Prefeito de Altaneira Dariomar Rodrigues empossa seu secretariado


O Ginásio Poliesportivo Antônio Robério Carneiro foi palco na noite deste domingo (1º) do ato de transmissão do cargo majoritário do município de Altaneira.

Todo o momento foi realizado pelos mestres de Cerimônia Flavia Regina, locutora da Rádio Comunitária Altaneira FM e âncora do informativo local “Notícias em Destaque” e por Jeremias Marcelo, do vizinho município de Assaré que apresentaram a biografia dos nomes que foram nomeados para compor o primeiro escalão da administração municipal na gestão 2017 – 2020.

Antes, porém, o vice-prefeito José Eles (Dedé Pio) que desde outubro vinha exercendo a função de prefeito em face do afastamento do titular do cargo Delvamberto Soares mostrou humildade ao convidá-lo para entregar junto a ele a faixa ao prefeito eleito. Com um discurso também simples e rápido, Dedé agradeceu a oportunidade de gerir o município nesses dois meses, ao passo que demonstrou gratidão também ao seu secretariado e a comunidade altaneirense.

Isto posto, seguiu-se para a apresentação do secretariado que um a um foi acompanhado mediante a leitura de uma breve biografia. Apenas três nomes são novidade. Permaneceram nos cargos o Secretário de Agricultura e Meio Ambiente, o técnico em agropecuária Antônio Ceza Cristovão, a enfermeira Neuza Moreira na Secretaria de Saúde; a Secretaria de Cultura, Desporto e Turismo continuará com Antônio Pereira da Silva; o micro-empresário Humberto Batista que assumiu em meados de outubro do ano passado a Secretaria de Administração e Finanças continuará a frente da mesma e Paulo Almeida que continuará no comando da Secretaria de Infraestrutura.

Audilene Fernandes deu lugar à primeira dama Maria Pereira Alencar (Lan Alencar) que ocupará a Secretaria de Assistência Social; de igual modo, o professor Dhony Nergino cedeu o posto de Secretário de Educação a ex-diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Joaquim Rufino de Oliveira, a professora Leocádia Rodrigues Soares. Único dos novos secretários a discursar, o professor da rede estadual de ensino e ex-vereador Deza Soares assumirá a Secretaria de Governo.

Na mesma oportunidade, o Dr. Milton Ferreira que ora estava exercendo a função de procurador Adjunto, foi escolhido para o cargo de Procurador Geral. 

Discurso do Prefeito

No ensejo, Dariomar Rodrigues teceu agradecimentos aos seus familiares, amigos/as, aos vereadores a quem pediu união para lutar pelo bem do povo, ao passo que reiterou que está sempre aberto ao diálogo que possa possibilita o crescimento e uma melhor qualidade de vida aos munícipes.

Discurso do Secretário de Governo

Deza fez um relato de sua atuação frente à Câmara Municipal enquanto parlamentar, onde exerceu com, segundo ele, zelo e compromisso a função de líder de bancada. Fez menção ainda sua função de presidente em exercício do legislativo, vindo a destacar a revisão do regimento interno e a reforma administrativa da casa. Citou também que foi um dos edis que mais projetos apresentou durante os seus quatros mandatos, tendo como carro chefe o Projeto de Urbanização e Revitalização da Lagoa Santa Tereza. Tudo isso fez com que Dariomar lhe escolhesse para tão importante missão, disse.

Secretáriado e o Procurador Geral são empossados em Altaneira. Foto: João Alves.






Estação do metrô é 'rebatizada' com nome de ambulante morto: Luiz Carlos Ruas


Quando você passar pela estação Dom Pedro II, nunca se esqueça: o verdadeiro nome deste metrô é Luiz Carlos Ruas, ambulante morto nesta semana tentando defender duas travestis. Em um ato nesta sexta-feira (30), em memória a Luiz, familiares, amigos e representantes da comunidade LGBTT estenderam uma faixa com o nome do vendedor mudando o nome do local simbolicamente.

Os manifestantes cobram a condenação dos primos Alípio Rogério dos Santos, de 26 anos, e Ricardo do Nascimento de 21, ambos presos nesta semana pela morte de Luiz.


