Instagram, Geledés, Africanize e Capricho lançam projeto para incentivar a literatura negra entre os jovens

 

(FOTO | Reprodução).


Nesta quinta-feira (16), o Instagram, em parceria com Geledés Instituto da Mulher Negra, Africanize e Capricho, lança o projeto “ReeLeitura: edição autores negros”, uma iniciativa de nove meses que tem o objetivo de debater os temas centrais de obras literárias de autores negros brasileiros por meio de um formato simples e divertido como os Reels do Instagram e do Facebook, com a ideia de que elas alcancem mais pessoas e promovam o interesse de leitura principalmente entre os adolescentes.

Os conteúdos serão publicados nos perfis da @africanizeoficial, @capricho e @portalgeledes no Instagram e Facebook, com a hashtag #ReeLeitura. O primeiro episódio, que estreia hoje em celebração ao mês em que se comemora o “Dia Mundial de Zero Discriminação – 1º de março” e o “Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial – 21 de março”, traz a obra “Sobre-viventes”, da autora Cidinha da Silva (@cidinhadasilvaescritora), comentada pelo professor João Luiz Pedrosa (@joaolpedrosa) e pelo criador de conteúdo Adriel Oliveira (@livrosdodrii).

Mensalmente, até novembro, um novo episódio trará um autor negro e sua obra, uma figura pública e um criador de conteúdo da comunidade negra do Instagram para expor seus pontos de vista sobre o assunto principal do livro em destaque. Além disso, vamos iniciar um movimento a partir de um áudio original inspirador com trecho da obra na voz da figura pública, no formato de mini doc, que é tendência no Instagram. A ideia é que tanto criadores de conteúdo quanto o público participem do movimento usando a ferramenta Modelos e a hashtag #ReeLeitura.

A presença da comunidade literária no Instagram é muito forte e, com o ReeLeitura, queremos nos aproximar ainda mais dela, promovendo conexões por meio da cultura, ao mesmo tempo em que tratamos de temas fundamentais para a formação de nossos jovens e para a sociedade, como racismo, empoderamento negro, inclusão e manifestações afro-brasileiras”, afirma Priscila Pagliuso, gerente de comunicação do Instagram para a América Latina.

Para deixar tudo ainda mais divertido e interativo, e unindo representatividade e inovação, o público também poderá interagir com o efeito de realidade aumentada (AR) “ReeLeitura” que estará disponível por meio do perfil da Capricho no Instagram, desenvolvido exclusivamente para a iniciativa pela Atomcore Studio, que faz parte do programa Realidade Aumentada na Pele (R.A.P), da Meta, oferecendo ao público formas inovadoras de interação com a literatura.

O efeito “ReeLeitura” vai sugerir ao público uma variedade de opções de livros de autores negros, fomentando o acesso à literatura. Algumas das obras são: “Ritmos Negros: Música, Arte e Cultura na Diáspora Negra”, de Amailton Azevedo (@amailtonazevedo); “Mukanda Tiodora”, de Marcelo D’Salete (@marcelo.dsalete); e “Jamais Peço Desculpas por me Derramar”, de Ryane Leão (@ondejazzmeucoracao).

Em breve, a Capricho disponibilizará ainda um chatbot exclusivo no WhatsApp, criado pela plataforma Gupshup, que vai recomendar uma seleção de livros curada especialmente de acordo com os resultados de um rápido teste para descobrir o perfil de leitor de cada pessoa.

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Com informações do Geledés.

Governo federal prepara medidas para combater a desigualdade racial

 

(FOTO | Marcelo Camargo / Agência Brasil).


A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, adiantou nesta quinta-feira (16) que o governo anunciará novas medidas de combate à desigualdade racial no próximo dia 21 de março, quando a criação da Secretaria de Políticas de Promoção para a Igualdade Racial (Seppir) completará 20 anos. A secretaria foi criada no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula Silva, em 2003, após demanda histórica do movimento negro.

Anielle Franco ministrou aula inaugural do semestre letivo na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), na tarde desta quinta-feira, no campus da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro.

Segundo a ministra, no próximo dia 21 haverá uma comemoração no Palácio do Planalto em que serão anunciadas medidas para aumentar a presença de mulheres negras no serviço público federal; será instituída uma coordenação de saúde da população negra junto ao Ministério da Saúde e também serão tituladas seis terras de povos quilombolas que aguardam a regularização há mais de 20 anos.

