Conheça a historiadora Giovana Xavier que irá substituir Djamila Ribeiro no 9º Artefatos da Cultura Negra


Giovana Xavier - professora de história da UFRJ.
(Foto: Robson Maia).
A professora de história da UFRJ Giovana Xavier fala sobre sua trajetória como intelectual negra no Brasil. A carioca Giovana Xavier, de 38 anos, é historiadora, com sólida formação acadêmica em níveis de mestrado, doutorado e pós-doutorado, por UFRJ, UFF, Unicamp e New York University. Atualmente, é professora da Faculdade de Educação da UFRJ. Em 2017, organizou o catálogo  Intelectuais Negras Visíveis”, que elenca 181 profissionais mulheres negras de diversas áreas em todo o Brasil.

Na entrevista abaixo, ela conta sobre sua trajetória como intelectual, fala dos percalços e especificidades da profissão do historiador e, em especial, dos desafios que enfrentou e enfrenta no combate à desigualdade racial brasileira.

1 - Como você chegou a essa carreira? O que te motiva? Por que você a escolheu?

GIOVANA XAVIER - Esta é uma pergunta difícil de responder porque ela é resultado de muitas histórias. Fui criada por uma família de mulheres negras que acreditaram e colocaram em prática o poder da educação como instrumento de liberdade e ascensão social. Minha mãe, Sonia Regina (ancestral) foi a primeira da família a cursar a universidade. Isso revela uma característica típica de famílias negras: o investimento na formação de um indivíduo (geralmente o mais novo) como projeto de liberdade e transformação coletivo. Essa marca, sempre presente nas histórias que hoje escuto meus estudantes pretos contarem, é um saber que temos aprimorado como comunidade negra e que evidencia os limites da meritocracia como conceito que dê conta de explicar as oportunidades desiguais que recebemos a depender de quem somos em termos raciais, de gênero, de classe, sexualidade.

Então posso dizer que o fato de ter sido socializada em um matriarcado que acreditou que eu poderia ser quem eu quisesse, estimulando-me a ler, escrever, aprender outros idiomas, motivou-me a transgredir, indo além do destino esperado para as meninas negras do Brasil: o trabalho doméstico, ramo em que inclusive trabalhei por um tempo, quando fui arrumadeira de pousada na Ilha Grande na adolescência.

Meu primeiro trabalho foi aos 11 anos, entregando panfletos “Vendo Ouro” na ponte do subúrbio do Méier, no Rio de Janeiro, onde fui criada. Até hoje tenho pavor de receber esses papéis, por saber das violências e perversidades que rodeiam a juventude que desde cedo tem de se virar, encarando a rua como local de trabalho. Essas experiências de inserção no mercado informal somadas à oportunidade de ter estudado em uma escola branca de classe média me geraram um ponto de vista denso sobre como estar em dois mundos e, do interior deles, criar o meu próprio. Acho que esta tem sido minha busca pelo “caminho de casa”, para usar a expressão marcante da escritora ganense Yaa Gyasi. Na linha “força, foco e fé”, pergunto-me diariamente: como, na condição de mulheres negras, podemos e devemos reivindicar a intelectualidade, construindo um universo para chamar de nosso, dentro e fora da academia? A história, enquanto matéria dedicada à interpretação de processos sociais e à construção de identidades individuais e coletivas, oferece ferramentas para responder à minha pergunta. Entretanto, estamos falando ao mesmo tempo de uma disciplina que contradiz minha própria motivação se considerarmos que ela foi criada a partir de uma lógica branca, masculina e eurocêntrica. As ferramentas da história e da academia como um todo precisam ser empretecidas na forma de uma ciência para o negro, conforme sinalizado pelo sociólogo Eduardo Oliveira e Oliveira e pela historiadora Beatriz Nascimento nos anos 1980. Entendendo-me como continuidade, essa é minha missão, definida por meus ancestrais. É isso que me motiva a seguir fazendo ciência, diariamente.

2- Como sua formação está presente no trabalho que você faz hoje?

