17 de setembro de 2015

Uma homenagem às mulheres negras a partir do filme “Kbela”



Três anos de processo. Primeira lotação do cinema Odeon desde sua reinauguração em maio. Uma plateia predominantemente negra. O filme Kbela, que estreou no último sábado, dia 12, já pode ser considerado um marco para o cinema brasileiro. O Rio de Janeiro vivenciou enfim, #UmDiaNegroParaOCinema.


Idealizado por Yasmin Thayná, Kbela nasceu a partir de um conto que ela escreveu sobre descobrir-se negra e “assumir” os fios crespos. O processo enfrentado pela maioria das meninas negras ao longo da vida, de rejeição ao próprio cabelo, submissão à dolorosos processos químicos para alisar e recusa à cor da pele são os temas centrais do conto. O texto foi parar na publicação da Flupp (Feira Literária das Periferias) e, em seguida, foi encenado em algumas casas durante o Festival Home Theatre.


Com a repercussão das duas mostras, a ideia de “fazer alguma coisa com aquilo” começou a crescer. “A gente queria fazer alguma coisa, mas não sabíamos direito o quê. Primeiro pensamos em gravar um vídeo com alguém lendo ou narrando o conto”, explica Yasmin, que hoje cursa jornalismo na PUC.

Foi então que ela se reuniu com um coletivo de amigos e fez uma chamada pública através das redes sociais convidando meninas negras a contarem suas histórias. A história viralizou e em menos de uma semana o grupo recebeu mais de 100 e-mails do Brasil inteiro. O teste de elenco contou com cerca de 40 meninas do Rio de Janeiro e aconteceu em um estúdio improvisado na casa de integrantes do coletivo. Este primeiro encontro foi um catalisador para a realização de um projeto maior, já que todas as histórias compartilhadas naquele dia diziam a mesma coisa: ser mulher e negra ainda é tarefa árdua no Brasil.

Um amigo compartilhou a postagem comigo e disse que era a minha cara. Estou no processo desde o início, desde o primeiro teste de elenco. O Kbela me ajudou muito a me descobrir em diversos aspectos. Só tenho a agradecer à Yasmin que pôs pra fora em forma de conto tudo que nós mulheres negras já passamos e depois transformou o conto nesse curta fantástico. Não tenho palavras pra descrever, apenas a agradecer”, disse, emocionada, Dandara Raimundo, que atua em uma das cenas mais emblemáticas do filme.

Com as gravações já quase concluídas, Yasmin foi assaltada e todo o material filmado na primeira etapa foi perdido. Mais uma vez a internet entrou como principal aliada e um crowdfounding (financiamento coletivo) foi lançado para ajudar a reiniciar todo o processo.

Representatividade importa

Após a perda do material e a necessidade de recomeçar tudo praticamente do zero, o projeto foi ganhando novos contornos, entre eles a necessidade de se estruturar melhor e profissionalizar o trabalho. A produção contou com videomakers, figurinistas, maquiadoras, produtoras, musicistas, preparadoras de elenco, programadoras, etc. Todas profissionais – a maioria mulheres negras. Com apenas R$5 mil para a realização do filme, todas as pessoas envolvidas trabalharam sem receber dinheiro.

A estudante transexual Maria Clara Araújo veio do Recife especialmente para atuar no curta. “A Yasmin me chamou no Facebook e me convidou para participar das gravações. Eu topei na hora, porque as mulheres trans não estão representadas em lugar nenhum. Até quando é para nos representar em filmes, homens cis fazem. Então esse filme é importante por isso, por representar não só as mulheres negras, mas também as mulheres trans”, garantiu.

A palavra “representatividade”, aliás, foi uma das mais faladas da noite. O fato de lotar os 550 lugares de um cinema tradicional como o Odeon com uma plateia essencialmente negra, que mora, circula e realiza suas ações além do eixo Centro-Zonal Sul, é bastante significativo. 

A importância do filme também está na forma como ele foi realizado. Além de mostrar que é possível criar produtos de qualidade em um sistema distante do modelo tradicional, ele ainda traz um viés político, que é um retrato da juventude de periferias que vem criando e ocupando cada vez mais todos os espaços, tanto virtuais quanto físicos.

