Nenhum passo para trás, mas esquerdas precisam ampliar o debate, diz Djamila Ribeiro



Foi o pai de Djamila Ribeiro que a batizou com o nome africano, cujo significado é "beleza". Filha de um estivador comunista, sua base educacional, em Santos, litoral paulista, incluiu xadrez e uma boa dose de formação política. Para a mestre em Filosofia Política, feminista e atual secretária municipal adjunta de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, é momento de resistir ao retrocesso e consequente desmantelamento de políticas públicas. "Mas é imprescindível que a esquerda brasileira entenda de uma vez por todas que não dá para se fazer um debate sério sem pensar a questão racial como principal", acrescenta. "Queremos ser as pessoas que pensam essas políticas, como protagonistas."

Publicado originalmente na RDB

Formada na segunda turma de Filosofia da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), com iniciação científica e mestrado, tornando-se referência em estudos sobre a pensadora e ativista francesa Simone de Beauvoir, Djamila vê alguns avanços nas reivindicações históricas do movimento negro brasileiro. Pouco ainda, porém. Também há uma lacuna no meio acadêmico, aponta: "Pautam a questão de classe desvinculada da questão de raça".

Representatividade no ensino, importa?

A representatividade é extremamente importante para construção da nossa subjetividade. A partir do momento em que você vive numa sociedade racista, na qual os nossos saberes são hierarquizados e não legitimados, é como se a gente não existisse ou produzisse conhecimento, e isso é uma das mortes simbólicas, dentre as várias mortes que o Estado acomete contra a população negra desde a morte física à morte simbólica, na qual faz parecer que nós não temos saberes e a nossa história não é ensinada nas escolas.

Em geral, o caminho acadêmico para os alunos negros é hostil e solitário. Foi assim com você?

Eu acho que é um caminho hostil e solitário quando você vai estudar algo que vai contra a epistemologia dominante, quando somos minorias nesses espaços de formação do conhecimento. Sermos poucos deflagra o quanto a sociedade é racista e naturaliza essa ausência. A ausência de negros nas universidades não é questionada sequer pelas pessoas brancas. Elas não se questionam o porquê de quem está dando a aula serem pessoas brancas e quem está limpando, negras. A naturalização desses lugares acaba sendo, também, uma das violências do racismo, aumentando a hostilidade e a solidão do aluno negro, por ser ele uma minoria que tenta pautar uma produção de saber representativa.

Os alunos negros têm uma pauta em comum ou é possível transitar pelo universo acadêmico sem pautar as questões referentes a negritude e identidade?

Claro que não são todas as pessoas negras que estão nas universidades que pautam as nossas produções de saberes. Mas para nós que pautamos é difícil encontrar bibliografia, tem de se fazer o trabalho dobrado, cursar as disciplinas, estudar e lutar para que esse saber seja legitimado, encontrar um orientador que esteja disposto e oriente mesmo não conhecendo o tema. É um ambiente hostil e solitário, sobretudo, para as mulheres negras que buscam estudar a produção de saberes de autoras negras.

Como foi sua trajetória escolar?

A minha trajetória caminha junto com essa outra educação e formação que o meu pai dava para gente. Meu pai era estivador, em Santos, por isso estudei num colégio para filhos e netos de estivadores. O que me fez ter uma boa educação no ensino fundamental. Fora isso, meu pai era do Partido Comunista, eu tive acesso a outras atividades que completavam os meus estudos. Frequentava a União Cultural Brasil-União Soviética, aprendi a jogar xadrez, tive formação política, meu pai me levava para manifestações e desde muito cedo conversava com a gente sobre o que é ser negro.

Você teve professores negros durante a sua formação?

Não tive nenhum professor negro no ensino médio e no fundamental. Nem no curso de Filosofia na Unifesp. Eu fui ter um professor negro quando fiz algumas disciplinas em Ciências Sociais e História.

A partir de 2002, o debate das ações afirmativas, cotas, demarcação de terra quilombola passa a pautar a sociedade e o governo. O que avançou de lá para cá?