É um processo muito longo a titulação das terras quilombolas. É um processo que vai e volta, e as famílias estão se perdendo. A ancestralidade está lá, mas as terras estão indo embora. A memória dessas mulheres negras e desse povo está indo embora, porque não titula”, disse a ministra.

Além de titulações e indenizações, a ministra prometeu ações de educação e cultura ainda junto a comunidades quilombolas nos primeiros 100 dias do governo, e lembrou que esse é um pedido do presidente Lula.

O ministério também anunciará, em parceria com as pastas do Esporte e da Justiça, a criação de um Grupo de Trabalho de Combate ao Racismo nos Esportes. “É inadmissível o que o Vini Jr. está passando na Espanha, mas o que todo mundo passa aqui também, e a gente sabe como é”.

Marielle

Em discurso a alunos, professores e servidores da ENSP/Fiocruz, a ministra Anielle Franco relembrou os primeiros momentos após o assassinato de sua irmã, a vereadora Marielle Franco, que completou 5 anos na terça-feira (14).

A gente não pode esquecer que a Mari foi vítima de um feminicídio político”, disse a ministra. “Eu jamais vou perdoar. Nunca vou perdoar terem olhado para aquela mulher discursando e não terem nunca pensado em ter uma segurança pra ela. Nunca na minha vida eu vou aceitar isso”.

Anielle Franco afirmou que somente após um crime cruel como esse houve a noção de que mulheres negras na política também deveriam ter segurança. Ela reforçou que essas mulheres são vítimas de violência política há anos, e que estudos conduzidos pelo Instituto Marielle Franco em 2020 e 2021 mostraram que esses casos são recorrentes.

A Marielle precisou morrer, ser assassinada do jeito que foi, cruelmente, para que outras pessoas ganhassem segurança privada, carro blindado e tivessem a noção de que as políticas mulheres negras precisam de segurança também, além dos homens brancos”.

A ministra também lembrou o momento em que foi convidada pelo presidente Lula para estar à frente da pasta da Igualdade Racial e disse que conversou com outras mulheres negras que são referência em sua vida, como a deputada Benedita da Silva e as ativistas Lúcia Xavier e Jurema Werneck, assim que recebeu a proposta.

Eu não quero entregar só simbologia. Eu tenho orgulho de ser irmã dela. Mas eu tenho que entregar trabalho”, disse.

No dia a dia em Brasília, a ministra disse que ainda é atacada, especialmente no Congresso Nacional, onde outras políticas negras também sofrem ofensas.

Nenhuma Câmara, nem em Brasília nem em nenhum lugar, é historicamente desenhada para mulheres. A Talíria [Petroni, deputada federal] foi lá com filho no colo e não tinha um lugar para trocar a fralda do menino. Não é desenhado pra gente. A Erika Hilton [travesti, deputada federal] estava lá, lindíssima, mas o tempo inteiro que ela passa e as pessoas afrontam chamando ela de coisas horrorosas. Se eu entro, porque o Executivo tem que construir com o Legislativo e vice-versa, eu sou atacada. Não vai ser fácil a gente reconstruir”, disse.

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Com informações da RBA e Agência Brasil.


Os gregos não inventaram a filosofia

 

Molefi Asante, autor de 'Erasing racism: the survival of the American nation' (Foto: Divulgação)

Sem dúvida, as investigações do nosso grupo de pesquisa têm motivado muitas objeções. Os estudos que realizamos sobre filosofia africana não são inéditos; mas o aumento da circulação de material acadêmico no Brasil que problematiza o nascimento da filosofia na Grécia, trazendo à luz fontes africanas mais antigas que as ocidentais, tem sido motivo de críticas variadas. Objeções que alegam: “filosofia” é um termo grego; outras insistem que só na Grécia Antiga o pensamento ganhou tom laico. Ou ainda, perguntam por que deveríamos “impor” o registro filosófico a outras formas de pensamento de povos da antiguidade fora do mundo helênico. Em resumo, tais questões têm sido acompanhadas de argumentos diversos que dizem algo como: a filosofia nasceu na Grécia, desenvolveu-se dentro da ambiência territorial europeia como uma aventura ocidental do pensamento humano. Não cabe destrinchar cada uma das objeções, tampouco teríamos condições de apresentar o vasto elenco de tréplicas em favor da produção filosófica africana desde George James com Legado roubado, passando por Cheikh Diop, Theóphile Obenga, Molefi Asante, até A filosofia antes dos gregos, de José Nunes Carreira. Todos os autores advogam uma hipótese comum: a filosofia não nasceu grega. A abordagem que defendemos denuncia uma grave confusão. A questão não é onde nasceu a filosofia. Com base em fontes históricas diversas, os textos egípcios são documentos africanos mais antigos do que os escritos gregos, que são referências da cultura ocidental. Alguns expoentes da egiptologia, seja Jean-François Champollion (1790-1832), Cheikh Anta Diop (1923-1986), Theóphile Obenga (1936-) ou Jan Assmann (1938-) concordam que os textos egípcios são mais antigos do que os gregos. A polêmica está no caráter filosófico dos escritos egípcios. Nós estamos de acordo com Diop e Obenga – o material egípcio é filosófico.