GIOVANA XAVIER - Voltando à minha mãe para responder a pergunta, ela se formou em 1977 na Uerj, que atualmente encontra-se em estado de absoluta precariedade devido à corrupção e ao descaso do Estado com a educação, o que muito me entristece e indigna, sobretudo por saber do pioneirismo que esta universidade ocupa na implantação do sistema de ações afirmativas por raça e classe no Brasil, o que também justifica o desmonte a que está sujeita. Pode parecer que estou fugindo da pergunta, mas refletir sobre minha mãe, a Uerj e a precariedade atual tem a ver com com pensar na minha carreira. Em como me tornei uma professora doutora na maior universidade do Brasil aos 34 anos. Realizei toda a minha formação em história (graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado) em universidades públicas distintas (UFRJ, UFF, Unicamp) e com acesso a todas as modalidades de bolsa de pesquisa (com doutorado sanduiche de um ano na New York University).

O acúmulo dessas vivências torna minha trajetória representativa do poder das transformações sociais que vivenciamos nas duas últimas décadas. Como desdobramento das conquistas, posso dizer que a articulação entre subjetividade e objetividade, presente na autonomeação @pretadotora (minha conta no Instagram e meu blog) dão o tom a tudo que faço hoje. Embora já tenha desistido de enumerar as ações em que estou envolvida (projetos de pesquisa, aulas e orientação na graduação e na pós, produção de textos para revistas científicas, blogs e jornais, conferências, palestras etc.) creio que valha a pena me deter na criação e coordenação do Grupo Intelectuais Negras UFRJ. Trata-se de uma proposta pioneira no Brasil.

A de tecer um espaço acadêmico gerido exclusivamente por mulheres negras e que questione de dentro as estruturas da supremacia branca, estruturas estas que organizam a universidade desde a distribuição de recursos até a produção de currículos e programas de curso, na sua maioria, centrados nas experiências de sujeitos brancos. Assim, eu gosto muito de repassar minha trajetória.

Em um exercício complexo de produção de uma “escrita de mim”, observo que durante 13 anos fui protagonista de um processo de formação conduzido pelo mainstream acadêmico, que, sabemos, é branco. A questão aqui não é sobre individualização e culpa branca. Tenho muitos amigos brancos e alguns deles foram e continuam sendo essenciais para eu estar onde estou. São os casos, por exemplo, da jornalista Josélia Aguiar e da acadêmica Amana Mattos, feministas brancas com quem aprendo muito sobre cuidado, afeto e relações raciais. Mas falo aqui sobre como o racismo é uma estrutura que define lugares.

Ter sido formada no mundo acadêmico branco e, de certa forma, virar o jogo, recusando o posto de negra “brilhante” e “excepcional” como única possibilidade de inserção profissional e, em vez disso, colocando no centro da narrativa os saberes de mulheres negras como determinantes para a formação do Brasil, tem sido minha maior conquista e também meu maior desafio. Desafio porque essa vitória não é permanente. Ela requer muita escuta, observação e habilidade para manutenção e fortalecimento, pois seguimos em minoria nos espaços de prestígio e poder.

Vem daí a importância de termos projetos político acadêmicos individuais e coletivos centrado nas experiências de mulheres negras, sempre bom lembrar, maioria da população brasileira. O Grupo Intelectuais Negras UFRJ, assim como a disciplina homônima que criei e ministro desde 2015 na UFRJ são exemplos bem-sucedidos de criação e manutenção desse tipo de projeto. Professora e estudantes (na sua maioria negros) passam um semestre lendo, debatendo e produzindo única e exclusivamente a partir dos saberes orais e escritos de mulheres negras. Vêm daí ensinamentos muito potentes, como o do reconhecimento de avós, mães, irmãs, tias e vizinhas como intelectuais. Da descoberta do gosto pela escrita, do despertar do desejo de seguir na carreira acadêmica. Protagonizar essa transformação comprova que é possível e necessário produzir conhecimento a partir das nossas histórias pretas e, não menos importante: fazer isso por meio do reconhecimento do amor como ferramenta política de resistência e reinvenção.

