13 de março de 2018

Partido de Bolsonaro, PSL se diz contra o autoritarismo e a violência

PSL defende 'social-liberalismo' contra 'autoritarismo' e rejeita violência contra liberdade individuais.
 (Foto: Alex Ferreira/ Ag. Câmara).


A violência se combate com energia ou mais violência”. A frase foi uma das muitas afirmações feitas pelo deputado federal Jair Bolsonaro no ato de filiação ao nanico Partido Social Liberal (PSL) na semana passada. Mas se o pré-candidato do PSL à Presidência da República é conhecido por falas polêmicas - e, por vezes, pelas tentativas de negá-las -, a declaração revela falta de conexão entre o parlamentar e os princípios teóricos de seu novo partido.

O PSL se afirma como agremiação defensora da liberdade individual contra o “autoritarismo, a imposição e a violência”. Já Bolsonaro, capitão da reserva do Exército, exalta em diversos momentos a ditadura civil-militar (1964-1985) e figuras consideradas por ele como “heróis”.
O termo foi usado pelo presidenciável diversas vezes para exaltar o ex-coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) por crime de tortura quando chefiou o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (Doi-Codi) do 2º Exército, em São Paulo.

Na área econômica, o PSL se define em site como “social-liberalista”. É defensor da redução do papel do Estado na economia, a “cooperação social através do mercado” e de “trocas voluntárias entre os agentes privados”. Já no estatuto oficial, a legenda defende o Estado como "regulador" da economia.

Guinadas ideológicas

O presidente do PSL, o deputado federal Luciano Bivar (PE), concorreu ao Palácio do Planalto em 2006, recebendo 0,06% dos votos válidos (62.064). Na época, defendeu valores similares aos de Bolsonaro, mas opostos ao estatuto que o PSL viria a registrar na Justiça Eleitoral em 2011.

O partido registrou quatro diferentes estatutos no TSE desde sua criação, em 1998. Nos três primeiros não havia menção aos direitos humanos. Isso permitiu a Bivar concorrer ao Planalto com uma agenda conservadora: pena de morte, instalação de “miniquartéis” em favelas para conter a violência e a criação do imposto único.

A partir de 2011, com a mudança do estatuto, o PSL se aproximou do campo da esquerda. Em 2014, a legenda apoiou Eduardo Campos (PSB) para a Presidência e, após a morte do socialista em acidente aéreo, se aliou a Aécio Neves (PSDB).

A dança de cadeiras ideológica revela o estilo de gestão do partido por Bivar, um empresário e ex-cartola do futebol cujas manobras no comando do nanico PSL são tomadas apenas por ele há 20 anos. É ele quem decide o destino de recursos do Fundo Partidário, que somou cerca de R$ 5,6 milhões em 2017.

O controle partidário, contudo, deve mudar. A chegada de Bolsonaro se baseou numa conversa para que o poder seja dividido dentro do PSL. Não à toa, em seu discurso de filiação, Bolsonaro disse que Bivar “ainda é presidente” da legenda.
Nem direita nem esquerda

Embora o PSL tenha se aproximado de setores da esquerda e Bolsonaro desponte como catalisador de votos de eleitores conservadores, o partido diz rejeitar a polarização que coloca seu presidenciável em segundo lugar nas pesquisas.

Pode parecer clichê, mas não acreditamos no eixo ‘direita vs [versus] esquerda’ como o mais elucidativo para definir uma posição política. Preferimos o eixo ‘liberdade vs [versus] autoritarismo’. E nesse eixo, sem dúvidas, estamos do lado da liberdade.”

O afirmação consta na sessão de perguntas e respostas publicada pelo partido em sua página oficial. O questionário é um suplemento de informações ao minguado estatuto de 27 páginas registrado pelo PSL em cartório no final de 2011.

Bivar criou o PSL em 1998 e preside o partido desde então.
(Foto: Reprodução/ Facebook).
Em apenas sete linhas do documento, que representou uma guinada em relação ao posicionamento de Bivar em 2006, o partido define seus fundamentos arrogando-se como “forte defensor dos direitos humanos”. Já o agora pré-candidato do PSL defendeu a saída do Brasil de tratados internacionais de direitos humanos. Logo depois, Bolsonaro disse que os direitos humanos são “esterco da vagabundagem”.

O restante do estatuto versa sobre temas da burocracia partidária. Entre eles, a regulamentação do repasse para o partido de 5% do salário bruto recebido por filiados eleitos para cargos públicos ou por filiados à legenda que ocupem cargos comissionados.

Cartolagem

A chegada de Bolsonaro ao PSL recoloca Bivar no cenário político com chances de melhorar seu próprio desempenho eleitoral. Dono de um patrimônio declarado à Justiça Eleitoral de R$ 14,7 milhões em 2014, ele disputou uma vaga na Câmara dos Deputados. Não foi eleito. Mas é deputado federal como suplemente por Pernambuco.

Ex-presidente do Sport Recife, Bivar compõe a Bancada da Bola – como é conhecido o núcleo parlamentar ligados a times de futebol. Em 2001, ele foi um dos responsáveis por enterrar a Comissão Mista de Investigação (CPI) criada para investigar irregularidades envolvendo a parceria entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a multinacional de material esportivo Nike.