Com cartazes em punho e palavras de ordem, o grupo lamentou a crueldade com que o ambulante morreu. Alípio e Ricardo espancaram até a morte. As câmeras de vigilância da estação do metrô mostram Luiz, já deitado no chão, alvo de chutes em sequência.

O ato desta sexta foi o segundo desde a sua morte e começou no lado de fora da estação. No saguão, os seguranças - que no dia do assassinato não estavam presentes - isolaram o local com grades. Houve um princípio de confusão quando o grupo tentou entrar na estação.

Mensagens e flores em memória ao ambulante morto foram reunidas diante da passarela em frente à estação Pedro II. Outra faixa como a que foi colocada na fachada da estação foi grudado sobrei o memorial improvisado.

A manifestação contou com a presença do padre Júlio Lancelotti, da Pastoral Povo da Rua, que participou das homenagens ao ambulante, além do vereador eleito Eduardo Suplicy (PT), ex-secretário de Direitos Humanos da gestão Fernando Haddad (PT).

Prisão

Os primos Santos e Nascimento, foram transferidos na quinta-feira (29) da carceragem do 77º DP (Santa Cecília) para a penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. A Justiça decretou a prisão temporária por 30 dias da dupla; o prazo pode ser prorrogado e a Polícia Civil já informou que pedirá a prisão preventiva dos jovens.

Os investigadores disseram que 14 testemunhas confirmaram o envolvimento dos primos no ataque a Ruas.

Estação do metrô de SP é rebatizada com nome de Luis Carlos Ruas - ambulante morto. Foto: HuffPost Brasil/Agência Brasil.

Não é a Marcela que pode salvar o Temer, é a renúncia



O ano de 2016 chegou ao fim sem que Michel Temer desse ao Brasil o ato de grandeza que dele se esperava, a renúncia.
Do 247

Se tivesse renunciado ainda no ano passado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teria que convocar eleições diretas em 90 dias, permitindo que a democracia roubada com o golpe parlamentar de 2016 fosse devolvida ao povo brasileiro.

Se Temer vier a renunciar em 2017, em tese o Brasil terá eleições indiretas, com um novo presidente sendo escolhido pelo Congresso, onde mais de 200 parlamentares são investigados por corrupção.

Seria uma saída péssima para o País, mas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já se posicionou em favor de eleições diretas, em caso de queda da "pinguela" – apelido dado por FHC a Temer.

O ex-presidente Lula, igualmente, tem defendido eleições diretas antecipadas, assim como o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Portanto, se Temer decidir propor um diálogo envolvendo PMDB, PSDB, DEM e PT, ainda haverá a possibilidade de um pacto democrático, que permitiria a saída da crise política e econômica que há dois anos empurra o Brasil para o despenhadeiro.

Se Temer não renunciou em 2016, nada indica que o fará em 2017. Mas ele tem muito pouco a ganhar na presidência. Rejeitado por 77% dos brasileiros e com a imagem de traidor grudada em sua biografia, Temer viu 3 milhões de brasileiros perderem o emprego no ano passado e as previsões indicam que mais 1 milhão serão demitidos em 2017.

Portanto, embora o Palácio do Planalto, segundo Veja, aposta que Marcela Temer irá torná-lo menos rejeitado, essa hipótese é amplamente improvável. A renúncia ainda é o melhor caminho.


Retrospectiva2016: Se a juventude se unir.... O Temer vai cair, vai cair gritam alunos e professores em Nova Olinda


Professores e alunos(dos municípios de Altaneira, Nova Olinda e Santana do Cariri) em roda de conversa na praça de Nova Olinda para debater as medidas autoritárias do governo Temer. Foto: Ana Cleide (Aluna do 3º Ano do Ensino Médio da EEFM Padre Luis Filgueiras),
As ruas do município de Nova Olinda, na região do cariri cearense, serviram de palco na manhã deste sábado (01/10) para uma mobilização contra a Medida Provisória 746/2016 da Reforma do Ensino Médio que já foi encaminhada para apreciação na Câmara Federal, tendo 120 dias para ser aprovada.


A iniciativa do ato partiu dos próprios alunos e alunas de três municípios, a saber, Altaneira, Nova Olinda e Santana do Cariri, apoiada por universitários/as e professores/as da região. Apesar da proposta ainda não ter sido debatida na comissão especial, que será criada visando discutir o conteúdo da medida, já é um dos assuntos mais comentados, sendo, portanto, motivo de controvérsias entre parlamentares, intelectuais, corpo discente e docente de todo o Brasil.

