Do Tijolaço: “Listão da Odebrecht” tem mais de 200 nomes de políticos. E nenhum deles é Lula


Não foi um vazamento; foi um rompimento de adutora.

A adutora que abastece, e todo mundo sabe disso, todas as campanhas política no Brasil que, contra a vontade da mídia, de Gilmar Mendes, de Eduardo Cunha, do PSDB e de tanta gente “boa”, adiou o quanto pôde o financiamento público das eleições.




Aécio Neves, Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Jaques Wagner, Romero Jucá, Humberto Costa, Eduardo Paes, José Sarney e Eduardo Campos, morto em 2014, entre centenas de outros. Centenas mesmo, mais de 200.

Não está claro na matéria o que foi legal e o que foi “caixa dois”, que nenhuma campanha política de algum porte deixa de ter.

É m… no ventilador para ninguém botar defeito, mas uma coisa salta aos olhos.

O nome de Lula não aparece uma só vez no listão, que está em poder da Lava Jato desde 22 de fevereiro.

E o documento, em tese, teria sido divulgado ontem, quando não haveria restrição partida da decisão do STF, tomada já tarde da noite por Teori Zavascki.

Eu ainda mantenho um “pé atrás”. Não é lógico que uma planilha assim vá ver guardada durante oito meses de prisão do presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, sem ter sido picado, incinerado e desaparecido.

Alguns  arquivos publicados por Fernando Rodrigues estão indisponíveis, surgindo em seu lugar uma indicação de página em manutenção, como reproduzo abaixo. Outros são estranhos, contendo textos estranhos ao caso, como a reprodução da famosa avaliação do ex-secretário de comunicação do Planalto, Tomas Trauttman, sobre o cenário eleitoral, que foi amplamente publicada e não revela, por isso, absolutamente nada.

Coisas estranhas, muito estranhas.

Mesmo num país em que não se estranha mais nada.

Da RBA: Cepal aponta preocupação com 'estabilidade democrática' e cita avanços no Brasil


A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) encaminhou ontem (22) mensagem à presidenta Dilma Rousseff, manifestando preocupação com os "acontecimentos políticos e judiciais que convulsionaram o Brasil nas últimas semanas" e reconhecendo os avanços sociais e políticos que o país conseguiu na última década. "Nos alarma ver a estabilidade democrática de sua pátria ameaçada", escreveu a secretária-executiva da entidade, Alicia Bárbena, destacando a vigência do Estado democrático de direito.

"Nos alarma ver a estabilidade democrática de sua pátria ameaçada", escreveu a Dilma a secretária-executiva da Cepal, Alícia Bárbena.
"A soberania popular, fonte única de legitimidade na democracia, entregou antes a Lula e depois a você, Presidenta Rousseff, um mandato constitucional que se traduz em governos comprometidos com a justiça e a igualdade", diz a mensagem, acrescentando que nunca na história do país tantas pessoas saíram da situação de fome, pobreza e desigualdade. Ainda segundo a Cepal, é significativo o fato de que os recentes governos brasileiros "reforçaram a nova arquitetura de integração de nossa região, da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) à Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos)".

A Cepal diz reconhecer o esforço do Judiciário para "perseguir e punir a cultura de práticas corruptas que historicamente são a parte mais obscura do vínculo entre os interesses privados e as instituições do Estado". Mas acrescenta que a presidenta vem "apoiando permanentemente essa tarefa, com a valentia e honradez que é a marca de sua biografia, apoiando a criação de uma nova legislação mais exigente e de instituições investigativas mais fortes".

Por essa razão, a entidade se diz chocada com o fato de que, sem que haja provas, servindo-se de vazamentos e uma "ofensiva midiática" que condena de antemão, "se tente demolir sua imagem e seu legado, ao mesmo tempo em que se multiplicam os esforços por menosprezar a autoridade presidencial e interromper o mandato que os cidadãos entregaram nas urnas".

Para a entidade, os acontecimentos no Brasil mostram para a América Latina "os riscos e dificuldades a que nossa democracia ainda está exposta".

Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial Resgata Ideias





A Organização das Nações Unidas (ONU) institui a data de 21 de março, como o dia de luta pela eliminação da Discriminação Racial. O dia resgata a lembrança dos ideais de homens, mulheres e crianças que morreram no “massacre de Sharpeville” ocorrido em Joanesburgo, na África do Sul, durante o regime do Apartheid, por simplesmente buscarem uma sociedade igualitária sem discriminação racial.

Em 21 de março de 1960, em Joanesburgo, na África do Sul, 20.000 pessoas faziam um protesto contra a Lei do Passe, que obrigava a população negra a portar um cartão que continha os locais onde era permitida sua circulação. Porém, mesmo tratando-se de uma manifestação pacífica, a polícia do regime de apartheid abriu fogo sobre a multidão desarmada resultando em 69 mortos e 186 feridos.

Precisamos repudiar e denunciar cada vez mais as práticas de discriminação ainda existentes em nossa sociedade! Vamos juntos!

Ator Alexandre Nero se posiciona contra a Globo e em defesa dos funcionários


Do Portal Vervelho

O ator Alexandre Nero não tem papas na língua. Ele, após ver as diversas críticas dos internautas para com Monica Iozzi, que fez críticas em seu Twitter às pessoas que apenas se baseiam no “Jornal Nacional” para obter informação, resolveu desabafar. 

Em seu perfil, ele explicou que, não é porque são funcionários da emissora que devem concordar com tudo o que ela faz, e explicou que os contratados podem sim se manifestar contra a postura do canal. Ele publicou a foto de uma crítica em seu Facebook.

É tão difícil entender que a Globo tem o seu posicionamento político e os seus funcionários podem ter outro? Que não somos um bando de alunos colegiais onde todos fazem o que o “bedel” manda? Que ali também tem gente foda?”, perguntou ele.

Não sejam babacas vcs também em alimentar o ódio. Diversos artistas da Globo se posicionando claramente de maneira oposta à emissora, colocando seus empregos e sua segurança pessoal e de sua família, e ainda assim, existe esse discursinho patético”, disse.

Não pode! Respeita os caras!!!”.

Na semana passada (dia 16), após receber o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), que segundo o ator, é o "principal e mais respeitado prêmio de arte do país, Alexandre Nero publicou uma mensagem nas suas redes sociais.

Leia a íntegra abaixo:

Ontem [15], ao receber o APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), principal e mais respeitado prêmio de arte do país (desculpe a ausência de modéstia, mas tem vezes que o "beijinho no ombro" tem que vir em forma de cruzado no queixo para os haters rsrs)....

Como dizia, ontem estava pensando em apenas agradecer aos próximos e não criar nenhum bafafá nesse momento propício para os "doentes políticos", mas achei que, apesar da minha preguiça de ficar batendo palma pra maluco dançar nas redes sociais, eu deveria aproveitar o destaque e a repercussão do prêmio para falar algo que minha posição de artista privilegiado nesse momento exige.

Fui um dos últimos a receber o prêmio, e depois de quase 4 horas de premiação não quis ser ainda mais maçante com quem heroicamente ainda estava lá. Apenas agradeci aos críticos, ao João e Amora pela total liberdade de criação, à Giovanna e Tonico pela parceria, à minha companheira Karen pelo apoio e ao meu filho, por chorar menos do que podia...mas prometi que postaria o que eu iria dizer aqui nas redes sociais. Então conforme prometido, aí está, na íntegra.

Pra que serve um ator?

"Em A Regra do Jogo, eu interpretava um ex-vereador, que se aproveitava de uma ong de fachada para tirar proveito próprio. Eu o denominei um "anti-vilão" (um vilão - que eventualmente fazia coisas boas).

Romero Romulo, o nome do tal, flertava com a hipocrisia, a corrupção, menosprezava leis, ética, o respeito, o afeto, e com isso se aproveitava dos bem intencionados.