A CPI CBF/Nike apontou o novelo da rede internacional de propina a dirigentes esportivos que viria a ser revelada pelo Fifagate. A operação comandada pela Justiça dos Estados Unidos, desde 2015, levou à prisão do ex-presidente da CBF José Maria Marin.

A CPI terminou sem resultado e contou com uma encenação comandada por Bivar e o ex-presidente do Vasco Eurico Miranda, então deputado federal. Eles tentaram aprovar um relatório paralelo ao preparado pelo relator, mas não conseguiram.

A CPI comanda pelo ex-deputado Aldo Rebelo (PSB) terminou sem ser concluída. O relatório original da comissão teve sua publicação proibida Supremo Tribunal Federal (STF) e só veio a público em 2015. (Com informações de CartaCapital).


12 de março de 2018

O filme Pantera Negra e a questão da ancestralidade africana



Pela primeira vez um filme norte-americano coloca o tema da ancestralidade africana no contexto de discussão crítica ao colonialismo e de roubo e exploração das riquezas do solo africano. Dirigido por Ryan Coolger, um jovem negro formado pela Universidade da Califórnia, o filme Pantera Negra estreia no cinema brasileiro produzindo entusiasmo e contentamento entre ativistas negros(as) de diferentes matizes ideológicas, não apenas por apresentar referências positivas de identidade negra, mas também por colocar o continente africano fora da lógica da pobreza e do subdesenvolvimento estruturais. É importante destacar que Pantera negra também se coloca em uma perspectiva de resposta para uma indústria cinematográfica que tem sido contestada pelo seu racismo e machismo nas principais premiações, que ano após ano sequer indicavam negros aos prêmios.

Ao vincular altíssimo desenvolvimento tecnológico com rituais e saberes tradicionais, evidenciando o poder das mulheres no reino fictício de Wakanda, o diretor coloca em discussão não apenas a relação entre magia e tecnologia, como substrato de subordinação e exploração do mundo capitalista, mas como expressão de afirmação de alteridade e poder que se desenvolvem de forma autônoma e solidária. Neste contexto, o protagonismo e o poder feminino trazem à tona as sociedades matriarcais africanas, revelando a capacidade, a força e autonomia na gestão da vida e também o compromisso com interesses do bem-estar coletivo. Com um exército totalmente composto por mulheres, Wakanda revela o lugar de estrategista, defesa, resistência e de lealdade ocupado por muitas mulheres em sociedades matrilineares e matriarcais africanas.

Enquanto o mundo capitalista, usurpador das riquezas minerais africanas continua olhando a África como um lugar de muita miséria, magia e superstição, o reino de Wakanda se desenvolve em termos de relações políticas, étnicas e produção de riqueza, a partir de sua base material e espiritual. Todo o desenvolvimento se dá em razão de uma busca inteligente e respeitosa das forças que emanam dos reinos minerais, animal e vegetal.

Em torno do vibranium, um mineral raro e fictício; da pantera negra, um animal que representa um clã ancestral; e da erva do coração, um vegetal que permite o acesso ao mundo ancestral; o reino de Wakanda recoloca novos e velhos sentidos e significados de ritual e ancestralidade para pesquisadores, ativistas e religiosos envolvidos com a África e suas diásporas.  Em razão de sua complexidade e dos interesses que estão em jogo e em disputa no mundo capitalista, aqui vou deixar de lado duas questões fundamentais colocadas no filme: 1- a discussão e a forma de exploração de metais raros e preciosos no subsolo africano; 2- o debate sobre a necessidade de transferência tecnológica para que os africanos se apropriem de suas riquezas. Seguindo uma linha de argumento possibilitada pelo trabalho do diretor, tomo a direção do diálogo com as forças do mundo ancestral, cuja mediação se dá por meio de ritual.

Embora a Pantera como representação de divindade ancestral seja praticamente desconhecida da maioria dos adeptos das religiões brasileiras de matrizes africanas, não se pode negar sua existência e seu culto no candomblé Jêje, através do vodun Kpòsú. O seu desconhecimento decorre tanto da predominância dos estudos e da difusão da tradição ioruba quanto da diminuição e dificuldade de expansão do candomblé Jêje. Na tradição do candomblé Jêje, Kpòsú é um vodun de luta, poder e força que funda o clã filhos da pantera. No filme, a pantera negra é a divindade ancestral que além de ter permitido o acesso e o conhecimento sobre os poderes do vibranium, utilizado inclusive para curar ferimentos mortais, também indicou a necessidade do cultivo da erva do coração, cujo preparo e administração por meio ritual permite o acesso a verdades existentes no mundo ancestral.

