12 de julho de 2018

Deputado quer banir a palavra “gênero” de todos os projetos da Câmara


O deputado direitista Capitão Augusto. (Foto: Luís Macedo/ Câmara dos Deputados).

Um deputado reaça atuando para excluir a palavra “gênero” de qualquer projeto de lei onde ela apareça na Câmara, segundo informações da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Não importa qual seja o tema: se o termo “gênero” constar de algum projeto, começa a confusão. Por incrível que pareça, para os parlamentares de direita, a palavra é inimiga dos bons costumes.

Na reunião da comissão de 23 de maio, a palavra “gênero” levou à obstrução o PL 5434/2016, do deputado Orlando Silva (PC do B-SP), que inclui homenagem a personalidades femininas e negras nas cédulas de papel-moeda e nas moedas metálicas. Um trecho do projeto prevê que nas “novas emissões de papel-moeda e moeda-metálica o Banco Central do Brasil buscará homenagear personalidades femininas e negras que tenham se destacado na luta emancipatória das mulheres e no combate à discriminação racial e de gênero no país”.

Outro projeto que enfrenta obstáculo pelo mesmo motivo é o PL 304/2015, que propõe incluir nos currículos escolares conhecimento sobre a língua, usos, costumes e a cultura dos povos e comunidades tradicionais e minorias éticas formadores do povo brasileiro. Um dos artigos da iniciativa, do deputado Valmir Assunção (PT-BA), propõe a “vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais voltadas à promoção da igualdade racial e de gênero”.

O fiscal da palavra “gênero” na Câmara é o deputado Capitão Augusto (PR-SP), que é policial militar e se tornou notícia por ir às sessões fardado e por lançar um projeto de lei que obriga os árbitros de futebol a revelar seus times de coração e os proíbe de apitar partidas onde eles atuem.  Não vamos aceitar a palavra gênero em nenhum projeto. Essa palavra ataca a família tradicional e cristã”, afirmou Capitão Augusto, que já tentou mudar seu nome para Capitão Augusto Bolsonaro no painel da Câmara, sem sucesso. Ele pede que “gênero” seja substituído por sexo ou pela expressão “homens e mulheres” em todo canto que aparecer.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) rebateu. “Gostaria de saber qual o problema com sexo e gênero. Não falamos em índios ou população pobre. Só querem falar de sexo. E no caso deste projeto, estamos falando de idiomas e sobre cultura e o problema está na troca de palavras”, protestou.

Para a deputada Erika Kokay, o projeto de Orlando Silva seria uma homenagem às mulheres negras que, de acordo com ela, ficaram invisíveis na nossa sociedade. “O que essa discussão levanta é uma gênerofobia. Essa palavra traz de imediato uma reação. Toda vez que se fala a palavra gênero nessa Casa, acontece uma reação não fundamentada”. Para ela, “quem quer tirar a palavra gênero, quer banir a mulher”.

Nesta quarta-feira, 4 de julho, alguns projetos de lei foram retirados da pauta deliberativa da Comissão de Direitos Humanos e Minorias por tratarem, de acordo com o parlamentar do PR, de “temas polêmicos”, no caso outra palavra, “homofobia”. Um deles, o PL 622/15, de autoria da deputada Moema Gramacho (PT-BA), proíbe recursos públicos para contratação de artistas que incentivem a violência contra a mulher ou contenham manifestações de discriminação ou “homofobia”. O outro, o PL 7.292/17, de Luizianne Lins (PT-CE), prevê o “LGBTcídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio”.

Não será surpresa se, no futuro, os direitistas aloprados também quiserem excluir a expressão “gênero” dos dicionários. Te cuida, Houaiss. (Com informações do Socialista Morena).

11 de julho de 2018

“O desvio de dinheiro tá comprovado”, diz autor de denúncia contra o prefeito de Altaneira


Raimundo Soares Filho durante entrevista cedida ao comunicador João Alves, da Rádio Comunitária Altaneira FM.
(Foto: Reprodução/Facebook).

Depois que a Câmara de Altaneira decidiu em votação histórica no último dia 27 de junho instaurar processo para cassação do mandato do prefeito de Altaneira, Dariomar Rodrigues (PT), por práticas de infrações político-administrativas, esse vem sendo o principal assunto no município e ocupado às páginas dos principais sites e blogs da região, além de ser alvo de intensas matérias nas emissoras de rádios espalhadas pelo cariri.

Sem está alheia ao momento administrativo difícil pelo qual passa o município, a Rádio Comunitária Altaneira FM vem procurando ouvir através do Jornal “Notícias em Destaque” as partes envolvidas no processo. O comunicador João Alves, responsável pelas informações do município já entrevistou os vereadores Flávio Correia (SDD), Adeilton Silva (PSD) e Devaldo Nogueira (MDB). Nesta quarta-feira, 11, trouxe a emissora o advogado e autor da denúncia Raimundo Soares Filho.