No decorrer desse trabalho fui perguntado muitas vezes sobre política, e via sempre uma tendência em colocar em minhas palavras que eu me inspirei nesse ou naquele político. Eu dizia que minha construção não era inspirado em ninguém especificamente, e sim no ser humano. "Romero era eu, vc, todos nós".

sem surpresa alguma, por essa declaração, fui agredido por alguns nas redes sociais (função principal de uma rede social). Me acusavam de ser um irresponsável, pq meu personagem "era de esquerda e pilantra", afirmavam eles. Primeiro digo que meu personagem não era de esquerda, ele fingia ser de esquerda, e mesmo se fosse de esquerda, pq a indignação dos agressores? Na direita não existisse pilantra? Ah tá!!!

Pois bem, a extrema direita, reacionários no último grau partiram pra cima babando de raiva e todos os ódios possíveis. Os "corajosos da internet" rsrs. E são muitos. Acreditem!!

Minha maior preocupação nessa "besta polarização" do momento onde PT, PSDB, PMDB brigam entre si, os malucos dos "mitos", "cianos", "faias" e afins correm por fora e cada vez mais estão ganhando força. Depois de muito ler babaquices do tipo "bicha, maconheiro, vagabundo, vendido", ou agressões ferozes "tem que morrer, "vou te matar" e por aí vai, um comentário me chamou atenção:

"PARE DE FALAR DE POLÍTICA! Vc é só um ator!" , e depois me pergunta com desprezo:

"Pra que serve um ator mesmo?"

minha resposta:

Sinto desapontá-lo , mas nao existe uma resposta rápida, suscita, única e verdadeira. Respostas essas, que vc deve estar acostumado , pois o ensinaram o que é certo e errado, preto e branco, homem e mulher, alto ou baixo, bonito e feio. Separar e não unir.

As respostas pra vcs (reacionários, fascistas, agressores, covardes, bunda moles, ou burros) , precisam ser exatas, pois se tiver dúvidas vcs teriam que pensar, fora da caixa que vc se enquadra, e isso ninguém lhe ensinou. Vcs não compreendem nada que não seja lógico, matemático. É como querer explicar:
Pra que serve um poema.

Nao dá! Como disse Leminski, "querer explicar pra que serve a poesia, é querer que se explique um "'orgasmo ou um gol do Zico.'" (Eu citando Leminski para um reacionário. Parece piada rs).

Por isso toda essa sua agressividade e desdém me fez crer que vc tem medo do ator. O desconhecido dá medo. Medo esse que vc tenta encobrir e fingir que é ódio. Não é! É só medo mesmo! Cagaço! E é bom que tenha mesmo, pq o trabalho do ator no cinema, no teatro, na rua, na tv , e agora também na internet, reflete como um espelho da sociedade, e não como vc quer que seja, uma janela, onde vc vê os outros e confortavelmente sentado em seu sofá apontando dedos.

Por isso meu caro, você, que odeia esse mundo laico, plural, multigênero, democraticamente caótico, onde o invisível pode ser visto, o indizível dito, é bom que nos difame e menospreze mesmo, espalhe que usamos as leis de incentivo à cultura feito criminosos, pois somos aproveitadores do dinheiro público, que não passamos apenas de rostinhos bonitos na tv, que não pensamos em nada que não seja em dentes brancos, que somos a favor desse ou daquele político pq somos sustentados por ele. Isso mesmo. Afaste os patrocinadores e repudie o público de nossos espetáculos. Grite:

"-Não dê pipoca aos atores".

"-Mantenha-se longe da jaula deles".

"-Cuidado com os atores". E é bom que tenha medo mesmo, pq dentre muitas coisas lúdicas, divertidas e/ou plantar uma bananeira e cair de bunda no chão, eu, ali, sou vc também. Eu sou seu espelho. Entre uma pirueta e outra podemos mostrar para o mundo quem é vc. Nós podemos te desvendar, e pode apostar, vc não vai gostar nada do que vai ver nesse espelho."

Historiador José Murilo de Carvalho demonstra preocupação com “hegemonia” do Judiciário


Do BBC

Um dos mais conhecidos historiadores brasileiros, em especial pela publicação, em 1987, de Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que Não Foi(livro que fez uma análise crítica sobre o processo de Proclamação da República no Brasil), José Murilo de Carvalho oferece uma visão pessimista do atual momento político brasileiro.

