“Conhecendo a Constituição Federal de 88 - Conhecer para Respeitar". Art. 2º


Dentre os artigos que mais chamam a atenção na Constituição Federal de 1988 encontramos o 2º. A exemplos de muitos outros, este apresenta em seu texto uma excelente narrativa e que na grande maioria das vezes acaba gerando discórdia entre muitos detentores do poder outorgado pelo povo nas três esferas. Vamos a ele:


 São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. (Site do Planalto, acesso em 16 de fevereiro de 2016 às 08h20).

A organização política liberal passou a ser efetivada a partir do filósofo francês Montesquieu. Em leituras de Aristóteles e John Locke, nos ensaios Política e Segundo Tratado do Governo Civil, respectivamente, Montesquieu escreveu a obra O Espírito das Leis instituído o que se conhece hoje como a clássica divisão dos poderes. Por ela, explicava o filósofo iluminista, há o afastamento da possibilidade de se instituir governantes tirânicos, absolutista, pois serviria para estabelecer a autonomia e limites em cada poder. Logo, a constituição deveria ser redigida como lei máxima dos governantes e da sociedade, haja vista que nela e por ela haveria a instituição do freio inerente a cada poder.

No entanto, passado todos esses anos, cabe a pergunta, os que se revestem desse poder, representando por determinado tempo, respeitam esse artigo? Os que lhes outorgaram essa função sabem disso? São realmente os poderes harmônicos e independentes entre si?

Um rápida análise das discussões percebe-se que a todo momento essa independência e essa harmonia são confundidas (nas três esferas). Alguns inclusive acabam interferindo nas funções de outros, enquanto que há a falta de executividade por parte desses poderes constituidos.

Nos municípios de pequeno porte percebe-se mais nitidamente que legislativo e executivo não se entendem simplesmente pelo fato de naquele que tem por funções típicas legislar e fiscalizar ser na sua grande maioria (o corpo de edis) contrário ao executivo. O contraditório também é verídico. O legislativo altaneirense está constantemente sendo alvo de críticas por não respeitar a legislação e se utilizar de forma errônea dessa independência para não ser harmônico.



Sobre a nova Barbie e os padrões de beleza: uma mercadoria pode ser revolucionária?



Após mais de meio século ajudando a ditar um padrão de beleza irreal para a maioria das meninas e mulheres, a Mattel, fabricante da icônica Barbie, resolveu diversificar. Agora, a boneca apresenta quatro tipos de corpo e 24 de cabelo, sete tons de pele e 22 cores de olhos.

Isso vem com atraso, em um momento em que a própria Barbie perde a relevância, simbólica e comercial, frente a videogames, smartphones e computadores. A mudança, portanto, é mais consequência de um mundo que se transforma do que vetor de transformação desse mundo.

É claro que isso contribui para o debate que vem sendo travado incansavelmente na sociedade sobre padrões ditados pela indústria da moda e do entretenimento e de como isso torna a vida de milhões de pessoas um inferno. Então, toda a ação é válida.


Mas uma amiga, sábia e antenada pesquisadora, me lembrou que a previsível satisfação de pais e ativistas pela mudança encobre uma discussão de fundo. Pois não é a “consciência'' da corporação que leva a essa mudança, mas a oportunidade de novos nichos de mercado.


Um produto para consumo de massa que representa uma narrativa de “direitos humanos'' ou de “desenvolvimento sustentável'' é , antes de tudo, um produto. E, portanto, seu objetivo é ser vendido. E em grande quantidade a fim de dar lucro aos acionistas de uma corporação, se possível – afinal de contas, estamos falando de negócios, não de caridade.

Para tanto, ele demanda uma grande quantidade de recursos naturais e de mão de obra para fabrica-lo. E para que seja rentável à empresa que o planejou, faz-se necessário que esses custos (matéria prima e trabalho) sejam os mais baixos possíveis. É claro que dá para produzir pagando preços justos de matéria-prima e trabalho, mas aí o produto para consumo não seria tão de massa assim. Ou os lucros não seriam tão grandes. E talvez nem pudesse ser embutida a obsolescência programada de uma sociedade em que nada é feito para durar.

Dito isso, não se pode negar a engenhosidade do capitalismo, que captura o desejo de mudança em um símbolo, transforma esse símbolo em mercadoria, o fabrica em série, realiza campanhas para explicar o motivo pelo qual o povo deve ama-lo, empacota-o e o vende a prestações em uma loja perto de você. Parece que ele está sendo revolucionário, mas apenas quer ganhar dinheiro com quem deseja aquele símbolo.

A fetichização é tão velha quanto o comunista barbudo – Marx, não Jesus. Mas conseguimos sempre superar o seu alcance.