A filosofia de Ptahhotep

Em A filosofia antes dos gregos, Carreira menciona o Egito como uma região rica em produção filosófica. Ptahhotep foi alto funcionário do Faraó Isesi da 5ª Dinastia do Reino Antigo e sua função era chamada de rekhet, traduzida por Obenga como “filosofia”. Identificamos nos ensinamentos de Ptahhotep recomendações para o debate, sugerindo uma conduta adequada numa contenda. Ptahhotep diz que em relação ao contendor podem existir três tipos de pessoas. 1ª) As que têm uma balança mais precisa, “superiores”; 2ª) As que têm balança tão precisa quanto a nossa, “iguais”; 3ª) As que têm balança menos precisa, “inferiores”. O filósofo não menciona diretamente a deusa Maat; mas ela aparece de modo indireto à medida que a balança é um dos seus principais símbolos. “Maat” circunscreve várias ideias: “harmonia”, “verdade”, “ordem”. A sua balança é o instrumento que mede a palavra. O que está em jogo na contenda é o uso adequado da balança para mensurar a verdade. Por isso, a arte da rekhet é inconclusa; sempre podemos encontrar um contendor com balança mais precisa. Os limites da rekhet “não podem ser alcançados, e a destreza de nenhum artista é perfeita”. (Veja o texto “Ensinamentos de Ptahhotep”, publicado no livro Escrito para a eternidade: a literatura no Egito faraônico, de Emanuel Araujo. Brasília/São Paulo, 2000.) Nossa defesa está a favor da atitude filosófica de não recusar uma tese sem o seu devido exame; por isso, a recomendação de ler Ptahhotep.

A certidão de nascimento da filosofia

Propor uma agenda de leitura dos textos africanos antigos não sinaliza um interesse em substituir a Grécia pelo Egito, fazendo da cultura africana o paradigma civilizatório na antiguidade. Pelo contrário, o esforço por definir um “marco zero” para a filosofia vale-se de uma interpretação entre outras – o que não pode ser um tabu dogmático. A título de analogia, o filósofo inglês Michael Hardt interpela a filosofia de Hegel por meio de Nietzsche, e nos diz que “a dialética é um falso problema”(Em Gilles Deleuze: um aprendizado filosófico, na tradução de Sueli Cavendish. São Paulo, 1996). Algumas abordagens filosóficas usam o modelo dialético como indispensável para a filosofia da história, enquanto outras a recusam plenamente. Do mesmo modo, defendemos que o nascimento da filosofia é um falso problema. Não se trata de afirmar que a filosofia nasceu no Egito e substituir Tales de Mileto ou Platão por Ptahhotep. Não pedimos a retirada da “certidão grega da filosofia” dos manuais, mas sim que ela não venha sozinha, sem o registro de que existem posições a favor do nascimento africano. Os manuais de filosofia precisam incluir versões diversas sobre suas origens, reconhecendo a legitimidade de todas, assim como não ignoramos perspectivas diferentes em várias questões filosóficas. É perigoso e reducionista para uma boa formação filosófica limitar toda a filosofia a poucas tradições. Com efeito, o problema não seria estritamente teórico, mas político (e obviamente filosófico). O projeto de dominação do Ocidente tem um aspecto epistemológico que pretende calar qualquer filosofia que tenha sotaques diferentes. Afinal, a filosofia foi “eleita” como suprassumo da cultura ocidental.

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Texto de Renato Nogueira, doutor em Filosofia pela UFRJ, professor da UFRJ e coordenador do grupo de pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Interseções.

Publicado originalmente na Revista Cult.