'Tudo pode acontecer, até um sério conflito social', diz  historiador sobre crise política.
Em entrevista à BBC Brasil, por e-mail, o também cientista político mostra preocupação com a crise política - mais precisamente com o acirramento de ânimos desde as eleições de 2014.
Só não se mostra surpreso. Afinal, assim como outros colegas de profissão, Carvalho cita o longo histórico de revoltas e conflitos que marcam o Brasil República. Porém, diferentemente de outros analistas, o integrante da Academia Brasileira de Letras diz que a crise atual não pode ser meramente comparada a momentos anteriores de turbulência na história brasileira. Incluindo a constantemente citada crise de 1954, que culminou com o suicídio do presidente Getúlio Vargas.

O historiador mineiro vê na crise atual o que chama de "um misto de tradição e novidade". Uma combinação que ele considera preocupante diante do processo de desgaste na imagem dos poderes Executivo e Legislativo.

BBC Brasil - Como o senhor vê a atual crise política brasileira sob uma perspectiva histórica?

José Murilo de Carvalho - Nos 127 anos da República, houve dezenas de revoltas, guerras civis e vários golpes com o envolvimento dos militares. Desde 1930, de 14 presidentes (incluindo a atual), apenas oito foram eleitos diretamente. Destes, só cinco completaram os mandatos. Isso não é nada animador. E essa é mais uma das inúmeras crises de nossa claudicante República. O regime foi introdizido há 127 anos mas ainda não faz jus ao nome de república democrática. Pelo lado da inclusão política, até 1945 apenas 5% da população votavam. Pelo lado da inclusão social, o grande salto foi dado durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945) com a introdução da legialção trabalhista. Mesmo com os avanços do governo Lula, agora sendo revertidos, ainda somos um dos países mais desiguais do mundo. Os governos militares, por sua vez, não restringiram o grande aumento do eleitorado, mas impediram a formação de lideranças democráticas capazes de dar conta do grande aumento de participação, além de destruírem os valores republicanos da boa governança.

BBC Brasil - Historiadores e analistas políticos com certa frequência comparam o atual momento à crise que resultou no suicídio do presidente Vargas, em 1954. O senhor vê paralelos?

Carvalho - Hoje, creio que nenhum historiador dirá que a história se repete, como tragédia ou como farsa. A crise atual é nova, um misto de tradição e novidade. Há elementos comuns entre a crise atual e a de Vargas: a acusação de corrupção e o conflito distributivo.

O “pai dos pobres” (Vargas, responsável pelas leis trabalhistas) era acusado por setores da classe média de exercer ou tolerar práticas corruptas (o “mar de lama”). A grande diferença era a presença ativa dos militares em 1954, que forçaram a saída de Vargas, e da Guerra Fria. Hoje, o conflito é civil e nacional. Civil porque não há ameaça de interferência militar. Nacional porque não estamos mais Guerra Fria com suas pressões políticas, inclusive de intervenção dos Estados Unidos. O fator externo hoje resume-se às oscilações da economia internacional.

BBC Brasil - O senhor se preocupa com o atual momento brasileiro no que diz respeito à segurança das instituições? Crê na possibilidade de uma ruptura mais séria mesmo sem a presença de um Exército, como em 64?

Carvalho - Há motivo para preocupação. O Poder Judiciário - incluindo aí o Ministério Público e a Polícia Federal - tornou-se quase hegemônico diante da desmoralização do Executivo e do Parlamento. Isso poderá sair pela culatra, como aconteceu na Itália durante a operação Mãos Limpas, e reduzir ou anular os efeitos do esforço de combate à corrupção. Por outro lado, a desmoralização do Parlamento e a descrença nos políticos e na política podem abrir caminho para aventureiros populistas.

BBC Brasil - Muito se fala em polarização política e ideológica no Brasil. O senhor concorda com as avaliações de que o acirramento de ânimos foi intensificado pela ascensão do PT ao poder ou estamos falando do retorno de antigas divisões?

Carvalho - O PT trouxe forças novas para a política brasileira, sobretudo os líderes sindicais. Junto com uma forte demanda por políticas sociais, o partido exibiu também um estilo mais agressivo de atuação, mantido mesmo após chegar ao poder. Sua militância é muito mais aguerrida do que a do PTB dos tempos de Vargas.