Dentre os motivos que o levaram a apresentar a denúncia, Soares foi taxativo. “Não poderia deixar que meu nome fosse usado por um corrupto para mostrar que é honesto”, disse ele relatando que tinha chegado ao seu conhecimento informações de que o prefeito em reuniões com parentes e amigos disse que “não tinha nada de errado. Porque se tivesse alguma coisa de errado o Dr. Soares já tinha feito à denúncia”. Para Soares, só há um culpado pela situação do município. “Ele sabe as irregularidades que praticou. Ele sabe os desvios de dinheiro que autorizou”, complementou se referindo ao gestor.

O denunciante afirmou ainda que recebeu de imediato o apoio do vereador Flávio, pois, segundo ele, o edil teria dito que não apoiaria mais nenhum ato de corrupção. A mesma postura foi tomada pelo líder da oposição na casa, o vereador Adeilton. Este afirmou que se a denúncia fosse apresentada faria a defesa, sustentaria e tentaria convencer o grupo. “Posteriormente”, argumentou, os vereadores Devaldo Nogueira e Antonio Leite também se manifestaram favorável. Os outros quatro votos conseguidos foram classificados por ele como “uma surpresa. Agente não esperava uma votação desse tipo que inicia um processo de cassação do prefeito e se tenha oito votos de nove. Isso respaldou a nossa denúncia”, realçou.
Quanto ao teor da denúncia, o advogado frisa que jamais colocaria seu nome e assinaria um papel que não fosse verdadeiro. “Tudo que está dentro da denúncia é verdadeiramente comprovado”, destacou.  

Ainda segundo ele, “o desvio de recursos do governo municipal para terceiros, sem a prestação de serviço gira perto de hum milhão de reais. Fora os serviços desnecessários”, pontuou. Para ilustrar a afirmação ele citou que “um carro que vale trinta e dois mil reais foi autorizado serviço mecânico de trinta mil reais no ano. Como você gasta 30 mil em um carro que só vale 32”?, indagou?

Para ele, isso é desvio de dinheiro e a câmara vai provar. “O destino vai ser um só. O prefeito vai ser cassado, porque não se pode admitir que um prefeito que faça isso com o município permaneça no cargo”, ressaltou ao passo que lamentou por alguns secretários que vão ser responsabilizados. “Tenho certeza que eles não têm culpa disso. A única culpa deles é assinar a papelada”.

Soares foi taxativo ao afirmar ao comunicador João Alves que não acredita que o prefeito obtenha apoio de parlamentares da oposição, pois sempre foram contra a corrupção e que se isso vier a ocorrer é um suicídio político. Ele mencionou ainda que além da denúncia no legislativo municipal, também a fez nos ministérios público estadual e federal e que Dariomar não concluirá seu mandato. Apostou que o placar contra o gestor será 7 a 2. Na defesa dele apenas as vereadoras Silvânia Andrade (PT) e Alice Gonçalves (PRP). “Mas se a vereadora Silvânia, pessoa do bem, olhar os fatos da denúncia, até ela votará pela cassação. O desvio de dinheiro tá comprovado. O que se precisa provar é para onde foi”, destacou.


A redação do Blog Negro Nicolau (BNN) entrou em contato via whatsapp com o prefeito Dariomar Rodrigues, mas até o fechamento desta matéria ele ainda não havia visualizado as indagações.






“Você não está só”: canção coloca Lula ao lado de Gandhi, Mandela, Rosa Parks e Luther King


O presidente Lula e Nelson Mandela em 2008 em Maputo. (Foto: Ricardo Stuckert).

O músico e produtor brasileiro Daniel Téo, nascido em Chapecó-SC e radicado nos Estados Unidos há sete anos, compôs uma belíssima música para o ex-presidente Lula. O tema serviu como trilha sonora de um inspirador e emocionante vídeo –também produzido por Daniel e sua equipe– publicado justamente neste domingo, dia em que uma nova injustiça foi cometida contra o petista, que viu a Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro rasgarem a Constituição para impedir o cumprimento de uma ordem judicial que determinava a sua libertação.

No melhor estilo das canções de protesto dos anos 1960, a letra, composta no dia da prisão de Lula, 7 de abril, coloca Lula ao lado de outras lideranças globais históricas e contemporâneas que sofreram injustiças, perseguições ou foram vítimas de violência, como Nelson Mandela, Dalai Lama, Desmond Tutu, Mahatma Gandhi, Rosa Parks, Martin Luther King, John Lennon, Malala e Woody Guthrie, entre outros.

Vamos dar as mãos/ Vamos cantar na rua por: Tutu, Gandhi, Parks, King, Joseph, Douglas, Paine, Anthony. Por Lula, Lennon, Malala, Dalai Lama, Mandela, Simone, Guthrie!”, diz o refrão.

O artista conta que está buscando alguma forma de doar parte do que ganha com o seu trabalho –através do download de suas músicas nas plataformas de música digital e no youtube, por exemplo– para fortalecer a vigília permanente instalada em Curitiba em prol da liberdade de Lula. Outra opção seria apoiar o Instituto Lula, que tem enfrentado dificuldades para se manter por conta da perseguição judicial.