É inegável que nos últimos anos houve avanços. Eu mesma sou fruto de um campus criado em 2007 e que implementou as cotas. Em 2001, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) foi pioneira em implementar as cotas, em 2004 a Unb, e em 2012 a lei de cota foi aplicada nas universidades federais e nos processos seletivos do serviço público. Houve avanços para garantir o acesso da população negra a determinados espaços, mas muito pouco perto daquilo que é necessário. Mas é inegável que houve avanços importantes daquilo que foram e são reivindicações históricas do movimento negro.

Por que a Universidade de São Paulo, a maior da América Latina, não tem cotas?

A USP não aderir às cotas significa reforçar o quão elitista é, o quanto ela resiste em fazer mudanças essenciais e necessárias. Se esse Estado nos violenta e nos aparta desses espaços, é obrigação desse Estado criar mecanismos para que estejamos nesses espaços. Essa resistência da USP mostra o quanto ela é racista e o quanto se acredita que a educação de qualidade deve ser algo para poucos e para pessoas privilegiadas, ou seja, para pessoas brancas.

O movimento negro estudantil tem voz no meio acadêmico?

Se formos pensar nos movimentos estudantis dos centros acadêmicos nas universidades, ainda não existe um debate aprofundado e sério sobre a temática racial. Pautam a questão de classe desvinculada da questão de raça, sem se aprofundar na temática racial. Existem coletivos de estudantes negros universitários que fazem este recorte étnico-racial. Na USP, a Ocupação Preta tem feito um trabalho de intervenções importantes e mostrado o quanto a instituição é excludente. No movimento estudantil, eu valorizo o movimento negro estudantil, que tem feito discussões importantes, colocando a questão racial como nexo prioritário. Sem a questão racial não tem como fazer uma discussão e se ter avanço no combate às desigualdades.

Nos últimos anos, alguns movimentos sociais passaram a ter a voz ampliada na esfera pública, como o movimento feminista negro. Questões desse movimento tiveram algum avanço no combate às desigualdades?

Historicamente, muitas mulheres vêm pautando estas questões. Essa geração é herdeira dessas mulheres que vieram plantando e abrindo os caminhos. É muito importante sabermos de nossas histórias, de onde viemos. Como diz Jurema Werneck (médica, engenheira, comunicadora, escritora e ativista): "Nossos passos vêm de longe". Esses caminhos abertos por essas mulheres foram e são importantes para que nós (mulheres negras) ganhássemos mais espaço e com o advento das redes sociais a gente consegue amplificar esses discursos. Meninas cada vez mais novas começam a pautar essas questões em seus espaços, ter acesso a essa história, a essas autoras e conseguem se posicionar de forma mais estratégica e participativa.

É possível pensar as ações afirmativas e uma reforma na estrutura de ensino brasileiro?

É importantíssimo pensar numa educação pública de base de qualidade. Pensar ações afirmativas e pensar a melhoria do ensino de base não são ações excludentes, ao contrário. Como demorará muito tempo para termos uma educação de base de qualidade, nós não podemos condenar outras gerações de pessoas negras à exclusão e à falta de acesso ao ensino superior. É necessário lutar para manter e ampliar não só o acesso e a permanência do estudante negro na universidade, como concomitantemente continuar lutando pela melhoria do ensino de base. As cotas não devem ser permanentes, mas devem existir enquanto houver desigualdades.

As cotas colocam em xeque a meritocracia. A quem serve a meritocracia num país como o Brasil?

A meritocracia é um grande mito, no qual as pessoas não querem entender que existe um grupo, uma maioria, que enriqueceu o outro grupo, a minoria. Existe um grupo branco que tem privilégios e enriqueceu às custas da opressão e exploração do grupo negro. O fato de uma pessoa branca que sempre estudou em escolas boas, comeu bem e tem acesso a idiomas passar num vestibular como o da USP não é porque ela é especial, mas porque ela teve condições para isso. Ela não é genial. Insistir num discurso meritocrático é escamotear o racismo e o privilégio do grupo branco.

Você uma vez falou que "estávamos aprendendo a surfar". E agora, qual é a perspectiva?