Do ponto de vista religioso, na perspectiva das religiões tradicionais, a erva do coração da Pantera Negra relativiza o poder do sacerdote e das sacerdotisas como responsáveis pela manutenção de uma tradição e coloca no sujeito do culto a responsabilidade de acessar, pelo coração, as verdades do mundo ancestral. Não há em Wakanda um sacerdote ou uma sacerdotisa responsável por um oráculo que determine o caminho a seguir. Esse tipo de determinação, por um lado, pertence ao campo da pesquisa científica e tecnológica e, por outro lado, ao conselho de anciãos, lideranças políticas e militares. O acesso ao mundo ancestral através de rituais tradicionais se faz necessário toda vez que um novo rei se torna responsável pela condução dos destinos do povo. Neste momento, entra em cena o trabalho de sacerdotes e sacerdotisas, como responsáveis em preparar e proporcionar a experiência.

O filme mostra que o ritual realizado com erva do coração, embora permita o acesso a verdades que estão guardadas no mundo ancestral, não tem poder de mudar escolhas e condutas dos sujeitos. Aliás, o acatamento e a vivência do ritual dependem do efetivo compromisso em preservar uma tradição em seu significado mais amplo, como lócus de autoconhecimento e cura de traumas e paranoias.  O acesso ao sagrado ancestral se dá pelo uso ritual da erva do coração. Isto não é uma metáfora cinematográfica, mas uma verdade religiosa que deveria fazer sentido para todas as pessoas que racionalizam a experiência religiosa individual, sobretudo para desqualificar e rejeitar a experiência do outro.  Essa perspectiva se inscreve no bojo da filosofia de Blaise Pascal(1623-1662) para quem  É o coração que sente Deus, e não a razão.”

O filme apresenta experiências rituais de dois reis que assumem o trono de Wakanda. O primeiro conhece bem e valoriza o sentido do ritual, o segundo rei se submete ao ritual; porém, por não aceitar aquilo que acessa como verdade, manda destruir a sua base de realização. A tentativa de destruir o ritual e a plantação da erva do coração é protagonizada por um descendente direto da família real de Wakanda, um príncipe abandonado pelo tio que matou o próprio irmão. Trata-se Erik Killmonger, personagem vivida pelo ator Michael Bakari Jordan, que consegue chegar ao reino de Wakanda, após estudar muito e fazer parte do grupo de elite da espionagem norte-americana. Seu instinto de vingança por ter sido abandonado pela família e seu conhecimento das relações de opressão capitalista e dominação colonial fizeram dele não apenas um estrategista de guerra de destruição, mas também alguém obstinado por um projeto de poder que além de não transigir com saberes tradicionais, pretende assumir a mesma lógica do opressor.  Ao acessar a verdade de sua história através do ritual, Killmonger retorna indignado, porque descobre que o pai também sofre a experiência do abandono,  não se encontra em um lugar de honra no mundo dos ancestrais. Afinal ele traiu seu povo repassando o segredo e os poderes do metal precioso. Após ser informado que a tradição estabelece a obrigatoriedade de passagem por aquele ritual aos sucessores do trono de Wakanda, ele ordena a destruição da plantação da erva do coração.

Como o antagonista ao projeto político e humanitário de Wakanda, Killmonger nos apresenta como um corpo pode ser apropriado e totalmente desumanizado pelo racismo e pela violência do Estado. É o personagem que coloca o dilema da representação identitária negra atrelada ao desconhecimento absoluto da história ancestral. Que reflete o vazio que o povo negro carrega por tudo o que o ocidente tomou e todo o desenvolvimento social tecnológico que nunca lhe foi creditado.

Para concluir, é importante ressaltar o tipo de tratamento dado pelo sistema escravista, a opressão colonial e capitalista aos saberes tradicionais dos africanos, como expressão de atraso cultural e político e de entrave ao desenvolvimento científico e econômico. Embora Killmonger releve em seu posicionamento uma crítica política ao colonialismo e também a dominação capitalista, a sua formação reflete as cisões produzidas pelo positivismo científico, que é o sustentáculo da razão instrumental.  Essa razão, além de ter contribuído para o desaparecimento de vários sistemas de crença e de saberes no solo africano, continua reverberando no campo educacional, impedindo a afirmação de referências positivas de identidades africanas. Diante disso, ativistas negros(as) têm muito a comemorar tanto do ponto de vista político-científico quanto do ponto de vista religioso: a ficção mostra um ancestral africano divinizado (kposu = Pantera homem) que legou ao seu povo força, coragem e sabedoria para erguer um reino com valores diferentes da ordem capitalista mundial. Wakanda enche os olhos e emociona, porque é a afirmação da unidade africana que não ficou restrita apenas à esfera da representação cultural! Wakanda forever!  (Por Erisvaldo Pereira dos Santos[1], no Portal Geledés).
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[1] Black Panter – 2018, 2h15,   Diretor: Ryan Coolger, Marvel Studios.

[2] Doutor em Educação pela UFMG, professor Associado da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP e Babalorixá no Ilê Axé Ogunfunmilayo em Contagem-MG  Agradecimentos especiais para Elisa Belém e Iris Pacheco pelas contribuições dadas a este texto.

** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.



O orgulho de ser “burro” mostra que o poço não tem fundo no Brasil



Confesso que tenho cada vez menos paciência para casos patológicos de burrice violenta. Aquela que não fica no seu cantinho, mas mostra os dentes e morde.