O músico Daniel Téo. (Foto: Annette Mcnamara/ Divulgação).

Daniel Téo estudou Engenharia pela PUC-RS –“mas fui o pior aluno de todos os tempos”, confessa–, se formou em Publicidade e toca profissionalmente desde os 18 anos. Suas influências são Bob Dylan (“em primeiro lugar”), Leonard Cohen, Gram Parsons, Hank Williams, The Byrds, Rolling Stones e os Beatles. No Brasil bebe na fonte de Tonico e Tinoco, Roberto Carlos, Tim Maia, Jorge Ben Jor, Gal Costa “e Mutantes, claro”. Seu trabalho está disponível tanto no Spotfy quanto no Deezer, as principais redes de música online. (Com informações do Socialista Morena).


Assista ao videoclipe de “You’re Not Alone”, em homenagem a Lula:

         

10 de julho de 2018

Cotas raciais nas universidades: como saber se eu tenho direito a elas?


(Foto: Reprodução/ Quero Bolsa).

Fruto da luta de movimentos sociais em busca da equidade social no Brasil, a Lei de Cotas foi promulgada em 2012 no Brasil. Com ela, negros e indígenas que estudaram o Ensino Médio completo em escolas públicas têm direito a uma parte das vagas em universidades públicas ligadas ao Ministério da Educação.

Quando um país adota cotas raciais como política de ação afirmativa, está confessando que foi responsável por medidas racistas que afastaram essa população de espaços dignos de trabalho, estudo e política - isso em nosso país, que sempre se orgulhou ao afirmar uma tal democracia racial, tem um valor simbólico imensurável e nos serve agora para ultrapassar o simbólico e tentar construir uma integração real da população negra com espaços onde nossos pais e avós se acostumaram a só entrar para limpar ou servir”, explica a historiadora e militante do movimento negro Suzane Jardim.

Essa Lei é uma medida temporária para compensar a desigualdade causada historicamente para pretos, pardos e indígenas. Por isso, ela tem a “validade” de dez anos, ao final desse prazo essa política pública será avaliada e revisada, a fim de descobrir se essa ação foi benéfica, ou não, e redesenhá-la conforme a necessidade da época.

Quem tem direito às cotas raciais?

O que poucos sabem é que as cotas raciais são um subgrupo das cotas sociais, essa respectivamente foi criada anteriormente e garante 50% das vagas em instituições de Ensino Superior público para estudantes provenientes do ensino público brasileiro, ou seja, que estudaram os três anos do Ensino Médio em escolas mantidas pelo governo.

Preenchendo esse pré-requisito obrigatório, é preciso ser de uma dessas duas etnias: negra (pretos e pardos) ou indígena.

O cálculo de vagas para as cotas raciais é feito da seguinte forma: após a separação de 50% das vagas para alunos que vieram do Ensino Médio público, essa porcentagem das vagas é dividida em duas partes, sendo 50% para alunos com renda per capita mensal menor que 1,5 salário mínimo e 50% para alunos com renda per capita mensal maior que 1,5 salário mínimo, respectivamente.

Dentro dessa última subdivisão apresentada, cria-se uma nova divisão, em que uma certa porcentagem será destinada para pretos, pardos e indígenas. Para calcular qual será esse número de vagas, a instituição de ensino precisa usar como base o número divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de pretos, pardos e indígenas que residem naquela região. Ou seja, dependerá da quantidade de habitantes negros e indígenas para descobrir qual será o número final de vagas destinadas às cotas raciais.

Como saber se eu tenho direito a Cotas Raciais?

Em 2017, publicamos uma matéria na Revista QB explicando como funciona o sistema de cotas raciais em universidades brasileiras. Curiosamente, muitas pessoas comentaram sobre o texto questionando como saber se uma pessoa tem direito a essas cotas. Por isso, decidimos procurar a resposta para esse questionamento e encontramos!

Como saber se você tenho direito a cotas raciais? Pelo seu fenótipo!

Característica aparente ou observável de um indivíduo, determinada pela interação de sua herança genética (genótipo) e pelas condições ambientais - Michaelis de Língua Portuguesa.

Assim como mostra o dicionário, fenótipo são as características que uma pessoa possui a partir da sua genética, ou seja, nesse caso, é a cor da sua pele, seus traços e/ou a textura do seu cabelo.

No Brasil temos uma hierarquia racial diversa daquela que existe nos Estados Unidos, que foi um dos primeiros países a adotar cotas raciais. Aqui o racismo se dá por fenótipo e não por parentesco sanguíneo. Isso significa que em nosso país a discriminação se dá pelo corpo negro em si, seus traços, cor e símbolos culturais. Uma pessoa, mesmo que filha de pai ou mãe negros, mas que possui um fenótipo branco, é identificada socialmente como branca e usufrui dos privilégios dessa condição”, pontua a historiadora.