Diogo Bezerra e Lucas Lima iniciam campanha para voar rumo a encontro com líderes globais em Berlim

 

Diogo e Lucas, da esquerda para a direita. (FOTO |Reprodução).

O financiamento coletivo intitulado “Da Quebrada Pra Berlim” pretende levar os dois jovens para o evento que reúne grandes organizações, renomados diplomatas e chefes de estado na Alemanha.

A Global Solutions é uma conferência mundial, definida como um “fórum de políticas” dos países do grupo G7 e G20. Visando proporcionar o encontro de líderes e diplomatas para discutir soluções de algumas problemáticas atuais, como a educação, a instituição realiza eventos como o Global Solutions Summit, que ocorre entre dois dias de todos os anos, desde 2017. Neste ano, particularmente, o evento acontecerá no coração de Berlim com mais de 100 palestrantes e 1000 convidados do mundo todo, incluindo chefes de estado, empresários e empreendedores sociais. Gerando grande impacto em muitas vidas no Brasil, os brasileiros selecionados no Top 50 Young

Global Changer Diogo Bezerra, sócio-fundador da escola gratuita de tecnologia Mais1Code e Lucas Lima, engenheiro mecânico e fundador da startup de impressoras 3D Infill, passaram por um rígido processo de seleção e tornaram-se dois dos convidados especiais da cerimônia.

A edtech Mais1Code foi desenvolvida com o propósito de proporcionar ensino tecnológico gratuito a jovens de baixa renda. Além de realizar a formação dos alunos, a equipe auxilia a entrada dos mesmos no mercado de trabalho, por meio do patrocínio de marcas nacionais e internacionais, como o Instituto Nu e a Sodexo. Ganhando destaque nos últimos meses junto destas companhias, a Mais1Code já realizou a formação de mais de 1600 jovens e impactou diretamente 6000 famílias das periferias de todo o país. Atualmente, com o projeto “3 Mil Devs da Quebrada”, eles buscam formar 3 mil jovens na área tech de maneira 100% online e gratuita.

Já a Infill, nasceu da ideia de fundar uma fábrica no bairro de origem do jovem, o Complexo do Alemão. Alicerçada por Lucas, o foco destina-se ao desenvolvimento de impressoras 3D feitas a partir de sucata eletrônica, impulsionando a criatividade e o contato das pessoas periféricas com a tecnologia. O mesmo também vem ganhando destaque no cenário social reconhecido pela BeyGood, vencedor do prêmio Pop da Iniciativa Jovem, feira de negócios desenvolvida pela Shell, é um dos 15 empreendedores selecionados pelo programa de aceleração da Ambev, fazendo parte da rede de líderes da Fundação Leman, além disso, já recebeu diversos prêmios como o TEDx Speaker, homenagem da BeyGood e o Global Young Changer.

Com o intuito de captar conexões e olhares para a educação dos jovens de baixa renda, expandir as iniciativas e gerar oportunidades para ambos os líderes, Diogo Bezerra e Lucas Lima se uniram para realizar uma campanha de financiamento coletivo e conseguirem, com este amparo dos doadores, estarem presentes em Berlim. A quantia arrecadada pela ação, gerida pela Cadette Consulting e nomeada como “Da Quebrada Pra Berlim", acontecerá entre os dias 14 de março a 1 de abril, através da plataforma Benfeitoria e será destinada à acomodação e permanência dos jovens, além de todo o custeio da viagem. Na campanha, os doadores poderão contribuir com valores a partir de 10 reais.

Diferente dos outros anos, a edição do Global Solutions Summit 2023 contará com um número ainda maior de convidados e representantes, mas, ainda assim, o evento continua sendo limitado, com acesso somente através de um convite direcionado pela própria instituição. Por esse e outros motivos, Diogo Bezerra comemora a seleção: “Foi de extrema gratidão receber esta proposta. No ano passado, fui escolhido pela Global Solutions e graças ao apoio de muita gente consegui estar presente como um dos 50 jovens globais que estão impactando e fazendo a diferença no mundo. Neste ano, ser convidado para debater presencialmente soluções de transformação digital e social no mundo todo é simplesmente inesquecível. Espero que consigamos bater a meta e embarcar a tempo de viver esse período de transformação para os jovens das quebradas brasileiras. Queremos soluções para a educação, afinal, só a educação pode transformar o nosso cenário atual”.

