No
mundo da política, ano eleitoral é um período de abraços e apertos de mão, que
selam acordos e alianças políticas dos mais variados tipos provocadas por uma
multiplicidade de motivos (busca de cargos, decisões tomadas pela cúpula
nacional e estadual do partido, interesses individuais das lideranças
partidárias em obter recursos de poder etc.). Alianças unem partidos e
lideranças políticas, fortalecendo candidaturas. Contudo, nem sempre tais
acordos são selados com base em questões programáticas. Na política, óleo e
água podem se misturar e se apresentar sob um só rótulo. Questões programáticas
podem ser deixadas de lado e rixas políticas antigas podem virar apenas
longínquas recordações de um passado de disputas ideológicas.
Talvez,
estejamos falando da própria dinâmica que a política brasileira tem assumido
nos últimos anos, que tem levado à formação das mais variadas alianças, mesmo
que essas possam unir partidos e lideranças apenas durante o período eleitoral,
ou seja, somente visando fins eleitoreiros. A estratégia dos partidos tem sido
cada vez mais pragmática, visando a angariação de apoio político, da aquisição
de maior tempo no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) e de mais
recursos políticos e econômicos para as candidaturas. Estratégias
exclusivamente programáticas parecem ter perdido espaço numa dinâmica em que as
eleições majoritárias se mostram acirradas e, consequentemente, dependentes do
estabelecimento de acordos com os mais variados atores políticos.
Assistimos
ao estabelecimento da aliança PT-PP nas eleições de São Paulo. Nada teria de
estranho na coligação entre os dois partidos, já que os mesmos são aliados no
nível federal e tem replicado a mesma aliança em outras regiões do país. Porém,
em São Paulo não houve a união apenas dos dois partidos, mas também de
lideranças políticas que, no mundo da política programática, nunca dialogaram:
Paulo Maluf e Lula. A imagem que sela o acordo entre PT e PP (Lula apertando a
mão de Maluf), também expõe o modo como acordos tem sido estabelecidas na arena
eleitoral, ou seja, visando a conquista de maior base eleitoral e mais recursos
políticos e econômicos para a campanha eleitoral.
Paulo
Maluf obteve 497.203 votos para deputado federal nas eleições de 2010. Foi o
terceiro candidato mais bem votado no estado de São Paulo. Só na capital
paulista, conquistou 275.735 votos, ou seja, 55,45% do total de votos
conquistados por ele. Maluf, apesar de ser uma liderança decadente, ainda
possui uma base eleitoral significativa. Ao se aliar ao PP e ao Maluf, a
estratégia petista em São Paulo não visa apenas obter uns minutos a mais no
HGPE, mas sim busca atingir o eleitorado malufista da capital paulista. A
coligação que une PP e PT pode, assim, potencializar a candidatura de Fernando
Haddad à Prefeitura de São Paulo. Ao firmar essa aliança, o PT paulistano busca
pragmaticamente ampliar a base eleitoral de sua candidatura, mesmo que suas
principais lideranças tenham um claro descompasso em suas trajetórias
políticas.
Partidos
que buscam a vitória no mercado eleitoral, como o PT, tem abandonado a
inflexibilidade no estabelecimento de alianças. Velhas lideranças
oposicionistas têm se aliado aos petistas, tem participado de governos do PT e
este tem contado com seus apoios tanto nas eleições quanto no estabelecimento
de coalizões de governo. A flexibilidade dos partidos na construção de alianças
tem sido fruto do acirramento das disputas eleitorais e da necessidade que os
partidos têm em obter postos estratégicos, como o caso da Prefeitura de São
Paulo. Ademais, a flexibilidade dos partidos também tem possibilitado a
construção de coalizões de governo que incluem uma série de aliados políticos,
garantindo, assim, a governabilidade.
Então,
se em termos de governabilidade o sistema político brasileiro vai bem, então, o
que diremos em termos programáticos? Ou não há mais diferenças ideológicas
marcantes entre os partidos, existindo apenas uma agenda governista e outra
oposicionista, isto é, separados apenas pelo fato de ocupar ou não o poder
político? De fato, essas diferenças têm diminuído e as grandes questões que
dividiam os partidos durante a década de 1980 e 1990 tem se diluído com a
avalanche governista.
Em
termos práticos, o sistema funciona: alianças e coligações são estabelecidas,
candidatos ganham e outros são derrotados, lideranças surgem e outras perdem
espaço, leis são votadas e aprovadas e mandatos são cumpridos no tempo
determinado pela Constituição. A política institucional, então, passa a ser
entendida como um jogo de xadrez e as eleições se resumem apenas ao
estabelecimento de acordos pragmáticos pelos partidos na tentativa de conquista
do poder político. Se essa for apenas uma relação entre instituições, compostas
de normas e procedimentos, e de atores políticos, que traçam estratégias e
realizam cálculos pela busca do poder, estamos bem. Caso contrário, precisamos
repensá-la.