Mariana Teles ingressou no curso de História da Universidade Estadual Paulista (Unesp) por meio da política de cotas raciais e conta que “descobriu” o racismo e que era negra ainda quando criança na escola. “O momento que eu percebi o racismo foi na escola, em comentários de colegas sobre o meu nariz e meu cabelo. E isso está inteiramente ligado com o fato de me reconhecer como uma mulher preta, porque quando você é zombado por ser quem você é, você não quer mais ser aquela pessoa. Não se sofre racismo sendo branco com uma avó negra, se sofre racismo quando você é negro”, lembra.

Ou seja, no Brasil são as características físicas que fazem com que uma pessoa seja discriminada socialmente e sofra as consequências disso. Por isso, na maioria dos casos, o que é considerado é o fenótipo.

Em vista, é importante deixar de lado questões como, por exemplo, a descendência, ou seja, ter parentes que possuam traços africanos, sendo que você não “herdou” esses fenótipos. Segundo Gianne Reis, que é doutora em ciências políticas e pesquisadora sobre o sistema de cotas raciais no Brasil, é importante também considerar principalmente a cor da pele, visto que ela é muito relevante na sociedade brasileira.

Se nós partirmos desse princípio, todos nós teremos em algum grau ancestral uma pessoa negra, uma pessoa indígena ou branca, isso é comum no Brasil, até porque houve a miscigenação. Agora, o que nós entendemos quanto processo de cotas é que as pessoas de pele mais escura, no sentido da visualização, têm maiores dificuldades em conseguir emprego em postos de trabalho, elas são discriminadas e o objetivos das cotas é diminuir essa discriminação nesse sentido”, explica Dra. Gianne Reis.

Entretanto, para ela, é uma questão de bom senso e, por isso, se a pessoa se identifica como negra, seja ela parda ou preta, ela pode candidatar-se às cotas. Entretanto, dependendo do caso e da instituição de ensino, podem acontecer casos de denúncia de fraude, aí, apesar da cor ser autodeclaratória, será preciso comprovar esses vínculos

Casos de fraudes de cotas raciais no Brasil

Com a implementação da Lei de Cotas em 2012, não foi muito surpreendente quando casos de denúncias de fraudes começaram a aparecer. Segundo um levantamento feito pelo Estado, uma a cada três universidades federais já investigaram casos de fraudes no sistema de cotas. Os dados ainda mostraram que o maior número de denúncias foram feitas na Região Sul, seguido pela Região Sudeste.

No início deste ano, o campus de Bauru da Unesp recebeu destaque da mídia por diversas denúncias de falsos cotistas. Para Juarez Tadeu de Paula Xavier, que é presidente da Comissão Permanente de Verificação da Unesp, as fraudes são causadas, em sua maioria, por pessoas que não aceitam as ações afirmativas.

O que as apurações têm mostrado, não apenas na nossa universidade, na Unesp, mas também nas outras, é que há um grupo de pessoas que não se conformam com a democratização do acesso à universidade pública. De uma certa forma, parece que é uma resistência daqueles que tiveram os seus privilégios conformados em direito e não querem abrir mão de uma ação democrática na universidade”, declara.

Para Suzane Jardim, as fraudes são cometidas por dois motivos: falta de conhecimento ou má-fé. “Para muitos, as cotas são um "roubo" ou uma "trapaça" que impede o exercício da meritocracia, porém não se questiona que meritocracia é essa”, afirma a historiadora.

No caso da Unesp, o que é levado em consideração na apuração da veracidade do direito à cota são os seguintes fatores: fenótipo e o processo da construção da identidade do concorrente. De acordo com Juarez, até o momento, com um ano de instauração da comissão, foram recebidas mais de 450 denúncias.

Como evitar as fraudes das Cotas Raciais?

Casos assim acontecerão até que se crie uma cultura de letramento racial mais ampla no país. Letramento racial é simplesmente falar sobre raça, branquitude, privilégio, mestiçagem e racismo com seriedade nos espaços de ensino, mídia e formação em geral. Só assim se ampliará o entendimento necessário para que as fraudes por desinformação diminuam”, opina Suzane sobre a melhor forma de diminuir os casos de fraude.

Já Juarez acredita que, além do diálogo, as comissões criadas para apuração também são uma ótima saída para combater essa problemática. “A melhor forma de combater as fraudes é criar mecanismos para a efetivação da política pública. Eu acho que o caminho indicado pelo Ministério Público de formar comissões de verificação é uma boa direção. Acredito que essas comissões deveriam ser criadas todo momento em que uma instituição adota a política de cotas. Essas delegações precisam ser ágeis para que as pessoas, no ato de ingresso na universidade, possam passar pela verificação e, nos casos de inconsistência entre autodeclaração e a hétero identificação, o ideal é que a pessoa seja expulsa da instituição”, pondera.

A Dra. Gianne Reis também considera que as comissões são a solução para o momento atual, visto que elas também servem para instruir possíveis cotistas: “eu acho que essas comissões não têm o sentido de apontar quem é negro ou quem não é, mas são justamente para evitar esse tipo de fraude. E elas podem acontecer? Podem acontecer. Nós vivemos num país continental, e é muito pouco provável que seja possível avaliar caso a caso. Essas comissões existem justamente para tentar minimizar essas fraudes, ou seja, a pessoa vai pensar duas vezes antes de tentar fraudar o sistema”.

