No
Senado francês, em Paris, o presidenciável Ciro Gomes, do PDT, comentou a
situação política brasileira e os disparos contra a caravana do ex-presidente
Lula.
“Há uma escalada protofascista no Brasil,
animada fundamentalmente na Internet”, avalia. “Ela é estimulada por alguns quadros da política brasileira. Uma parte
relevante da direita brasileira começa a fazê-lo, mesmo sem uma vontade
explícita de que isso aconteça”.
O
pré-candidato à presidência participou de vários eventos na Europa. Na passagem
pela França, Ciro Gomes concedeu uma entrevista à RFI.
“Parte [da direita] é protofascista mesmo, e
outra parte permite isso, veja o exemplo do governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin, que, ao invés de pura e simplesmente condenar [o ataque à caravana de
Lula], que é o que se impõe a qualquer democrata, afirmou como primeira reação
que o PT está colhendo o que plantou”, acrescentou. “Nada justifica isso, por mais antagonismo que haja. Eu, por exemplo,
tenho muitos antagonismos recentes com parte da burocracia do PT e com parte de
seu comportamento estratégico, mas não é razoável aceitar que a bala, a pedra e
a violência substituam o argumento no debate político”.
Ciro
Gomes afirma que não é possível ainda dizer se [o ataque] foi ou não um crime
político. “É preciso que nós não nos
antecipemos. O que devemos fazer é pedir pressa e eficácia na apuração.
Imediatamente uma fração da direita fala em armação. Não podemos deixar que um
fato dessa gravidade, com motivações tão potencialmente graves, tenha sua
investigação atrapalhada”, avalia. “Se
foi de fato um atentado com intenção ainda que sem sucesso de matar o
ex-presidente, temos aí uma coisa absolutamente grave, num país que tem 64.700
homicídios nos últimos doze meses e onde a escalada do crime organizado produz
uma impunidade de quase 92%”.
“Na medida em que o banditismo começa a puxar
o enfrentamento com o poder político, isso significa um conjunto de ideias e
valores. (...) É o crime organizado se sentindo mais empoderado. É preciso
exigir que as autoridades apontem e punam os culpados”, sinaliza.
Ciro
Gomes não acredita, porém, que a escalada de violência no Brasil possa adiar o
processo eleitoral em 2018. “Evidentemente
que a nossa baixíssima tradição democrática e o momento em que estamos, do
nosso ponto de vista, sob um golpe de Estado, permitem especulações de toda
natureza porque as instituições centrais já foram golpeadas e há uma certa
incapacidade das autoridades judiciais do país de impor esta ordem do Estado de
direito democrático”, afirma.
“Mas para que isso acontecesse [adiamento das
eleições], deveria existir um poder, que não parece existir na nossa realidade
contemporânea, capaz de subjugar as regras da Constituição. No passado foi uma
interrupção militar, e hoje, diga-se, a bem da verdade, os militares têm se
comportado com grande profissionalismo”.
Pouco
importa o que eu defenda [em relação à candidatura de Lula], o ideal para o
País é que todos nós pudéssemos nos apresentar, independentemente de nossa
linha partidária, e que o grande juiz fosse o povo, depois de um generoso e
fraterno debate que nos permitisse ajuizar o grave e complexo problema
socioeconômico do país e as formulações de estratégia”, considera.
“Entretanto há uma lei em vigor no Brasil, a
lei da Ficha Limpa. E ela é de uma transparência absoluta, que não permite
dubiedade na interpretação. A lei diz pura e simplesmente que o cidadão ou a
cidadã, condenados em segundo grau de jurisdição, fica sem o direito de ser
candidato(a). Portanto, é flagrante que o Lula não será candidato”, afirma.
(Com informações de CartaCapital).
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Ciro Gomes: a internet emula o fascismo. (Foto: Wikimedia). |