Estudantes durante atividades da Rádio Livre no pátio da URCA. (FOTO/ Reprodução/ WhatsApp). |
Por Nicolau Neto, editor
A
Rádio Livre Universitária é um projeto cultural que tem como principal
instrumento a comunicação. É uma grande movimentação cultural desenvolvida
dentro da Universidade Regional do Cariri (URCA), campus pimenta, em Crato e
foi idealizada pelo professor do departamento de Ciências Sociais, o Dr. Carlos
Alberto Tolovi.
Nesta
sexta-feira, 18, Dia Nacional de Combate ao Racismo, houve mais uma atividade
cultural com o tema “Consciência Negra”.
Que tal conhecer melhor como tudo isso nasceu? Vamos ao artigo construído por Tolovi e por quatro universitários/as:
·
RÁDIO LIVRE
UNIVERSITÁRIA
·
Carlos
Alberto Tolovi [1]
·
Angélica Nayana Gomes
Gonçalves[2]
·
José Ferreira Neto[3]
·
Hugo Leonardo Santos
Silva[4]
·
Rafael
Almeida De Oliveira Rocha[5]
RESUMO
O programa de extensão Rádio Livre
Universitária consiste em um movimento que se caracteriza por três dimensões
fundamentais: política, educativa e cultural. Seu principal objetivo é a
construção de uma rede de comunicação com capacidade de extrapolar os
compartimentos estanques e fragmentados que separam estudantes, professores e
funcionários dentro da mesma instituição, separando também esta da comunidade
externa. Dentro do método dialógico esta rede começa na conexão entre os
estudantes, com representantes de todas as salas de aula, passa para os professores,
em conexão com seus Cursos e Departamentos, convidando-os a participar do
movimento que se divide em duas estratégias: a) programas temáticos e
educativos gravados semanalmente, tendo professores e estudantes como os
principais protagonistas; b) a “Rádio
Livre em Movimento”, com programas temáticos ao ar livre, realizados todas as
sextas feiras, no horário dos intervalos, com músicas e poesias, contando com o
protagonismo dos membros da comunidade
acadêmica e da comunidade externa. Esse movimento nasce nos Campus da
Universidade, se transforma em uma Escola de comunicação agindo na rede interna
e faz conexão com uma rede de rádios livres que retransmitem os programas
gravados, fazendo as provocações em torno dos temas educativos chegarem às
comunidades circunvizinhas da Região do Cariri. E é no espaço da Rádio Livre em
Movimento que membros dos mais diversos movimentos da Sociedade Civil
Organizada são convidados à participarem efetivamente, trazendo seus talentos
para dentro da Universidade.
PALAVRAS-CHAVE: Rádio. Livre. Rede. Comunicação. Movimento.
ABSTRACT
FREE UNIVERSITY RADIO
The Rádio Livre
Universitária extension program consists of a movement characterized by three
fundamental dimensions: political, educational and cultural. Its main objective
is the construction of a communication network capable of extrapolating the
watertight and fragmented compartments that separate students, professors and
employees within the same institution, also separating it from the external
community. Within the dialogic method, this network begins with the connection
between students, with representatives from all classrooms, passes to
professors, in connection with their Courses and Departments, inviting them to
participate in the movement that is divided into two strategies: the ) thematic
and educational programs recorded weekly, with teachers and students as the
main protagonists; b) “Rádio Livre em moviment”, with outdoor themed programs,
held every Friday, at break times, with music and poetry, with the protagonism
of members of the academic community and the external community. This movement
is born on the University Campus, becomes a Communication School acting on the
internal network and makes connection with a network of free radios that
retransmit the recorded programs, making the provocations around the educational
theme reach the surrounding communities of the Cariri Region. . And it is in
the Rádio Livre em Movimento space that members of the most diverse movements of
Organized Civil Society are invited to participate effectively, bringing their
talents into the University.
KEYWORDS: Radio. Free. Network. Communication. Movement.
1.
INTRODUÇÃO
Atualmente, no Brasil, as instituições de ensino público
estão vivendo uma situação profundamente delicada. Em um contexto onde a
educação brasileira está em disputa, dentro da histórica e acirrada luta de
classes na qual estamos inseridos, as Universidades públicas passaram a ser classificadas
pelas correntes ideológicas de extrema direita, como instituições que ameaçam a
“ordem pública” e o sistema hegemônico. Portanto, o projeto político de
privatização da educação ganhou força neste último governo – 2018 - 2022.
