Lula já é maior que Getúlio. Diferente de Getúlio, Lula entrou pra história sem precisar sair da vida



Lula em discurso para cerca de 60 mil metalúrgicos do ABC em 13 de maio de 1979.
(Foto: Reprodução/Brasil Escola).
"Que Lula há muito tempo deixou de ser homem e se tornou uma instituição é consenso à direita e à esquerda. O que está em jogo, em disputa, é o significado da instituição, o que ela representa.

Lula é o maior corrupto da história do Brasil ou a principal liderança popular que esse país já teve?

A disputa está ai. No atual estado da situação não sobrou muito espaço para meio termo. Ou é uma coisa ou é a outra. Cada um que escolha seu lado.

Na condição de instituição, todo gesto de Lula tem dimensão simbólica, é lido e interpretado por todos, por detratores e admiradores. Lula pega o microfone e o país paralisa em frente à TV. Os admiradores choram. Os jornalistas a serviço da mídia hegemônica silenciam. Ninguém fica indiferente a uma instituição desse tamanho.

Lula sabe perfeitamente que está sendo observado, conhece muito bem o tamanho que tem e explora com extrema habilidade sua capacidade de fabricar símbolos.

Aqui neste ensaio, trato de uma parte muito pequena da biografia de Lula, mas que talvez seja, na perspectiva simbólica, a mais importante. Talvez seja até mais importante que os oito anos de seu governo.

Falo das 34 horas em que Lula esteve no sindicato dos metalúrgicos, sob os olhares do mundo, construindo a narrativa de seu próprio martírio.

Não falo em “resistência”, pois desde a condenação no Tribunal da Quarta Região, em 24 de janeiro, que o destino de Lula já estava selado. Os advogados cumpriram sua função, recorrendo a todos as instâncias e tentando um habeas corpus, mas todos já sabiam que Lula seria preso.

Por isso, seria ingênuo dizer que o que aconteceu em São Bernardo do Campo foi um ato de resistência. Lula é um político experiente demais para resistir em causa perdida.

Alguns companheiros e companheiras, no auge da emoção, tentaram usar a força. Lula fugiu da custódia dos trabalhadores e se entregou à Polícia Federal, pois sabe que contra o braço armado do Estado ninguém pode. Lula sabe que aqueles que ali estavam eram trabalhadores e trabalhadoras, pais e mães de família. Não eram soldados. Não eram guerrilheiros. A resistência não era possível.

Lula sabe que seria impossível sustentar aquela mobilização durante muito tempo e por isso não resistiu. Mas daí a se entregar resignado como boi manso para o abate a distância é grande, muito grande.

Penso mesmo que Lula fez mais que resistir, já que a resistência seria quixotesca, irresponsável. Lula pautou a própria prisão, saiu da posição de simples condenado pela justiça para se tornar o dono da narrativa. Lula foi sujeito do próprio encarceramento, deu um nó nas forças do golpe neoliberal.

Muitos achavam que Lula deveria ter fugido para uma embaixada amiga e de lá partido para o exílio no exterior. Confesso que também pensei assim. Mas Lula é muito mais inteligente que todos nós juntos.

Lula sabe que já viveu muito, sabe que não lhe sobra muito tempo de vida. O que resta agora é a consolidação da biografia, o retorno às origens, seu renascimento como ícone da esquerda brasileira, imagem que ficou um tanto maculada pelos oito anos em que governou o Brasil.

É que no capitalismo não existem governos de esquerda. Governo de esquerda só com revolução e Lula nunca foi revolucionário, nunca prometeu uma revolução.

Todo governo legitimado pelas instituições burguesas será sempre burguês. No máximo, no melhor dos cenários, será um governo de centro sensível às demandas populares. O lulismo foi exatamente isso: uma prática de governo de centro sensível às necessidades dos mais pobres. O lulismo transformou o Brasil pra melhor, com todos os seus limites, com todas as suas contradições.

Mas para encerrar a vida em grande estilo carece de algo mais. Era necessária a canonização política. E só a esquerda canoniza líderes políticos. A direita é dura, cinza, sem poesia.

O golpe neoliberal conseguiu reconciliar Lula com as esquerdas, o que há poucos anos parecia algo impossível de acontecer.

É que pra ser canonizado pelas esquerdas nada melhor que ser perseguido pelo poder judiciário, habitat histórico das elites da terra. Basta lançar no google os sobrenomes da maioria dos nossos juízes, procuradores e desembargadores e veremos os berços de jacarandá que embalaram os primeiros sonhos dos nossos magistrados.

É claro que Lula não planejou a perseguição. É óbvio que ele não queria ser perseguido. Se pudesse escolher, estaria tendo um final de vida mais tranquilo, talvez afastado da política doméstica e atuando nas Nações Unidas. Mas já que a vida deu o limão, por que não espremer, misturar com açúcar, cachaça, mexer bem e mandar pra dentro?

Lula fez exatamente isso: uma caipirinha com os limões azedos que seus adversários togados lhe deram.

Primeiro, ele fez questão de esgotar todos os mecanismos legais. A sentença de Moro, os votos dos desembargadores, os votos dos Ministros da Suprema Corte não são palavras ao vento. São “peças”, para falar em bom juridiquês, que ficarão arquivadas e disponíveis para a consulta, para análise.

Imaginem só, leitor e leitora, os historiadores que no futuro, afastados da histeria e das disputas que hoje turvam nossos sentidos, examinarão a sentença de Sérgio Moro, verão que o juiz não foi capaz de determinar em quais “atos de ofício” Lula teria beneficiado a OS para fazer por merecer o tal Triplex do Guarujá.

É como se Moro estivesse falando: "não sei como fez, mas que fez, ah fez".

E o voto dos desembargadores do TRF 4, atravessados de juízos de valor, quase sem relar no mérito da sentença?

E o voto de Rosa Weber? Por Deus, o que foi aquele voto de Rosa Weber?

