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A civilização ocidental e cristã, uma das obras que despertou a ira de Bergoglio (Papa Francisco) |
Maior
artista plástico da Argentina, León Ferrari morreu na última quinta-feira 25,
enquanto o papa Francisco, que espalhou ódio contra sua obra, passeava pelo
Brasil criticando políticas progressistas, como a descriminalização das drogas.
A
opinião de Bergoglio sobre Ferrari destoava daquela dada pelo resto do mundo ao
seu conterrâneo. Para o New York Times, ele era um dos cinco maiores artistas
vivos do mundo. Do júri da Bienal de Veneza, Ferrari recebeu seu prêmio
principal em 2007, honraria única para alguém do seu país. A Arco, uma das
principais feiras de arte do mundo, considerou-o o melhor artista internacional
vivo em 2010.
Antes
de ser o papa Francisco, porém, Bergoglio pediu aos católicos uma “jornada de
jejum e orações” contra a obra de Ferrari em 2004. Quando era arcebispo de
Buenos Aires, o religioso apelou para que uma retrospectiva de Ferrari no
Centro Cultural Recoleta fosse fechada. Ele não aceitava que obras
questionadoras do catolicismo viessem ao público. Entre elas, a de Jesus Cristo
crucificado sob um avião carregado de bombas (La civilización occidental y
cristiana, que remete à guerra do Vietnã). Outra escultura representava o
inferno tomado por santos.
Bergoglio
chamou os fiéis, em uma carta, para irem às ruas contra as obras de Ferrari, já
que ele era um “um blasfemo”. Como resultado, manifestações diárias fizeram a
exposição ser vetada diversas vezes.
Graças aos chamados, católicos destruíram
parte de suas obras e o centro cultural sofreu quatro ameaças de bomba. A exposição
terminou antes do previsto, a pedido de Ferrari, preocupado com a segurança dos
funcionários do museu e das suas obras. A perseguição não era novidade para o
artista. Durante a ditadura argentina, teve de morar no Brasil a partir de
1976. Só retornou ao país que o expulsara nos anos 90.
Na
época de sua retrospectiva, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Ferrari
disse: "o problema que tenho com Bergoglio é que ele acha que as pessoas
que não pensam como ele devem ser castigadas, condenadas. E eu penso que
ninguém, nem sequer ele, deve ser castigado."
Como
Ferrari deixa claro, não seria necessário que Francisco gostasse da sua obra. O
problema é que ele usou sua posição de poder para incitar o ódio contra um
artista que critica o cristianismo, além de tentar impedir a liberdade de
crítica.
Veja também:
Via
Carta Capital