É esse sentimento que explica o fato de estarmos aqui até hoje, a despeito de todas as violências e desumanizações que nos são impostas ao longo da história. Como diz a feminista afroamericana bell hooks (que escolhe assinar seu nome assim, com letras minúsculas) e a incrível filósofa e amiga Djamila Ribeiro “o amor cura”. O amor preto cura e reconhecer o papel que a subjetividade do corpo preto desempenha no conhecimento científico que produzimos dentro e fora da academia, na forma de aulas, artigos, livros, palestras, creio, é a maior contribuição que tenho ofertado à minha comunidade nos últimos anos. Trata-se de um retorno do investimento que recebi de Sonia, Leonor, Elenir e do Estado brasileiro democrático.

3 - O que mudou entre a sua expectativa e a realidade?

GIOVANA XAVIER - Essa é uma pergunta boa para ser respondida porque ela aponta numa direção de transgressão, que eu curto muito. Em sendo uma jovem negra trabalhadora que chega na universidade no fim dos anos 1990 (num tempo sem cotas), conciliando estudo e trabalho em um país no qual o fazer intelectual é pensado como privilégio e não como profissão ou trabalho, eu tinha a expectativa de conseguir um “canudo” e me tornar professora de história da educação básica.

Comecei a dar aula aos 17 anos em um projeto social com meninos em cumprimento de medida socioeducativa. Eu tinha uma percepção que meu lugar era e deveria ser a escola pública, a qual aliás já estava bastante familiarizada tanto por minha inserção como pelas memórias de infância. Sou filha de uma professora que dedicou 30 anos de sua vida a educar crianças na Escola Municipal Senador Camará, no bairro da Vila Vintém, o qual frequentei durante toda minha vida.

Ao mesmo tempo que a sala de aula escolar se colocava como destino para pobres que chegam ao ensino superior, eu tive a oportunidade de experimentar um sentido mais literal de universo que a universidade deveria representar para todos e todas que por ela passam. No primeiro ano da graduação, fui convidada para ser bolsista de Iniciação Científica CNPq do professor doutor Carlos Fico. Na mesma época, fui aluna do professor doutor Flavio Gomes, o maior especialista em escravidão e história dos quilombos no Brasil. O fato de Flavio ser um historiador negro com conhecimentos profundos sobre a nossa história mexeu muito comigo.

Sacudiu mais ainda o fato dele ter apostado em mim. Acreditar em uma universidade como a UFRJ significa sentar contigo e te dizer: “olha, graduação é só um momento. Se você investir nas aulas, nas leituras e nos demais recursos que a universidade oferece, você pode fazer um mestrado, um doutorado e se tornar professora universitária como eu”. Flavio talvez não se lembre mais, mas ele, de formas plurais, ao longo de muitos anos como meu grande formador, me disse isso. E o fato de eu ter acreditado nele passa muito por ter sido um professor negro falando com uma aluna negra. Por isso a pauta da representatividade é central na luta contra o racismo.

Em paralelo ao trabalho impecável de Flavio, outras pessoas incríveis na academia apostaram em mim, como minha grande amiga e parceira de trabalho, a professora doutora Martha Abreu, meu amigo professor doutor Álvaro Nascimento e outros como a antropóloga doutora Olívia Cunha e a historiadora doutora Hebe Mattos. Todas essas pessoas me ensinaram a transgredir a expectativa de me tornar professora da educação básica como um limite. Elas foram decisivas para que eu ressignificasse o diploma da graduação como uma etapa inicial rumo à construção de uma carreira acadêmica sólida e respeitada.

Agora, a vida é uma encruzilhada, então não se trata de hierarquizar escola e universidade porque esse, a meu ver, é o maior erro que a academia e muitos de meus colegas cometem, por preconceito e desconhecimento. E eu fui entender isso por meio da minha própria trajetória acadêmica. Em 2012, defendi “Brancas de almas negras? Beleza, cosmética e racialização na imprensa afro-americana (EUA, 1890-1930)”, uma pesquisa inédita sobre a cosmética negra no pós-abolição dos EUA, orientada pelo querido professor doutor Sidney Chalhoub.