Dando continuidade aos selos de reconhecimento, Lucas Lima também exalta o prestígio de receber o convite importante e ainda, conta o que a participação significa para o jovem líder: “Fico muito honrado pela oportunidade de estar presente neste evento. Em 2022 eu não acreditei quando fui um dos projetos do Top 50 Global dentre muitos projetos espalhados pelo mundo, pois a Infill nasceu de um sonho de levar tecnologia e educação tecnológica a todos e, neste ano, me apaixonei pela área de políticas públicas. Então, ter a oportunidade de estar num evento e conseguir falar de igual para igual com lideranças Globais, debater sobre o futuro do país, o impacto da educação e do desenvolvimento tecnológico no crescimento da economia e no bem estar da população periférica será um verdadeiro sonho. É uma chance de networking para o meu crescimento profissional. Estou mega ansioso pela campanha e farei questão de compartilhar todos meus aprendizados nesta viagem.”

Dentre os países participantes do evento, estão Índia, Brasil, Japão, a própria Alemanha e mais uma dezena de nações e organizações parceiras. Na conferência, os convidados poderão participar de debates e discussões envolvendo três temáticas: Fórum de Soluções, trilha que ofertará uma visão de alto nível sobre questões globais e abordagens políticas; Mergulho Profundo nas Soluções, conjunto de discussões aprofundadas sobre os tópicos estabelecidos e por fim, Diálogos de Soluções, faixa que oferece um espaço para os participantes apresentarem, discutirem e testarem propostas concretas. “Vamos expor na Europa os nossos projetos de forma que eles ganhem visibilidade internacional. Com o auxílio da campanha, estaremos reafirmando o nosso poder de transformação social, como jovens negros e periféricos que estão representando o Brasil”, finaliza Diogo.

REALIZE SUA DOAÇÃO ATRAVÉS DO LINK: http://xn--benfeitoria-rm96j.com/daquebradapraberlim.

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Texto de Isabella Otero, assessora de imprensa, encaminhado a redação do Blog.


Hoje na História: Dia Nacional da Escola

 

Professor Nicolau Neto durante roda de diálogo com estudantes do terceiro ano da EEMTI Menezes Pimentel, de Potengi. (FOTO | Acervo pessoal).

A escola é o local que, comumente, as pessoas costumam frequentar para aprender a ler, escrever e se aprofundar nas principais áreas do conhecimento que são oferecidas no ensino básico. O ambiente escolar também é responsável por promover a socialização, já que é um momento em que as crianças e adolescentes têm a oportunidade de se relacionar com pessoas de diferentes culturas, hábitos, crenças e etnias

A importância de se ter essa data no calendário nacional é que ela permite relembrar o papel que a escola tem no desenvolvimento de todos os indivíduos. Além disso, nessa data, as escolas têm a oportunidade de realizar atividades educativas conjuntas e promover uma aproximação da comunidade.

Uma boa formação escolar é fundamental para que as pessoas possam alcançar um futuro mais sólido, seja em questões sociais, seja também profissionais, já que a base, além do ambiente familiar, começa na escola. Por isso, aprender como ela é essencial para a construção da trajetória de cada ser humano é um passo valioso durante essa formação.

Como as Escolas surgiram no Brasil?

Em 1549, os jesuítas chegaram ao Brasil com a Companhia de Jesus, comandada pelo padre Manuel da Nóbrega. Eles tinham o objetivo de difundir a fé católica, assim, a missão deles aqui no Brasil envolvia a catequização dos índios.

Os padres jesuítas ensinavam escrita, leitura, matemática e a doutrina religiosa. Nesse contexto, uma das pessoas mais importantes no processo de estabelecimento da educação no território brasileiro foi o padre José de Anchieta.

Conhecido como Padre Anchieta, o sacerdote desembarcou, no Brasil, em 1553. O clérigo logo se interessou pela língua dos nativos e dedicou-se a aprendê-la. A preocupação com a língua foi essencial para consolidar o projeto inicial de evangelizar os indígenas, já que os seus textos e apresentações artísticas eram produzidos na língua nativa para facilitar a conversão ao cristianismo.


Professor Nicolau Neto com estudantes do 3° Ano da EEMTI Menezes Pimentel, de Potengi. (FOTO | Acervo pessoal).

Os jesuítas foram expulsos das terras brasileiras em 1759, sendo instituído o ensino laico com as Aulas Régias. A partir de então, apesar de as igrejas não serem mais responsáveis pelo conteúdo que era oferecido nas escolas públicas, o ensino religioso continuou mantido nas aulas.