Antes de prosseguir, vale o aviso: burrice não é a falta de um conhecimento específico. Um camponês de uma comunidade isolada pode não saber navegar na internet. Mas duvido que você saiba produzir alimento a partir da terra como ele. É impossível saber sobre tudo e a beleza de estar em sociedade é a complementaridade dos saberes, a ponto de precisarmos uns dos outros para sobreviver.

Burro também não é quem separa sujeito e predicado por vírgula. Muita gente não entende isso e desvaloriza a opinião do outro por não compartilhar dos mesmos padrões de fala ou do mesmo universo simbólico. Algumas das pessoas mais sábias que conheci são iletradas. E alguns dos maiores idiotas têm doutorado. Significa que os iletrados são melhores que os doutores?. Não. Então, o contrário? Também não. Pois é burrice achar que usar ou não a norma culta da língua é condição para participar do debate público.

Trato aqui da burrice de quem menospreza o conhecimento, seja ele qual for, chegando a odiar quem o detém ou quem busca aprendizado.

Da burrice prepotente e apressada, que xinga um texto ou vídeo na rede sem ter consumido nada além de seu título ou visto o nome do autor ou autora. E, diante das críticas sobre a superficialidade desse comportamento, rosna, dizendo - no melhor estilo Donald Trump – que tudo o que é importante pode ser escrito em uma linha ou um tuíte. Ou que acredita que um produto é ruim simplesmente por não ter ido com a cara do rótulo.

O burro é aquele que vê seu preconceito violento como sabedoria.

Essa burrice, montada na soberba, pensa que já sabe de tudo a ponto de tachar os que discordam de sua visão de mundo como mal informados, comprados ou manipulados sem apresentar dados e fatos que corroborem a crítica. Ou tenta calar as vozes diferentes da sua por encarar a dissonância como ruído e não como música.

Pois a burrice sempre tenta destruir o conhecimento que ameaça jogar luz sobre ela própria.
Antes, se alguém me mostrasse uma imagem de pessoas enlouquecidas em torno de montanhas de livros em chamas, eu me lembraria de ''Fahrenheit 451'', de François Truffaut (1966). No filme, livros são proibidos, sob o argumento de que tornam as pessoas infelizes e improdutivas. Quem lê é preso e ''reeducado''. Se uma casa tinha livros, ''bombeiros'' eram chamados para queimar tudo.

Hoje, se me mostrassem uma imagem assim, logo me perguntaria: onde foi desta vez? Algum grupo fundamentalista islâmico, cristão, judeu ou budista?. Interior dos Estados Unidos? Neonazistas europeus? África? Coreia do Norte? China? São Paulo, Rio ou uma grande cidade brasileira?.

No dia 10 de maio de 1933, montanhas de livros foram criadas nas praças de diversas cidades da Alemanha. O regime nazista queria fazer uma limpeza da literatura e de todos os escritos que desviassem dos padrões impostos. Centenas de milhares queimaram até as cinzas. Einstein, Mann, Freud, entre outros, foram perseguidos por pensarem diferente da maioria. A Alemanha ''purificou pelo fogo'' as ideias imundas deles, da mesma forma que, durante a Contra-Reforma, a Santa Inquisição purificou com fogo a carne, o sangue e os ossos daqueles que ousaram discordar de sua interpretação da bíblia.

A burrice também é incapaz de aceitar o próprio erro, transferindo a culpa para o outro. Ou, diante de um questionamento, foge da autocrítica, dizendo que outra pessoa ou partido também faz a mesma coisa. A burrice não pede desculpa.

Pois a burrice de um indivíduo acha que é absolvida pela burrice de outro indivíduo ou do coletivo.

Nesta semana, a página de um grupo de extrema direita fez uma enquete entre seus seguidores, questionando quem eles ''jamais'' votariam para presidente. Muitos interpretaram mal a pergunta e responderam o inverso, em quem votariam. Até aí, tudo bem. Quem nunca?.
Então, os administradores da página informaram várias vezes sobre o erro de interpretação. O que fizeram os seguidores? Culparam o grupo por ter feito uma pergunta ''errada''. A certa seria a pergunta de sempre, sem a inversão do ''jamais'', ou seja, aquilo que não levasse à reflexão. Neste caso, pensar foi visto como um erro e tratado como tal.

A burrice não aceita a existência de outra versão que interprete os fatos além da sua. É incapaz de reafirmar sua visão e, ao mesmo tempo, conviver com análises divergentes. Enxerga a opinião alheia como ''notícia falsa'' não por desconhecer a diferença entre formatos de textos narrativos e opinativos, mas por não admitir o conteúdo. A burrice de alguns seguidores de políticos que não aceitam a existência de divergências ocorre da direita à esquerda, ou seja, não é monopólio de ninguém.

Isso só vai ser resolvido com a qualificação do debate público. De acordo com o sociólogo Bernard Charlot, um saber só tem valor e sentido por conta da relação que ele produz com o mundo. Quando o debate público for mais qualificado, a pessoa se sentirá mais motivada a procurar se informar melhor e de maneira mais plural a fim de conviver com seus pares nas redes sociais ou mesmo na vida offline.

