Movimento Indígena no Ceará sofreu um apagamento histórico e ainda sofrem com a regulação fundiária de suas terras. (Foto: Reprodução). |
A
expansão colonialista portuguesa na região Nordeste do Brasil foi um processo
sangrento de intensos confrontos entre os invasores portugueses e os diversos
povos indígenas que habitavam essa região. Esses conflitos ficaram conhecidos
como a Guerra dos Bárbaros, um dos episódios mais violentos de nossa história,
como também um dos mais longos, ocorrido de 1651 até 1704. Os interesses dos
portugueses na região Nordeste se davam devido à ânsia por conseguir mais
terras para as fazendas de gado. A expansão da pecuária foi dificultada devido
à resistência dos povos indígenas.
A
“solução” encontrada pelos invasores foi um verdadeiro genocídio, iniciado a
partir de 1651, com um processo de extermínio da população nativa para “limpar”
as terras para a expansão da pecuária, o que resultou na dizimação e na
desestruturação de vários povos dessa região.
Porém,
a história não acaba aqui. Os indígenas que sobreviveram ao genocídio
permanecem firmes e fortes na luta por seus direitos, por suas terras e contra
o massacre que, infelizmente, não é apenas um episódio do passado, mas algo que
continua ocorrendo nos dias atuais.
No
Estado do Ceará são 14 etnias dos povos indígenas, espalhados por 18
municípios. São os povos Anacé, Gavião, Jenipapo-Kanindé, Kalabaça, Kanindé,
Kariri, Pitaguary, Potiguara, Tapeba, Tabajara, Tapuia-Kariri, Tremembé,
Tubiba-Tapuia e Tupinambá. Eles vivem ao pé da serra, na Região Metropolitana
de Fortaleza, e no Sertão. Continuam celebrando a memória dos seus
antepassados, educando as crianças por meio de escolas indígenas,
organizando-se enquanto etnias sobreviventes e resistindo contra os massacres
dos seus povos.
Os
indígenas do Ceará vivem uma dura realidade. O cacique Climério, 22 anos, da
etnia Anacé, afirma que a maior dificuldade é a regulação fundiária, pois seu
território fica às margens das grandes praias e, devido a isso, a especulação
imobiliária é muito grande. “Lutamos contra o ramo hoteleiro, o desmatamento, o
turismo desenfreado dentro do nosso território por parte das grandes empresas e
a maior parte dessas dificuldades vêm por conta do próprio Estado.
O
movimento indígena tem adotado várias medidas de resistência, as retomadas de
terra, acessar a Defensoria Pública, o Ministério Público, e fazendo o
enfrentamento jurídico porque a gente sabe que no governo fascista o
enfrentamento corpo a corpo se torna muito pesado. Nosso povo já foi muito
massacrado e, por isso, está iniciando a campanha do Acampamento Terra Livre,
que é a maior instância de representatividade dos povos indígenas no Brasil, no
qual a gente vai traçar estratégias de como nos organizarmos para esse
enfrentamento, finaliza.
Essa
realidade não é diferente de Isaías, um jovem Jenipapo-Kanindé, de 18 anos. “A
nossa dificuldade maior é a nossa resistência. No mundo atual, nós indígenas
precisamos falar para nossa própria sobrevivência. Anos atrás, para
sobrevivermos tivemos que calar nossa voz, mas agora, para sobrevivermos,
precisamos mostrar pro mundo que nós somos indígenas, mesmo com as nossas
diferenças: não somos iguais aos índios da Amazônia, mas também enfrentamos
nossas próprias dificuldades, como o preconceito das pessoas que têm uma visão
estereotipada dos povos indígenas, que quando veem um índio com celular falam
‘é português aquele índio?’. Nós temos que nos adaptar ao mundo atual até para
poder enfrentar melhor essa luta pela demarcação das nossas terras. Nós somos
guerreiros por nos identificarmos e queremos mostrar para a população do Ceará
e do Brasil que ainda que tem índio e que os índios resistem”, declara Isaías.
A
batalha continua e a luta dos povos indígenas representa também a luta contra o
latifúndio, contra as grandes empresas capitalistas, contra a propriedade
privada.
__________
Texto de Claudiane Lopes e Haroldo Neto,
originalmente com o título “A luta dos povos indígenas no Ceará” no A Verdade.
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