A Celebração

Com o fechamento das escolas no início da pandemia causada pela Covid-19, os altos e baixos do sistema híbrido de ensino e, por fim, o retorno presencial dos alunos, ficou ainda evidente a importância de que existam estas instituições para que o desenvolvimento dos pequenos possa acontecer. E para validar anualmente este processo que só é possível de ser feito por existir profissionais dedicados à educação no Brasil, o Congresso Nacional instituiu 15 de março como o Dia Nacional da Escola.

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Com informações do Brasil Escola e do Bebê.

Carcará: 10 anos de reconhecimento como Comunidade Quilombola pela FCP

 

Seu Sebastião. (FOTO | Nicolau Neto).

Por Nicolau Neto, editor

Em 30 de julho deste ano o Sítio Carcará, no município de Potengi, na região do cariri cearense, completará 10 anos de reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares que a certificou como comunidade remanescente de quilombo.

Desde da publicação da Portaria N° 109/2013, de 30 de julho do ano supracitado, que o Sítio Carcará passou a receber a denominação de Comunidade Quilombola do Sítio Carcará, configurando uma intensa rede de apoio em prol da efetivação de direitos como preceitua os artigos 208, 215 e 2016, da Constituição Federal do Brasil e do Decreto nº 4.887/2003, que visa garantir, além da posse de terras, uma melhor qualidade de vida aos quilombolas. Este documento trata do direito desses povos em ter acesso a serviços essenciais como educação, saúde e saneamento.

Dentre os apoios recebidos pela comunidade quilombola do sítio Carcará está o do Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) e o da Cáritas Diocesana de Crato que realizaram um importante trabalho com comunidades rurais de algumas cidades da Região do Cariri, Estado do Ceará. O material refere-se ao Mapeamento das Comunidades Rurais Negras e Quilombolas do Cariri.

O presente trabalho constitui-se importante ferramenta de estudo e, claro, de suporte didático para serem utilizados nas aulas de História e Sociologia.

Hoje, com o crescimento acelerado do movimento protestante na região, e especificamente no território outrora chamado de Xique-Xique e Ibitiara, na comunidade Carcará também há forte presença desses grupos. Inclusive entre integrantes do grupo. Resta saber se essa nova configuração afeta o processo de luta que vem pela frente. Seu Sebastião, um das lideranças do Quilombo, quando questionado por este professor sobre o assunto foi bem taxativo: "claro que não". O momento foi fruto de uma roda de conversa com estudantes e professores/as da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Menezes Pimentel, em Potengi.

Outro ponto dentro dessa coletividade é a divisão territorial em que pese a relação étnico-racial. Uma parte recebe o nome de "branca" e a outra "negra". Agora pense com seus botões: qual das duas recebe o nome de favela? Isso reverbera entre os mais jovens.

Está planejando uma aula de campo para esta comunidade? Não se esqueça de ouvir seu Sebastião, um dos líderes e de testemunhar a Dança do Toré com Antônia Vieira (popularmente conhecida por Dona Bizunga). O Toré é um dos símbolos do patrimônio imaterial da cultura africana e que permanece viva no Carcará.

Mulheres resgatadas do trabalho análogo à escravidão são negras, nascidas no Norte ou no Nordeste

 

Auditora do trabalho vê necessidade de maior fiscalização de atividades historicamente ligadas ao gênero feminino, como trabalhos domésticos, de cuidado e no mercado do sexo. (FOTO/ Reprodução).

No Brasil, nos últimos 20 anos, 2.488 mulheres foram resgatadas do trabalho análogo à escravidão. O perfil da maioria delas é bem parecido: nascidas no Norte ou no Nordeste, pretas ou pardas, analfabetas ou com o ensino básico incompleto.

Os dados são da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae), órgão que integra o Ministério do Trabalho e Previdência (MTP) e foram compilados pelo portal G1.

Apenas 5% do total de pessoas resgatadas nas últimas duas décadas são mulheres. Segundo autoridades, essa diferença se dá, em parte, porque a atuação do Detrae sobre atividades historicamente ligadas ao gênero feminino é recente.

Em 2017 e 2019 ocorreram os primeiros resgates no trabalho doméstico e no mercado do sexo, é o que revela os dados.