Ler coisas com as quais concordamos e com as quais não concordamos é um primeiro passo. Ler fontes de informação que não sejam anônimas, ou seja, que se responsabilizam pelo que divulgam, é outro. Preferir fontes que baseiam seus relatos em provas e não em suposições ou teorias da conspiração. Que são gostosas, mas burras.

A escola deve promover debates e reuniões para que todos entendam que tipo de mensagem estão passando a seus filhos – ainda mais neste ano eleitoral. Dois pais ou duas mães que defendam o voto em um candidato X e dois pais ou duas mães que defendam o voto em um candidato Y podem ser convidados para apresentar seus pontos de vista para os alunos em uma turma, de forma respeitosa. Pois a aprender como fazer a discussão de valores com respeito a ideias divergentes é tão importante quanto absorver conhecimento técnico. Quando uma escola fecha os olhos a isso, transmite uma ideia. Em outras palavras, o silêncio não é neutro.

A opinião pública e parte dos intelectuais alemães se acovardaram ou acharam pertinente o fogaréu nazista descrito acima, levado a cabo por estudantes que apoiavam o regime. Deu no que deu. Hoje, vemos muitos se acovardarem diante de ondas burras, intolerantes e violentas frente ao conhecimento. Não, não estou comparando nossa sociedade com a nazista. Apenas dizendo que a burrice pode ser atemporal. E universal.

Como sempre digo: falta amor no mundo, mas falta interpretação de texto. E calmante na água de muita gente. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).

(Foto: Reprodução/ Blog do Sakamoto).

11 de março de 2018

Temer planeja acabar O Bolsa Família, anuncia ministro do desenvolvimento social e agrário



O governo Temer planeja acabar com o programa social que beneficia 13,8 milhões de famílias e alterar seus princípios. Segundo o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, o novo nome será “Bolsa Dignidade” e as famílias deverão receber R$ 20 a mais, desde que realizem trabalho voluntário.

Uma reunião na próxima terça-feira (13) deverá decidir sobre as mudanças. Como o ministro deixará o cargo até abril para buscar sua reeleição à Câmara dos Deputados, tudo deverá ser concluído neste mês. As informações são do jornal O Globo.

Além do trabalho voluntário, o governo planeja que os beneficiários só recebam a bolsa se cumprirem condicionantes. Uma delas é que os filhos dos beneficiários façam estágio em empresas privadas no segundo turno escolar.

Assessores do Planalto estariam animados com desfiguração do Bolsa Família, que deixaria de ser “assistencialista”. O novo programa terá como objetivo “comprar o ócio do beneficiário, em vez de pagar o ócio”, nas palavras deles.

O governo Temer parece desconhecer estudos como o da socióloga Walquiria Leão Rego e do filósofo italiano Alessandro Pinzani, que entrevistaram 150 mulheres beneficiárias do programa. O resultado está no livro Vozes do Bolsa Família (editora Unesp). Segundo os pesquisadores, o programa enfraqueceu o coronelismo e rompeu a cultura da resignação. Outro aspecto positivo foi transformar a vida de milhares de mulheres, que são quem recebe o cartão.

O Bolsa Família é uma das principais marcas do governo Lula, criado em 2003. Outro reflexo positivo foi ter levado o Brasil a sair do Mapa da Fome das Nações Unidas. O Brasil reduziu em 82,1%, entre 2002 e 2014, o número de pessoas subalimentadas. O programa já foi elogiado pela ONU, o Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional. (Com informações da Revista Fórum).

Vanderleia Oliveira durante reunião com no CRAS do distrito São Romão, em Altaneira, com beneficiarias do Programa
Bolsa Família. (Foto: Ítalo Duarte).

 

“Odeio pretos e pardos”, diz professor de Instituto Federal



Um professor de Turismo e Geografia do Instituto Federal de São Paulo causou indignação ao publicar no seu perfil no Facebook um post racista. José Guilherme de Almeida estava em viagem para o Nordeste e postou que “odeia pretos e pardos”. O professor apagou o seu perfil no Facebook, mas como a internet é rápida, circula nas redes sociais o print da publicação.  (Com informações do Blog Segunda Tela).



10 de março de 2018

Com 71% dos votos em conferência, Guilherme Boulos é o pré-candidato do Psol à presidência



A Conferência Eleitoral do PSOL aprovou em definitivo, neste sábado (10), os nomes para compor a chapa de pré-candidatos à Presidência pelo partido em 2018: Guilherme Boulos e Sônia Guajajara.


Guilherme Boulos e Sônia Guajajara forma chapa do Psol à presidência. (Crédito da Foto: Mídia Ninja).


A chapa fecha um longo processo de conversas do partido na construção de uma sólida aliança com diversos movimentos sociais do país, que ofereceu os nomes ao PSOL na Conferência Cidadã, no último dia 3. Boulos, que teve quase 71% dos votos da conferência, concorreu à indicação, no partido, com Plínio de Arruda Sampaio Jr., Hamilton Assis e Nildo Ouriques.

O simbolismo da chapa de pré-candidatos não poderia ser maior: o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) se junta a uma das maiores representantes dos povos indígenas brasileiros. Com 35 anos, Boulos é o pré-candidato mais jovem da história política do país.

