Sim,
talvez este seja o nosso maior desafio no ano que se inicia. Humanizar o
Brasil: Humanizá-lo no sentido de torná-lo mais humano, afável, tratável. Mais
polido e civilizado, menos intolerante e animalizado.
![]() |
Zulu Araújo. (Foto: Reprodução/ Revista Raça). |
Digo
isto, pois a brutalidade, o ódio, a intolerância e a violência tem se
disseminado de tal forma em nosso país que nos dá medo. Medo de ser sincero, de
ter opiniões, de se posicionar. Medo até mesmo de escutar o outro. O momento é
tão grave, que as desigualdades, as discriminações e exclusões, sejam elas de
que ordem for estão sendo naturalizadas e apresentadas por nossos algozes como
algo intrínseco a nossa existência humana e não como uma contingência fruto dos
nossos atos.
No
campo da violência racial, por exemplo, os números são tão chocantes que até
mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) assustou-se e chamou para si a
responsabilidade de alertar a sociedade brasileira sobre a monstruosidade que
está ocorrendo em nosso país, criando a Campanha intitulada Vidas Negras, cujo
objetivo é chamar a atenção e sensibilizar atores estratégicos dentro da
sociedade para enfrentar e superar esta tragédia nacional.
Neste
sentido, volto a afirmar, os dados são chocantes, senão vejamos: Pesquisa recentemente divulgada pela UNICEF indicam
que se nada for feito, mais de cem mil jovens negros entre 15 e 29 anos serão
assassinados no Brasil até o ano de 2021. Ainda assim, segundo outra pesquisa
realizada pelo Senado Federal, 56% da população brasileira afirma de que “a
morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte de um
jovem branco”. É o exemplo mais contundente da desumanização da sociedade que
vivemos, melhor dizendo do racismo entranhado em nossos corpos e mentes.
Inúmeras
instituições e movimentos sociais tem se debruçado sobre esta questão e
apresentado um cardápio variado de soluções, dentre elas a Comissão Parlamentar
de Inquérito do Senado Federal, liderada pela Senadora Lídice da Mata, da
Bahia. A CPI elencou três ações consideradas fundamentais e uma recomendação
para darmos um basta a este morticínio: a) Criação de um Plano Nacional de
Redução de Homicídios de Jovens. B) Transparência de dados sobre segurança
pública e violência. c) Fim dos autos de resistência (termo utilizado por
policiais que alegam estar se defendendo ao matar um suspeito). E ao final a
desmilitarização das polícias.
Como
podemos ver, há caminhos a serem percorridos e soluções à vista se os poderes
da república (Executivo, Legislativo e Judiciário), saírem da sua inércia
desumanizadora e resolverem tratar a questão da violência no Brasil enquanto
prioridade. Claro que para tanto, a sociedade brasileira terá que se manifestar
e mobilizar, em particular os setores
mais atingidos que é a população negra.
Por
isto mesmo, considero que em 2018, uma das formas de humanizarmos o nosso país
é participar ativamente do processo de escolhas dos nossos futuros
representantes, seja em que nível for e cobrar, nos seus programas políticos,
nas suas plataformas de trabalho ou nas suas propostas eleitorais, o
compromisso com a vida – no caso a vida da juventude negra. Não podemos
aceitar, nem considerar normal que representantes de grupos de extermínio,
racistas, intolerantes, machistas e psicopatas de plantão se elejam e nos representem
afirmando que isto é em nome da lei, da ordem e dos bons costumes.
Enfim,
humanizar a política, os políticos e suas relações com a sociedade é
fundamental para que saíamos dessa armadilha que estamos enredados. (Por Zulu Araújo, na Revista Raça).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!