O problema é que a produção em massa desses símbolos pode encobrir, como já citado, a exploração irracional dos recursos naturais e do trabalho humano. Sim, não raro por trás de mercadorias que representam mudanças sociais, há – ironicamente – desmatamento, poluição, trabalho infantil, escravos.

Pode parecer paradoxal, mas é apenas mais uma das contradições do sistema. E ele, quer dizer, nós, vivemos muito bem com isso.

Por exemplo, há denúncias contra fornecedores da Mattel por seus trabalhadores na China não contarem com proteção adequada, atuarem por longas jornadas com poucas ou nenhuma pausas, estarem sujeitos a péssimas condições, desrespeitando, inclusive, as leis trabalhistas locais. A empresa nega.

Vejamos outros casos. Creio que todos lembram de “Wall.e'' – uma animação produzida pela Disney e a Pixar que conta a história de um robozinho cuja missão é organizar o lixo em que se transformou o planeta devido ao consumismo desenfreado dos habitantes e à ganância de grandes corporações.

De acordo com o filme, no futuro, a Terra terá se transformado em um lixão impossível de sustentar vida e os seres humanos terão se mudado para uma nave espacial à espera de que os robôs limpem as coisas. Paro por aqui para não dar spoiler – se bem que, a esta altura, você já deveria ter assistido ao filme.

Na época, na cadeira do cinema, fiquei matutando que Wall.e seria um bom instrumento para discutir com os mais novos a diferença entre consumir para viver e viver para consumir.

Pouco depois, passando por um loja, me deparei com uma prateleira inteira de produtos do filme. A vendedora me mostrou um Wall.e que funcionava à corda e cantava e dançava, um outro Wall.e para bebês (na verdade, para os pais dos bebês…) Explicou que a versão de controle remoto havia acabado, tamanha a procura.

Vale ressaltar que os brinquedos inspirados em filmes têm vida curta – duram o suficiente até o próximo sucesso de bilheteria trazer novos bonecos. Ou seja, dentro de pouco tempo viram lixo de plástico e ferro.

O que temos aqui? O licenciamento de um filme sobre o consumismo promovendo mais consumismo. A Disney e a Pixar poderiam ter revolucionado e não autorizado a produção de quinquilharias baseadas neste filme? Sim, claro, mas isso aconteceria em uma realidade paralela, na qual o céu é verde e leite dá em árvore.

Outro exemplo interessante, que reúne a questão do padrão de beleza e da responsabilidade sobre o consumo, é uma dobradinha de comerciais. A Dove lançou uma propaganda sobre a importância de conversar com as meninas a respeito de padrões de beleza antes que a indústria da beleza fizesse isso. O resultado é muito bom e pode ser visto abaixo:

                           

Pouco depois, o Greenpeace fez uma paródia do comercial, criando outro produto muito bom também, cutucando a Dove:

                         

Fale com a Dove – que utilizava, segundo o Greenpeace, óleo de plantações de palma que ocupavam áreas onde antes estavam florestas tropicais – antes que fosse tarde, diz o mote do filme.

É claro que a mensagem do segundo comercial não anula a do primeiro, da mesma forma que é importante que bonecas sejam mais próximas das meninas de verdade. Mas é fundamental lembrar que, para atingir o objetivo final, fabricantes de brinquedos, de produtos de beleza ou de qualquer mercadoria, se apropriam de qualquer discurso que possa dar lucro.

Pois, no fundo, empresas não vendem mercadorias, mas estilos de vida. Do que somos. Do que gostaríamos de ser. Do que deveríamos ser – não em nossa opinião, necessariamente, mas de uma construção do que é bom e do que é ruim.

Muitos de nós ficamos tanto tempo trabalhando que nos tornamos compradores compulsivos de símbolos daquilo que não conseguiremos obter por vivência direta. Através desses objetos, enlatamos a felicidade – pronta para consumo, mas que dura pouco, o tempo da já citada obsolescência programada. Mas também enlatamos o nosso ativismo por determinado tema ou uma fórmula mágica para se livrar da culpa por não conseguirmos nos dedicar àquilo que achamos importante para a vida em comunidade.

Afinal, se a empresa mostra no comercial que planta meia dúzia de dentes-de-leão para compensar toneladas de emissão de carbono, protege uma família de perequitos-que-dizem-ni e doa dez estojos de lápis aquarelados para uma comunidade onde são jogados os efluentes tóxicos a cada produto comprado, ok, vamos adquiri-lo. Assim fazemos nossa parte e nossa consciência fica leve após a operadora do cartão autorizar.

Celebrar um produto como algo redentor pelo que ele aparenta ser esconde, na verdade, o que ele pode representar de fato: uma cadeia produtiva extensa com uma série de problemas trabalhistas, sociais e ambientais, que trazem alegria a alguns e tristeza a muito mais.