A radicalização política e a intolerância chegaram hoje a um ponto perigoso. Não há mais debate, apenas bate-boca e gritaria. Neste cenário dominado pelas paixões, tudo pode acontecer, mesmo um sério conflito social.

BBC Brasil - Qual o efeito que o eventual impeachment da presidente Dilma poderia ter nesse cenário?

Carvalho - Um impeachment não vai resolver a situação. Mudarão os lados, mas o conflito político continuará e a crise econômica não será resolvida. Não há, a meu ver, uma saída sem custos para a crise.

BBC Brasil - Podemos comparar o retorno do ex-presidente Lula ao governo (agora suspenso por determinação do STF) a algum momento de relevância semelhante na história política brasileira?

Carvalho - Ex-presidentes voltaram ao governo, como Nilo Peçanha (como ministro das Relações Exteriores, em 1987), mas não em situação de conflito. A nomeação desastrada deu-se em 29 de outubro de 1945. Os militares pressionavam o então ditador Getúlio Vargas a deixar o governo. Em reação, o presidente nomeou seu controvertido irmão Benjamin chefe de polícia. Os militares irritaram-se e o depuseram nesse mesmo dia.

Brasil teve retrocessos na proteção dos direitos dos povos indígenas, alerta ONU



A relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, afirmou que o Brasil teve “retrocessos extremamente preocupantes na proteção dos direitos dos povos indígenas” nos últimos oito anos. “Uma tendência que continuará a se agravar caso não sejam tomadas medidas decisivas por parte do governo para revertê-la”, informou Victoria no relato que fez ao fim de sua missão ao Brasil.

Para a relatora da ONU, a situação tende a se agravar caso não sejam tomadas  medidas decisivas por parte do governo para revertê-las.  Arquivo/Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Entre as recomendações preliminares estão a proteção de lideranças indígenas e investigações sobre todos os assassinatos de indígenas, esforços para superar impasses e concluir as demarcações de terras, revisão dos cortes no Orçamento e fortalecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai), além da garantia do direito dos indígenas de serem consultados previamente em relação a políticas, legislação e projetos que tenham impacto sobre seus direitos.

Victoria encerrou na quinta-feira (17) uma visita de dez dias ao Brasil, quando conversou, entre outras autoridades, com representantes de governos e de mais de 50 povos indígenas no Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Bahia e Pará.

O objetivo foi identificar os principais problemas enfrentados pelos povos indígenas no país e acompanhar o cumprimento das recomendações feitas em 2008, em missão semelhante de seu predecessor James Anaya. O relatório da visita será apresentado em setembro deste ano ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Em termos gerais, minha primeira impressão após essa visita é de que o Brasil tem uma série de disposições constitucionais exemplares em relação aos direitos dos povos indígenas”, acrescentou. Entretanto, segundo ela, os riscos enfrentados pelos povos indígenas “estão mais presentes do que nunca” desde a adoção da Constituição de 1988.

Desafios

Para a relatora da ONU, entre os desafios enfrentados pelos indígenas está a proposta de emenda à Constituição (PEC) 215, que transfere ao Congresso Nacional a decisão final sobre a demarcação de terras, e outras legislações que “solapam os direitos dos povos indígenas a terras, territórios e recursos”.

Ela ainda criticou a interrupção dos processos de demarcação, incluindo 20 terras indígenas pendentes de homologação pela Presidência da República, a incapacidade de proteger as terras indígenas contra atividades ilegais, os despejos em curso e os efeitos negativos dos megaprojetos de infraestrutura em territórios indígenas ou perto deles, como a Hidrelétrica de Belo Monte.

Outros pontos citados foram a violência, assassinatos, ameaças e intimidações contra os povos indígenas perpetuados pela impunidade e a prestação inadequada de cuidados à saúde, educação e serviços sociais, “tal como assinalam os indicadores relacionados ao suicídio de jovens, casos de adoção ilegal de crianças indígenas, mortalidade infantil e alcoolismo”.

A relatora ressaltou sua preocupação com a apresentação distorcida da mídia que retrata os povos indígenas como detentores de grandes extensões de terra em comparação com suas populações, “quando, na verdade, é o setor do agronegócio que detém um percentual desproporcional do território brasileiro”.