“Sei que estou votando errado, mas vou continuar votando errado só porque a maioria votou errado. Uma maioria que só vai votar porque eu vou votar errado também.”

Lula, ao se negar a fugir, obrigou cada um desses togados a deixar impressos na história os rastros da própria infâmia.

Uma vez decretada a prisão, o que fez Lula?

Deu um tiro no peito? Se entregou em São Paulo? Foi pra Curitiba? Fugiu?

Não!

Lula se aquartelou no sindicado mais simbólico da redemocratização brasileira, o sindicado que representa as expectativas que nos 1980 apontavam para um Brasil mais justo, mais solidário.

No apogeu da crise que significa o colapso do regime político fundado na redemocratização, Lula decidiu encenar o seu martírio onde tudo começou.

Naquele que talvez seja o último grande ato de sua vida pública, Lula voltou às origens.

Protegido pela massa de trabalhadores, Lula não cumpriu o cronograma estipulado por Sérgio Moro. Cercado por uma multidão, o Presidente operário transformou o sindicato dos metalúrgicos numa embaixada trabalhista.

A Polícia Federal, o braço armado do governo golpista, disse que não usaria a força. A Polícia Federal sabia que o povo resistiria, que sem negociação não tiraria Lula do sindicado sem deixar uma trilha de sangue.

Lula negociou e, nos limites dados por sua posição de condenado pela justiça, venceu e humilhou a instituições ocupadas pelo golpe neoliberal.

Lula não estava foragido. O mundo inteiro sabia onde ele estava e mesmo assim o Estado brasileiro não foi capaz de prendê-lo no prazo determinado pela justiça golpista. Durante um pouco mais de 30 horas, Lula foi um exilado dentro do Brasil, como se São Bernardo do Campo fosse um República independente, a "República Popular dos Trabalhadores".

Lula fez de uma missa em homenagem a Dona Marisa Letícia um ato político e aqui temos mais um lance simbólico do Presidente operário: restabeleceu as pontes entre a esquerda brasileira e a Igreja Católica, aliança que tão importante nos anos 1970, quando sob as bênçãos da Teologia da Libertação foi fundado o Partido dos Trabalhadores.

No palanque, junto com o Padre, estavam Lula e as futuras lideranças da esquerda brasileira. Lula dividiu seu epólio em vida, tomou pra si esse ato mórbido ao abençoar Boulos, Manuela e Fernando Haddad.

Lula unificou em vida a esquerda brasileira. Não só unificou, mas pautou, apresentou o programa, cantou o caminho das pedras.

Lula deixou claro que o povo mais pobre precisa comer melhor, precisa consumir, viajar de avião, estudar na universidade. Lula, o operário que durante a vida inteira foi humilhado por não ter diploma de ensino superior, foi o professor de milhões de brasileiros que sonham com um país melhor.

É como se Lula estivesse dizendo: “num país como o Brasil, a obrigação mais urgente da esquerda é transformar o Estado burguês em agente provedor de direitos sociais”.

Lula discursou durante uma hora em rede nacional, se defendeu das acusações. Não foi uma defesa para a justiça, mas sim para o tribunal moral da nação. Não foi um discurso para o presente. Foi um discurso para a história.

Não, meus amigos, acuado pelas forças do atraso, Lula não deu um tiro no próprio peito.

Lula mandou trazer cerveja e carne e fez um churrasco com seus companheiros e companheiras. Foi carregado pelos seus iguais, foi tocado, beijado. Saliva, suor, pele.

Lula não deu um tiro no próprio peito.

Getúlio é gigante, sem dúvida, mas também era herdeiro das oligarquias. Lula é o único trabalhador que, vindo da base da sociedade, conseguiu governar e transformar o Brasil. Lula já é maior que Getúlio.

Diferente de Getúlio, Lula entrou pra história sem precisar sair da vida”. (Por Rodrigo Perez Oliveira, em sua conta no Facebook).

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1 - Rodrigo Perez Oliveira é bacharel e licenciado em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre e doutor em história social por essa mesma instituição e professor adjunto de Teoria da História e Historiografia Brasileira da Universidade Federal da Bahia. (Informações colhidas junto ao Lattes e ao Escavador).

2 - Título dado por este professor e blogueiro baseado nas informações do texto.

Açude Pajeú, em Altaneira, está perto de sangrar


Açude Pajeú, em Altaneira, está perto de sangrar. (Foto: Antônio Leite).


O Açude do Valério - popularmente conhecido por Pajeú -, localizado no Sítio Serra do Valério, responsável pelo abastecimento do município de Altaneira, após os 90 mm de chuva já registrado nesses primeiros dias de abril, segundo dados colhidos junto a Fundação Cearense de meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), está bem perto de sangrar.

O anúncio foi feito pelo vereador e presidente da Câmara de Altaneira, Antônio Leite (PDT). Segundo ele, ao compartilhar imagem que ilustra este texto na manhã deste domingo (08/04), falta apenas 30 cm para que o reservatório hídrico sangre.

Uma simples pesquisa no Portal Hidrológico do Ceará, responsável pelo monitoramento do nível dos açudes, é possível verificar que o Pajeú está com capacidade entre 90 e 99% desta.

A última sangria do Pajeú foi registrada em 17 de março de 2017 após chuva de 120.7 mm, a maior do ano e a maior do Estado do Ceará naquele dia.

E, no final, Lula reescreveu a história de sua própria prisão



E, no final, Lula conseguiu o que queria. Ao invés de obedecer ao roteiro proposto pelo juiz federal Sérgio Moro e comparecer por conta própria à Polícia Federal, em Curitiba, no final da tarde desta sexta (6), o ex-presidente fez com que fossem busca-lo, no começo da noite deste sábado, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde esperava rodeado por milhares de militantes e eleitores. Escoltado pela Polícia Federal, dirigiu-se até a sede da instituição e de lá para o aeroporto de Congonhas e a capital do Paraná.