De novo, o “destino esperado” era que eu me tornasse professora de história da América. Como dizem os novinhos, “tudo armado”. Mas, como historiadora, eu sei que passado e presente caminham juntos. Assim, em 2013, dei um passo importante na busca pelo meu caminho de casa, fazendo concurso para Faculdade de Educação da UFRJ e tornando-me professora do curso de licenciatura em história. Quero dizer com isso que, de uma maneira não linear, minha expectativa de ser professora da educação básica pública abriu os caminhos para a realidade que hoje me define: uma acadêmica que reforça o compromisso com a educação pública por meio da formação de futuros professores de história e pedagogas.

4 - Qual a maior dificuldade da profissão que você escolheu? E qual o melhor aspecto?

GIOVANA XAVIER - A maior dificuldade de ser historiadora no Brasil passa por tudo escrito acima. Dedicar-se à pesquisa num país em que 19,8 milhões de pessoas vivem a condição da pobreza (com recursos de até R$140) e em que oito pessoas concentram metade da renda de toda a população pobre não é tarefa simples, relacionada apenas a uma ideia universal e falsa da palavra “escolha”. Questões relacionadas às desigualdades raciais e de classe interferem diretamente na ordem do querer. Do que cada pessoa será “quando crescer”. E precisamos encarar isso como uma premissa se quisermos de fato democratizar a produção e o acesso ao conhecimento no país.

A profissão do historiador exige uma disciplina rigorosa de escrita, leitura, pesquisa em arquivos (que, em geral, funcionam em dias e horários restritos), conhecimento de outros idiomas e poder aquisitivo para compra de livros, realização de viagens e outros movimentos intelectuais. Isso não condiz com a realidade da maioria da juventude brasileira, que acaba sendo empurrada para o mercado informal ou para os empregos de bater cartão de ponto.

Diariamente recebo e-mails e escuto histórias de estudantes que desistem de estudar porque “precisam trabalhar”. São arrimos de suas famílias. Esse é o Brasil da casa-grande que é difícil à pampa transgredir. Ao mesmo tempo, essa avaliação macro não é determinante das experiências de todo mundo que ingressa na carreira. As formas de sermos historiadores têm também se ampliado. Falei bastante da sala de aula, tanto na universidade quanto na educação básica, que são as, digamos assim, clássicas formas de inserção na área. Mas há também os centros de pesquisa, de memória, os museus, as empresas de consultoria, o turismo étnico, a televisão. Todos esses são nichos do fazer histórico que têm se fortalecido no Brasil, embora as oportunidades ainda sejam menores do que as demandas.

5 - O que você diria para alguém que está pensando em trabalhar com história?

GIOVANA XAVIER - “Se quer ir rápido vá sozinho, se quer ir longe vá em grupo”. Esse provérbio africano mostra a importância de desde cedo aprendermos a valorizar a construção de redes e as experiências coletivas em nossas formação profissional. No caso da história, isso é muito importante porque infelizmente a cultura hegemônica da academia nos ensina de formas muito perversas que para nos afirmarmos na área científica devemos primar pelo individualismo e pela competitividade.

Nesse sentido, sendo quem sou, proponho que quem pensa em trabalhar com história comece desde cedo a dar vida e alimentar sonhos e projetos de transgressão. Ao chegar à universidade,  invista em criar seus ídolos, suas referências. Para viver no espaço acadêmico precisamos oxigenar nossas mentes com pessoas e projetos que nos inspiram. Se não tudo pode ser muito monótono e traumatizante.

Busque amigos, grupos de pesquisa e disciplinas que estimulem as formas de produção de conhecimento cooperativas. Procure coletivos de estudantes universitários que ofereçam redes de apoio. Elas vão desde receber aquele sorriso, dividir um pacote de biscoito, até escrever e revisar textos em grupo, aprender idiomas, potencializando as habilidades do eu em proveito de uma comunidade.