Em sua fala, Guilherme Boulos reforçou a construção da aliança durante anos. “Não nos encontramos agora. Esse encontro acontece há anos: lutando por direitos, contra o golpe, pela democracia e por outro projeto de Brasil. Ela expressa uma unidade na luta concreta”.

O agora pré-candidato oficial do PSOL também falou da importância da plataforma Vamos!, construída no âmbito da frente Povo Sem Medo, que realizou dezenas de debates em todo o país e acumulou mais de 150 mil interações online, em um processo de construção de uma alternativa programática para o Brasil.

Boulos elencou alguns dos pontos principais da pré-candidatura, como o combate aos privilégios do “andar de cima” da economia brasileira, a radicalização democrática, com plebiscitos e referendos para todos os temas fundamentais, e o combate à direita junto à superação da estratégia da conciliação de classes na política.

Nós queremos disputar o projeto de país. Não teremos uma candidatura apenas para demarcar espaço dentro da esquerda brasileira. Vamos apresentar uma alternativa real de projeto para o Brasil”.

Sônia Guajajara, agora oficialmente pré-candidata à Vice-Presidência (ou co-presidenta), saudou a Conferência Eleitoral do PSOL junto a outras representantes do movimento indígena. “O momento é grave e urgente. É de transformação. Para nós, povos indígenas, estar participando desta conferência é estar inserido no processo de transformação do Brasil”.

Ela afirmou, ainda, que os povos indígenas, que sempre estiveram na linha de frente da resistência, agora querem ocupar os espaços de decisão do país. “Nós resistimos ao mais brutal processo de expulsão de nossos povos. Sempre fizemos a luta contra o agronegócio, o capitalismo, as grandes pecuárias, a especulação imobiliária. E hoje ainda nos chamam de ‘invasores'”, disse. (Com informações do Psol 50).

Assista à fala completa de Guilherme Boulos na Conferência Eleitoral do PSOL:


           

Entre a opressão e a liberdade: Jovens altaneirenses tentam reviver mais uma vez “Paixão de Cristo”



Circulou na rede social facebook na noite desta sexta-feira, 10, informações constatando que jovens do município de Altaneira, na região do cariri, estão querendo trazer de volta para apreciação do público à peça Paixão de Cristo. O desejo desses jovens foi perceptível quando Raimundo Soares Filho resgatou publicação de seu Blog de Altaneira em abril de 2012.

Diz que é a favor da Cultura, mas não apoia a Paixão de Cristo”, disse o blogueiro de forma crítica ao entrar naquela “brincadeira do diz que” e republicar o texto com o título ‘A Paixão de Cristo emociona altaneirenses e visitantes’. A peça há anos deixou de ser encenada em Altaneira e as que poucas foram realizadas causaram polêmicas e crises entre as instituições que possuem os maiores números de adeptos (segundo dados compilados pelo IBGE 2010), a Igreja Católica e, nos períodos em análise, a Igreja Internacional da Graça de Deus.

A encenação da peça “Paixão de Cristo” em Altaneira deixou transparecer que a convivência pacífica entre católicos e protestantes não era de todo visível, mas bastava um motivo para ela se revelar como é, de fato, na grande maioria das vezes, conflituosa e cheia de “esse terreno é meu”, “esses fieis são da minha igreja e não podem se misturar”.  Quem não se lembra do trágico episódio “O Pátio do Conflito”?  Em 2012 participantes da peça chegaram a solicitar o pátio da Igreja Católica para o momento da Crucificação, o que foi negado pelo então Pároco, Alberto, sem justificativas convincentes. Depois, informações dos próprios “atores” e “atrizes” amadores (as) deram conta de que o padre tinha marcado um evento religioso no dia da encenação.

Mas a história do conflito entre o “líder” (do período) católico e os construtores do evento religioso, cultural e histórico ganharia mais um capítulo e que desnudaria o lado retrógrado, arcaico e intolerante do pároco. “A Palhaçada”. Foi com essa expressão que o “chefe” da Igreja Católica de Altaneira denominou a Peça que encenava diversas passagens bíblicas, como a crucificação de Jesus Cristo. A atitude do “líder” religioso católico gerou indignação, revolta e repúdio de várias pessoas, como o do Educador Popular, Cícero Chagas, que mais uma vez transcrevemos:

Intolerância religiosa. Até quando teremos que conviver com ela?Quando pensamos que estamos dando passos significativos para a convivência harmoniosa entre as crenças religiosas somos surpreendidos com atitudes medievais, vindas de uma estrutura religiosa cheia de atrocidades a história é testemunha de quantas injustiças foram cometidas.  

Depois de tanto tempo e tantas injustiças pensei que ela tivesse aprendido, mas parece que na cartilha que veio para Altaneira-CE essa pagina estava faltando, só isso justifica as atitudes medievais que vêm sendo tomadas por parte do Gestor desta instituição que por motivos alheios ao nosso conhecimento não aprova a união das crenças religiosas existente no nosso município para realizarem o resgate da Peça da Paixão de Cristo assumida sempre pelos jovens que em outrora eram Católicos e por motivos parecidos, hoje são Evangélicos e transcendendo os limites da religião se uniram aos jovens católicos para juntos com a Secretaria de Cultura realizares a Paixão de Cristo.