Problematizar o racismo através de um filme de arte foi apenas um dos caminhos encontrados. Mas há muito mais a ser feito – e esta foi a primeira garantia de que “estará tendo” mais filme, mais mulheres pretas e muito mais representatividade.
O racismo cria muitos abismos, mas acho que a melhor maneira de a gente responder a isso é sendo rainhas e dando bafão no Odeon”, brincou Yasmin.

Haverá ainda mais três sessões, nos dias 18, 19 e 20 de setembro, às 17h40. Todos pagam meia entrada.

           

16 de setembro de 2015

MEC apresenta documento acerca da base nacional curricular da educação básica



A Base Nacional Comum é a base sobre a qual podemos construir uma mudança significativa na educação”, disse o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, durante a apresentação do documento de referência para discussão da base nacional curricular da educação básica, nesta quarta-feira, 16. O documento, disponível para consulta pública, apresenta os conteúdos para as áreas de linguagem, matemática, ciências da natureza e ciências humanas em cada etapa escolar do estudante.

Ministro da Educação, Renato Janine, durante apresentação
do documento de referência da Base Nacional Comum.
Para o ministro, a consulta pública é um importante instrumento de participação democrática, que permitirá à sociedade brasileira contribuir para a construção dos currículos dos ensinos fundamental e médio. “É um documento de discussão, e é muito importante que cada componente curricular seja amplamente discutido por todos que trabalham com esses componentes, sejam professores, pesquisadores, mas também por todos os membros da sociedade”, disse Janine Ribeiro.

Para a secretária de Educação do município baiano de Una, Leninha Cavalcante, vice-presidente, na Bahia, da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), a participação das redes de educação é o caminho para superar divergências e estreitar as relações. “Nós nos sentimos próximos do Ministério da Educação para construir algo do qual somos os atores principais”, disse. “A expectativa da participação social é fantástica; é importante que o documento tenha a identidade da educação pública que a gente defende.”

As contribuições podem ser enviadas a partir do dia 25 próximo, até 15 de dezembro de 2015, de forma individual; por meio das redes, que sistematizam discussões e propostas de professores, comunidade e demais profissionais da educação; e a partir de organizações como instituições de educação superior e grupos da sociedade civil.

A Base Nacional Comum Curricular está prevista no Plano Nacional de Educação (PNE) para 2014-2023, aprovado em 2014, por unanimidade, pelo Congresso Nacional e sancionado sem vetos (Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014) pela presidenta da República, Dilma Rousseff.

Princípios

O documento de referência reúne direitos e objetivos de aprendizagem relacionados às áreas do conhecimento e seus respectivos componentes curriculares para todas as etapas da educação básica. A Base Nacional Comum é constituída pelos conhecimentos fundamentais aos quais todos os estudantes brasileiros devem ter acesso em todas as escolas do país. Uma parte será comum a todas as escolas; outra, regionalizada, deve ser construída em diálogo com a primeira e de acordo com a realidade de cada escola, em atenção não apenas à cultura local, mas a escolhas de cada sistema educacional sobre as experiências e conhecimentos a serem oferecidos aos estudantes ao longo do processo de escolarização.

Para o ministro Janine Ribeiro, a Base Nacional Comum abre também a discussão sobre a parte específica, regionalizada, que diz respeito a cada rede de ensino. “É importante que essa discussão não atrase para que as redes pensem na parte específica”, disse. “Precisamos discutir também essas partes específicas e de que maneira elas respeitam a regionalidade.”

Etapas

Na educação infantil, os objetivos de aprendizagem são apresentados a partir das quatro áreas do conhecimento, tendo como referência campos de experiências que potencializam as relações das crianças com múltiplas linguagens e conhecimentos. A integração entre a etapa da educação infantil e a do ensino fundamental é estabelecida pelo modo como as experiências propostas na primeira etapa se desdobram e se articulam com as propostas de cada componente curricular nos anos iniciais da segunda.

Para o ensino fundamental e para o ensino médio, os objetivos de aprendizagem dos diferentes componentes curriculares são apresentados ano a ano, de forma a oferecer uma orientação mais precisa aos sistemas de ensino, escolas e professores com relação à progressão desses objetivos ao longo do processo de escolarização. Tal orientação não dever ser entendida, entretanto, como uma prescrição da progressão. Importa muito mais observar o alcance do conjunto de objetivos nos anos que demarcam a transição entre as diferentes etapas — da educação infantil ao ensino fundamental, dos anos iniciais aos anos finais, e até o ensino médio e a conclusão deste.