Ao mesmo tempo, investir na formação individual  é essencial. Reserve no mínimo quatro horas por dia para leituras e registros acerca de textos de diferentes gêneros (acadêmicos, literários, de blogs etc.), visitas a instituições de pesquisa, lugares de memória. Eu sei que vamos cair naquela perguntinha básica: quem pode reservar quatro horas ao dia para ler e investir no trabalho intelectual em nosso país? De fato, não é fácil, eu sei. Mas ninguém disse que seria. Existe o elemento prático do cansaço, quando chegamos à universidade após um dia de trabalho, com fome, sem grana. Mas há também a guerra que precisamos travar contra nós mesmos, reconhecendo a importância de reeducarmos nosso corpo e nossa mente para sermos quem quisermos ser. Isso passa por forjar tempo para leitura e escrita, usando por exemplo os celulares como nossas bibliotecas móveis. As condições nesse caso não são as ideais, mas são as possíveis. Aconteça o que acontecer como seres humanos poderemos sempre nos reinventar, como costumo dizer, transformando margens em centros.

Você pode substituir Mulheres Negras como objeto de estudo por Mulheres Negras contando as suas próprias histórias. (Com informações do Nexo Jornal).

CUT/Vox Populi aponta Haddad como primeiro. O petista venceria todos os adversários no 2º turno


Haddad avança a sombra de Lula. (Foto; Ricardo Stuckert).

A nova pesquisa CUT/Vox Populi confirma o poder de transferência de voto de Lula, preso em Curitiba e impedido de concorrer à presidência da República pelo Tribunal Superior Eleitoral. Quando claramente apresentado aos eleitores como o candidato do ex-presidente, o petista Fernando Haddad alcança 22% de intenção de votos e assume a liderança na disputa.

Jair Bolsonaro, do PSL, aparece em segundo, com 18%. Ciro Gomes, do PDT, registra 10%, enquanto Marina Silva, da Rede, e Geraldo Alckmin, do PSDB, aparecem com 5% e 4%, respectivamente. Brancos e nulos somam 21%.

O Vox Populi ouviu 2 mil eleitores em 121 municípios entre 7 e 11 de setembro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para cima ou para baixo. O índice de confiança chega a 95%.

O instituto tomou a decisão de associar Haddad diretamente a Lula no questionário, ao contrário das demais empresas de pesquisa. Segundo Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, não se trata de uma indução, mas de fornecer o máximo de informação ao eleitor. “Esconder o fato de que o ex-prefeito foi indicado e tem o apoio do ex-presidente tornaria irreal o resultado de qualquer levantamento. É uma referência relevante para uma parcela significativa dos cidadãos. Chega perto de 40% a porção do eleitorado que afirma votar ou poder votar em um nome apoiado por Lula”.


Um pouco mais da metade dos entrevistados (53%) reconhece Haddad como o candidato do ex-presidente. O petista, confirmado na terça-feira 11 como o cabeça de chapa na coligação com o PCdoB, também é o menos conhecido entre os postulantes a ocupar o Palácio do Planalto: 42% informam saber de quem se trata e outros 37% afirmam conhece-lo só de nome.

O desconhecimento é maior justamente na parcela mais propensa a seguir a recomendação de voto de Lula, os mais pobres e menos escolarizados. De maio para cá, decresceu sensivelmente o percentual de brasileiros que afirmam não saber que o ex-presidente está impedido de disputar a eleição: de 39% para 16%.

Ainda assim, é em meio a este público que Haddad registra grandes avanços. Na comparação com a pesquisa de julho, mês no qual o PT ainda nutria esperanças de garantir Lula na disputa, o ex-prefeito passou de 15% para 24% entre os eleitores com ensino fundamental e de 15% para 25% entre aqueles que ganham até dois salários mínimos. O petista chega a 31% no Nordeste e tem seu pior desempenho na região Sul (11%), mesmo quando associado ao ex-presidente.



Ciro Gomes é o menos rejeitado (34%) entre os cinco candidatos mais bem posicionados. Haddad tem a segunda menor taxa, 38%. No outro extremo, com 57%, aparece Bolsonaro.

O deputado, internado desde a sexta-feira 7 no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, registra contudo o maior percentual de menções espontâneas (13%), contra 4% de Ciro e Haddad, 3% de Marina e 2% de Alckmin.

O fato de as citações espontâneas se aproximarem da porcentagem registrada por Bolsonaro nas respostas estimuladas demonstra, ao mesmo tempo, um teto do candidato do PSL e uma resiliência que tende a leva-lo à próxima fase da disputa presidencial.