O Detrae também compilou dados sobre as atividades desenvolvidas pelas resgatadas e as funções desempenhadas na zona rural são as que mais concentram casos. Mais de 70% dos casos são relacionados às seguintes ocupações:

Agropecuária (1.234)

Cultivo de café (175)

Cultivo de cana-de-açúcar (138)

Pecuária de corte (118)

Cultivo de árvores frutíferas (18)

Cultivo de erva-mate (15)

Segundo a auditora-fiscal do trabalho Jamile Virginio, a diferença numérica nos resgates de homens e mulheres é tema frequentemente discutido entre inspetores do trabalho. Ela aponta que papeis sociais tradicionalmente ligados a homens e mulheres podem ajudar a entender o cenário.

A dinâmica da sociedade brasileira é essencialmente de cunho patriarcal, que enxerga o homem como provedor familiar e cobra para que busque alternativas de renda e emprego”, diz a fiscal.

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Com informações do Notícia Preta.

Articulação por ministra negra no STF avança com blindagem a potenciais candidatas

 

Ministros do STF participam da Sessão Solene de Abertura do Ano Judiciário de 2023 (Foto: Rosinei Coutinho - 1º.fev.2023/SCO/STF).

A movimentação crescente de diferentes setores da sociedade pela indicação inédita de uma ministra negra para o STF (Supremo Tribunal Federal) tem a cautela como fator comum. A preocupação vem de um histórico de ofensivas contra mulheres, especialmente as negras, para ocupar cargos de poder no país.

Nos últimos dias, entidades jurídicas, ministros do governo Lula e um integrante do próprio Supremo se manifestaram publicamente a favor da indicação. A vaga será aberta com a aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski, que completará 75 anos em maio. Lula, no entanto, afirmou recentemente que “todo mundo compreenderia” caso ele indicasse seu advogado, Cristiano Zanin —homem e branco.

A mobilização a favor de uma mulher negra na corte ganhou força nesta semana, em meio a manifestações ligadas ao Dia Internacional da Mulher, celebrado na quarta-feira (8).

Em entrevista publicada pela Folha, a professora da USP Fabiana Severi, especialista em direito e gênero, criticou a manutenção pela esquerda de listas sem mulheres e pessoas negras.

“Ter uma lista de homens brancos vindo do campo democrático é quase um insulto, porque sabemos que não é uma questão de falta de conhecimento jurídico, de capacidade e de nomes”, afirmou.

Como mostrou a Folha, em quase 40 anos de redemocratização no Brasil, a cúpula da República contou com 66 homens e só 4 mulheres. Especificamente no STF, só 3 mulheres —contra 26 homens— se tornaram ministras nesse período, nenhuma delas negra.

Na quarta, cem entidades do meio jurídico e movimentos lançaram um manifesto pela indicação de uma ministra negra. No mesmo dia, durante sessão do STF, o ministro Edson Fachin falou no mesmo sentido.

O magistrado, ao retomar julgamento no plenário sobre racismo estrutural em abordagens policiais, citou reportagem da Folha com relatos de juízas negras mencionando o caso de uma magistrada que precisava mostrar o crachá para acessar espaços exclusivos para juízes homens.

Os ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Anielle Franco (Igualdade Racial) também se posicionaram publicamente a favor de uma mulher negra para o STF.

Na ocasião, Almeida disse que, apesar de estarem discutindo uma tese central sobre a questão racial no Brasil, não havia “nenhuma pessoa negra ou mulher negra discutindo a questão racial naquele plenário”. Depois, afirmou que uma ministra negra no Supremo “vai ser de importância fundamental, central, para que a gente comece a discutir a democratização dos espaços de poder no Brasil”.

Já Anielle Franco afirmou, em entrevista à GloboNews, que pretende pedir a Lula a indicação de uma negra ao STF.

Juízes que integram o Enajun (Encontro Nacional de Juízas e Juízes Negros), coletivo criado há seis anos para aumentar a presença de magistrados negros nas cúpulas do Poder Judiciário, também trabalham pela indicação de uma juíza negra de carreira, algo que dizem ser fundamental.

Além disso, Defensoria Pública e Ministério Público estudam nomes para a corte.

A articulação por mais representatividade é feita há anos pelos movimentos feminista e negro.

As principais barreiras são a falta de apoio em círculos de poder dominados por pessoas brancas e a necessidade de desconstruir um imaginário em que o notório saber jurídico, requisito constitucional para indicação, não é visto em uma mulher negra.