Ele não conseguiu controlar os desdobramentos da Lava Jato, vendo sua escolhida sofrer impeachment, seus aliados serem perseguidos e presos e as denúncias e processos se avolumarem contra ele. Também não conseguiu impedir que ele próprio se tornasse o preso mais famoso da operação e, segundo os críticos, razão principal de sua existência, devido à escancarada seletividade partidária.

Contudo, se era incapaz de manter sua liberdade, a principal liderança popular brasileira conseguiu reescrever a narrativa de sua própria prisão.

Ele queria que o registro que ficasse para a posteridade desse momento fosse o do antigo líder de massas, protegido e carregado pelo povo, no sindicato que é seu berço político e um dos símbolos da luta pela redemocratização do país. E não imagens de um Lula derrotado, caminhando em direção ao seu carrasco para a execução de sua pena. Situação em que ele não teria voz, mas seria alvo passivo das avaliações e críticas de terceiros. E veio a conseguir.

Lula é carregado após discurso no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC neste sábado (7).
(Foto: Francisco Proner Ramos).

Desejava ter controle da história de sua prisão não apenas para garantir sua popularidade e, portanto, influência nos processos decisórios do PT e nas eleições de outubro, mas também orientar o sentido do discurso a ser adotado por seu partido e por parte dos movimentos sociais da esquerda daqui em diante. Não é à toa que manteve perto de si durante esses dias de trincheira montada no sindicato tanto Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), quanto a deputada estadual Manuela D'Ávila (PC do B – RS), pré-candidatos à Presidência da República. Ele precisa deles para o futuro, mas eles precisam dele para o presente.

Lula desejava, acima de tudo, defender o seu legado. Gostando-se ou não dele, há de se convir que é a liderança política mais importante que o país produziu na segunda metade do século 20. Cioso de como a história contará sua trajetória e os anos de seu governo, repete, incansavelmente, o papel que desempenhou no processo de retirada de milhões do mapa da fome em seus discursos.

Quando estava para deixar o prédio do sindicato escoltado pela polícia, parte dos manifestantes não o deixou sair. Por conta disso, vi e ouvi muitos comentários de analistas indignados, afirmando que isso era forjado, ou seja, um bloqueio organizado estrategicamente para não deixar ele se entregar. O que mostra que uma parte da classe média antipetista ou mesmo da imprensa não consegue entender o que uma parte do povão mais pobre pensa dele.

Havia quem não queria que ele fosse preso por ser ele o Lula, como toda mitificação em torno dele. Mas para outras que impediam sua passagem, Lula não é mais uma pessoa, mas uma ideia – como ele mesmo disse em seu último discurso, após a missa, nesta manhã, em homenagem ao aniversário de sua falecida esposa Marisa Letícia. E quem quer deixar uma ideia ser presa assim tão facilmente?

Antes que o governo do Estado de São Paulo mandasse a Tropa de Choque para o sindicato a fim de ajudar a cumprir a ordem de prisão, Lula saiu a pé do prédio e entrou no carro que o levaria embora.

Conseguiu o que queria. Para uma parte da sociedade, ele se entregou à polícia e cumprirá pena em Curitiba, sendo o primeiro ex-presidente preso por crime comum. Para outros, contudo, passa como um preso político, arrancado dos braços de um povo que não queria deixar que partisse, mantendo-se como inspiração para a militância em todo o país.

Qual a memória que a maioria das pessoas terá desse dia ainda é cedo para dizer. Da mesma forma, é difícil imaginar o que a história pensará de Lula. Pois, se retirou milhões da fome, decepcionou outros tantos devido aos seus acordos com setores atrasados do país nome da governabilidade.

Além disso, a distribuição das narrativas é feita de desigual devido ao poder de difusão dos meios disponíveis a cada lado. Mas, para ele, é uma vitória ter conseguido impor sua narrativa para disputar o jogo.

Fina ironia. A Operação Lava Jato, tão boa de marketing, criou as condições para aprofundar a mitificação de Lula na ânsia por garantir aquilo que já era certo.

Em tempo: Cansei de denunciar a violência contra jornalistas que cobrem atos e manifestações, da direita à esquerda, ao longo dos anos. De agressões a quem cobre protesto contra a prisão do ex-presidente até tiros no ônibus que levava os jornalistas na caravana de Lula no região Sul, seguimos um caminho perigoso contra a liberdade de expressão e os profissionais de comunicação. Se nossa categoria se visse como trabalhadora, já teria cruzado os braços diante da percepção de que veremos (mais) colegas sendo mortos até as eleições em outubro. Feliz 7 de abril, Dia do Jornalista. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).

Lula deixa sindicato a pé e se entrega à PF




Após intensa resistência dos apoiadores que desde a noite da quinta-feira 5 cercam a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Lula saiu a pé do prédio rumo a uma viatura da Polícia Federal estacionada nas imediações.

Em meio a grande confusão, ele entrou em uma porta da gráfica do sindicato e se apresentou à PF. O ex-presidente negociou até o último minuto para impedir um confronto entre os militantes e a Polícia Militar, que estava no local.

O comboio de veículos, que não estavam caraterizados como viaturas tradicionais da PF, chegou à Superintendência da corporação em São Paulo, no bairro da Lapa. No local, manifestantes contrários e favoráveis ao ex-presidente aguardavam a chegada das viaturas.

Lula fez o exame de corpo de delito na sede da PF em São Paulo e segue de helicóptero neste momento ao aeroporto de Congonhas, onde um avião da Força Aérea Brasileira aguarda no local para levá-lo à Curitiba. Não se sabe, porém, se a viagem ocorrerá mesmo hoje.

Há um grupo de manifestantes no aeroporto. Há 14 viaturas da Força Tática da PM pouco atrás de onde a militância se reúne.