Nós tivemos alguns avanços, algumas poucas conquistas que foram importantes. Contudo, agora estamos diante de um cenário de retrocessos e cortes de políticas públicas, com a PEC 241 (a Proposta de Emenda à Constituição que agora, no Senado, tem o número 55). No momento em que estávamos num crescente de conseguir algumas ações que dizem respeito a uma reparação histórica para população negra, a gente vive o retrocesso dessas ações. É como se dissessem "Chega!", quando o momento deveria ser de consolidação e amplificação desses direitos.

Diante desse retrocesso, quais são os próximos passos?


O momento é de resistir, não aceitar o desmantelamento de políticas que foram importantes à população negra. Temos de seguir avançando, não dá para compactuar com esse retrocesso. Mas é imprescindível que a esquerda brasileira entenda de uma vez por todas que não dá para se fazer um debate sério sem pensar a questão racial como principal. Nós não queremos ser apenas as beneficiárias dessas políticas, mas queremos ser as pessoas que pensam e propõem essas políticas, como sujeitos, como protagonistas, já que historicamente fomos apartados desses espaços.

Djamila Ribeiro. Foto: Divulgação.

O que aprendi no movimento estudantil, por Plínio Bortolotti


Como os jovens de hoje eu também participei do movimento estudantil, fiz greves, fui a passeatas, corri da polícia. Sendo um rapaz latino-americano (sem dinheiro no banco etc.), formado por aulas de Educação Moral e Cívica, e por uma cultura machista, preconceituosa e limitadora - própria de cidades pequenas -, assombrei-me maravilhado com a diversidade da vida quando cheguei a São Paulo: rapazes e moças, talvez com história igual à minha, abrindo uma picada em busca de novos caminhos, em plena ditadura, no meio dos anos 1970.

Publicado originalmente no O Povo

O bonde da história estava passando diante dos meus olhos e somente alguém muito insensível não o teria agarrado, mesmo no papel de coadjuvante. Novos horizontes se descortinavam e eu queria ver, sentir, participar e aprender. Fui militante de uma organização trotskista, semiclandestina na época, a Convergência Socialista.

Vi nascer o movimento negro, os coletivos homossexuais e a retomada da luta feminista. Foi uma escola e nela muito aprendi, tanto com as pessoas que conheci quanto com as organizações e partidos que combatiam pela democracia e pela liberdade, cujos militantes lideravam as lutas - greves, ocupações de escolas, manifestações de rua, confrontos com a polícia: mais verbas para a educação, eleição direta, anistia.

Claro que hoje sou uma pessoa diferente, passei a desacreditar em algumas coisas e acreditar em outras. Não vejo mais, por exemplo, a revolução ali na esquina e nem creio no paraíso na Terra, prometido pelo comunismo. Entanto, não renego o passado (nem o idealizo), pelo contrário, dou gracias a la vida que me ha dado tanto; foi nesse tempo que abri os olhos para o mundo, afiei meu pensamento e tornei-me uma pessoa mais crítica; um tempo que ajudou a forjar o que sou hoje: não é grande coisa eu sei - tenho convicção e provas -, mas dá para o gasto.

Partidos e organizações políticas sempre intervieram no movimento social. Acusar os estudantes de serem militantes é querer cassar-lhes um direito democrático; considerar que são mera massa de manobra é menosprezar-lhes a inteligência. O movimento estudantil é e sempre foi uma escola de líderes. E presumir que somente a esquerda se organiza politicamente, crendo que a direita é formada por seres “apolíticos”, tecnocratas que querem apenas uma escola sem partido, ou qualquer outra gororoba, é ingenuidade ou cegueira ou coisa pior.

Pois bem, o governo Temer manda uma PEC ao Congresso, que vai cortar verbas da Educação e dos programas sociais (apesar das negativas oficiais); quer fazer uma reforma do ensino na base da medida provisória. Esperar o quê? Que os estudantes façam cara de paisagem, como se nada estivesse acontecendo? Que os partidos de oposição aceitem sem questionar?

Ora, foi um governo que assumiu por meio de um golpe, de uma conspirata, de uma manobra parlamentar - ou “legalmente”, pois à vista do Supremo Tribunal Federal (STF), vá lá. Mas onde está a legitimidade, onde estão os votos do mandatário que o autorizem a aplicar tais medidas na base da força?