O Ato

Em Nova Olinda, um dos organizadores da manifestação, o estudante Luan Moura, da EEM Padre Luís Filgueiras, criou na rede social facebook um evento denominado “Sem discussão não tem reforma não” como mais um mecanismo objetivando convidar pessoas a se integrarem na discussão, além de explicar os pontos estratégicos do percurso. A concentração teve início por volta das 08h00 da manhã ao lado da Igreja Matriz, onde os manifestantes realizaram oficinas de produção de cartazes.

O manifesto seguiu pelas principais ruas da cidade com paradas em pontos estratégicos, como na Câmara Municipal e na Prefeitura até seguir a praça, localizada atrás da Escola Estadual Luís Filgueiras - ponto dos debates em uma roda de conversa.

Para Geórgia, estudante do curso de Ciências Sociais, a ação foi muito proveitosa e serviu para demonstrar que eles não concordam com à medida que visa, de forma mascarada, reduzir a carga horária de disciplinas como filosofia, história, geografia, sociologia, dentre outras. A universitária frisou que essas matérias foram e ainda são muito importantes na sua formação.


De igual modo, Matheus Santos, aluno do terceiro ano do curso técnico em edificações na EEEP Wellington Belém de Figueiredo foi taxativo ao discorrer sobre os perigos que essa reforma pode acarretar na grade curricular das escolas públicas. Para ele, é fundamental que todas as disciplinas tenham o mesmo grau de importância e que não é diminuindo a carga horária destas ou excluindo-as que o ensino médio vai melhorar. Lucas Alarcon, do curso técnico em finanças (2º ano) da mesma instituição, engrossou as críticas a MP. Segundo ele, todos os alunos, independentemente da área que vier a escolher, necessita do aporte conteudístico e teórico de todas as disciplinas.

Uma das mais críticas da medida e presidenta do Grêmio Estudantil da Wellington Belém, a aluna Kézia Adjanne do curso técnico em redes de computadores (2º ano) não poupou críticas ao governo Michel Temer e suas atitudes. A estudante destacou que a reforma necessita ouvir os alunos e alunas e que essa maneira de conduzir a educação só reforça o objetivo do governo que é formar alunos sem pensamento crítico.

Uma das articuladoras do movimento, a professora de Biologia Eleniuda, da Luiz Filgueiras destacou a importância de se produzir ações como essas. Durante todo o percurso a docente fez questão de frisar que o manifesto era uma aula de cidadania e que posteriormente será produzido um documento para ser encaminhada à crede 18 e a Seduc. Já Cirlaedna, professora de Artes e Empreendedorismo na Wellington Belém de Figueiredo, chamou a atenção para a continuidade do ato. Que essa mobilização não pare por aqui, frisou.

Este professor e blogueiro ressaltou as principais agressões presente nesta medida covarde do governo Temer que aprofunda ainda mais o abismo entre ricos e pobres nas escolas públicas, legalizando o apartheid social. A MP proposta pela elite governante que usurpou o poder desconsidera as principais leis educacionais do país, jogando para o ralo a LDB 9394/96. Ela remonta as reformas do ensino médio do período da ditadura civil-militar que desejava formar alunos para o mercado de trabalho sem levar em consideração a formação ética e cidadã. Os argumentos utilizados pelos defensores da proposta de que os alunos vão poder escolher as disciplinas que querem estudar, que há excesso de disciplinas e que, portanto não desejam mais uma escola conteudística é pobre e mascara os seus reais motivos - quais sejam - reduzir a carga horária das disciplinas de ciências humanas, ao passo que aumenta a carga horária anual da educação básica de 800 para 1,4 mil, além de retirar a obrigatoriedade da Educação Física e Artes da grade curricular em detrimento do reforço do Português, Matemática e Inglês.

Várias outros personagem usaram do discurso para demonstrarem sua indignação e gritarem que educação é processo, é diálogo e não um ato impositivo, como a professora Elisângela e a aluna Ana Cleide.