O petista tentara deixar o local e cumprir o acordo com a PF por volta das quatro da tarde, de carro, mas foi impedido por uma multidão. O portão do sindicato chegou a ser arrancado pelos militantes e o ex-presidente viu-se obrigado a sair do automóvel, no qual estava acompanhado do advogado Cristiano Zanin, e retorna ao prédio. Uma nova negociação teve início, ante a ameaça da chegada da PM.

Um pouco antes das seis da tarde, Gleisi Hoffmann, presidente do PT, procurava acalmar a militância enfurecida, que, além de impedir a saída de Lula, gritava palavras de ordem e ameaçava jornalistas escalados para a cobertura. "A coisa que eu mais queria era fechar esse sindicato e resistir, era enfrentar a polícia", discursou a senadora. "Mas o Lula decidiu se entregar e a escolha dele precisa ser respeitada. A consequência é a polícia vir aqui dar porrada na gente. A polícia deu meia hora para a gente resolver. Quem vai sofrer as consequências não somos nós, mas o Lula".

Aos apelos de Hoffmann, a multidão respondia: "Não tem arrego". Ao anúncio da iminente chegada da tropa de choque da PM, retrucavam: "Deixa vir".

Segundo Marco Aurélio de Carvalho, advogado do Movimento de Juristas pela Democracia, caso a PM viesse a agir, seria de maneira ilegal: "O presidente Lula entrou em contato com as autoridades e está negociando, mas não tem controle sobre este movimento. Não há resistência por parte dele".

A negociação com a PF previa que o ex-presidente deixasse o Sindicato dos Metalúrgicos após a missa em homenagem ao aniversário de sua mulher, Marisa Letícia, falecida em fevereiro de 2017. Ela completaria 68 anos neste sábado 7.

A cerimônia foi longa e terminou de maneira emblemática, com Lula nos braços da multidão após um discurso no qual fez questão de demonstrar firmeza e confiança.

"Eu vou enfrentá-los no olho por olho. Quanto mais dias eles me prenderem, mais Lulas vão nascer nesse país. Se dependesse da minha vontade, não iria, mas eu vou. Eu não estou escondido e vou lá nas barbas deles, para que eles saibam que eu não tenho medo", declarou.

O ex-presidente agradeceu a cada um dos parlamentares, sindicalistas e manifestantes que lhe deram apoio e atacou o Ministério Público Federal, o juiz Sérgio Moro e principalmente a mídia, em especial a Rede Globo. "O sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso. Eu fico imaginando o tesão da Veja, da Globo. Eles vão ter orgasmos múltiplos."

Após o discurso do ex-presidente, os militantes passaram a se aglomerar em frente aos portões de saída do Sindicato dos Metalúrgicos. A militância ocupou a parte interna da garagem, entre o portão e o pano amarelo que impede de ver o interior. Os manifestantes passaram a cerca todo o perímetro do sindicato.

O temor dos advogados e de auxiliares próximos é de que a demora em se entregar à PF leve o juiz Sergio Moro a decretar a prisão preventiva, o que elimina qualquer outro chance de impetrar um habeas corpus, embora as frustrantes incursões no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal indiquem que a única esperança de Lula resida no julgamento das ações declaratórias de constitucionalidade que questionam a autorização de prisão a partir de decisão da segunda instância pelo plenário do STF.

Há uma disposição dos movimentos sociais e da militância de não deixar transparecer que a prisão do ex-presidente será aceita pacificamente. A Central Única dos Trabalhadores anunciou uma vigília permanente em frente à sede da Polícia Federal do Paraná e atos Brasil afora. O deputado federal Paulo Teixeira declarou: "O Brasil desse dia de hoje para frente mudou. O presidente Lula nos pertence e nós vamos parar o País a partir de amanhã". (Com informações de CartaCapital).

Confira integra do discurso histórico de Lula em São Bernardo


Lula é carregado pelo povo após discurso em São Bernardo. (Foto: Divulgação).


Na tarde deste sábado (7), em São Bernardo do Campo (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou seu último discurso antes de se apresentar à Policia Federal para cumprir o mandado de prisão emitido pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro nesta semana. A milhares de pessoas que o acompanhavam desde sexta-feira em vigília, Lula, emocionado, relembrou o início de sua vida política no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e enviou uma mensagem de motivação para os que acreditam em seu projeto político.

Confira abaixo a transcrição do discurso histórico:

"Em 1979, esse sindicato fez uma das greves mais extraordinárias. E nós conseguimos fazer um acordo com a indústria automobilística que foi talvez o melhor possível. E eu tinha uma comissão de Fábrica com 300 trabalhadores. O acordo era bom. E eu resolvi levar o acordo para Assembleia. E resolvi pedir pra comissão de fábrica ir mais cedo para conversar com a peãozada. Eu fazia assembleia de manhã pra evitar que o pessoal bebesse um pouquinho a tarde, porque quando a gente bebe um pouquinho, a gente fica mais ousado.

Mesmo assim não evitava, porque o cara levava litro de conhaque dentro da mala e, quando eu passava, tomava uma ‘dosinha’ para a garganta ficar melhor - coisa que não aconteceu hoje.

Pois bem, nós começamos a colocar o acordo em votação e 100 mil pessoas no Estádio da Vila Euclides não aceitavam o acordo. Era o melhor possível. A gente não perdia dia de férias, não perdia décimo terceiro e tinha 15% de aumento. Mas a peãozada 'tava' tão radicalizada que queria 83% ou nada. E não conseguimos. E passamos um ano sendo chamado de pelego pelos trabalhadores. A gente, Guilherme, ia na porta de fábrica… [Lula começa a fazer saudações diversas]. Então, companheiros e companheiras, nós conseguimos… os trabalhadores não aprovaram o acordo… [interrupção para atendimento médico a pessoa na multidão]. 