Se os conspiradores políticos imaginaram que bastava assumir a Presidência para “pacificar” o Brasil, caíram no conto do vigário, quero dizer, do “mercado”, o principal indutor das políticas do governo Temer, que está sendo usado para fazer o serviço sujo.

Se vai conseguir, não se sabe - os dados ainda estão rolando -, mas o certo é que, ao fim do jogo, independentemente do resultado, o impopular Temer será peça inservível, e o “mercado” dar-lhe-á um chute na mesóclise e deixá-lo-á na rua da amargura.

Nova universidade

Sou coordenador de um programa de formação de novos jornalistas e noto mudança no perfil dos estudantes que chegam ao jornal. É cada vez maior o número de alunos de famílias remediadas, não brancos, e moradores da periferia que ingressam na Universidade Federal do Ceará (UFC).

Debates

No programa “Debates do Povo” (rádio O POVO/CBN), o tema da edição de 7/11/2016 foi a greve dos alunos da UFC. Isiane Silvestre representou o movimento de ocupação na universidade; moradora do Conjunto Palmeiras, ela é doutoranda em Educação pela Faced-UFC. Em uma de suas intervenções, emocionada, falou da “luta” que uma pessoa de origem humilde precisa travar para chegar à universidade. Para ela, a PEC 241/55 vai dificultar mais ainda esse acesso.

Sabemos o que é PEC e vamos 'ocupar tudo', dizem estudantes a Temer



Com a Praça da Sé, na região central de São Paulo, totalmente ocupada, no início da noite de hoje (11), a presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Camila Lanes, reagiu a comentário do presidente Michel Temer, para quem os alunos podem nem saber o que é uma proposta de emenda à Constituição (PEC). "Temer, os estudantes estão indo pra Brasília e vão ocupar as escolas e a cidade contra sua política que pretende destruir o país. Não vai ter limites para a luta dos estudantes, vamos ocupar tudo", afirmou Camila, quase ao encerramento do ato. Durante todo o dia, manifestantes protestaram em todo o país contra a PEC 55, de controle de gastos públicos, e contra a Medida Provisória (MP) 746, de reforma do ensino médio.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, disse que as manifestações podem se ampliar. Ele também se dirigiu a Temer. "Se você estiver ouvindo, porque você se acha muito importante, saiba que você é um golpista e não tem de dar opinião na luta dos estudantes ou dos trabalhadores. Se acabar com a CLT, ampliar a terceirização e outras medidas, nós vamos fazer a maior greve geral que este país já viu", afirmou.

Freitas ainda destacou a luta dos estudantes, que ocupam escolas e universidades pelo país, como a força que "não vai deixar o Brasil retroceder". E lembrou o legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Tem gente que acha que se prender o Lula vai resolver os problemas. Se prender o Lula, vai chamar a gente pra briga e vai ter muita luta", avisou.

Para o dirigente, a manifestação de hoje foi superior à de 22 de setembro e foi um bom "aquecimento" para uma possível greve geral. "O Temer deveria ver esse dia como um alerta de que essas propostas de retirada de direitos são extremamente impopulares e os trabalhadores vão se manifestar contra elas."

A coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Natália Szermeta lembrou que "a luta contra a PEC 55 é uma luta de todos que defendem um Brasil mais justo, com saúde e educação para todos". Já aprovada na Câmara como 241, a PEC tramita agora no Senado – já foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça e passará por duas votações no plenário.

O recado está dado, avaliou o presidente da CTB, Adilson Araújo. "Querem impor uma receita neoliberal que vai destruir o país. O Congresso e o Supremo Tribunal Federal estão juntos para golpear os trabalhadores, com terceirização, negociado sobre legislado etc. Mas aqui estão aqueles que não vão deixar isso acontecer", afirmou.


Imagem capturada do vídeo.



'Temer não só foi deselegante, como mal educado', diz filósofo e educador Mario Sergio Cortella


O filósofo e educador Mario Sergio Cortella criticou, em entrevista na TV Cultura, o gesto de Michel Temer, que desdenhou na última terça-feira (8) da mobilização nacional dos estudantes que protestam contra a PEC 55, do teto dos gastos, ao dizer que eles não leram o texto e não entenderam a proposta.