O documento de referência e mais informações são encontrados na página da Base Nacional Comum Curricular na internet.

Foucault versos Foucault (2014) – Documentário



Excelente documentário de François Caillat, produzido em 2014. Com depoimento de diversos filósofos contemporâneos, o filme espelha as facetas da vida agitada de Michel Foucault, pensador contemporâneo nascido em 1926, na pequena cidade francesa de Poitiers, diplomou-se em psicologia e filosofia. Ensinou em universidades francesas e lançou diversos livros, como “As Palavras e as Coisas”, “Vigiar e Punir” e “História da Sexualidade”, obra inacabada devido ao seu falecimento, em 1984.

            

15 de setembro de 2015

O nome do corpo, por Alex Ratts*


Quem sabe do corpo partido. da cabeça. do cérebro. dos neurônios. dos dreads. das voltas dos cabelos. do nervo ocular. da córnea. da íris. dos lábios. das narinas. da traqueia. da laringe. das orelhas. dos tímpanos. dos dentes. das próteses. dos pelos. dos óculos. dos brincos. das escarificações. dos adornos labiais. das miçangas. da roupa.

Quem sabe do corpo partido. dos ossos. das cartilagens. das tatuagens. das pinturas. do pescoço. dos ombros. dos cotovelos. das palmas das mãos. dos peitos. do sexo. de outras próteses. das cavidades. do coração. do estômago. dos intestinos. da coluna vertebral. dos joelhos. dos calcanhares. das coxas. das palmas dos pés.

Quem cuida do corpo partido. das veias. do sangue. na hora boa. na hora da ira. na hora triste. na fronteira. no muro. na cerca. na margem. no limite de cada movimento. das marcas do tempo de criança. dos ferimentos à bala. na esquina. no beco. na viela. no semáforo. na enfermaria.

Quem cuida do corpo partido. seccionado. descrito. inscrito. quem cuida de cada parte. quem escolhe. recolhe. toca. estende. descreve. inscreve. retrata. canta. redime. sob a folha. sobre a palha. sob o algodão. sobre o linho. quem sabe do bálsamo. quem embalsama e quem perfuma. quem cuida de quem cuida e de quem cura. quem leva.

Quem vê o corpo partido. quem o vê somente em partes. quem duvida. quem rotula. quem soterra. quem despreza. quem tortura. quem corta. quem expõe. quem exaspera. quem inspeciona. quem esconde. quem mente. quem lembra o nome do corpo inteiro. quem guarda o nome. quem dá o nome que faz sentido.

[referido ao estandarte “Eu preciso destas palavras” de Arthur Bispo do Rosário, às canções “Ain’t got / I got life” do musical Hair e do repertório de Nina Simone e ao poema de Ricardo Aleixo]

Acesse o texto na íntegra clicando aqui

*Arquiteto, geógrafo, antropólogo e poeta. Estuda e escreve acerca de raça, etnia, gênero, sexualidade e espaço.

Em lista de bilionários divulgada pela forbes, setor midiático é o 8º mais bem representado



O setor de mídia brasileiro é o 8º mais representativo em um ranking de 13 setores liderado por indústria, bancos e alimentos, divulgado anualmente pela revista Forbes.


No topo da lista brasileira está o empresário Jorge Paulo Lemann, um dos sócios da AB InBev, com uma fortuna estimada em R$ 83,7 bilhões.

No setor de comunicação são oito empresários de quatro companhias distintas. Na 5º posição geral está a família Marinho, das Organizações Globo, representada por João Roberto Marinho, José Roberto Marinho e Roberto Irineu Marinho que, individualmente, possuem R$ 23,8 bilhões.

Da família Marinho para o próximo da lista a diferença é considerável: Edir Macedo, da Record, está na 74º posição com patrimônio de R$ 3,02 bilhões seguido pela família Civita, do Grupo Abril, e de Sílvio Santos, do SBT.

No mundo, o empresário mais rico do segmento de mídia é o americano Michael Bloomberg dono de uma fortuna estimada em US$ 35,5 bilhões e na 14º posição geral.