Eu ia dizendo pra vocês que nós não conseguimos aprovar a proposta que eu considerava boa e o pessoal então passou a desrespeitar a diretoria do Sindicato. Eu ia na porta da fábrica e ninguém parava.

E a imprensa escrevia: “Lula fala para os ouvidos moucos dos trabalhadores”.

Nós levamos um ano para recuperar o nosso prestígio na categoria. E eu fiquei pensando com ar de vingança: “Os trabalhadores pensam que eles podem fazer 100 dias de greve, 400 dias de greve, que eles vão até o fim. Pois eu vou testá-los em 1980”.

E fizemos a maior greve da nossa história. A maior greve. 41 dias de greve. Com 17 dias de greve, fui preso. Os trabalhadores começaram, depois de alguns dias, a furar greve. Eu sei que Tuma, eu sei que o doutor Almir e eu sei que o Teotônio Vilela iam dentro da cadeia e falavam assim pra mim: “Ô, Lula, cê precisa acabar com a greve, cê precisa dar um conselho para acabar com a greve”. E eu dizia: “Eu não vou acabar com a greve. Os trabalhadores vão decidir por conta própria”.

O dado concreto é que ninguém aguentou 41 dias porque, na prática, o companheiro tinha que pagar leite, tinha que pagar a conta de luz, tinha que pagar gás, a mulher começou a cobrar o dinheiro do pão, ele então começou a sofrer pressão e não aguentou. Mas é engraçado porque, na derrota, a gente ganhou muito mais sem ganhar economicamente do que quando a gente ganhou economicamente. Significa que não é dinheiro que resolve o problema de uma greve, não é 5%, não é 10%, é o que está embutido de teoria política, de conhecimento político e de tese política numa greve.

"Significa que não é dinheiro que resolve o problema de uma greve, não é 5%, não é 10%, é o que está embutido de teoria política, de conhecimento político e de tese política numa greve"

Agora, nós estamos quase que na mesma situação. Quase que na mesma situação. Eu tô sendo processado e eu tenho dito claramente: “O processo do meu apartamento, eu sou o único ser humano que sou processado por um apartamento que não é meu”. E ele sabe que o Globo mentiu quando disse que era meu. A Polícia Federal da Lava Jato, quando fez o inquérito, mentiu que era meu. O Ministério Público, quando fez a acusação, mentiu dizendo que era meu. E eu pensei que o Moro ia resolver e ele mentiu dizendo que era meu e me condenou a nove anos de cadeia.

É por isso que eu sou um cidadão indignado, porque eu já fiz muita coisa com meus 72 anos. Mas eu não os perdoo por ter passado para a sociedade a ideia de que eu sou um ladrão. Deram a primazia dos bandidos fazerem um pixuleco pelo Brasil inteiro. Deram a primazia dos bandidos chamarem a gente de petralha. Deram a primazia de criar quase um clima de guerra, negando a política nesse país. E eu digo todo dia: nenhum deles, nenhum deles, tem coragem ou dorme com a consciência tranquila da honestidade, da inocência que eu durmo. Nenhum deles. [Aplausos].

Eu não estou acima da Justiça. Se eu não acreditasse na Justiça, eu não tinha feito partido político. Eu tinha proposto uma revolução nesse país. Mas eu acredito na Justiça, numa Justiça justa, numa Justiça que vota um processo baseado nos autos do processo, baseado nas informações das acusações, das defesas, na prova concreta que tem a arma do crime.

O que eu não posso admitir é um procurador que fez um Powerpoint e foi pra televisão dizer que o PT é uma organização criminosa que nasceu para roubar o Brasil e que o Lula, por ser a figura mais importante desse partido, o Lula é o chefe e, portanto, se o Lula é o chefe, diz o procurador, “eu não preciso de provas, eu tenho convicção”. Eu quero que ele guarde a convicção dele para os comparsas deles, para os asseclas dele e não para mim. Certamente, um ladrão não estaria exigindo prova. Estaria de rabo preso com a boca fechada torcendo para a imprensa não falar o nome dele.

Eu tenho mais de 70 horas de Jornal Nacional me triturando. Eu tenho mais de 70 capas de revista me atacando. Eu tenho milhares de páginas de jornais e matérias me atacando. Eu tenho mais a Record me atacando. Eu tenho mais a Bandeirantes me atacando, eu tenho a rádio do interior me atacando. E o que eles não se dão conta é que, quanto mais eles me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro.

"E o que eles não se dão conta é que, quanto mais eles me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro"

Eu não tenho medo deles. Eu até já falei que gostaria de fazer um debate com o Moro sobre a denúncia que ele fez contra mim. Eu gostaria que ele me mostrasse alguma coisa de prova. Eu já desafiei os juízes do TRF4 que eles fossem prum debate na universidade que eles quiserem, no curso que eles quiserem, provar qual é o crime que eu cometi nesse país. E eu, às vezes, tenho a impressão - e tenho a impressão porque eu sou um construtor de sonhos. Eu há muito tempo atrás sonhei que era possível governar esse país envolvendo milhões e milhões de pessoas pobres na economia, envolvendo milhões de pessoas nas universidades, criando milhões e milhões de empregos nesse país. Eu sonhei, eu sonhei que era possível um metalúrgico, sem diploma universitário, cuidar mais da educação que os diplomados e concursados que governaram esse país. Eu sonhei que era possível a gente diminuir a mortalidade infantil levando leite feijão e arroz para que as crianças pudessem comer todo dia. Eu sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocá-los nas melhores universidades desse país para que a gente não tenha juiz e procuradores só da elite. Daqui a pouco vamos ter juízes e procuradores nascidos na favela de Heliópolis, nascidos em Itaquera, nascidos na periferia. Nós vamos ter muita gente dos Sem Terra, do MTST, da CUT formados.

Esse crime eu cometi.