Diante deste contexto, como estão reagindo as comunidades
acadêmicas? De que forma a classe menos favorecida financeiramente percebem o
curso desta “tragédia anunciada”? Como professores e estudantes estão se
organizando e se articulando para resistirem a mais essa avalanche de
retrocesso, dentro de um “pacote” de retirada de direitos muito mais amplo?
Na realidade, a crise de paradigmas libertários que atingiu
historicamente todas as classes organizadas da América latina, abalou também os
movimentos docentes e discentes das Instituições de Ensino Superior no Brasil.
Neste contexto, encontramos diversos grupos organizados como
focos de resistência ao desmonte das Universidades, porém, completamente
fragmentados, isolados, e sem poder de mobilização. Além da fragmentação por
áreas de conhecimento, que não se cruzam e nem dialogam dentro de um mesmo
Campus, também temos clareza de nossa fragilidade no sentido da mobilização
coletiva em defesa da Universidade e do ensino público de qualidade. Uma realidade que não pode ser apenas
justificada pelo cenário nacional em que vivemos atualmente. Faz-se necessário
pensarmos e repensarmos estratégias, métodos e táticas para o enfrentamento da
mesma, a partir de uma práxis concreta.
Os grupos organizados, sem um método
dialógico e interativo, sem um trabalho de base, com periodicidade e
sistematização, sem uma proposta agregadora, não representam nenhuma ameaça
para os mantenedores da ordem hegemônica constituída. Dentro da Universidade,
por mais que nossas teorias questionem a realidade, as nossas práticas
fortalecem a estrutura de poder que muitas vezes desejamos combater. Afinal,
onde nós, da comunidade acadêmica, nos encontramos de fato? Formamos,
realmente, uma comunidade ou nos juntamos para garantir a funcionalidade de uma
estrutura já pré-estabelecida? Mas, afinal, porque
nós, que fazemos parte dessa estrutura fragmentada e “engessada”, que não
permite que nos encontremos para além de nossas funções específicas, não temos
consciência dessa realidade? E se não temos consciência da
mesma, como poderíamos superá-la? “Como
afirma Paulo Freire: o ato de conhecer envolve fundamentalmente o tornar presente
o mundo para a consciência” (ALENCAR, 2006, p.264). Portanto, precisamos
provocar reflexão e debate em torno dessa realidade concreta na qual estamos
inseridos.
É fácil para um intelectual dizer aos trabalhadores e
trabalhadoras, ou mesmo aos seus filhos e filhas, o que devem fazer para mudar
a sua realidade. Difícil é conseguir dialogar com estes e estas, despertando a
sua consciência crítica a partir de uma reflexão acessível. É fácil falar para, difícil mesmo é dialogar com, dando voz e gerando protagonismo
para que possam compreender a sua própria realidade, para além dos limites da
alienação que os envolvem e que os tornam indiferentes frente a um mecanismo
sacrificial no qual eles e elas estão inseridos/as.
Isso não serviria também para nós? Será que nós mesmos, não
estaríamos inseridos em uma determinada “caverna”[6],
acostumados com as sombras? Aliás, será que nós não seríamos os especialistas
buscando interpretar as sombras para os demais habitantes da caverna? Não
estaríamos nós também acorrentados no senso comum de uma alienação coletiva?
Não seríamos nós, sem saber e perceber, hospedeiros do opressor[7],
através de nossas práticas conservadoras?
E se é difícil para os integrantes da comunidade acadêmica
romper os compartimentos fragmentados que separam os sujeitos nos limites
institucionais, transformando-os em “cumpridores” de tarefas, regras e normas,
mais difícil ainda é romper os compartimentos que separam a Universidade da
comunidade na qual a mesma está inserida. Se internamente os professores e
estudantes se separam por suas salas de aula, suas disciplinas, seus cursos,
departamentos, etc., externamente a Universidade, em grande parte, representa
uma “ilha” isolada da realidade e da vida concreta onde os sujeitos que a
compõem estão inseridos. Contudo, como dialogar com quem está “fora” se não
conseguimos abrir espaços de diálogo com os que estão “dentro”? Enquanto os
professores estão preocupados em ministrar suas aulas e repassar seus conteúdos,
os estudantes, definidos como “alunos”, estão preocupados em responder as
exigências dos mesmos, com suas aprovações nos limites de suas “grades”,
“pagando” suas “cadeiras”, sem qualquer outro envolvimento com a defesa de
políticas públicas em favor da coletividade. A própria linguagem do campo
acadêmico revela as limitações de nossa visão de mundo. Denuncia a pobreza de
nossa cultura. Ainda cultivamos valores colonialistas instituídos por uma
cultura hegemônica, presentes em nossa linguagem.