Dúvida cruel: as cotas são um tipo benefício?

Segundo a Dra. Reis, que é pesquisadora sobre o assunto, as cotas raciais não são um benefício, e é preciso que isso seja entendido pela sociedade brasileira para que, assim, os números de preconceito com cotistas diminuam.

Uma política de reparação visa, e eu diria numa visão operacional, consertar algo que não foi feito no tempo quando poderia ter sido feito. Não houve política nenhuma para igualar os negros e indígenas, nem no século 19 e nem no século 20. Então, essa é uma tentativa, como tantas outras para outros grupos, de igualar as pessoas, ou seja, diminuir essa lacuna de desigualdade social e racial, o objetivo dessa política é esse” finaliza. (Por Isabela Giordan, no Quero Bolsa).

Crônica de um domingo de crise, por Rodrigo Perez



No último domingo, 08 de julho, vimos acontecer um evento que simboliza com perfeição a crise brasileira contemporânea.

Tratou-se de um evento síntese.

Relembrando pra quem não está tão atento à crônica política cotidiana, se é que alguém nesse país conseguiu ficar indiferente ao domingo de crise.

Ainda não era nem meio dia quando explodiu na imprensa a notícia de que Rogério Favreto, Desembargador do Tribunal da 4° Região, havia aceitado o Habeas Corpus apresentado por Deputados Petistas em favor do Presidente Lula.

As manchetes eram bombásticas: “Lula será solto ainda hoje”.

Os militantes se agitaram nos dois lados do conflito que divide a sociedade brasileira.

Os antilulistas babaram de ódio, xingaram o Desembargador Favreto, acusando-o de ser um petista infiltrado no tribunal da 4° região, que até aqui vem sendo território de suplício para o Presidente Lula.

Por sua vez, os lulistas vibraram, como se um Habeas Corpus emitido por um Desembargador, em regime de plantão, já fosse a própria vitória nas eleições que, ao que tudo indica, acontecerão em outubro.

Meu esforço neste ensaio é tentar pensar o domingo de crise fora de qualquer histeria, explorando o seu “sentido profundo”.

Chamo de “sentido profundo” a relação do evento com algo maior que ele, com o processo no qual está inserido. Todos os principais aspectos que caracterizam a crise brasileira contemporânea podem ser percebidos neste evento síntese.

1- O completo colapso do Sistema de Justiça.

Temos certa tendência de fetichizar o Sistema de Justiça, como se as leis fossem produzidas e operadas num espaço de austeridade, tendo como critério apenas o “interesse público”.

É claro que não é assim. Desde sempre, existe uma relação íntima entre os interesses políticos e a criação e a interpretação das leis.

Não é lei quem condiciona o poder. É o poder quem condiciona a lei. Até aqui nenhuma novidade. Sempre foi assim. Sempre será assim, em qualquer lugar do mundo onde existam seres humanos vivendo em sociedade.

Porém, a crise brasileira está levando à politização do Sistema de Justiça para além dos limites tolerados pelo marco civilizatório, pelo Estado de direito.

Primeiro, o caso do Triplex do Guarujá (localizado em São Paulo), sem nenhum vínculo direto com as investigações da Operação Lava Jato, foi capturado por Sérgio Moro, cuja jurisdição se restringe a Curitiba.

Sérgio Moro não seria o juiz natural do caso. A escolha não foi nada aleatória.

Que Sérgio Moro tem vínculos claros com o PSDB é algo óbvio para qualquer observador minimamente honesto. É óbvio porque jamais houve interesse das duas partes em esconder esses vínculos.

Basta uma simples consulta no Google que o leitor e a leitora tropeçam com inúmeras fotografias que mostram Sérgio Moro confraternizando com lideranças tucanas, em um comportamento inadequado para um juiz.

Políticos confraternizam entre si, negociam, se deixam fotografar juntos. Um juiz não pode fazer isso, pois o juiz não é político, não pode ser político.

Alexandre de Moraes foi filiado ao PSDB, foi Ministro de Temer e hoje tem cadeira na Suprema Corte. Nunca é demais lembrar que Moraes assumiu o cargo depois da morte de Teori Zavascki, uma morte que jamais foi plenamente esclarecida e que parece ter sido esquecida.

Para não dizerem que estou sendo exageradamente parcial, também podemos lembrar de Dias Toffoli, que tem sua trajetória vinculada ao Partido dos Trabalhadores. Toda a esperança petista de que o caso do Presidente Lula tenha alguma solução legal está baseada na ascensão de Toffoli à Presidência do STF, o que acontecerá em setembro.

A ação de Rogério Favreto em acatar o Habeas Corpus faz parte desse jogo. É óbvio que o Desembargador estava em contato com as lideranças petistas e que a cronologia das ações foi cuidadosamente calculada: domingo, recesso do judiciário, férias de Sérgio Moro.