Eu cometi esse crime e eles não querem que eu cometa mais. É por conta desse crime que já tem uns dez processos contra mim. E se for por esses crimes, de colocar pobre na universidade, negro na universidade, pobre comer carne, pobre comprar carro, pobre viajar de avião, pobre fazer sua pequena agricultura, ser microempreendedor, ter sua casa própria. Se esse é o crime que eu cometi eu quero dizer que vou continuar sendo criminoso nesse país porque vou fazer muito mais. Vou fazer muito mais. [Povo começa a gritar “Lula, guerreiro do povo brasileiro]

"Eu sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocá-los nas melhores universidades desse país para que a gente não tenha juiz e procuradores só da elite"

Companheiros e companheiras, eu, em 1986, fui o deputado constituinte mais votado na história do país. E, na época, havia uma desconfiança de que só tinha poder no PT quem tinha mandato.. Quem não tivesse mandato era tido… [começa a fazer saudações]. Então companheiros, quando eu percebi que o povo desconfiava que só tinha valor no PT quem era deputado, Manuela e Guilherme, sabe o que eu fiz? Deixei de ser deputado. Porque eu queria provar ao PT que ia continuar sendo a figura mais importante do PT sem ter mandato. Porque se alguém quiser ganhar de mim no PT só tem um jeito: é trabalhar mais do que eu e gostar do povo mais do que eu, porque, se não gostar, não vai ganhar.

Pois bem: nós agora estamos num trabalho delicado. Eu talvez viva o momento de maior indignação que um ser humano vive. Não é fácil o que sofre a minha família. Não é fácil o que sofrem meus filhos. Não é fácil o que sofreu a Marisa. E eu quero dizer que a antecipação da morte da Marisa foi a safadeza e a sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela. Eu tenho certeza. Essa gente eu acho que não tem filho, não tem alma e não tem noção do que sente uma mãe ou um pai quando vê um filho massacrado, quando vê um filho sendo atacado.

Eu então, companheiros, resolvi levantar a cabeça. Não pense que eu sou contra a Lava Jato não. A Lava Jato, se pegar bandido, tem que pegar bandido mesmo que roubou e prender. Todos nós queremos isso. Todos nós, a vida inteira, dizíamos: “A Justiça só prende pobre, não prende rico”. Todos nós dizíamos. E eu quero que continue prendendo rico. Eu quero. Agora, qual é o problema? É que você não pode fazer julgamento subordinado à imprensa. Porque, no fundo, no fundo, você destrói as pessoas na sociedade, na imagem da pessoas e depois os juízes vão julgar e vão dizer “eu não posso ir contra a opinião pública que tá pedindo pra caçar”. Quem quiser votar com base na opinião pública, largue a toga e vá ser candidato a deputado, escolha um partido político e vá ser candidato. Ora, a toga ela é o emprego vitalício. O cidadão tem que votar apenas com base nos autos do processo, aliás eu acho que ministro da Suprema Corte não deveria dar declaração de como vai votar. Nos EUA, termina a votação e você não sabe em quem o cidadão votou exatamente para que ele não seja vítima de pressão.

"Quero dizer que a antecipação da morte da Marisa foi a safadeza e a sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela"

Imagina um cara sendo acusado de homicídio e não tenha sido ele o assassino. O que a família do morto quer? Que ele seja morto, que ele seja condenado. Então, o juiz tem que ter, diferentemente de nós, a cabeça mais fria, mais responsabilidade de fazer a acusação ou de condenar. O Ministério Público é uma instituição muito forte. Por isso, esses meninos que entram muito novo, fazem um curso direito e depois faz três anos de concurso porque o pai pode pagar, esses meninos precisavam conhecer um pouco da vida, um pouco de política, para fazer o que eles fazem na sociedade brasileira.

Tem uma coisa chamada responsabilidade. E não pense que quando eu falo assim [quer dizer que] eu sou contra. Eu fui presidente e indiquei quatro procuradores e fiz discurso em todas as posses. Eu dizia: “Quanto mais forte for a instituição, mais responsável os seus membros têm que ser”. Você não pode condenar a pessoa pela imprensa para depois julgá-la. Vocês estão lembrados de que, quando eu fui prestar depoimento lá em Curitiba, eu disse para o Moro: “Você não tem condições de me absolver porque a Globo tá exigindo que você me condene e você vai me condenar".

Pois bem, eu acho que tanto o TRF4, quanto o Moro, a Lava Jato e a Globo, eles têm um sonho de consumo. O sonho de consumo é que, primeiro, o golpe não terminou com a Dilma. O golpe só vai concluir quando eles conseguirem convencer que o Lula não possa ser candidato à presidência da república em 2018. Não é que eu não vou ser, eles não querem que eu participe porque existe a possibilidade de cada um se eleger. Eles não querem o Lula de volta porque pobre na cabeça deles não pode ter direito. Não pode comer carne de primeira. Pobre não pode andar de avião. Pobre não pode fazer universidade. Pobre nasceu, segundo a lógica deles, para comer e ter coisas de segunda categoria.

"Eles não querem o Lula de volta porque pobre, na cabeça deles, não pode ter direito"

Então, companheiros e companheiras, o outro sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso. Ah, eu fico imaginando o tesão da Veja colocando a capa comigo preso. Eu fico imaginando o tesão da Globo colocando a minha fotografia preso. Eles vão ter orgasmos múltiplos.

Eles decretaram a minha prisão. E deixa eu contar uma coisa pra vocês: eu vou atender o mandado deles. E vou atender porque eu quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo que acontece neste país acontece por minha causa. Eu já fui condenado a 3 anos de cadeia porque um juiz de Manaus entendeu que eu não preciso de arma, eu tenho uma língua ferina, então precisa me calar, porque se não me calar, ele vai continuar falando frases como eu falei, "tá chegando a hora da onça beber água", e os camponeses mataram um fazendeiro e eles achavam que era a senha.