"As pessoas não leem o texto. Não estou dizendo os que ocupam ou não ocupam. Mas em geral", disse Temer, em discurso durante cerimônia no Palácio do Planalto.

"Ué, a oposição é um direito. Eu posso ter lido direito a PEC e ser contra, posso ler e ter uma posição diversa da dele", continuou o filósofo. "Agora, num país onde há muitos iletrados, dizer que as pessoas estão fazendo protesto porque não sabem ler direito, isso não é só deselegante, isso é falta de educação", completou.

"Hoje, ao invés do argumento moral, intelectual, verbal, usa-se o argumento físico. Vai e ocupa não sei o quê, bota pneu velho, queima, para o trânsito", disse ainda Temer.

Para Cortella, o presidente, que é professor também, um docente, jamais poderia humilhar as pessoas que não têm a mesma formação que ele, dizendo que quem está protestando não sabe ler, que não leu a PEC. "Uma nação não pode permitir que um presidente tenha falta de educação dessa natureza", condenou.


Filósofo e Educador Mário Sérgio Cortella. Imagem capturada do vídeo.

Grunec divulga nota de apoio aos estudantes que ocupam Universidade Regional do Cariri


O Grupo de Valorização do Cariri (Gunec) com sede à Rua Coronel Secundo, 263, no centro de Crato-Ce, lançou na noite deste sábado (12/11) na rede social facebook nota em que apoia a luta dos estudantes que estão ocupando desde o dia 25 de outubro a Universidade Regional do Cariri (URCA).

A primeira universidade do Estado do Ceará foi ocupada tão logo a Câmara dos Deputados aprovou, em segundo turno, por 359 votos a 116 (com duas abstenções), o texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que limita os gastos públicos pelas próximas duas décadas. Além de se manifestarem contra essa proposta e o PLP 257, as quais congelam os gastos com o serviço público, atacando diretamente a classe trabalhadora, eles/as se posicionam contrário ainda à alteração da LDB, que exclui as leis 10.639/2003 e 11.645/2008, retirando a obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana, afrobrasileira e indígena do currículo escolar, e também excluem disciplinas importantes no processo de formação crítica.

Dentro desta seara, o Grunec reconhece na luta estudantil um ato democrático, de cidadania e de politização, pois demonstram que eles/as enquanto ‎estudantes preocupam-se com quem lhes representa, ao passo que caminham no sentido de que ‎querem outra universidade, mais aberta, mais democrática, mais diversa, mais plural. Uma ‎Universidade Pública e gratuita, mas de qualidade, autônoma e inserida com ênfase na sociedade.

Confira a nota

NOTA DE APOIO AOS ESTUDANTES EM LUTA POR DIREITOS
MOVIMENTO DE OCUPAÇÃO DA URCA
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O Grunec - Grupo de Valorização Negra do Cariri como entidade constituída para fins ‎cultural-educativo com a missão de promover ações estratégicas e luta pela implementação de ‎políticas públicas voltadas para a população negra, igualdade racial e políticas de gênero e contra ‎todas as formas de opressão, exclusão social, discriminações, preconceitos e racismos entende, ‎reconhece e apoia a luta estudantil e apresenta solidariedade política e apoio aos estudantes ‎universitários que no momento ocupam a reitoria da Universidade Regional do Cariri – URCA, em ‎Crato-Ceará.
Reconhece a luta estudantil como um ato democrático, de cidadania e de politização, tendo ‎na pauta de reivindicação pontos estratégicos que reforçam, e muito a nossa arma ideológica ‎enquanto movimento social. Desta feita, a ocupação da reitoria da referida universidade tem um ‎ideal, tanto que as bandeiras de luta logo deixaram transparecer, citemos aqui as que contemplam ‎Políticas de ações afirmativas referenciadas na pauta “contra os casos de Racismo, Machismo e ‎LGBTFobia”, bem como, “contra casos de intolerância religiosa” e “Implementação da Lei de Cotas ‎raciais e sociais na Universidade”, sem esquecer de mencionar outras reivindicações tão ‎importantes quanto, como por exemplo, a que pede “eleições diretas para reitoria”. ‎