Para esse gestor digo: Toda ditadura tem começo meio e fim

A atitude do pároco acabou por reprimir o desejo artístico dos altaneirenses que desde 2012 não mais realizaram a encenação. Porém, a liberdade parece que quer conflitar mais uma vez com a opressão. Em comentário na postagem supracitada acima, Pedro Rafael afirmou que esse ano “a galera jovem, de forma independente, se organizaram e estão ensaiando para resgatar a Peça Paixão de Cristo, de forma simples mas muito bem feita”.

Mas o grupo denominado “independente” por Pedro nasceu dentro da igreja, como deixou entrever o obreiro Vinícius Freire. Ao comentar a postagem em destaque neste texto, Vinícius disse ter conversado com o grupo e afirma “eles até onde eu sei não conseguiram patrocínio ainda” e prega otimismo ao dizer que “para o próximo ano há uma possibilidade de fazer a peça completa com apoio da secretaria de cultura com mais participantes tbm” e completa:

Não posso deixar de parabenizar tbm o atual pároco por ter permitido a existência do grupo de jovens”. 

Sendo assim, a peça, antes reprimida, tem grande possibilidade de ocorrer com tranquilidade, já que tem a “benção” do padre atual.

Sem falsos moralismos. A atitude que o pároco Damião vem tomando desde que chegou a Altaneira é digna dos parabéns. Não deveria ser por se tratar de um dever sacerdotal, mas acaba merecendo registro ante as de outrora que alimentavam a rivalidade, o confronto e desunião entre as pessoas.

Encenação da peça "Paixão de Cristo" em Altaneira (2012). (Foto: Heloísa Bitu).




9 de março de 2018

'Queremos levar a nossa indignação para dentro da política', diz Boulos, pré-candidato a presidência



Em meio à crise institucional e ao golpe parlamentar que ataca os direitos dos trabalhadores, uma nova forma de fazer política deve surgir no país, espera o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MTST), Guilherme Boulos, que teve no sábado (3) seu nome lançado como pré-candidato à Presidência da República. "Eu sou o pré-candidato mais jovem da história do país, e não acredito que isso seja um problema. Se tempo de participação na política institucional fosse credencial e garantia de avanços, o governo Temer seria o melhor da história do país", diz Boulos, que se filiou ao Psol na tarde da última segunda-feira (5).

Ativista e idealizador da plataforma Vamos!, ele propõe "dialogar e construir política de um outro jeito". "Achamos que parte da descrença e desesperança das pessoas com a política é porque ela se distanciou das pessoas. Hoje existe um abismo entre Brasília e o Brasil. Queremos levar a nossa indignação para dentro da política. Esse é o sentido dessa candidatura".

Sobre as análises segundo as quais sua candidatura pode dividir a esquerda, ele obviamente discorda. "A esquerda precisa saber separar unidade de diversidade", diz Boulos.

Segundo ele, a campanha que deverá fazer com a vice, Sonia Guajajara, o Psol e os movimentos sociais será uma proposta de "aliança com os setores mais dinâmicos da luta, da sociedade civil, um encontro de gerações, de setores que enfrentaram a ditadura a jovens como a Ana Júlia, que ocupou escola", afirma, em referência à jovem paranaense que em 2016 foi um dos símbolos das ocupações das escolas secundaristas pelo país.

Segundo algumas análises, sua candidatura é positiva por promover debate dentro da esquerda. Já para outras, sem Lula, seu nome pode fragmentar ainda mais a disputa eleitoral e a esquerda. Como vê essas análises?

Nós entendemos que a esquerda precisa saber separar unidade de diversidade. Temos vários pontos em comum: a luta contra Temer, a defesa da democracia, dos direitos, o enfrentamento do golpe. E nesses pontos temos que estar todos juntos. Como temos estado, nas ruas e nas mobilizações. Mas é importante também compreender que existem diferenças de projetos, de rumos, de caminhos, inclusive no sentido de tirar as lições do golpe.

No nosso entendimento, o golpe representou um fechamento de momento histórico no país, em que se aprofundaram as contradições, a sociedade e a política se polarizaram, e não há mais espaço para avanços sem conflito. Não há mais espaço para composições políticas com setores que deram o golpe. Essa diversidade é saudável para a esquerda e é importante que se apresente também no processo eleitoral.

Que diferenças haveria em sua campanha em dois cenários: com a participação de Lula e sem a presença dele na eleição?

Nós defendemos incondicionalmente o direito de ele ser candidato. A condenação do Lula foi sem provas, política, o judiciário se comportou como partido político ao condená-lo com o interesse evidente de tirá-lo do processo eleitoral. Não defendemos isso apenas no gogó. Temos feito na prática.

O MTST foi à frente da casa do Lula retirar o MBL quando eles foram lá provocar, mobilizou em peso as suas ocupações para todos os atos em defesa da democracia e contra a condenação dele. Esse é um posicionamento do qual a gente não abre mão. Agora, a minha candidatura tem a ver com a defesa de um projeto de país. Não com o fato de o Lula ser ou não candidato.