Eles já tentaram me prender por obstrução de justiça, não deu certo. Eles agora querem me pegar numa prisão preventiva, que é uma coisa mais grave, porque não tem habeas corpus. O Vaccari já tá preso há três anos. O Marcelo Odebrecht gastou R$ 400 milhões e não teve habeas corpus. Eu não vou gastar um tostão. Mas vou lá com a seguinte crença: eles vão descobrir pela primeira vez o que eu tenho dito todo dia. Eles não sabem que o problema deste país não se chama Lula, o problema deste país chama-se vocês, a consciência do povo, o Partido dos Trabalhadores, o PCdoB, o MST, o MTST, eles sabem que tem muita gente.

E aquilo que a nossa pastora disse, e eu tenho dito em todo discurso, não adianta tentar me impedir de andar por este país, porque têm milhões e milhões de Boulos, de Manuelas, de Dilmas Rousseffs neste país para andar por mim.

Não adianta tentar acabar com as minhas ideias, elas já estão pairando no ar e não tem como prendê-las.

Não adianta parar o meu sonho, porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês e pelos sonhos de vocês.

Não adianta achar que tudo vai parar o dia que o Lula tiver um infarto, é bobagem, porque o meu coração baterá pelos corações de vocês, e são milhões de corações.

Não adianta eles acharem que vão fazer com que eu pare, eu não pararei porque eu não sou um ser humano, sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de vocês. E eu tenho certeza que companheiros como os sem-terra, o MTST, os companheiros da CUT e do movimento sindical sabem. E esta é uma prova, esta é uma prova. Eu vou cumprir o mandado e vocês vão ter de se transformar, cada um de vocês, vocês não vão se chamar chiquinho, zezinho, joãozinho, albertinho… Todos vocês, daqui pra frente, vão virar Lula e vão andar por este país fazendo o que vocês têm que fazer e é todo dia! Todo dia!

Eles têm de saber que a morte de um combatente não para a revolução.

Eles têm de saber. Eles têm de saber que nós vamos fazer definitivamente uma regulação dos meios de comunicação para que o povo não seja vítima das mentiras todo santo dia.

Eles têm de saber que vocês, quem sabe, são até mais inteligentes que eu, e queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas, as ocupações no campo e na cidade. Parecia difícil a ocupação de São Bernardo, e amanhã vocês vão receber a notícia que vocês ganharam o terreno que vocês invadiram.

"Não adianta parar o meu sonho, porque, quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês e pelos sonhos de vocês"

Companheiros, eu tive chance, agora, eu estava no Uruguai, entre Livramento e Rivera, e as pessoas diziam assim, "ô, Lula, você finge que vai comprar um “uisquizinho”, e você vai para o Uruguai com o Pepe Mujica e vai embora e não volta mais, pede asilo político. Você pode ir na embaixada da Bolívia, do Uruguai, da Rússia, e de lá você fica falando…" Eu não tenho mais idade. Minha idade é de enfrentá-los com olho no olho e eu vou enfrentá-los aceitando cumprir o mandado.

Eu quero saber quantos dias eles vão pensar que tão me prendendo. E, quantos mais dias eles me deixarem lá, mais Lulas vão nascer neste país e mais gente vai querer brigar neste país, porque numa democracia, não tem limite, não tem hora para a gente brigar. Eu falei para os meus companheiros: se dependesse da minha vontade eu não ia, mas eu vou porque eles vão dizer, a partir de amanhã, que o Lula tá foragido, que o Lula tá escondido, e não! Eu não tô escondido, eu vou lá na barba deles pra eles saberem que eu não tenho medo, que eu não vou correr, e para eles saberem que eu vou provar minha inocência.

Eles têm de saber isso.

E façam o que quiserem. Façam o que quiserem. Eu vou pegar uma frase que eu peguei em 1982 de uma menina de 10 anos em Catanduva, e essa frase não tem autor:

Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais poderão deter a chegada da primavera.

E a nossa luta é em busca da primavera.

Eles têm de saber que nós queremos mais casa, mais escola. Nós queremos menos mortalidade, nós não queremos repetir a barbaridade que fizeram com a Marielle no Rio de Janeiro.

Não queremos repetir a barbaridade que se faz com meninos negros neste país.

Não queremos mais a mortalidade por desnutrição neste país. Não queremos mais que um jovem não tenha esperança de entrar numa universidade, porque este país é tão cretino, que foi o ultimo país do mundo a ter uma universidade. O último! Todos os países mais pobres tiveram, porque eles não queriam que a juventude brasileira estudasse.

Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais poderão deter a chegada da primavera. E a nossa luta é em busca da primavera"

E falavam que custava muito. É de se perguntar: quanto custou não fazer 50 anos atrás?

Eu quero que vocês saibam que eu tenho orgulho, profundo orgulho, de ter sido o único presidente da República sem ter um diploma universitário, mas sou o presidente da República que mais fiz universidade na história deste país, para mostrar para essa gente que não confunda inteligência com a quantidade de anos na escolaridade, isso não e inteligência, é conhecimento.

Inteligência é quando você tem lado, inteligência é quando você não tem medo de discutir com os companheiros aquilo que é prioridade, e a prioridade é garantir que este país volte a ter cidadania. Não vão vender a Petrobras! Vamos fazer uma nova Constituinte! Vamos revogar a lei do petróleo que eles tão fazendo! Não vamos deixar vender o BNDES, não vamos deixar vender a Caixa, não vamos deixar destruir o Banco do Brasil! E vamos fortalecer a agricultura familiar, que é responsável por 70% do alimento que nós comemos neste país.

E com essa crença, companheiros, de cabeça erguida, como eu tô falando com vocês, que eu quero chegar lá e dizer ao delegado: estou à disposição.

E a história, daqui a alguns dias, vai provar que quem cometeu crime foi o delegado que me acusou, foi o juiz que me julgou e foi o Ministério Público que foi leviano comigo.