Mas se, para modificar uma realidade concreta precisamos
mudar a percepção da mesma, definindo um método de atuação, gerando novas
formas de interação, o que fazer para produzir essa mudança?
Sequeremos modificar algumas referências culturais é preciso
apresentar outros referenciais. Se as “grades”, “cadeiras” e “disciplinas” nos
separam como “alunos”, professores e funcionários, em nossa própria comunidade,
precisamos encontrar pontos de rompimento dessa estrutura para abrirmos espaços
de encontros dialógicos. Afinal, faz-se necessário construirmos outra concepção
de “Universidade”. Não mais pela soma de “universos” separados, estanques,
distintos e fragmentados. Mas um “universo” que busque e promova a unidade para
que possamos, de fato, nos sentirmos comunidade.
Contudo, se a nossa separação e fragmentação se deu
historicamente por meio de uma concepção cartesiana, precisamos de outro
método, somado à novas estratégias para modificarmos o que está posto e
cultivado culturalmente. O lugar da seriedade epistemológica não deveria matar
o prazer do encontro dialógico. O lugar das grandes teorias não deveria estar
separado de uma prática concreta, começando pelo nosso ambiente de trabalho,
abrindo portas para nos relacionarmos com a comunidade externa.
Mas o que estaria faltando para que professores e estudantes
pudessem fazer renascer o “espírito” dos grandes movimentos revolucionários e
libertários, fazendo a “esperança passiva” se transformar no “esperançar”
freiriano? Como afirma o nosso Patrono da Educação, “Movo-me na
esperança enquanto luto e, se luto com esperança, espero (FRERE, 1983 , p. 97).
Entre
os/as discentes e docentes da Universidade Regional do Cariri potencial é o que
não falta. Desejo de mudanças também não. No entanto, o que estamos fazendo de
concreto para despertar e articular todas estas forças na busca de uma
alternativa eficiente que represente uma base de sustentação de todos os
movimentos de reivindicação e de resistência? E se nós tivéssemos um projeto
educativo bem definido onde pudéssemos catalisar as forças e a criatividade das
principais lideranças desta instituição, despertando novos líderes, tendo como
objetivo o despertar da consciência crítica de educadores e educandos e
funcionários, com relação a importância do seu protagonismo, não estaríamos nós
mesmos fazendo a nossa parte nesse processo?
Mais
do que nunca, sabemos que não basta nossa crítica teórica. Precisamos
possibilitar formas de participação e interação, dando às pessoas poder de
expressão, na condição de sujeitos e não apenas de reprodutoras das ideias
prontas e acabadas.
Contudo, o que poderia possibilitar esta mobilização, tendo
em vista a união dos grupos de resistência, gerando um processo de
empoderamento da comunidade acadêmica?
Entendemos que se faz necessário uma proposta que possa
agregar os que são de luta e receber adesão dos que não possuem voz e precisam
ser provocados, percebidos e valorizados, para buscarem a sua emancipação.
Precisamos desencadear um processo de politização em nosso ambiente acadêmico.
É
nesta perspectiva que apresentamos o projeto “Radio Livre Universitária” – que
atualmente é um Programa de Extensão.
Rádio Livre em Movimento
A Rádio Livre Universitária: abrindo “portas” para o diálogo
Nós
sabemos que um Programa de Extensão precisa comportar uma proposta agregadora,
em uma perspectiva de curto, médio e longo prazo. Deve ser pensado de forma
sistemática e periódica. Levando em conta os desafios do processo em uma práxis
sempre relacionada ao ensino e à pesquisa. Construindo “pontes” entre a
comunidade universitária e a comunidade que abrange a Universidade. Nesse
sentido, dois conceitos se colocam como paradigmáticos e desafiadores: a práxis
e a dialogicidade.