Veja os representantes da mídia entre os bilionários brasileiros:

1º lugar
João Roberto Marinho
Patrimônio: R$ 23,80 bilhões
José Roberto Marinho
Patrimônio: R$ 23,80 bilhões
Roberto Irineu Marinho
Patrimônio: R$ 23,80 bilhões
Empresa: Organizações Globo
5º posição no ranking geral do Brasil
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2º lugar
Edir Macedo
Patrimônio: R$ 3,02 bilhões
Empresa: Rede Record
74º posição no ranking geral do Brasil
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3º lugar
Giancarlo Civita
Patrimônio: R$ 2,18 bilhões
Roberta Anamaria Civita
Patrimônio: R$ 2,18 bilhões
Victor Civita Neto
Patrimônio: R$ 2,18 bilhões
Empresa: Grupo Abril
88º posição no ranking geral do Brasil
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4º lugar
Silvio Santos
Patrimônio: R$ 2,01 bilhões
Empresa: SBT
100º posição no ranking geral do Brasil

14 de setembro de 2015

Religiões de matrizes africanas sofrem com a intolerância. Até quando?



Cinco de agosto não sai da memória do babalorixá Babazinho de Oxalá. Enquanto fazia compras no mercado, ele foi avisado pela mulher de uma ligação da vizinha, que dizia: “Volte agora para o terreiro. Mas não venha sozinha, chame a polícia”. Ao chegar lá, a cena era desoladora: a maior parte dos materiais usados nos rituais de candomblé, sua religião, estava destruída, portas e janelas arrombadas e vários objetos de uso da casa haviam sido roubados. “A situação, aqui, era de chorar. Tudo arrombado, furtado, quebrado. Os bens materiais, vamos repor. O que dói é ver o sagrado ser tratado dessa forma.”


Há cinco anos como sacerdote do terreiro, que fica em Santo Antônio do Descoberto, município do Entorno, Babazinho disse que jamais havia sofrido ato de violência religiosa tão extremo. Apesar dos prejuízos financeiros terem ficado próximos dos R$ 30 mil, ele garante que nada se compara a ver sua fé tratada dessa maneira. “Para quem não é do candomblé, o que foi destruído pode não ter valor algum. Para nós, é de muita importância. Isso nos agrediu demais.” Embora a Constituição Federal garanta a liberdade de religião como direito fundamental, o ato não é isolado.

De acordo com Coordenação de Enfrentamento ao Racismo da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial (Sepir), em 2015, já foram pelo menos 10 crimes contra centros religiosos de matrizes africanas praticados no DF e Entorno. O número pode ser maior, já que episódios dessa natureza são registrados dentro dos crimes comuns, independentemente de onde ocorreram. “Fazer essa classificação desses delitos não é tão simples, pois é preciso exortar a crença do outro. A prática do proselitismo religioso é um acinte, mas não é fácil categorizá-la como violência”, diz Carlos Alberto Santos de Paulo, chefe da coordenação.

O poder das bancadas fundamentalistas nos Legislativos espalhados pelo país tem estimulado discussões sobre a laicidade do Estado. No Distrito Federal, audiência pública, marcada para a próxima quarta-feira, debaterá o tema. De acordo com Patricia Zapponi, diretora da Central Organizada de Matriz Africana (Afrocom), a audiência permitirá que representantes das mais variadas crenças exponham as preocupações acerca do que ela chama de política de ódio, que vem sendo estimulada no DF por um grupo de parlamentares ligados a movimentos religiosos.

Atualmente, há parlamentares querendo equiparar o poder religioso ao político. O Brasil é um país laico, signatário do Tratado da Paz Global da ONU e, desde as Constituições de 1968 e de 1988, o Estado é separado da religião. Por que essa preocupação? Porque o poder político está se confundindo com o religioso.” Patrícia, também candomblecista, explica que os atos de hostilidade não ficam restritos às invasões de terreiros, que são mais de 6 mil em todo o DF. “Um pastor já ficou orando atrás de mim, num dia em que vim trabalhar de torso. Já cantaram hinos de louvor. Está havendo um estreitamento no pensamento das pessoas.”

Mas afinal, por que cotas para as mulheres em cargos políticos?


