O
Dia Internacional de Lembrança do Tráfico de Escravos e de sua Abolição é
particularmente significativo em 2014, aniversário de 210 anos da independência
do Haiti e aniversário de 20 anos do programa educacional e cultural Projeto
Rota de Escravos da UNESCO, um projeto pioneiro que ajudou a acelerar pesquisas
e propagar o conhecimento sobre a história da escravidão e suas consequências.
A
história do tráfico de escravos registra não somente seu sofrimento mas também
sua luta vitoriosa pela liberdade e pelos direitos humanos, simbolizada pela
insurreição de escravos de São Domingos da noite de 22 para 23 de agosto de
1971. Essa luta reforça a consciência sobre a igualdade de todos os homens e
mulheres que é herança direta de todos.
Essa
visão emancipatória deve servir de guia aos nossos esforços em prol de
construir uma cultura de tolerância e respeito. Os programas educacionais e
culturais da UNESCO e seu apoio a pesquisas históricas têm por objetivo
destacar a riqueza das tradições produzidas pelos povos africanos em meio à
adversidade – na arte, na música, na dança e na cultura de maneira geral –, criando laços indissolúveis entre
povos e continentes e transformando irreversivelmente a cara da sociedade. Essa
herança tem valor inestimável para uma vida pacífica em nosso mundo globalizado
às vésperas da Década Internacional para os Povos de Ascendência Africana
(2015-2024).
A
transmissão dessa história é condição essencial para uma paz duradoura baseada
na compreensão mútua entre povos e na plena consciência dos perigos do racismo
e do preconceito. Ela também nos ajuda a continuar nossa mobilização contra
formas modernas de escravidão e tráfico de pessoas que ainda afetam mais de 20
milhões de pessoas em todo o mundo.
Leal
às palavras de Aimé Césaire, que disse, sobre a Cidadela no Haiti: “a essas
pessoas, obrigadas a se ajoelhar, urgia um monumento para que se erguessem”, a
UNESCO contribui ativamente com o projeto de um Memorial Permanente à Lembrança
das Vítimas da Escravidão e do Tráfico Transatlântico de Escravos, a ser
estabelecido na sede das Nações Unidas.
Conclamo
os países-membros e os parceiros da UNESCO em escolas, universidades, na mídia,
nos museus e nos lugares de memória a observar este Dia Internacional e a
dobrar seus esforços para garantir que o papel feito pelos escravos na
conquista do reconhecimento de direitos humanos universais seja conhecido mais
a fundo e mais amplamente disseminado.