No
campo da práxis o grande desafio consiste em levar as nossas teorias estudadas
no interior das nossas salas de aula para fora dos “muros” da Universidade,
gerando envolvimento e impactando pessoas e comunidades nessa relação. Porém, a
grande questão é que, nem sempre que professores e estudantes saem de seus
espaços acadêmicos institucionais para irem ao encontro de realidades e pessoas
que estão fora desse “lugar” da compreensão teórica, tomam estes e estas como
sujeitos em um encontro dialógico. O que nos lembra Martin Buber, quando nos
lembra que os seres humanos habitam em um mundo constituído por dois tipos de
relações: Eu – Tu e Eu – Isso. Dessa forma, sempre que a relação se constitui
por alguma forma de objetivação (objetivo ou objeto) ela acontece na
perspectiva Eu-isso. E nessa relação o outro não assume o “lugar” de sujeito,
mas de objeto. Eu preciso dele para desenvolver a minha ação.
Como afirma Buber, “Aquele
que diz Tu não tem coisa alguma por objeto. Pois, onde há uma coisa há também
outra coisa; cada Isso é limitado por outro Isso; o Isso só existe na medida em
que é limitado por outro Isso. Na medida em que se profere o Tu, coisa alguma
existe. O Tu não se confina a nada (1974, p.44).
O que buscamos quando
propomos um projeto de extensão? O que levamos quando saímos de nossos “muros”
epistemológicos no campo da teoria para o campo da prática? Com quem nos
encontramos? Com sujeitos ou objetos de nossa ação? Com o Tu ou com o Isso?
A grande “magia” de
um projeto ou programa de extensão consiste no encontro que possibilita
vivências, troca de experiências, que extrapolam as objetivações. Precisamos da
teoria? Precisamos ter clareza dos nossos objetivos? Precisamos de um método
bem definido? Certamente que sim! Tudo isso está no campo da objetivação,
indispensável na extensão. Porém, consiste em mediação para o encontro. É no
encontro que acontece a relação Eu-Tu. É no encontro que ocorre a relação de
Alteridade.
Mas, como a Rádio Livre se posiciona dentro desse desafio?
a)
Programas temáticos e educativos
gravados
A Rádio
Livre se propõe e vem executando a gravação de programas, com a participação de
professores, estudantes e membros da comunidade externa, em torno de diversos
temas transversais, que possibilitam uma reflexão comum dentro da comunidade
acadêmica e fora dela. Esses programas são semanais, elaborados para serem
veiculados na Rede, construída dialogicamente. Essa rede é formada basicamente
por quatro categorias: estudantes, professores, funcionários e outras rádios
livres da Região do Cariri[8].
Com
os estudantes formamos a Rede por meio de duas movimentações: representantes de
salas de aula, que recebem os programas gravados e repassam para as suas turmas;
e os Centros Acadêmicos (CAs), que se articulam com os estudantes na forma de
movimento estudantil.
Com
os professores a articulação se dá através dos Departamentos. Os professores
recebem os programas gravados e repassam para as suas turmas, em seus
respectivos cursos.
Dessa forma procuramos romper as “caixinhas” epistemológicas nas quais estamos inseridos e isolados, dentro da Universidade. Porém, um outro desafio consiste em extrapolar os “muros” da instituição. Por isso é que buscamos a construção de uma Rede de Rádios Livres e Comunitárias para abrirmos “portas” e “janelas” de interação e diálogo com a comunidade. Atualmente nós temos a Rádio Literária Carrapato, a Rádio Cafundó e a Rádio Altaneira FM retransmitindo os nossos programas semanalmente.[9]
b)
Programas
ao ar livre – “Rádio Livre em Movimento”
Enquanto nos programas gravados nos
encontramos para a produção dos mesmos – no campo da reflexão teórica –, nos
programas ao vivo nos encontramos para partilhar a alegria e a energia que
nossos corpos emanam, na relação interpessoal, vibrando na freqüência de
músicas e poesias executadas por professores, estudantes, funcionários e
membros da comunidade externa.
Estes acontecem também semanalmente
– nas sextas feiras –, no horário do intervalo, dentro dos Campus, em lugares
alternados.
Também são programas que desenvolvem
temas educativos, com caráter transversal, propostos por membros das próprias
comunidades – interna e externa.