Por Karolina Mattos Roeder*, no Pragmatismo Político

Na última quarta-feira o Senado aprovou em segundo turno a Proposta de Emenda à Constituição – PEC 98/2015 que assegura a reserva de cadeiras para mulheres nos legislativos municipais, estaduais e federal, com exceção do próprio Senado. A proposta agora segue para a Câmara dos Deputados, onde o texto também terá de ser aprovado em dois turnos, para que vire realidade.


Caso a medida seja aprovada, ela garantirá a reserva na eleição subsequente à promulgação de 10% das vagas do Legislativo para mulheres, 12% na segunda legislatura, e, 16% na terceira, encerrando-se nesta última a utilização das cotas.

É comum ouvirmos comentários contrários sobre qualquer tipo de cota embasados numa perspectiva meritocrática. Até sobre as cotas de mulheres nos parlamentos, li opiniões, essa semana, de leitores de portais de notícias, centrando-se no discurso: “não precisamos de cotas, estará no cargo quem o merecer.” Pois bem, as “coisas” da sociedade não são tão simples assim. Eu diria que elas são bem mais complexas.

Na Ciência Política há incontáveis pesquisas que procuram identificar quais são as variáveis, isto é, os fatores “preponderantes” que levam um candidato ao sucesso eleitoral. Quais variáveis que mais afetam as chances de êxito dos candidatos eleitos (aos cargos de deputados federais, senadores, prefeitos).

Dentro desse conjunto de fatores, podemos listar os que envolvem o perfil social, a trajetória do candidato e os padrões de recrutamento político (os filtros ou obstáculos por quais o candidato passou para acessar os cargos eletivos).

Alguns dos fatores: seu patrimônio, receita de campanha (muitas pesquisas já provaram que as oportunidades aumentam na razão direta do volume de recursos financeiros mobilizados), ser ou não candidato à reeleição (estes têm mais chances), fazer parte ou não de uma coligação partidária, o desempenho do partido, competição no interior dessa agremiação, ser ou não um político profissional, escolaridade, idade, socialização política construída ao longo da vida, sua origem social, a própria estrutura de oportunidades que o sistema político oferece e, gênero.

Aqui neste artigo, focarei nesses dois últimos fatores.

Ser homem implica em ter mais chances de ser eleito. Para se ter uma ideia, em um estudo (1) realizado por professores do Programa em Pós-graduação em Ciência Política da UFPR, sobre as eleições municipais para prefeito em 2012, com dados de mais de 15 mil candidatos dos quase seis mil municípios brasileiros, foi constatado, para o pleito analisado, que dadas as mesmas condições de competição política, ser mulher reduziu 21,4 vezes a possibilidade de sucesso eleitoral. Identificaram, assim como em outras pesquisas sobre outros pleitos, que mulheres têm maior dificuldade em ser eleitas que homens.

Para entender os motivos pelos quais as mulheres têm mais dificuldade de se eleger, a meu ver, é necessário darmos atenção para as estruturas de oportunidade da sociedade, do sistema político e nosso contexto social.

Entendemos por “estrutura de oportunidades” na política, fatores exógenos à sociedade que afetam a capacidade de mobilização e recrutamento de determinados grupos sociais. Na Sociologia, sabemos, sempre considerando os contextos nos quais a sociedade está inserida, que o capital social adquirido ao longo da vida e os estimulos de participação política envolvem, crucialmente, o acesso diferencial a recursos de poder. As instituições formais podem estruturar a interação social dos cidadãos e seus acessos a recursos de poder.

Resumindo: quando essas estruturas de oportunidade reduzem os custos da participação, haverá mobilização social. O Estado, a partir de normas institucionais do sistema político, tem o pepel de gerar essa ação coletiva indepentende na sociedade. A partir de mudanças institucionais, tais como: cotas para mulheres no legislativo, aumento de financiamento ou destinação de uma percentagem da receita do fundo partidário para a campanha de mulheres, ou, sendo ainda mais otimista, com lista fechada nas eleições proporcionais, com paridade de gênero. Todas essas medidas, de certa forma, reformulam nossas estruturas de oportunidade, reduzem os custos de participação para um determinado grupo social, aqui no caso, mulheres, e fomentaria a participação e inclusão deste grupo no de eleitos.