O Vox realizou diversas simulações de segundo turno. Bolsonaro venceria Alckmin (25% a 18%), empataria tecnicamente com Marina (24% a 26%) e perderia para Ciro (22% a 32%) e Haddad (24% a 36%). O pedetista e o petista vencem os demais. O instituto não fez a simulação de um confronto entre os dois.

Por fim, a pesquisa mediu a percepção dos eleitores em relação ao ataque a Bolsonaro ocorrido em Juiz de Fora em 6 de setembro. A maioria absoluta, 64%, associa a facada a um ato solitário de um indivíduo desequilibrado, “com problemas mentais”. Outros 35% acreditam tratar-se de um atentado organizado e planejado, com fins políticos.

A maior parte dos entrevistados (49% contra 33%) não crê que o episódio possa influenciar a decisão de voto dos brasileiros. (Com informações de CartaCapital).

“Mulheres Unidas contra Bolsonaro” já tem quase 1 milhão de integrantes


Mulheres Unidas contra Bolsonaro já tem quase 1 milhão de integrantes. (Foto: Reprodução).


Cresce rapidamente no Facebook o grupo “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro”. Criado no final de agosto, o grupo já conta com mais de 800 mil integrantes.

Pela velocidade de crescimento, o grupo deve ultrapassar a marca de 1 milhão de integrantes nas próximas horas. Desde domingo (9), foram mais de 600 mil adesões. Isso sem contar os grupos com temáticas e nomes semelhantes.

Bolsonaro é o candidato com o maior índice de rejeição. Segundo a pesquisa Ibope divulgada hoje, o índice está em 41%. Entre as mulheres, o índice de rejeição é maior, chegando a 49% segundo o instituto Datafolha.

Pela descrição, o grupo é destinado a “união das mulheres de todo contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores.”

Acreditamos que este cenário que em princípio nos atormenta pelas ameaças as nossas conquistas e direitos é uma grande oportunidade para nos reconhecer como mulheres. Esta é uma grande oportunidade de união! De reconhecimento da nossa força!”

O reconhecimento da força da união de nós mulheres pode direcionar o futuro deste país! Bem-vindas aquelas que se identificam com o crescimento deste movimento.” Conclui a descrição no Facebook. (Com informações do Blog do Esmael Morais).

Ciro ataca Haddad e reedita disputa Lula e Brizola de 89


Ciro Gomes. (Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil).

Nem bem foi oficializado o nome de Fernando Haddad como candidato do PT à Presidência da República, e o candidato do Ciro Gomes (PDT) já reenviou uma saraivada de críticas ao PT e seu candidato.

Ele disse que falta competitividade a Fernando Haddad. Além disso, disse que a “ameaça protofascista” de Bolsonaro deve ser enfrentada com “contundência, clareza e coesão”, e destacou que o candidato do PT deve ter “dificuldades” para dar as repostas que o país precisa.

A disputa lembra uma reedição da eleição de 1989, quando Leonel Brizola, do mesmo partido de Ciro, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em sua primeira campanha presidencial, concorriam por uma vaga no segundo turno contra Fernando Collor. A diferença que pesa, no entanto, é o apoio do próprio Lula a Haddad. Na época, nenhum dos dois tinha um cabo eleitoral tão expressivo.

De acordo com reportagem do jornal O Globo, Ciro disse ainda que “há menos de dois anos, o Lula e eu apoiamos o Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo, buscando sua reeleição, e tivemos uma decepção profunda. Porque o Haddad não só perdeu para o João Dória, que é um grande farsante, mas perdeu para os votos nulos e brancos”.

Sobre Haddad, Ciro Gomes ainda disse: “ele (Haddad) alcançou 16% dos votos (nas eleições municipais de São Paulo, em 2016) e perdeu praticamente em todas as urnas de São Paulo. Isso não o desqualifica. É alguém que tenho estima, respeito, gostaria de tê-lo como vice, se um entendimento lá atrás fosse possível, mas lançado nessa circunstância, ele sai muito fragilizado – acrescentou.”

