Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada na última
quinta-feira, 17/10, reafirmou números que merecem ao menos, um momento de
atenção:
A
cada três assassinatos no País, dois vitimam negros;
A
possibilidade de o negro ser vítima de homicídio no Brasil é maior inclusive em
grupos com escolaridade e características socioeconômicas semelhantes.
A
chance de um adolescente negro ser assassinado é 3,7 vezes maior em comparação
com os brancos.
Assassinatos
atingem negros numa proporção 135% maior do que os não-negros;
Enquanto
a taxa de homicídios de negros é de 36,5 por 100 mil habitantes, no caso de
brancos, a relação é de 15,5 por 100 mil habitantes;
Há
uma perda na expectativa de vida devido à violência letal 114% maior para
pessoas negras;
Enquanto
o homem negro perde 20 meses e meio de expectativa de vida ao nascer, a perda
do branco é de oito meses e meio;
Pelo menos 36.735 brasileiros de entre 12 e 18
anos serão assassinados até 2016, maior nível desde que o índice começou a ser
medido em 2005, quando a taxa era de 2,75 adolescentes assassinados por cada
mil;
Em
relação à desigualdade e à opressão racial no Brasil, nos habituamos ter acesso
a índices que se repetem, se acentuam e cristalizam a barbárie vivida pela
população negra em nosso país.
Para
além da vivência empírica, as provas científicas de que o elemento racial
estrutura as desigualdades e condenam negros a serem maioria entre os mais
pobres, entre os analfabetos, entre os que não tem acesso à saúde, e
principalmente entre as vítimas da violência, não tem sido suficiente para
sensibilizar governos, políticos e mesmo a população.
Coincidentemente,
na semana passada em Brasília, por conta das mobilizações pela aprovação do
Projeto que dá fim aos “Autos de Resistência” nós, representantes de movimentos
e artistas negros passamos um dia inteiro apresentando os números da barbárie
racista para deputados, senadores e ministros, a fim de sensibilizá-los. Dias
depois, novas provas surgiram e as manchetes gritaram:
“Dois
terços das pessoas assassinadas no Brasil são negras”, ou: “A chance de um
adolescente negro ser assassinado é 3,7 vezes maior em comparação com os
brancos”, ou ainda: “De cada 3 vítimas e assassinatos, 2 são negros”.
Ora,
se considerarmos que, segundo o próprio estudo,
36.735 brasileiros de entre 12 e 18 anos serão assassinados até 2016,
poderíamos formular outra manchete: “De cada 100 vítimas e assassinatos, 70 são
negros”.
Poderíamos
fazer contas simples que chegariam aos seguintes dados: 25.714 jovens negros
serão assassinados em 3 anos, o que equivale a mais de 8.570 por ano ou a 715
por mês! Analogia perfeita: Três aviões lotados de jovens negros, caindo todos
os meses nos próximos três anos, sem nenhum sobrevivente.
Mas
não! Seria sensacionalismo. Seria exagero. Seria “coisa da nossa cabeça”,
afinal, o problema no Brasil é social e não racial.
E
repito aqui perguntas batidas, mas necessárias:
E
se as vítimas fossem filhos de empresários, médicos, advogados, engenheiros ou
dentistas? E se os territórios de terror fossem na Lagoa ou em Ipanema, no Rio;
no Alto de Pinheiros ou em Moema em São Paulo ou na Barra, em Salvador? E se o
sangue jorrasse de corpos brancos, a reação social e política a esses números
seria a mesma?
Onde
está a comoção nacional? E a campanha no Facebook, com milhares de pessoas
trocando suas fotos por de pretos ou os sobrenomes para “pretos” ou ainda as
hashtag que demonstrem a revolta com essa realidade? Porque a morte negra não
comove? Porque o corpo negro pouco ou nada vale?
E
para além da frieza dos números, lembro que para cada uma destas vítimas, há
uma família, uma mãe que chora e a imagem do velório e da nossa gente em
cortejo.
Quantos
mais e por quantos anos – e já são pra lá de 500, até que cesse a violência
racista no Brasil?
Via
Negro Belchior
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