A sociedade brasileira, fortemente patriarcal, tendo o pai da família e o homem no centro das discussões políticas na sociedade, desde seus primórdios, reserva às mulheres os assuntos do lar e, do século XX pra cá, a realidade da dupla ou até tripla jornada (mãe, dona de casa e trabalhadora). Essa realidade é refletida nas baixas taxas de participação política feminina (hoje, de 513 cadeiras da Câmara dos Deputados, 51 são ocupadas por mulheres e 12 de 81, no Senado). Não é fruto do acaso, muito menos biológico, a ausência de interesse de grande parte das mulheres na política e, sim, fruto da estrutura de oportunidades da sociedade e do campo de disputa de poder que exclui sistematicamente aqueles que possuem menos recursos e acúmulo de capital político e social. Quanto maior for o número de variáveis acumuladas, maior o sucesso eleitoral. Se as mulheres não possuem portas de entrada, dificilmente irão acumular esses capitais, em virtude dos altos custos para tanto. E isso não é uma questão de falta de mérito.

*Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR, pesquisa as relações entre Executivo e Legislativo, partidos políticos e partidos de direita e colaborou com Pragmatismo Político.

13 de setembro de 2015

Tipos de Faceanos e sAppianos. Em qual deles você se enquadra?


Com o advento da internet inúmeras ferramentas de comunicação despontaram. As mais comuns e também as que mais tem tomado tempo de crianças, adolescentes, adultos e até os mais experientes em idades são, sem dúvida, as redes sociais.

Há aquelas que por ser mais simples e de maior envolvimento acabam por consumir quase que o dia inteiro dos internautas, a saber: Facebook e WhatsApp. No entanto, o que mais tem me chamado a atenção são os tipos de usuários conectados nessas duas redes sociais. Elenco abaixo os mais comuns, não necessariamente nessa ordem:


I - Corujão. São aqueles que não vivem sem a conexão. Participam de todos os grupos. Seja por ser adicionado ou por solicitar a participação. Leem de tudo. Mas não emitem opinião sobre nenhum assunto e é raro as vezes que publicam algo;

II -  Babão. Esses são os mais fáceis de se identificar. Estão vinte e quatro horas conectados. Não tem opinião própria e se mete a curtir, comentar e compartilhar algo de seus assemelhados, sem se quer julgar as procedências do que se está lendo;

III - Elitista Neoconservador. Não se enganem. Há pessoas que pensam que esse tipo de internauta inexista. Porém, são muito comuns e lhe damos diariamente com eles/as. São os que se arvoram de um discursos “revolucionário” e de defensores das minorias, mas suas ações e suas publicações colocam em xeque suas convicções, sendo, portando, porta-vozes das classes dominantes;

IV - Elitista não alfabetizado. O que tem de internauta sem o mínimo de conhecimento (não falo de conhecimento relacionado a norma culta) na área não está no gibi. São aqueles que conseguem agregar a falta de jogo de cintura com a mídia, os procedimentos tecnológicos com a ausência de filtração da informações e acabam sendo um mero reprodutor dos grandes veículos de comunicações (Globo, Folha de São Paulo, Veja, Estadão.....) que não tem a mínima preocupação com os grupos às margens do poder. São ainda os reprodutores de clichês. Sua informação e formação é, portanto, midiatizada;

V - Ceticistas. Esses estão cada vez mais em ascensão ante os caminhos que o país está trilhando (fruto, inclusive de um processo histórico. Não se deve ser hipócrita e muito menos despolitizados e acreditar que essa fase ruim é de agora). Por terem tentado mudar algo e não ter conseguido estão nas redes apenas para desopilar de uma rotina estressante;

VI - Politizados. Já esse grupo, ao contrário do último estão em queda constante. Em primeiro lugar, porque encontrar alguém com um nível de politização hoje é como procurar uma agulha em um palheiro pelas condições em que formos formados. Em segundo, porque os poucos que por aqui se encontraram passaram a integrar os ceticistas. Os politizados são aqueles que ainda acreditam que é pelo caminho da informação para gerar formação de opinião e da democratização da mídias que se pode conseguir algo melhor para o pais. Esses preferem dar voz aos setores que sempre foram e estão em condições desumanas. São ainda os que trilham caminhos desconexos com a elite e com o conservadorismo.