A matéria ainda cita simulação para o segundo turno: “na última pesquisa Datafolha, divulgada nesta segunda-feira, Ciro soma 45% das intenções de voto contra 35% de Bolsonaro. Já Haddad tem 39% contra 38% do candidato do PSL. Na série estimulada no primeiro turno, Bolsonaro lidera o pleito, com 24%, seguido de Ciro (13%), Marina (11%), Alckmin (10%) e Haddad (9%).” (Com informações da Revista Fórum).


Segundo pesquisa Ibope, Fernando Haddad cresce; Ciro e Marina caem

(Foto: Ricardo Stuckert).


Pesquisa Ibope divulgada na noite desta terça-feira (11) mostra o crescimento das intenções de voto em Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que foi oficializado como candidato hoje como substituto de Lula. Até então, o ex-presidente liderava as intenções de voto em todos os cenários.

O levantamento aponta que Jair Bolsonaro (PSL) lidera a corrida eleitoral. Ele tinha 22% das intenções de voto na última pesquisa, do início de setembro, e agora tem 26%. Ciro Gomes (PDT), que no Datafolha havia apresentado crescimento, teve uma leve queda no Ibope. Ele tinha 12% das intenções e agora tem 11%. O mesmo aconteceu com Marina Silva (Rede), que tinha 12% e agora tem 9%. Geraldo Alckmin (PSDB) manteve os mesmos 9% do último levantamento. Já Fernando Haddad (PT), que até a manhã de hoje ainda não havia sido oficializado como candidato, subiu de 6% para 8% e foi o único candidato para além de Bolsonaro que apresentou crescimento.

Ciro, Marina, Alckmin e Haddad estão empatados tecnicamente em segundo lugar, pela margem de erro.
O levantamento foi realizado entre 8 e 10 de setembro.

Confira, abaixo, a íntegra das intenções de voto.

Jair Bolsonaro (PSL): 26%
Ciro Gomes (PDT): 11%
Marina Silva (Rede): 9%
Geraldo Alckmin (PSDB): 9%
Fernando Haddad (PT): 8%
Alvaro Dias (Podemos): 3%
João Amoêdo (Novo): 3%
Henrique Meirelles (MDB): 3%
Vera (PSTU): 1%
Cabo Daciolo (Patriota): 1%
Guilherme Boulos (PSOL): 0%
João Goulart Filho (PPL): %
Eymael (DC): 0%
Branco/nulos: 19%
Não sabe/não respondeu: 7%

(Com informações da Revista Fórum).

Face a Face. Bolsonaro é uma mentalidade, por Juremir Machado da Silva


Bolsonaro é uma mentalidade. (Foto: Reprodução).

Não, Jair Bolsonaro não é um candidato como outro qualquer. É pior. Ele é um imaginário, uma mentalidade, uma visão de mundo. O seu método de leitura do que acontece na vida é a simplificação. Torna o complexo falsamente simples por meio de uma redução a zero dos fatores que adensam qualquer situação. Se há violência contra os cidadãos, que cada um receba armas para se defender. Se há impunidade, que a justiça seja sumária e sem muitos recursos. Se há bandidos nas ruas, que a polícia possa matá-los sem que as condições de cada morte sejam examinadas. Se há corrupção, que não se perca tempos com processos.

Bolsonaro encarna o pensamento do homem medíocre, o homem mediano que não assimila explicações baseadas em causas múltiplas. Se há miséria, a culpa é da preguiça dos miseráveis. Se há crime, a culpa é sempre da má índole. Se há manifestações, é por falta de ordem. A sua filosofia por excelência é o preconceito em tom de indignação moral, moralista. A sua solução ideal para os conflitos é a repressão, a cadeia, o cassetete. Bolsonaro corporifica o imaginário do macho branco autoritário que odeia o politicamente correto e denuncia uma suposta dominação do mundo pelos homossexuais. É o cara que, com pretensa convicção amparada em evidências jamais demonstradas, diz:

– Não se pode mais ser homem neste país. Vamos ser todos gays.