Durante todo o percurso, as músicas “Trono de Estudar” (composta por Dani Black) e “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores” (Geraldo Vandré) animaram os manifestantes. Para além das melodias os estudantes e professores também fizeram ecoar os gritos de "Se a juventude se unir.... O Temer vai cair, vai cair" e "Ô Temer você vai ver.... Quem derrubou o Collor também vai derrubar você" em referência ao movimento estudantil brasileiro que se passou em setembro de 1992 tendo como finalidade o impeachment do presidente brasileiro no período, Ferando Collor de Mello.


Confiram as fotos compartilhadas nas redes sociais



















Retrospectiva 2016: Estudantes abraçam a resistência. Que o Brasil os acompanhe


Jovens da ocupação do Colégio Estadual Central, em Belo Horizante, demonstram união e solidariedade.

Ana Júlia, defesa de um país mais justo, baseado no que
determina a constituição, virou simbolo das lutas.
Foto: Pedro de Oliveira/ALEP
Quem, há alguns meses, ou dias, poderia imaginar que uma das principais respostas aos retrocessos que o país vem passando viesse de jovens, principalmente que cursam o ensino médio, e em estados como Paraná e Santa Catarina e no Distrito Federal, que estão entre os mais conservadores do Brasil? A reportagem da Revista do Brasil visitou escolas, entrevistou estudantes e participou de oficinas em locais ocupados para tentar entender quem são e o que pretendem esses novos ativistas, que têm entre 13 e 18 anos e não haviam ainda participado de um movimento social.
Da RBA

Antes de vir para cá, a gente não tinha nenhuma vinculação política, partido, nada”, diz Maria, uma das líderes de ocupação numa escola na periferia de Curitiba – os nomes dos estudantes usados na reportagem são fictícios. “Algumas pessoas falaram que o PT estava fazendo nossa cabeça, coisa assim. Mas a gente veio por conta própria. Fizemos assembleia e os alunos decidiram”, diz a aluna do Colégio Estadual Olívio Belich, no bairro do Cajuru, na região leste de Curitiba.

A gente nem se conhecia direito antes, não tem militância até hoje. Sou contra todos os partidos”, complementa Paulo, do Colégio Estadual Teotônio Vilela, na Cidade Industrial, também em Curitiba. O que os move, mais do que questões do ambiente escolar – como a tentativa de alterar a base curricular do ensino médio por meio de uma medida provisória – diz respeito a ataques do governo de Michel Temer que, segundo eles, põem em risco o futuro de políticas públicas afetarão as próximas gerações.

Queremos barrar a reforma, mas não é só isso, lutamos contra a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que tira dinheiro da saúde e da educação, contra a reforma da Previdência... A saúde e a educação já são precárias e ainda querem tirar dinheiro”, afirma Larissa, do Olívio Belich. “O que a gente mais queria era o apoio das pessoas que vão perder com isso. Mas a maioria não consegue enxergar. Até porque as leis são escritas pro pessoal da elite. O pessoal mais carente não entende o que vai perder”, avalia Marina, do Teotônio.

A desatenção da maioria das pessoas em não reconhecer o que está acontecendo com o país lembra um pouco o que ocorreu com movimentos globais, como a chamada Primavera Árabe e o ­Ocuppy, nos Estados Unidos. No livro Occupy (Editora Boitempo), o geógrafo britânico David Harvey, ao escrever sobre o que levou pessoas a tomar as ruas do coração financeiro dos Estados Unidos, diz que aquela luta é contra o que chama de Partido de Wall Street, que “domina muito do aparato estatal, do Judiciário, em particular a Suprema Corte, cujas decisões partidárias estão crescentemente a favor dos interesses venais do dinheiro, em esferas tão diversas, como a eleitoral, a trabalhista, ambiental e comercial”.

Para Harvey, muitas pessoas decentes estão presas a um sistema que está podre. “Se querem um salário razoável, não têm outra opção além de render-se à tentação do diabo.” Ele observa que leis “coercitivas” da competição forçam os cidadãos a obedecer as regras desse “sistema cruel e insensível”. “O problema é sistêmico, não individual.” De acordo com o britânico, os mais ricos acionam uma enorme variedade de opiniões de “especialistas” e colunistas espalhados na mídia que eles controlam. “Em um momento, só se fala da austeridade necessária a todas as outras pessoas para tratar do déficit e, em outro, propõe redução de sua própria tributação sem se importar sobre o efeito que terá sobre o déficit.”


