Menos
brinquedos, menos shopping, menos publicidade. Mais brincadeiras, mais rua,
menos consumismo. Dia da Criança (12 de outubro) é data ligada ao comércio,
escolhida por empresários para transformar o mês, que era morto em vendas, em
um período movimentado como o Natal. O Movimento Infância Livre de Consumismo
(Milc) alerta, porém, que o consumo e a satisfação de um desejo material – em
geral produzido pela publicidade – não deve substituir a liberdade. E também
lança mão da publicidade para lembrar que brincar é melhor do que comprar.
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Em vez de comparar, trocar. Isso estimula a prática da liberdade entre as crianças. |
Para
o coletivo, o verdadeiro dia dos pequenos é em 20 de novembro, data da
proclamação da Declaração Universal dos Direitos da Criança, em 1959. A
publicitária Mariana Sá, integrante do Milc, considera importante reconhecer a
criança como sujeito de direitos, em uma fase peculiar do desenvolvimento
humano, e não como público-alvo.
Já
faz tempo que eletrônicos, como celulares e iPads, estão na lista de presentes
para as crianças, o que é um dilema, segundo ela. Se por um lado viabilizam a
inclusão, por outro prejudicam meninos e meninas. "A criança sai do estado natural dela, que é pular, correr, conversar,
brincar, para ficar parada", diz Mariana, em entrevista à repórter
Marilú Cabañas, da Rede Brasil Atual.
Mariana
alerta para a armadilha dos eletrônicos que se revestem de caráter educativo.
"A criança vê um vídeo e, de
repente, ela sabe contar. Ela não sabe contar, ela sabe imitar uma sequência.
São várias características que o eletrônico tem que levam os pais a achar que
ele é inofensivo ou pode até ajudar no desenvolvimento da criança."
Ela diz já ter resistido a comprar brinquedos caros para os filhos, que não
sentiram falta "porque têm brinquedos demais", comenta, que é o que
geralmente ocorre em famílias de classe média e média alta. "De tanto
brinquedo, as crianças perdem a capacidade de brincar."
Em vez de comprar, trocar
A
publicitária cita iniciativa do Instituto Alana que, desde 2012, promove a
Feira de Troca de Brinquedos. A iniciativa ocorre em diversas cidades e serve
de inspiração. "As pessoas estão ávidas, realmente, por ocupar os espaços
públicos. Estão ávidas por brincar num lugar em contato com a natureza, um
brincar livre, um brincar sem a interpelação de vendedores ambulantes, sem a
interpelação de marcas e merchandising."
Mariana
descreve que as crianças se envolvem na troca e já conseguem desenvolver
abordagens de negociação. "Crianças muito pequenas, de dois, três anos,
trocando, sem a mediação dos adultos. Meu filho diz que o legal da troca é que
a gente tem brinquedos novos, sem precisar de dinheiro."
O
Movimento Infância Livre de Consumismo dá outras dicas para os pais. Uma delas
é buscar lembrar o que era mais importante quando era criança, e reproduzir com
os filhos os programas que gostavam de fazer com seus pais durante a infância
e, ainda, resgatar as brincadeiras daquele tempo.
"Eu brincava na rua", recorda
Mariana, "Gostava muito de
brincadeiras de bola, o baleado, que vocês chamam queimada. Era péssima, mas eu
adorava. Amava brincar de elástico, que parece que está voltando, e pular corda."
"Será que a gente está sacrificando o tempo
por dinheiro para satisfazer necessidades que, de repente, possam ser
repensadas?", questiona Mariana, e diz que o caminho é "libertar
a criança" que ainda vive nos pais, para se conectar com a infância dos
filhos, "e ter um Dia das Crianças diferente, sem apelos de
consumismo".
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