Iniciativas

Mesmo onde os povos indígenas têm terras demarcadas na Região Amazônica. Ees não desfrutam do efetivo controle sobre seus recursos devido às crescentes invasões e atividades ilegais, tais como mineração e extração de madeira”, afirmou.

Em seu balanço inicial, Victoria elogiou algumas medidas e iniciativas do governo brasileiro, como o papel construtivo e proativo da Funai e do Ministério Público Federal, “apesar de terem de atuar em circunstâncias difíceis”, a oposição do governo à PEC 215 e os esforços no sentido de implementar serviços diferenciados para os povos indígenas em saúde, educação e assistência social.

A relatora também destacou a atuação das organizações da sociedade civil e a proatividade dos povos indígenas para efetivação de seus direitos, como a autoproteção e autodemarcação de terras e o estabelecimento de alianças com comunidades quilombolas e ribeirinhas.

A declaração completa da relatora está disponível na página da ONU Brasil na internet.


Para pensar esse momento caótico em que passa o Brasil em 11 depoimentos necessários


Por Amanda Mont'Alvão Veloso, no HuffPost Brasil

A civilização é composta por ciclos e marcada por rompimentos que superam ou antecedem crises. O que é uma crise senão uma insuportável e paralisante dúvida a respeito de valores até então tidos como certos? Na dúvida, podemos assinalar saídas ou desistências. Construções ou destruições.

Em um momento em que os brasileiros acumulam perguntas e não dispõem de respostas – “Que lado escolher? O que desejo de meu país? Qual minha relação com a política e com o outro?”, o desespero, a desesperança e a apatia podem encontrar terreno fértil para crescer.


Enquanto se tenta resistir às investidas do caótico, podemos encontrar conforto, ou ser instigados por alguém em quem depositamos confiança. Por isso reunimos depoimentos de algumas pessoas que se dispuseram a destrinchar as perguntas, provocar outras tantas ou mesmo arriscar uma resposta.

Leandro Karnal
Historiador brasileiro

"Minha ideia, é claro, é sempre e a melhor de todas. Mas ela não pode, nunca, impedir o contraditório. O Contraditório é a forma básica da democracia. Todos devem ter espaço e vez e minha posição não pode ser excludente da outra humanidade. OU seja: tenho direito a querer comer só alfaces colhidas ao luar cantando mantras, mas não posso querer matar quem come ervilhas flambadas. Simples. Não gosta do contraditório? Parabéns: você está ao lado de monstros, conservadores ou de esquerda, como Pinochet, Médici, Hitler, Stálin, Pol Pot e outros. Tem horror a manifestações? Vá para a Coreia do Norte, lá elas não existem. A democracia é árdua, frágil e só existe PORQUE existe o outro lado."

2016, em post no Facebook

"Eu não sou neutro, a Justiça não é neutra, o Congresso não é neutro, as igrejas não são neutras. Eu, o juiz Moro, Lula, o papa Francisco, Dilma, a mãe de santo, o pároco, o sindicalista, você e a socialite: todos estamos inseridos numa classe social e manifestamos um mundo que corresponde ao que mais me beneficia. Neutralidade só existe no sabão de coco. A democracia permite que uma subjetividade não seja a única possível."

2016, em post no Facebook

Zygmunt Bauman
Sociólogo polonês

"Sou tudo, menos desesperançoso. Confio que os jovens possam perseguir e consertar o estrago que os mais velhos fizeram. Como e se forem capazes de pôr isso em prática, dependerá da imaginação e da determinação deles. Para que se deem uma oportunidade, os jovens precisam resistir às pressões da fragmentação e recuperar a consciência da responsabilidade compartilhada para o futuro do planeta e seus habitantes. Os jovens precisam trocar o mundo virtual pelo real."

2014, em entrevista à revista Época

"Mais e mais pessoas duvidam que os políticos sejam capazes de cumprir suas promessas. Assim, elas procuram desesperadamente veículos alternativos de decisão coletiva e ação, apesar de, até agora, isso não ter representado uma alteração efetiva."