Mas como as instituições estão derretidas, Moro, de férias, talvez vestindo cueca samba canção e usando chinelos de dedo, assinou um documento oficial dizendo que não cumpriria a ordem de soltura. Não cabia a ele cumprir o ou não, já que uma vez promulgada a sentença, o juiz de primeira instância perde qualquer controle sobre o processo.

Além disso, num Estado de direito com instituições minimamente saudáveis, não existe a possibilidade de descumprimento de ordem judicial.

Se o Desembargador era incompetente pra matéria, se a decisão foi equivocada, o Habeas Corpus deveria ser questionado em sessão colegiada, seja no próprio TRF4 ou nas instâncias superiores. Decisão da justiça pode ser questionada e depois anulada. Jamais pode ser desobedecida.

E a Polícia Federal como fica? Deve obedecer a quem? Ao Desembargador ou ao Juiz de primeira instância?

E se um grupo de policiais, por questões ideológicas, quiser obedecer ao juiz de primeira instância e outro grupo, pelos mesmos motivos, escolher o Desembargador?

Entendem, leitor e leitora, onde isso pode chegar?

2- A disputa pelo Estado

Em muitos aspectos, a crise brasileira é a crise mundial. Talvez o Brasil seja o laboratório dessa crise, o principal palco de sua manifestação. Mas crise, de forma alguma, é uma jabuticaba. Não é privilégio nosso. Não mesmo.

Guardadas as devidas particularidades que variam de país para país, a crise internacional pode ser explicada pelo acirramento das disputas pelo Estado. A conciliação que viabilizou o experimento do Estado de Bem-Estar Social não se sustenta mais e a consequência lógica do fim da conciliação é a radicalização dos conflitos.

Os que falam em “Estado mínimo” querem se apropriar do Estado, fazer com que o Estado atenda aos seus próprios interesses. Não existe “Estado mínimo” em sociedades complexas. O que existe é a disputa pelo Estado. Cada grupo sempre quer Estado máximo pra si e, como o cobertor é curto, isso significa impor Estado mínimo aos outros.

Por outro lado, os grupos sociais que conquistaram direitos no experimento do Estado de Bem-Estar Social, naturalmente querem manter essas conquistas, protegê-las da ofensiva neoliberal em curso, repito, no Brasil e no mundo.

No Brasil, com todos os seus defeitos, o Partido dos Trabalhadores, sob a liderança de Lula, representa aquilo que de mais próximo tivemos de uma experiência de Bem-Estar Social. Por isso, Lula não foi solto. Por isso, uma decisão judicial foi descumprida.

Há muito tempo, Lula deixou de ser um homem e se tornou uma instituição, um símbolo que representa a função social e provedora do Estado. É natural que Lula tenha se transformado no principal alvo do golpe neoliberal em curso no Brasil. Sem a destruição de Lula, o projeto do golpe não se consolida.

3- A derrota nas instituições X vitória no imaginário popular

No final do dia aconteceu o que já era previsto por todos, até mesmo pelos parlamentares que tentaram o Habeas Corpus: as autoridades que antes tinham bancado a prisão de Lula (Cármen Lúcia, Raquel Dodge, Thompson Flores) sufocaram a rebelião de Favreto e mantiveram a decisão inicial.

Uma derrota para o PT?

Depende da perspectiva.

A crise institucional é tão grave, abriu-se um fosso tão grande entre as instituições e a opinião pública, que as derrotas institucionais, geralmente, significam vitórias no imaginário popular.

Dilma foi deposta por um golpe parlamentar. Temer assumiu a Presidência da República. A população rejeita Michel Temer como nunca antes rejeitou um Presidente na história desse país. Todas as lideranças que se aproximaram de Temer viram seu capital eleitoral desidratar.

Rodrigo Maia, Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin. Pelo que sugerem as pesquisas, todos teriam um desempenho vergonhoso se as eleições fossem hoje. Nada no horizonte sugere que esse cenário irá mudar em três meses.

E Lula?

Lula lidera com folga e o PT continua sendo o partido político mais popular entre os eleitores.

Os golpistas venceram na disputa institucional, sem dúvida: tomaram o poder de assalto e reorientaram os fundamentos conceituais do Estado brasileiro com a Emenda Constitucional 95 (decretada pela famigerada “PEC dos Gastos”), que entregou a agenda desenvolvimentista do poder público ao controle do mercado. Nem os militares, nem os governos tucanos, ousaram ir tão longe.

Mas na opinião pública, no imaginário popular, os golpistas perdem, e perdem de goleada.

Foi exatamente essa percepção que orientou a ação dos parlamentares petistas que apresentaram o pedido de Habeas Corpus no plantão do desembargador Favreto.

Na real, como comentei há pouco, todos eles sabiam que o golpe não deixaria Lula ser solto. O próprio Lula sabia disso. Ele nem deve ter feito as malas.

Mas mesmo assim, a ação foi importante. Talvez tenha sido o lance mais astuto do Partido dos Trabalhadores nessa conjuntura de crise.