No Brasil, essa situação é exemplificada na discussão sobre a PEC 241, agora com o número 55 no Senado. A justificativa é de que para diminuir o déficit público serão congelados por 20 anos os investimentos em saúde, educação, desenvolvimento tecnológico, agricultura etc. Ao mesmo tempo, não há previsão de limitar o pagamento de juros da dívida pública brasileira, responsável por cerca de 90% desse mesmo déficit. São os mandamentos de Wall Street.

Ocupação se espalharam no Paraná, com regras, debate e causa bem definida contra a Pec e a imposição da reforma do ensino médio. Foto: Maíra Kaline (Estudante de Comunicação Organizacional UTFPR)

Marina: 'O que a gente mais queria era o apoio das pessoas que vão perder com isso. Mas a maioria não conseguem enxergar. Até porque as leis são escritas pro pessoal da elite. O pessoas mais carente não entende o que vai perder'.Foto: Facebook Ocupação Paraná.

Manifestação no Paraná: organização com regras. Foto: Maíra Kaline.
Poder da mídia

Alunos entrevistados não citam o geógrafo britânico, mas sentem na pele os efeitos da narrativa contra seu movimento. Após uma primeira tentativa de desqualificação, em que foram retratados como “manipulados”, “baderneiros”, “drogados” etc., passaram a ser denominados como aqueles que prejudicariam milhões de outros estudantes, que não poderiam fazer o Enem ou estudar para o vestibular. “Vêm pressionar a gente, dizendo que estamos prejudicando seus filhos, mas eles não deveriam estar estudando desde o começo do ano? Agora não vai adiantar nada”, diz Marina.

A pressão também aumentou depois que numa briga entre dois garotos dentro de uma escola ocupada um deles foi assassinado. “Muitos pais agora estão contra pelo medo de que aconteça alguma coisa com a gente. Medo do que passa na Globo. A Globo só passa desgraça. As pessoas aceitam sem saber, sem tentar entender o que está acontecendo”, diz Maria. Os pais de Larissa apoiam, mas ficam chocados com o que veem na TV. “Hoje de manhã meu pai estava assistindo ao jornal e disse: ‘Nossa, como eles mentem’.”

Quem está na ocupação desfruta o convívio. “Nesse tempo a gente ficou amigo de verdade. Antes estudávamos na mesma escola e nem nos conhecíamos direito. Se via no corredor, mas nem se falava. É uma união mesmo.” Ao contrário do que vem sendo divulgado, nas escolas visitadas pela reportagem os alunos falaram da organização e das regras adotadas. Todos se revezam para fazer limpeza, comida e manter a segurança – como nas experiências do ano passado em São Paulo, depois Goiás, Rio de Janeiro, Ceará... É proibido que meninos e meninas durmam no mesmo quarto, ou que se consuma bebida alcoólica ou droga.

Há a questão de limpeza, arrumação, deixar organizado, comer e tapar as panelas, horário de comer e de dormir. Adolescente é meio difícil, quer ficar direto no celular, mas a gente tem um horário de dormir porque tem de acordar cedo”, diz Maria. Ela conta que na escola há distribuição de leite do governo para a população e eles têm de abrir o portão para o rapaz que faz a entrega e para os funcionários responsáveis pela distribuição.

No Teotônio Vilela, os primeiros dias foram difíceis, mas depois se organizaram. “Na primeira semana, a gente tinha para comer pão, salame e mortadela. A gente ficou magro aqui. Chegamos a passar fome. Depois abrimos a cozinha e, quando começamos a cozinhar, precisa ver nossa alegria, ver o alho, a cebola fritando, comer um arrozinho”, afirma Paulo. “Os pais vêm, alguns universitários também cozinham para a gente, a gente mesmo faz.”

Além de doar alimentos e cozinhar, estudantes universitários, professores e diversas outras pessoas foram às escolas para contribuir com debates, workshops, aulas abertas, oficinas. Teve oficina sobre direito à cidade por alunos e professores de Arquitetura, acompanhada pela reportagem da RdB na escola Professor Nilo Brandão, no Canguru, também em Curitiba. Além de rodas de capoeira, de circo, aulas de xadrez, pingue-pongue, Português, História, Geografia, preparatório para o vestibular, entre outras atividades.