Ele representa a ideia de que ficamos menos livres quando não podemos fazer tranquilamente piadas sobre negros, gays e mulheres. Bolsonaro tem a cara de todos aqueles que consideram índios indolentes, dormindo sobre latifúndios improdutivos, e beneficiários do bolsa família preguiçosos que só querem mamar nas tetas do Estado. Bolsonaro é o sujeito desinformado que sustenta que na ditadura não havia corrupção. É o empresário ambicioso que se for para ganhar mais dinheiro abre mão da democracia. É o produtor que vê exagero em certas denúncias de trabalho escravo. É o homem que acha normal, em momentos de estresse, chamar mulher de vagabunda. O eleitor padrão de Bolsonaro sonha com uma sociedade de homens armados nas ruas, sem legislação trabalhista, sem greves, sem sindicatos, sem liberdade de imprensa.

O projeto de Bolsonaro é o retorno a um regime de força por meio de voto. Aparelhamento da democracia. Na parede do imaginário e de certas propagandas de Bolsonaro e dos seus fiéis aparecem ditadores. O seu paraíso é da paz dos cemitérios e das prisões para os dissidentes. Um imaginário é uma representação que se torna realidade. Uma realidade que se torna representação. Bolsonaro é um modo de ser no mundo baseado na truculência, na restrição de liberdade, na eliminação da complexidade, no encurtamento dos processos de tomada de decisões.

Bolsonaro usa a democracia para asfixiá-la. É um efeito perverso do jogo democrático. Condensa uma interpretação do mundo que não suporta a diversidade, o respeito à diferença, a pluralidade, o dissenso, o conflito, o embate. Inculto, ignora a história. Não há dívida com os escravizados e seus descendentes. A culpa pela infâmia da escravidão não é de quem escravizou. O presente exime-se do passado. Bolsonaro é a ignorância que perdeu a vergonha. Contra ele só há um procedimento eficaz: o voto. Se necessário, o voto útil.
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Texto do professor Juremir Machado da Silva encaminhado a redação do Blog Negro Nicolau (BNN) pela professora Eveuma Oliveira.

Garota de 10 anos traz renovação ao rap infantil


"Rima é meu be - a - bá". (Foto: Reprodução).

TrapStar de primeira, Lil Ci$$a estreia na música com o clipe de “Slime Azul”, versão escrita por ela, de 10 anos, em cima da base de “Bodak Yellow”, da norte americana Cardi B.

Lil Ci$$a rima brincando. Essa estreia, mesmo que uma versão, já mostra que rimar com boas ideias é ponto forte de Ciça, que juntou vivências de seu universo para cantar os costumes das crianças de sua idade, como a gosma Slime, sensação nas escolas, até personagens que atravessam gerações, como o Chris, de Todo Mundo Odeia o Chris.

Letra lúdica, jogos de palavras. O clipe, divertido como brincadeira de criança, tem como cenário a periferia da Zona Sul de São Paulo. Um rolezinho no shopping, encontrar as amigas, ostentar uns pacotes de salgadinhos e doces amarram um roteiro que é a cara das tardes de sábado entre os pré-adolescentes. 

Gosto de brincar, gosto de estudar, não posso só assistir cartoon. Levanta a cabeça, princesa, nem todo castelo é do Rá-Tim-Bum” é apenas uma das punchlines redondas que Ciça faz, talento que desenrola com o pai, Slim Rimografia, que, desde antes de seu primeiro álbum, o clássico Financeiramente Pobre (2003), já trazia referências da cultura pop e rimas incomparáveis.

Com “Slime Azul”, Lil Ci$$a dá uma amostra do que vem pela frente, como lançar músicas autorais nos próximos meses e tirar muitos outros versos estilosos da cartola.

"Miga! A Lil Ci$$a, sua trapper favorita. (Foto: Reprodução).
Assista “Slime Azul” aqui.

Ficha técnica:
Música:
Original: Cardi B, “Bodak Yellow”
Letra por Lil Ci$$a e Slim Rimografia
Gravado e mixado por Slim Rimografia no Studio Mokado Records (SP)

Vídeo:
Imagens: Júnior Sá e Slim Rimografia
Direção e edição: Slim Rimografia
Hairstyling: Thais Rafael
Elenco: Rayssa Santos da Silva, Thais Rafael e Thaissa Santos da Silva
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Texto encaminhado para a redação do Blog Negro Nicolau (BNN) por Mariângela Carvalho, da Supernova.