O racismo institucional e simbólico faz com que mulheres negras sejam vistas como mulheres que exercem posições menos prestigiosas. Isso tem a ver com o nosso passado escravocrata recente que gera nas pessoas a noção de que essas mulheres não devem ocupar espaços de poder”, diz Luciana Ramos, professora de direito constitucional da FGV Direito São Paulo.

Juízes e advogados ouvidos pela Folha afirmam que conversas estão sendo feitas para avaliar o melhor momento de expor os nomes para a disputa ao STF. Eles afirmam que existe uma ofensiva contra nomes de pessoas negras tanto por setores da advocacia quanto por membros do Poder Judiciário e de políticos.

Nós mulheres negras somos atacadas antes mesmo de poder colocar as nossas qualidades e expertise na mesa. O nosso receio é que essas mulheres indicadas recebam ataques desnecessários”, afirma Maria Sylvia de Oliveira, que assinou o manifesto representando o Geledés – Instituto da Mulher Negra.

Flávia Biroli, professora de ciência política da UnB (Universidade de Brasília), afirma que os movimentos sociais aprenderam a construir redes de proteção para lidar com ofensivas.

Quando essas pessoas estão em evidência e colocam em xeque o caráter racista dessas instituições de poder, elas sofrem ataques muito acentuados. Isso acontece com as mulheres e especialmente com as mulheres negras”, diz.

Biroli afirma ainda que é preciso estabelecer limites à violência política, conforme prevê lei sancionada em 2021, identificando autores e cobrando as plataformas onde esses ataques acontecem para que as candidatas não sejam atingidas.

Luciana Ramos (FGV) acrescenta que o racismo e machismo institucionais também afetam a permanência das mulheres nesses espaços.

Temos um número de juízas que está longe do ideal e o preconceito que elas sofrem dos advogados, jurisdicionados e pelos próprios pares, particularmente na segunda instância, é brutal”, afirma.

Desde 1891, o STF teve apenas três ministros negros em sua composição (o último foi Joaquim Barbosa, que se aposentou em 2014), e apenas três ministras mulheres, duas em exercício: a ministra Rosa Weber, que preside o STF e se aposenta em outubro, e a ministra Cármen Lúcia. A primeira foi Ellen Gracie, no ano 2000.

A professora de direito e advogada Ecila Moreira de Meneses, integrante da executiva nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, um dos movimentos que articularam o manifesto, afirma que o histórico de ministros homens e brancos na corte criou um imaginário de que as vagas são para homens brancos.

Mesmo que tenha duas mulheres no STF, isso ainda não significa representatividade em relação ao perfil da sociedade brasileira. Tivemos alguns ministros negros, eles saíram e essas vagas foram ocupadas por pessoas brancas. Não houve o cuidado em consolidar a vaga de uma pessoa negra. O que nós queremos é ampliar as vagas das ministras”, diz.

Segundo Marco Aurélio de Carvalho, do Grupo Prerrogativas, a entidade está engajada em pautar o debate, mas vai apoiar qualquer escolha do presidente Lula.

Embora sejamos signatários do manifesto, o que nós queremos é que o presidente Lula considere no universo das possíveis pessoas, juristas negros e negras”, afirma.

Para Oliveira (Geledés), as mulheres negras vêm dando contribuições relevantes para que seja pensado um novo pacto civilizatório.

Nós [mulheres negras] conhecemos bem a sociedade brasileira. Através das nossas lutas e proposições trazemos contribuições significativas para a promoção de direitos humanos no Brasil, porque nós somos a parcela da população que mais sofre o impacto dessas violações”, diz.

Ela afirma ainda que se o país pensa em avançar e desmantelar o racismo, para além de falar, é preciso que o Estado brasileiro, representado pelo governo Lula, tome atitudes. “Uma ação importantíssima é nomear uma mulher negra para o STF e sinalizar o real interesse do Estado e do sistema de Justiça de aderir a luta antirracista.”

Lígia Batista, nova diretora-executiva do Instituto Marielle Franco, afirma que a indicação de uma ministra negra seria uma quebra de paradigma, porque o sistema de justiça brasileiro é historicamente racista e excludente.

É fundamental que na corte suprema, o mais alto nível do Judiciário, possamos ter uma jurista negra, por entender, que do ponto de vista simbólico, essa representação nos ajuda a pensar em formas de superação do racismo e do machismo”, diz.

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Publicado originalmente na Folha de S. Paulo e reproduzido no Geledés.