Buscar formas que empoderem o(a) universitário(a) é de suma importância, pois fortalece a ‎democracia e se configura como um ato de cidadania, além de demonstrar que eles/as enquanto ‎estudantes preocupam-se com quem lhes representa, ao passo que caminham no sentido de que ‎querem uma outra universidade, mais aberta, democrática, mais diversa, mais plural. Uma ‎Universidade Pública e gratuita, mas, de qualidade, autônoma e inserida com ênfase na Sociedade.
Parabeniza a retomada político radical no contexto e prática de movimento estudantil que se ‎mostra ativista, protagonista, militante e intervencionista de forma positiva em luta por direitos ‎negados à Comunidade estudantil, aos docentes e aos funcionários nas mais diversas ‎necessidades. ‎

Reconhece essa manifestação como marca de luta do movimento estudantil em nosso país ‎em todas as etapas históricas, citando apenas, luta contra o capitalismo, a ditadura civil-militar, ‎caras pintadas e na própria região do Cariri – Ceará, quando estudantes da então Faculdade de ‎Filosofia do Crato reivindicavam nas ruas e no interior da própria Instituição de Ensino Superior uma ‎agenda que contemplasse: “Universidade pública, gratuita e de qualidade”. ‎

Ressalta-se a articulação da ocupação à Conjuntura Política, Econômica e Social do Brasil, ‎atualmente, envolto em retrocessos e ameaças, à incipiente democracia brasileira, impostas pelo ‎governo golpista Michel Temer, legitimado pelo Congresso, mercado, justiça, coorporativo, ‎fundamentalismo, discursos e símbolos, instituições patronais, mídia, elite conservadora e impondo ‎uma agenda que fortalece o “Desenvolvimento neoliberal,” meritocracia, acirramento de ‎desigualdades político, de classe, gênero, raça e etnia, dependência externa e exclusão social, ‎lembrando a PEC 241 na Câmara, agora, PEC 55 (no Senado) que congela despesas do governo ‎Federal por 20 anos, que prejudica, em todas as dimensões, a classe trabalhadora, e ainda, ‎retrocede programas e políticas de igualdade racial e de gênero. ‎

E ainda, a desastrosa Medida Provisória 726 de Reforma na Educação com objetivo de ‎minar formação crítica e cidadã dos estudantes, apresentando a única alternativa de formação para ‎o mercado; Venda do Pré-sal que preconizava recursos para a Educação; Redução do ingresso de ‎estudantes às Universidades, diminuição de concursos, dentre outros absurdos. ‎

Essa política conservadora e de cortes retardam ou encerram possibilidades de avanços, ‎acessos, direitos, cidadania, justiça e inclusão. Alteram políticas econômicas e sociais dos Estados ‎e municípios, consequentemente, influenciam negativamente ao funcionamento pleno das ‎universidades. ‎

A pauta de reivindicações legitima a ocupação da URCA e insere-se no contexto de ‎ocupações que ocorrem em todo o Brasil, em escolas e Universidades razão para que o Grunec ‎coloque sua energia em apoio incondicional a esse enfrentamento político e organizativo dos(das) ‎estudantes que resistem.‎

Grupo de Valorização Negra do Cariri – Grunec.‎




ONGs e Defensoria vão à Justiça contra apresentador Faustão por declaração machista



ONGs que integram a Rede Mulher e Mídia, série de entidades que defendem direitos das mulheres, enviaram à Rede Globo pedido de direito de resposta às declarações machistas do apresentador Fausto Silva no seu programa “Domingão do Faustão”. Para as entidades, Fausto Silva “corrobora para manutenção do machismo” quando diz que existe “mulher que gosta de homem que dá porrada”.
Publicado originalmente na Revista Fórum

As organizações apontam que o apresentador faz declarações ofensivas e que suas falas “atentam contra a dignidade da mulher, uma vez que reforçam estereótipos que há muito vêm sendo rechaçados pelo conjunto das mulheres brasileiras”. Além disso, as entidades explicam que, uma vez que a rede Globo dispõe de concessão pública, “deve manter alguns compromissos com a ética e a dignidade humana”.

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo caminha em direção similar, para o Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da entidade, Fausto Silva vai contra a Constituição Federal ao atentar contra o fim das desigualdades e convenções de direito internacional das quais o Brasil é signatário e ratifica.