Por isso, companheiros, eu não tenho lugar no meu coração pra todo mundo, mas eu quero que vocês saibam que se tem uma coisa que eu aprendi a gostar neste mundo é da minha relação com o povo.

Quando eu pego na mão de um de vocês, quando eu abraço um de vocês, quando eu beijo um de vocês… porque agora eu beijo homem e mulher igualzinho… Quando eu beijo um de vocês, eu não tô beijando com segundas intenções, eu tô beijando porque, quando eu era presidente, eu dizia:

"Eu vou voltar pra onde eu vim".

E eu sei quem são meus amigos eternos e quem são os eventuais. Os de gravatinha, que iam atrás de mim, agora desapareceram. E quem está comigo são aqueles companheiros que eram meus amigos antes de eu ser presidente da República. É aquele que comia rabada no Zelão, que comia frango com polenta no Demarchi, é aquele que tomava caldo de mocotó no Zelão, esses continuam sendo nossos amigos. São os que têm coragem de invadir terreno pra fazer casa, são aqueles que têm coragem de fazer uma greve contra a previdência, são aqueles que ocupam no campo pra fazer uma fazenda produtiva, são aqueles que, na verdade, precisam do Estado.

Companheiros, eu vou dizer uma coisa pra vocês: Vocês vão perceber que eu vou sair desta maior, mais forte, mais verdadeiro, e inocente, porque eu quero provar que eles é que cometeram um crime, um crime político de perseguir um homem que tem 50 anos de história política, e por isso eu sou muito grato.

Eu não tenho como pagar a gratidão, o carinho e o respeito que vocês têm dedicado a mim nesses anos todos. E quero dizer a vocês, Guilherme e Manuela, a vocês dois, que para mim é motivo de orgulho pertencer a uma geração, que está no final dela, ver nascer dois jovens disputando o direito de ser presidente da República neste país. Por isso, grande abraço, e podem ficar certos: esse pescoço aqui não baixa, minha mãe já fez o pescoço curto pra ele não baixar, e não vai baixar, porque eu vou sair de lá de cabeça erguida e de peito estufado, porque eu vou provar a minha inocência.

Um abraço companheiros, obrigado, mas muito obrigado, pelo que vocês me ajudaram, um beijo, querido, muito obrigado!" 

(Edição: Diego Sartorato e Pedro Nogueira, no Brasil de Fato)


Lula se apresentará à PF depois de ato religioso em homenagem a Marisa Letícia



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá ser conduzido à sede da Polícia Federal em São Paulo hoje (7), depois do ato religioso realizado a partir das 9h30 no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em homenagem aos 68 anos que sua mulher, Marisa Letícia, completaria hoje se estivesse viva.

Os advogados de defesa negociaram a condução de Lula com a Polícia Federal durante a madrugada deste sábado. A linha de negociação que se consolidou é que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se apresenta à PF em Curitiba, nem se entrega, nem se rende, nem vai resistir à prisão.


Deputado Paulo Pimenta, e-x ministro Celso Amorim, senador
Lindebergh Farias, Lula e Manuela D'Àvila: resistência.
(Foto: Ricardo Stuckert).

Pesou na decisão de Lula, de sua assessoria jurídica e de seus familiares o risco de que fosse decretada uma prisão preventiva, o que implicaria em uma detenção por período imprevisível e prejudicaria o julgamento da inconstitucionalidade da prisão após segunda instância.

Nas negociações, a PF não abriu mão de que a apresentação do ex-presidente fosse neste sábado. Apesar de não ter cumprido a ordem de apresentação à PF de Curitiba até às 17h desta sexta (6), como havia sido decretado pelo juiz Sergio Moro, Lula não é considerado foragido, visto que está desde quinta-feira na sede do sindicato, em local público, em ato de resistência e cercado de apoiadores.

O Comitê Popular em Defesa de Lula e da Democracia divulgou nota na manhã deste sábado, em que apresenta detalhes da celebração no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC:

Boletim 4 – Comitê Popular em Defesa de Lula e da Democracia

Direto de São Bernardo do Campo – 07/04/2018 – 8h45

1. Lula novamente recebeu centenas de pessoas na noite de ontem. Companheiros e companheiras de todo país vieram prestar solidariedade. Hoje acordou disposto e tomou café da manhã com a família.

2. A partir das 9h30 será realizada uma missa em homenagem à companheira Marisa Letícia, a militante que fez a primeira bandeira do PT e que lutou ao lado de Lula por um Brasil e um mundo justos e igualitários durante 43 anos.

3. Após a missa teremos um espetáculo musical com grandes artistas que também são lutadores do povo brasileiro: Leci Brandão, Maria Gadú, Flávio Renegado, Tulipa Ruiz, Xênia França, Aíla, Thaíde, Rico Dalasam, Fioti, Eduardo Brechó e outros.

4. Ainda na sexta-feira (6), parlamentares e líderes políticos e sindicais argentinos cobraram do governo Maurício Macri a convocação extraordinária, em caráter de urgência, da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para discutir a crise no Brasil, diante da ruptura da cláusula democrática do órgão com o pedido de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva baseado em um processo fraudulento e sem que lhe seja garantido o amplo direito à defesa.

5. Uma delegação de parlamentares e dirigentes sindicais da Argentina chegará ainda nesta manhã a São Bernardo do Campo para prestar solidariedade e reforçar a defesa da democracia e de Lula.

6. A Rede Globo, maior inimiga da democracia brasileira desde que foi criada em 1965, embora fale sempre em legalidade como se fosse um bastião do respeito às leis, tem usado reiteradamente – sem autorização prévia e/ou sem dar os devidos créditos – em suas transmissões, especialmente no canal Globo News, imagens geradas pela TV dos Trabalhadores (TVT) e por veículos da imprensa alternativa, como Jornalistas Livres e Mídia Ninja. (Com informações da RBA).