Para
marcar o dia nacional de luta pela democratização da comunicação, 18 de
outubro, a campanha “Para expressar a liberdade: uma nova lei para um novo
tempo” foi lançada no Congresso Nacional na última quinta-feira (18) em
audiência pública promovida pela Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão
e o Direito à Comunicação com Participação Popular (Frentecom) e pelo Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).
Rosane
Bertotti, presidenta do FNDC, considerou que legislação brasileira para as
comunicações é incompatível com a história recente do Brasil, de aprofundamento
da democracia e de conquistas sociais. “Tivemos diversos avanços na democracia,
com um operário e uma mulher chegando à presidência, tiramos milhões da
pobreza, mas a comunicação desse país ainda continua arcaica”.
Este
ano, o Código Brasileiro de Telecomunicações, que rege o funcionamento de
rádios e TVs, completou 50 anos, apesar de todas as mudanças políticas,
sociais, econômicas e tecnológicas vividas pela sociedade brasileira nas
últimas cinco décadas.
O
clima da audiência foi de cobrança. “Esse debate tem sido feito pelo movimento
social e por poucas vozes dentro do governo federal. São muito poucos, acho que
podemos contar em uma mão”, criticou Bertotti, que também cobrou o Marco
Regulatório das Comunicações, cujo projeto de lei foi deixado pelo governo Lula
e para o qual o atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, já prometeu
diversas vezes submeter à consulta pública.
“O
Congresso que tem que responder por isso. Precisa ser pressionado e
sensibilizado para que assuma a sua parte da responsabilidade”, acrescentou a
deputa Luiza Erundina (PSB-SP).
O
dirigente do MST, Alexandre Conceição, classificou como “inadmissível” o fato
da presidência da República, além de não combater a concentração dos veículos
de comunicação, ainda destinar com 70% de sua verba publicitária aos maiores
grupos de mídia e maiores responsáveis pela criminalização dos movimentos
sociais perante a opinião pública.
O
diretor do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, Jonas Valente,
destacou que o famoso slogan de Lula, “a esperança venceu o medo”, não chegou
às políticas públicas de comunicação. “Ainda estamos numa batalha para o
governo soltar uma consulta pública para que, talvez um dia, possa virar um
projeto de lei que, talvez um dia, possa ser aprovado por essa casa” protestou,
acrescentando que, enquanto ministro Paulo Bernardo é eleito homem do ano pelas
empresas de telecomunicações, o seu ministério não enviou ninguém para
acompanhar a audiência.
Diversas
intervenções lembraram que a atuação nociva do oligopólio midiático na
cobertura julgamento do chamado “mensalão”. “Estamos num caso patente onde os
meios não tentam só agendar os governos ou parlamentos, mas o judiciário” disse
Valente. “A gente fica tão refém dessas forças como a pauta do STF que se
submete totalmente a uma agenda de uma mídia dominada por interesses que não
são os reais do povo brasileiro. Não que não haja um clamor para que nosso
governo e instituições tenham cada vez mais transparência e lisura, mas pelo
processo de carnavalização e espetacularização que assumiu a cobertura, com
propósitos absolutamente eleitorais”, acrescentou Sergio Mamberti, secretário
de políticas culturais do Ministério da Cultura.
O
deputado Jean Willys (PSOL-RJ) acentuou que a atual falta de controle sobre a
mídia dá espaço para, por exemplo, a sublocação de espaços nas TVs para
religiões atacarem outras crenças e ainda difundirem mentiras. “E a ideia de
controle social das mídias é censura tem sido usada [pelos grandes veículos]
para gerar um pânico. Nada mais é do que uma estratégia de impedir o debate”,
disse.
Com
esse discurso, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) tem se articulado
para evitar a ascensão de legislações mais rígidas e descentralizadoras para o
setor, como é o caso recente da Argentina.
Reunidos
em congresso esta semana em São Paulo, Judith Brito, presidenta da Associação
Nacional de Jornais, disse que “democratização da comunicação é eufemismo para
censura”. “Aquela entidade conservadora que deu sustentação as ditaduras do
continente agora vem atacando a democratização”, disse Erundina, que também
saudou Dilma Rousseff por ter se recusado a participar do evento.
A
representante da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema
Político, Eliana Magalhães, afirmou que todo o trabalho pela reforma política
não pode estar dissociado da democratização da comunicação. “É a questão do
poder, estamos batalhando para democratizar o poder nesse país (...)A concepção
da plataforma vai além do sistema eleitoral para democratizar todos os
processos e espaços de decisão, onde se exerce o poder nesse país”, concluiu.
Ao
final da audiência pública, os presentes foram convocados pelo FDNC para se
dirigir até o Ministério das Comunicações e fincarem cartazes da campanha “Para
expressar a liberdade: uma nova lei para um novo tempo”.
Fonte: Carta Maior