Em nota, o órgão explica que “Nenhuma mulher gosta de apanhar. Muitas mulheres não sabem como buscar ajuda numa situação de violência, não recebem apoio da família ou da sociedade, inclusive com receio de ser julgada, como fez o apresentador”. A defensoria pede, em oficio enviado a emissora, que a Globo abra o programa para o debate com especialistas e promova uma campanha pelo fim da violência contra mulher.

Em resposta, a Rede Globo explica que não havia recebido o pedido de direito de resposta até a noite da última quarta-feira (9). Em nota, a Globo afirma que “tem tradição de ser um veículo de comunicação que sempre defendeu os direitos da mulher em campanhas de conscientização, no seu conteúdo jornalístico e de entretenimento e em ações de responsabilidade social veiculadas em suas obras de dramaturgia e por apoio a projetos de entidades civis”, e conclui:


Temáticas que envolvem as mulheres, como equidade de gênero, violência doméstica e saúde da mulher, sempre foram discutidas pelas novelas da Globo ao longo dos anos —dados de 2008 a 2015 mostram que 2.130 cenas abordaram o assunto, ajudando a desconstruir estereótipos e divisões de gênero. Programas de variedades também repercutem as tramas e os principais fatos do país, colaborando para ampliar as reflexões”.

Apresentador Faustão, da Rede Globo. Foto: Alef L Reis.

Lima Barreto, escritor negro, será homenageado na Flip 2017


A próxima edição da Festa Literária de Paraty, que acontece em meados de 2017, já tem definido seu homenageado: Lima Barreto (1881-1922), nascido no Rio de Janeiro, autor do romance O triste fim de Policarpo Quaresma e de dezenas de obras hoje em domínio público, publicados antes e depois de sua morte. Um dos contos mais importantes da sua carreira é O homem que sabia javanês.
Por Camila Moraes no Brasil.ElPais

Barreto, conhecido como “o romancista da Primeira República”, instala o debate sobre os negros na literatura com tudo na Flip 2017. Mestiço, filho de uma família pobre, chegou a cursar engenharia, mas tornou-se jornalista. Em seus livros, retratou um olhar crítico sobre as injustiças sociais do Brasil e o preconceito de cor do qual também foi vítima num país que aboliu a escravidão somente em 13 de maio de 1888, o mesmo dia em que Barreto completava 7 anos.

Com um estilo informal de escrever, foi cronista de costumes do Rio de Janeiro, adotando um texto que contrastava muito com os autores de então. Batalhou sempre por sua inserção no meio literário, chegando a receber uma menção honrosa da Academia Brasileira de Letras. Morreu com 41 anos de idade.

Lima Barreto.
A demanda por uma maior presença de negros na Flip se intensificou bastante nos últimos anos e foi alvo de críticas em relação à programação de 2016 – em que a presença de mulheres foi incrementada, mas a de negros era nula. A escolha de Barreto como homenageado é da nova curadora do evento, a jornalista e historiadora Josélia Aguiar, que defende o jornalista e escritor carioca desde 2013, quando liderou com outros entusiastas de sua obra uma campanha online a favor de Barreto para a homenagem do ano seguinte. Quem vingou na ocasião, no entanto, foi Millôr Fernandes.

A Flip sempre gosta de surpreender com as suas homenagens, e acho que, um pouco por conta disso, Lima Barreto não foi escolhido até agora, mesmo sendo um nome tão importante. Desta vez, me pareceu que a surpresa seria justamente confirmar essa preferência”, afirma a curadora. Josélia, que estuda a obra de Jorge Amado e lançará em breve uma biografia do escritor baiano pelo selo editorial Três Estrelas, conta que mergulhou na obra de Barreto depois de encontrá-lo em suas pesquisas sobre Amado. “Ele lia muito Lima Barreto nos anos 30 e o considerava ‘o escritor do povo’”.

A indicação, para ela, foi “tranquila e natural”, mas vai além de preferências. “Acho que, em geral, as oportunidades na literatura serão um tema muito debatido na próxima edição. A obra de Lima Barreto surpreende, além de tudo, por ser atual, inventiva e com uma polivalência muito grande”, opina Josélia.