brasil se tornou protagonista da III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, realizada em 2001, em Durban, na África do Sul.

Naquele momento, eu já trabalhava com a imprensa negra e tive a oportunidade de dialogar com pessoas que lideravam aquele processo, com destaque para as mulheres negras brasileiras que exerceram um papel fundamental para que o mundo pudesse conhecer e entender um pouco da complexidade do racismo no Brasil, enquanto elemento estruturante das desigualdades.

As discussões ali realizadas e as proposições pactuadas e reunidas em um plano de ação impulsionaram processos de desenho e execução de políticas públicas já em curso no país e abriram espaço para novas conversas, desembocando em uma espiral ascendente de instrumentos e documentos sobre ações afirmativas, o próprio Estatuto da Igualdade Racial e a Lei de Cotas, entre outros.

Todos esses instrumentos tornam a comunicação e seus processos essenciais para o alcance de seus objetivos: eliminar o racismo e promover a equidade.

Cabe destacar que todos eles vêm na esteira das reivindicações do movimento social negro, no Brasil e em outros lugares do mundo, e foram construídos sob uma perspectiva de direitos humanos, que compreende a comunicação como um direito (Artigo 19, da Declaração Universal dos Direitos Humanos), também expresso na Constituição (1988).

Esse preâmbulo serve para informar que combate ao racismo e formas correlatas de discriminação e promoção da equidade podem encontrar assento na comunicação e que, há mais de 20 anos, a Conferência de Durban nos ensina sobre isso. Portanto, não se trata de uma discussão nova, mas que infelizmente é sistematicamente atacada e diminuída para que não alcance seu propósito.

É importante resgatar esse ponto porque, sob a “marca” da diversidade, por vezes, esses marcos históricos não são considerados. As instituições parecem que se esforçam para lançar o tema como algo novo, inconsistente e passível de questionamentos de toda ordem. Não é!

O Plano de Ação da Conferência de Durban insta os países a desenvolver medidas eficazes para o combate ao racismo, à xenofobia, a intolerâncias correlatas. A  comunicação, enquanto ciência, e seus processos são convocados a todo o momento para essa tarefa.

No capítulo III, que versa sobre as “medidas de prevenção, educação e proteção visando à erradicação do racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerâncias correta nos âmbitos nacional, regional e internacional”, há um trecho dedicado “a informação, comunicação e a mídia, incluindo novas tecnologias”.

As recomendações são nítidas e reconhecem “[…] a necessidade de se promover o uso de novas tecnologias de informação e comunicação, incluindo a Internet, para contribuir na luta contra o racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata; as novas tecnologias podem auxiliar na promoção da tolerância e do respeito à dignidade humana, aos princípios da igualdade e da não-discriminação”.

Isso significa que os países signatários da Conferência, inclusive o Brasil, e todas as pessoas que atuam no campo da comunicação e são defensoras dos direitos humanos podem ter em mãos um instrumento robusto do que fazer e como.

Em outras palavras, o Plano de Ação de Durban, assim como a nossa Constituição e o Estatuto da Igualdade Racial são instrumentos que permitem e dão diretrizes para que a prática da comunicação, em todos os espaços, possa servir aos direitos humanos. Porque, enquanto houver racismo e discriminação, eles não serão plenamente exercidos. E, por isso, defendê-los é meu objetivo de vida.

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Artigo de Rachel Quintiliano, publicado originalmente na página da Agência Fato Relevante no LinkedIn e reproduzido na Revista Raça.