Moro, colocando os pés pelas mãos, mordeu a isca lançada pelas lideranças petistas. Ao assinar documento oficial, em férias, interferindo em um processo que não mais lhe dizia respeito, Moro escancarou o que já era óbvio: Lula não é um preso comum. É um preso político que a todo momento inspira atos de exceção.

O Sistema de Justiça foi exposto nas suas entranhas corrompidas: um juiz petista mandou soltar e um juiz tucano mandou deixar preso.

A militância petista, quase acostumada com a prisão de Lula, foi reanimada. Lula passou o dia sob os holofotes da mídia, encenando publicamente um episódio de martírio.

Foi um ato de guerrilha, rápido, pequeno, com saldo positivo para as trincheiras petistas.

Isso tudo em um domingo. Não era segunda-feira, não era quinta-feira. Era um domingo, um domingo de ressaca, de luto por mais uma eliminação em Copa do Mundo. Tinha tudo pra ser um domingo, preguiçoso, lento, como costumam ser os domingos.

Não foi. Foi um domingo de crise. (Com informações da Revista Fórum).

9 de julho de 2018

Menina que teve cabelo alisado pela namorada do pai ganha tratamento e volta a ter cachos


Izabella Fernandes ganhou tratamento para cachear os cabelos.
(Foto: Fernada Taysa - Arquivo Pessoal/ Reprodução/ G1).

Izabella Fernandes, de oito anos, ganhou tratamento de um salão da cidade; caso ganhou grande repercussão após a mãe da criança fazer um desabafo nas redes sociais.

A menina Izabella Fernandes, de oito anos, ganhou um tratamento para cachear novamente os cabelos, que foram alisados e cortados pela namorada do pai. Na tarde de sexta-feira (6), a menina e a mãe dela, Fernanda Taysa, que moram em Governador Valadares, foram a um salão de beleza começar o tratamento para recuperar o formato dos cachos. "Ela está outra criança, por dentro e por fora, outra autoestima. Ela amou. O sorriso dela, depois disso tudo, já diz tudo. Está outra criança depois de ontem", conta a mãe da criança.

Fernanda Taysa diz que recebeu muitos convites de profissionais especialistas em cachos de todo o país para tratar o cabelo de Izabella, após o caso ganhar grande repercussão.

"Uma cabeleireira especializada em cachos daqui de Valadares me procurou desde o início, e com auxílio de um especialista de São Paulo, eles estão tratando os cabelos da 'Bella'. A gente pensa que nunca vai acontecer com a gente, mas Deus é tão maravilhoso que colocou pessoas de coração enorme para dar toda assistência à minha filha", afirma Fernanda.

Nas redes sociais, mãe postou fotos do primeiro dia de tratamento.
(Foto: Facebook/Reprodução)

A mãe da criança usou novamente as redes sociais para mostrar o primeiro dia do tratamento da menina no salão. "Ela chegou aqui igual um bichinho. Quando terminamos o procedimento ela olhou no espelho e disse: 'eu estou parecendo uma menina'. Ela tinha perdido um pouco da identidade com a transformação no cabelo. Ela é uma criança muito inteligente e empoderada. Ela está doida para voltar para a escola segunda-feira e mostrar para os coleguinhas que riram dela", afirma a cabeleireira Creuza Oliveira.

De acordo com a cabeleireira, a namorada do pai da criança não realizou nenhum procedimento químico para o alisamento permanente no cabelo da menina, apenas cortou e alisou os cabelos com prancha e escova. Porém, esse procedimento foi muito forte e acabou queimando parte do cabelo da criança.

"Por causa dos fios que quebraram, vai demorar cerca de um ano para o cabelo voltar ao que era antes", afirma.

"A Bella chegou aqui com cacho bem desfeito. Nós fizemos uma avaliação e teste de mecha e não houve química, mas queimou boa parte do cabelo, o que acabou provocando uma ruptura nos fios. Ela está com um buraco no cabelo, por causa dos fios que se partiram. Nós neutralizamos, fizemos uma reposição líquida e a finalização. Eu diria que o cabelo dela voltou uns 80%. Se lavar e usar o finalizador, o cabelo dela já fica cacheado, mas nós vamos continuar realizando os tratamentos por mais uns três meses", explica a cabelereira.


Autoestima mudou após a transformação nos cabelos, segundo a mãe. (Foto: Fernanda Taysa - Arquivo Pessoal).

Entenda o caso

Na última segunda-feira (2), Fernada Taysa, mãe da menina Isabella Fernandes, postou um desabafo em uma rede social, que viralizou. Nele, a mulher conta que a namorada do pai da menina cortou e alisou os cabelos da criança sem a autorização dela. Logo após o procedimento a criança se arrependeu do procedimento e ficou com a autoestima baixa, chegando a sofrer com os comentários dos colegas de escola.

"Quando eu cheguei na escola, pedi licença para entrar na sala de aula, aí meus colegas começaram a me zoar, falaram que parecia que eu tinha levado um choque”, contou Izabella ao G1. (Com informações do G1).