Se há apoio, a pressão também é grande. Vai de diretores, professores, comerciantes do bairro, outros alunos e, principalmente, a Justiça. “Estamos sofrendo ameaças de invasão”, diz Paulo. “Se vierem, não vão vir desarmados, vai dar merda. A gente conhece a comunidade. Mas estamos preparados para qualquer coisa, psicologicamente e fisicamente. Mas não sabemos o que vai acontecer na hora.” Paulo falou numa sexta-feira, 28 de outubro. No domingo, 30, um dos colegas foi barbaramente agredido quando saiu da escola. Mesmo querendo continuar, os outros decidiram desocupar.

Além das pessoas no entorno e da polícia, a pressão da Justiça aterroriza. Foram concedidas dezenas de liminares de reintegração de posse, mas os métodos vão muito além. Em Brasília, por exemplo, o juiz Alex Costa de Oliveira, da Vara da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), autorizou o uso de técnicas de tortura para “restrição à habitabilidade” das escolas, com objetivo de convencer os estudantes a desocupar. Um juiz, por ironia da vara da infância e juventude, manda impedir o contato dos jovens com amigos e a família, restringir a entrada de alimentos e autoriza o uso de “instrumentos sonoros contínuos, direcionados ao local da ocupação, para impedir o período de sono” dos adolescentes.

Alunos que estavam ocupando o Centro de Ensino Médio Dona Filomena ­Moreira de Paula, na cidade de Miracema (TO), também foram retirados à força pela PM acionada pelo promotor de Justiça do ­Ministério Público Estadual (MPE). Foram levados para a delegacia, alguns algemados, sem mandado judicial. Em Chapecó (SC), há relato de invasão de policiais em uma ocupação com fuzis em punho.

Além dessas práticas que passam por cima das leis e dos direitos humanos, os estudantes ainda enfrentaram a atuação de grupos que agem à margem do Estado. Com práticas que lembram a forma de atuar das milícias fascistas dos anos 1930, 1960 e 1970, organizações como o Movimento Brasil Livre (MBL) arregimentam recursos, estrutura e apoiadores para “desocupar escolas”. Isso já aconteceu em Brasília e no Paraná. No início do ano, práticas semelhantes, associadas a pessoas do crime organizado e milícias, ocorreram em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O que vem depois

A Primavera Árabe, as manifestações de junho de 2013, o Occupy Wall Street, a ocupação das escolas no ano passado e no início deste ano e as deste outubro têm, pelo menos, um fator em comum: trazem para a arena da disputa política novos atores desatrelados de partidos ou movimentos sociais tradicionais.

Na apresentação do livro Ocuppy, feita por Henrique Soares Carneiro, o historiador destaca o caráter espontâneo de rebeliões contra as estruturas políticas convencionais, o que mostra a necessidade de um novo projeto que articule uma representação dos anseios de transformação e ruptura. Argumenta também que existe uma participação política protagonizada pela nova geração, por meio difuso de propagação da informação, via internet, sobretudo as redes sociais. E que esse despertar para uma nova euforia política, num mundo dominado pelos ideais do individualismo, e pela carência de projetos coletivos para o futuro, causa essa profunda indignação, que pode ser o germe de uma revolução.

Ao mesmo tempo em que esses novos atores agem, as forças dominantes hegemônicas se rearticulam, absorvem ou repelem movimentos por mudanças. Um sopro de esperança está no aparecimento de jovens que pela primeira vez participam da disputa política por uma sociedade melhor. É emblemática a forma como a estudante Ana Júlia, de 16 anos, cala deputados na Assembleia Legislativa paranaense. Sua voz em defesa de um país mais justo – baseado não em teorias revolucionárias, mas no que determina a Constituição – virou símbolo das lutas atuais.

Mas o que acontecerá daqui por diante? A resposta pode estar nas palavras de outra jovem, também de 16 anos, ouvida pela revista. “A PEC 241 pode passar, a gente pode ser derrotado, mas a gente sabe o que está tentando. O povo brasileiro está sendo roubado, literalmente, mas a gente está fazendo nossa história.” Tanto está que a onda de rebeldia ultrapassou a praia dos secundaristas e banhou o meio universitário. No momento que em que esta reportagem era concluída, estudantes ocupavam campi em Brasília, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Em todos os casos, universidades públicas, ameaçadas pela PEC 55.