2014, em entrevista à revista Época

"Para que a utopia nasça, é preciso duas condições. A primeira é a forte sensação (ainda que difusa e inarticulada) de que o mundo não está funcionando adequadamente e deve ter seus fundamentos revistos para que se reajuste. A segunda condição é a existência de uma confiança no potencial humano à altura da tarefa de reformar o mundo, a crença de que 'nós, seres humanos, podemos fazê-lo', crença esta articulada com a racionalidade capaz de perceber o que está errado com o mundo, saber o que precisa ser modificado, quais são os pontos problemáticos, e ter força e coragem para extirpá-los."

2003, em entrevista à revista CULT

Marcia Tiburi
Filósofa brasileira

"Todo mundo conhece um “fascista”, um tipo psicopolítico bastante comum, alguém que perdeu a dimensão do diálogo, intelectualmente pobre, que reproduz discursos prontos, discursos de ódio, justamente porque é incapaz de ouvir o outro e de refletir sobre a diferença".
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2015, em entrevista ao site Hoje em Dia

Sigmund Freud
Neurologista e psicanalista austríaco

"Há incontáveis pessoas civilizadas que se recusam a cometer assassinato ou a praticar incesto, mas que não se negam a satisfazer sua avareza, seus impulsos agressivos ou seus desejos sexuais, e que não hesitam em
prejudicar outras pessoas por meio da mentira, da fraude e da calúnia, desde que possam permanecer impunes."

1927, no livro O Futuro de Uma Ilusão

Eliane Brum
Escritora e repórter brasileira

"Uma democracia demanda cidadãos autônomos, adultos emancipados, capazes de se responsabilizar pelas suas escolhas e se mover pela razão. O que se vê hoje é uma vontade de destruição que atravessa a sociedade e assinala mesmo pequenos atos do cotidiano. O linchamento, que marca a história do país e a perpassa, é um ato de fé. Não passa pela lei nem pela razão. Ao contrário, elimina-as, ao substituí-las pelo ódio. É o ódio que justifica a destruição daquele que naquele momento encarna o mal. Isso está sendo exercido no Brasil atual não apenas na guerra das redes sociais, mas de formas bem mais sofisticadas. Isso tem sido estimulado. Quem acha que controla linchadores, não sabe nada."

2016, em sua coluna no El País

Mario Sergio Cortella
Filósofo e educador brasileiro

"Os chineses acham que devemos lidar com a história e não com o momento. Você só compreende o hoje se olha a história no seu desenvolvimento. É bom recordar o que falavam as avós: 'Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe'. Portanto, nada de desespero. Problemas agudos se dissolvem no tempo. Os efeitos colaterais não são insuperáveis; podemos lidar com eles. É bom lembrar que devemos ter cuidado num mundo multifacetado, multicultural e multidiverso. Por isso, não podemos nos fechar em grupos exclusivos - só católicos, só gays, só muçulmanos -, o que leva à política do gueto e dilui a ideia de humanidade."

2015, em entrevista à revista Claudia

Slavoj Zizek
Filósofo e psicanalista esloveno

"Tem algo que gosto de repetir: o grande papel dos intelectuais não é dar respostas. As pessoas me perguntam, por exemplo, sobre a crise ecológica: 'O que devemos fazer?'. Eu não sei! A principal tarefa do intelectual público hoje, eu acho, é permitir, ou melhor, possibilitar que as pessoas pensem, fazer com que elas façam as perguntas certas. Eu acho que os problemas que nós temos hoje existem porque nós estamos fazendo as perguntas erradas."

2013, em entrevista ao Jornal do Commercio

Umberto Eco
Escritor e intelectual italiano

Na medida em que envelheci, comecei a odiar a humanidade. Portanto, se eu tivesse um poder absoluto, deixaria que ela continuasse em seu caminho de autodestruição. Ela seria destruída e eu ficaria mais feliz. Pessoas como eu são intelectuais: nós fazemos o nosso trabalho, escrevemos artigos, temos maneiras de protestar, mas não podemos mudar o mundo. Tudo o que podemos fazer é apoiar a política de empatia”.

2016, em sua coluna no UOL