Tese do 'conflito de competência' para barrar libertação de Lula não se sustenta, diz professora


'Temos visto um judiciário ativista, extremamente ativista, que tem se acovardado diante de uma opinião pública ou publicada'. (Foto: Geraldo Magela/ Agência Senado).

Para a professora de Direito Penal e Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), Beatriz Vargas Ramos, todo o episódio envolvendo a decisão do desembargador Rogério Favreto, que determinou a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, decisão contestada primeiro pelo juiz Sérgio Moro, e depois suspensa pelo desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores é algo que "saiu completamente da normalidade em situações semelhantes".

"Temos visto um Judiciário ativista, extremamente ativista, que tem se acovardado diante de uma opinião pública ou publicada e tem se distanciado do padrão do procedimento do rito", avalia. "O procedimento jurídico é intermediado por regras e nesse caso a regra é claríssima. O juiz pode ter simpatias políticas, isso não necessariamente vai fazer que ele se oriente ou não por elas, e isso pode ser constatado na motivação da decisão. E lendo a motivação do plantonista, ela não é absurda, tem um lastro em uma compreensão do problema face ao Direito perfeitamente legítima e refletida no próprio Supremo."

A professora também destaca a conduta do juiz Sérgio Moro que não teria mais jurisdição no caso e mesmo assim interveio. "Se houvesse da parte do Ministério Público Federal um recurso contra a liminar, jamais cairia na mão do Moro, o que poderia acontecer era, por via de um recurso, a decisão ser novamente apreciada pelo próprio TRF 4, por meio de um recurso regimental, para analisar a decisão liminar", aponta.

Confira abaixo trechos da entrevista:

Fora da normalidade

Não conheço nada no mesmo modelo, saiu completamente da normalidade em situações semelhantes. Primeiro, é indiscutível a competência do plantonista desembargador, que decide nesta condição, com cobertura legal e regimental. Certo ou errado, não vou entrar no mérito da decisão em si, a competência é inegável. Isso por si traz a primeira perplexidade.

Um juiz de primeiro grau, no caso Sérgio Moro, sem nenhuma jurisdição no caso, que terminou no momento em que deu sua sentença, pega a caneta e chama esse texto de 'decisão'. É um texto que não tem forma nem figura jurídica porque não é uma decisão, pede o esclarecimento sobre como proceder. Isso é extremamente chocante porque ele não é uma pessoa que tenha que proceder dessa ou daquela forma porque não tem mais jurisdição.

Se o desembargador defere uma liminar em habeas corpus, quem tem que proceder é a Polícia Federal para o cumprimento dessa ordem. Se houvesse da parte do Ministério Público Federal um recurso contra a liminar, jamais cairia na mão do Moro, o que poderia acontecer era, por via de um recurso, a decisão ser novamente apreciada pelo próprio TRF 4, por meio de um recurso regimental, para analisar a decisão liminar.

O "conflito de competência"

Desembargadores avocam o processo para tirar das mãos do plantonista. Não me consta que isso tenha acontecido antes. O plantonista ser derrubado da sua competência passa uma ideia de haver um ativismo sob o pretexto de que existe um conflito de competência. O (desembargador João Pedro) Gebran, por sua vez relator, atualmente nem relator é mais. Como o Moro, a 8º turma esgotou sua competência, não está mais nas mãos dele. Não estou convencida, com toda honestidade, estou fazendo um esforço para compreender, em respeito ao Judiciário, qual a procedência do argumento jurídico usado por Thompson Flores e não consigo. Tenho me esforçado para ver isso.

Judiciário ativista

É absolutamente lamentável esse esforço de desacreditar o Favreto como acho que qualquer esforço de desacreditar um juiz por essa única linha, sem olhar para a decisão em si, atenta contra o Judiciário como um todo. Isso vai se voltar contra o Judiciário. Temos visto um Judiciário ativista, extremamente ativista, que tem se acovardado diante de uma opinião pública ou publicada e tem se distanciado do padrão do procedimento do rito.

O procedimento jurídico é intermediado por regras e nesse caso a regra é claríssima. O juiz pode ter simpatias políticas, isso não necessariamente vai fazer que ele se oriente ou não por elas, e isso pode ser constatado na motivação da decisão. E lendo a motivação do plantonista, ela não é absurda, tem um lastro em uma compreensão do problema face ao Direito perfeitamente legítima e refletida no próprio Supremo. A questão da execução provisória de uma condenação, ainda que venha a acontecer, não é automática, e a gente sabe que no campo do Direito igualmente se legitimam as decisões que vão em um sentido e em outro. Se a decisão do Favreto fosse absurda, até admito que pudesse ter se orientado pelas suas simpatias ideológicas, mas ela tão respeitável quanto a decisão do Supremo de mandar prender.

Tentativa de execrar Favreto

Essa execração pública é simplista, apaixonada, não ajuda em nada agora e o Judiciário está dando um tiro no pé quando desconstrói isso. Se a decisão do Favreto for cair, que caia pelo procedimento legal, e não por meio dessa avocação de competência. O Moro deu o 'start', e o pessoal foi lá apagar o incêndio. (Com informações da RBA).