Em torno do tema são construídos
roteiros, incluindo apresentações artísticas com músicas e poesias, onde
professores e estudantes se encontram dialogicamente, fora de suas “amarras” formais,
burocráticas e institucionais. Saem do campo do Eu-Isso e entram na relação
Eu-Tu. Onde todos são protagonistas. O mesmo ocorre com relação à comunidade
externa, constantemente convidada para realizar apresentações, representando
suas conexões na sociedade civil organizada.
Atualmente, através dessa
metodologia, por meio dos programas gravados conseguimos atingir praticamente
todos os estudantes, em todos os cursos, por meio de suas salas de aula. Por
meio dos Departamentos, buscamos chegar aos professores. E pelas Rádios,
articuladas em rede, nossa proposta chega à lugares que são impossíveis de
mapear. Pois estas estão conectadas na internet, fazendo com que nossos
programas temáticos cheguem à qualquer lugar região do Brasil. O que torna
impossível mensurar o número de pessoas que o nosso projeto atinge. Porém, o
mais importante é saber que já temos em funcionamento duas redes que nos
possibilitam interação, reflexão e diálogo com a parte de dentro e de fora da
Universidade.
Rádio Livre em Movimento
2. PRINCÍPIOS NORTEADORES
A denominação “Rádio Livre” não se refere à ideia de que esta seja totalmente aberta para veiculação de qualquer tema, qualquer notícia, qualquer ideologia. A nossa rádio se caracteriza como livre do ponto de vista das instituições de controle. O seu funcionamento não depende da liberação das instituições de controle, por exemplo. Não passa pelo crivo regulador do Estado, do município ou mesmo da instituição na qual esta está inserida. Justamente por isso é que tomamos o cuidado de compor uma comissão formada por professores e estudantes, tendo em vista a construção coletiva de princípios norteadores para o funcionamento da Rádio Livre. Por meio destes buscamos uma fundamentação racional, com pretensão de “universalidade” na perspectiva da máxima inclusão. Isso define também o caráter ideológico do projeto que se caracteriza como sendo um movimento político, educativo e cultural, com potencialidade de extrapolar os limites de nossas salas de aula e atingir, ao mesmo tempo, toda a nossa comunidade acadêmica e a comunidade externa.
a)
A Rádio
Livre é um instrumento de comunicação educativa alternativa, constituída de
forma democrática do ponto de vista da participação e do empoderamento
coletivo.
b) Um meio de comunicação que respeita a diversidade,
levando em conta as dimensões de identidade de gênero, orientação sexual e
étnico-racial, e que, portanto, estará veiculando músicas de conteúdos
educativos que favoreçam essa compreensão.
c) Um meio de comunicação caracterizado também pela
diversidade política, social e cultural, mas com uma delimitação ideológica:
programas que se coloquem em defesa dos direitos humanos, principalmente
levando em conta as minorias no campo das relações de poder.
d) Uma rádio que, por atingir pessoas dos mais
variados credos, se caracteriza por ser laica, com programas temáticos voltados
às dimensões política, social, educativa e cultural.
e) Uma rádio que deverá servir como instrumento
educativo no processo educacional da comunidade acadêmica.
f) Uma rádio que nasce na forma de mobilização e que
pretende fortalecer os grupos organizados politicamente.
g) Uma rádio que abrirá espaços somente para programas
temáticos preparados e apresentados por equipes, passando antes por orientações.
h) Uma rádio que pretende ser inclusiva e aberta para
grupos organizados também fora da Universidade, na qual professores, professoras
e estudantes atuarão como intermediadores abrindo espaço para a participação da
comunidade externa.
i) Uma rádio que atingirá, no mesmo instante, um
grande número de pessoas dentro de um mesmo espaço geográfico, tendo a arte e a
cultura como mediações para reflexões críticas e formativas. Portanto, um
instrumento que exige grande responsabilidade.
j) Uma rádio que opta ideologicamente pela defesa dos
direitos humanos, propondo reflexão crítica em processos de organização e
empoderamento, é também uma rádio política, que abrirá espaço para todos os militantes
sociais organizades. Contudo, é também um espaço que deverá ser preservado de
ações conectadas à qualquer tipo de política partidária.
k) Dentre os representantes que fazem parte do
processo de construção da Rádio Livre serão escolhidos pessoas para comporem um
Conselho de Ética que, a partir dos princípios aqui estabelecidos estará
avaliando os programas veiculados.
l) Uma rádio que poderá agregar em torno de si uma
grande Rede de Rádios Livres, levando os programas educativos aos mais diversos
e diferentes lugares do nosso país.
m) Este Estatuto, que se conclui aqui, continuará aberto para novas revisões, tendo a possibilidade de alterações dentro do processo de execução do projeto.
3. CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Não temos a ingenuidade de achar que a nossa proposta será aceita facilmente pela comunidade acadêmica. Já conhecemos os argumentos dos professores, por exemplo, para não participarem da Rádio Livre em Movimento: “Temos pouco tempo para trabalharmos o conteúdo, por isso não dou intervalo”; “Os alunos não querem intervalo para saírem mais cedo”. “Eles chegam tarde e querem sair cedo. Por isso não dou intervalo”. E com relação aos programas gravados: “Já estamos saturados de grupos no zap”. “Esse movimento não tem nada a ver com minha disciplina ou o meu compromisso na Universidade”. Enfim, sabemos que enfrentamos diversos desafios para rompermos as barreiras do senso comum que envolve professores e estudantes em suas rotinas diárias. Contudo, é justamente aí que se encontra a justificativa e a intencionalidade ideológica de nossa ação pedagógica. É por isso que esse movimento se caracteriza por ser político, educativo e cultural. A dimensão política se propõe a mudar as referências nas relações de poder gerando “pontos de encontro” e momentos de reflexões. A educativa se propõe em duas dimensões: refletirmos sobre temas transversais que extrapolem o nosso campo específico de conhecimento científico e se transformar, para os estudantes, em uma Escola de Comunicação. Já a dimensão cultural consiste em mudar as referências habituais, cultivando a ideia de que Universidade não é apenas um lugar da seriedade epistemológica, mas também, e essencialmente, um lugar de encontros, interações e prazer. E nada melhor do que a música e a poesia para mediar essa forma de interação interpessoal.
BIBLIOGRAFIA
BUBER, Martin. Eu e Tu, Trad.
Newton Aquiles Von Zuben, São Paulo, 2ª. ed. Ed. Moraes, 1974)
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro, 13ª. ed. Ed. Paz e Terra, 1983.
PAULA ALENCAR, Sylvia Elisabeth de. Conscientização: Conceito Central nas Idéias de Paulo Freire Sobre ; In. Formação Humana e Dialogicidade Em Paulo Freire. Fortaleza, Ed. UFC: 2006.
SCHAFER, R. Murray. Rádio Radical e a Nova Paisagem Sonora. In: MEDITSCH, Eduardo (org.)Teorias do Rádio – textos e contextos – vol.II. Florianópolis: Insular, 2008.
[1] Carlos Alberto Tolovi.
Universidade Regional do Cariri.
Professor efetivo do Departamento de Ciências Sociais. Curso de Ciências
Sociais. Coordenador do Programa de Extensão. Email: Carlos.tolovi@urca.br
[2] Angélica Nayana Gomes –
Universidade Regional do Cariri. Estudante do curso de Enfermagem. Bolsista.
[3] José Ferreira Neto – Universidade
Regional do Cariri. Estudante do curso de Direito. Bolsista.
[4] Hugo Leonardo Santos Silva.
Universidade Regional do Cariri. Estudante do curso de História. Voluntário
[5] Rafael Almeida de Oliveira
Rocha. Universidade Regional do Cariri. Estudante do curso de Direito.
Voluntário
[6] Referência a Alegoria da
Caverna.. Cfr. Cfr. Platão, A
República (Livro
VII)
[7] Referência à
teoria de Paulo Freire. Cfr. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio de
Janeiro, 13ª. ed. Ed. Paz e Terra, 1983.
[8][8]
. Atualmente a Rádio Livre Universitária forma rede com a Rádio Literária
Carrapato, Rádio Cafundó e Rádio comunitária Altaneira FM.
[9] Essa rede revela algo muito importante: ainda não conseguimos divulgar nossos programas temáticos na Rádio Universitária – mantida e coordenada pela Universidade Regional do Cariri. O que nos faz perguntar: de que forma a Rádio Universitária está conectada à comunidade Universitária e a Região do Cariri?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!