Alguns analistas consideram que você é muito pouco conhecido e não tem experiência eleitoral. Qual o peso disso?

Olha, eu sou o pré-candidato mais jovem da história do país, e não acredito que isso seja um problema. Se tempo de participação na política institucional fosse credencial e garantia de avanços, o governo Temer seria o melhor da história do país. Ele está há 50 amos na política e é um desastre. Então, ter experiência parlamentar e política não significa necessariamente uma boa credencial.

Eu milito há mais de 15 anos no movimento popular, construí a minha atuação política na luta social junto às pessoas e debatendo projeto e política, a exemplo do que fizemos na plataforma Vamos! no ano passado, com debates em todas as regiões do país – mais de 50 debates –, dialogando e construindo política de um outro jeito.

Achamos inclusive que parte da descrença e desesperança geral com a política é porque ela se distanciou das pessoas. Hoje existe um abismo entre Brasília e o Brasil. Queremos levar a nossa indignação para dentro da política. Esse é o sentido dessa candidatura.

Até onde sua proposta conseguirá ser bem sucedida na tentativa de aglutinar setores da esquerda em torno dela?

Veja, aglutinar os setores de esquerda e buscar fazer frentes, entendimentos sempre que possível, é algo importante. Nós vivemos um momento de retrocessos democráticos, de avanço de pautas conservadoras, de risco de retrocessos ainda maiores, como expressa a candidatura de Jair Bolsonaro, como expresso na intervenção militar no Rio de Janeiro.

Ou seja, há aqueles que querem impor para a crise da Nova República uma saída de ainda mais atraso. Em relação aos temas democráticos, à defesa dos direitos sociais, é preciso ter pontes amplas na esquerda. Mas reitero que isso não é contraditório com a necessidade de se colocar as diferenças que existem.

A esquerda precisa saber ter unidade naquilo que é comum e respeitar a diversidade em termos de programa e de projeto. Nós temos uma proposta para o país. Uma proposta de que é necessário centrar um programa no combate à desigualdade e no resgate da democracia. E combater a desigualdade no Brasil é enfrentar privilégios, é fazer por exemplo reforma tributária, enfrentar o poderio dos bancos, as grandes corporações.

Sem esse tipo de enfrentamento não é possível hoje um projeto popular para o país. Por isso, nosso programa é um programa de mudanças estruturais. Essa ideia de querer recompor um centro, de fazer um novo pacto de conciliação não é viável no país e não é o programa que defendemos. Isso não nos impede de estarmos juntos nas batalhas democráticas e nas batalhas amplas por direitos sociais.

Alguns setores do Psol receberam mal sua filiação, sua posição de pré-candidato, porque não teria sido debatido internamente no partido. Como vê isso?

Em relação ao Psol, acho natural que existam posições diferentes sobre projeto e candidatura. Todo partido precisa ter pluralidade. Não queremos uma organização e um partido com pensamento único. Isso é uma coisa que a direita é que gosta de cultivar. Agora, minha pré-candidatura junto com a Sonia Guajajara tem o apoio de 70% da militância do Psol.

E o procedimento de escolha dessa chapa foi definido no congresso do Psol praticamente por consenso e será na conferência eleitoral, que vai acontecer no próximo sábado (10) com delegados indicados proporcionalmente pelo próprio congresso.

É natural que haja discussão, é importante que haja o debate, mas é ainda mais importante que estejam todos juntos a partir do momento que se defina quem será a candidatura que representará o Psol nessas eleições.

Para além disso, o projeto que defendemos não é uma candidatura estritamente do Psol. O que está se construindo é uma aliança do Psol com setores do movimento social, com o MTST, com a Apib, Midia Ninja, com um conjunto de movimentos que têm construído um acúmulo de debates de projeto para o país.

Isso se expressou na Conferência Cidadã, que nós fizemos no último sábado, uma conferência extraordinária. Ali estavam intelectuais, artistas, um conjunto de movimentos sociais como não se via há muito tempo na esquerda. Num projeto de pensar o futuro, de pensar o país, de resgatar a esperança.

Isso expressa o tipo de campanha que queremos fazer, em torno de uma ampla aliança, que não é aliança com os partidos tradicionais. É uma aliança com os setores mais dinâmicos da luta, da sociedade civil, um encontro de gerações, de setores que enfrentaram a ditadura a jovens como a Ana Júlia, que ocupou escola e estava na nossa conferência. De uma diversidade de vozes e de setores. Essa é a cara da campanha que nós queremos.

Ele voltou a defender o direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser candidato e acrescenta: "Não defendemos isso apenas no gogó. O MTST foi à frente da casa do Lula retirar o MBL quando eles foram lá provocar". (Com informações da RBA).

"Não defendemos o direito de Lula se candidatar apenas no Gogó. Mas é importante também compreender que existem diferenças de projetos, de rumos, de caminhos", diz pré-candidato à presidência.
(Foto: José Lucena/ Futura Press/ FolhaPress).