Este texto é para reclamar de uma boneca? Não, apenas para lembrar que, na economia de mercado globalizada, o que os olhos não veem o coração tá pouco se lixando.

A humilhação que mulheres de presos enfrentam: De revistas íntimas a intimidações



A diferença de tratamento entre presidiários ricos e pobres não é o único problema do sistema carcerário brasileiro.  Os contrastes também se estendem a suas famílias, que herdam deles o tom com que serão tratadas. Embora tenha sido proibida em alguns estados do país, a revista íntima, também conhecida como “vexatória”, continua a ser uma prática comum na maioria dos presídios nacionais – exceto para mulheres e familiares de poderosos, como os empreiteiros presos pela Operação Lava Jato.


São inúmeros os relatos de humilhação a que as visitantes são submetidas. Elas têm que se despir, independentemente de sua idade, além de serem obrigadas a ficar de cócoras e tossir. Os agentes também inspecionam suas genitálias, alegando motivos de segurança. Na teoria, o objetivo é prevenir que celulares, drogas e armas sejam transportados para dentro das cadeias. Na prática, funciona como mais uma instância de discriminação entre o cidadão comum e aquele com poder suficiente para burlar o sistema.

Não há registros, por exemplo, de que mulheres de empresários presos pela Operação Lava Jato tenham passado pela revista vexatória durante suas visitas. Quando oito dos empreiteiros envolvidos no esquema foram transferidos para o Complexo Médico-Penal do Paraná, em julho deste ano, muito se falou sobre o assunto. A notícia era que, ao contrário do que acontecia na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba, familiares de nomes como Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht, e Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, seriam submetidos à prática caso quisessem visitá-los.

Deste então, nada foi dito a esse respeito, apenas rumores de que as visitas a Marcelo Odebrecht são reservadas, dando lugar inclusive a abraços de sua mulher, Isabela, e de sua irmã, Mônica, que é também advogada da construtora. Presos e seus familiares costumam se encontram em parlatórios ou locais destinados a esse fim, na sua maioria separados por um vidro.

Em contrapartida, os registros de cidadãs comuns sobre os desrespeitos e humilhações sofridos parecem não ter fim. Uma moradora da Rocinha conversou com o JB sobre o assunto e, por segurança, preferiu não se identificar. Ela relatou em detalhes sua rotina de visitas ao marido, preso em função de assalto. “Eles abrem a comida, remexem a comida toda. Eu estava com uma gravidez de alto risco e tinha que sentar em um banquinho que passa radiação. Mesmo com laudo médico, eles não queriam saber”, contou.

A experiência, de acordo com ela, é de pura humilhação. “Além de tirar toda a roupa na frente de todos, ainda mandam abaixar de perna aberta de frente, de lado e de costas, sacudir cabelo, abrir a boca. É uma bolsa por pessoa, a comida é limitada – tem que caber dentro deste saco de mercado a comida, a água, o refrigerante e as coisas de higiene para ele. Quando conseguia entrar, já estava quase na hora de vir embora. A visita particular tinha que ser paga. O banheiro é grudado no chão. Pra ir ao banheiro tinha que fica de ‘coque’ (cócoras)”, lembrou.

A diferença no tratamento também não se limita às visitas carcerárias. Para citar um exemplo atual, o envolvimento de Cláudia Cordeiro Cruz nas supostas contas não declaradas de seu marido – o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – inundam o noticiário. Extratos bancários mostram um significativo aumento de saldo nunca declarado à Receita Federal. Mesmo assim, ela não sofreu qualquer represália por parte da Justiça.

Já a mulher do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido em 2013, não recebeu o mesmo tratamento. O delegado responsável pelo caso chegou a emitir um pedido de prisão temporária para Elizabete Gomes da Silva, alegando que ela estava envolvida com o tráfico. Por falta de provas, o relatório foi desconsiderado pelo delegado titular da 15ª DP, Orlando Zaccone. Com medo da polícia, à época Elizabete afirmou que se tratava de uma forma de “sair do foco” das investigações para tentar envolvê-la.

Qual pais tem o maior número de ateus?



É a Suécia. Lá, 85% da população não tem nenhuma crença ou não acredita em Deus.



Esse foi o resultado da pesquisa Ateísmo: Taxas e Padrões Contemporâneos, do sociólogo norte-americano Phil Zuckerman. Segundo ele, os suecos aprendem sobre cada uma das religiões na escola e são livres para escolher seguir ou não uma delas. E isso se repete na maioria dos países com alto índice de ateísmo. Vale lembrar que o estudo engloba ateus, agnósticos e não-crentes em Deus e o ranking é baseado na porcentagem populacional de cada país.

Enquanto os ateus negam a existência de Deus, os agnósticos garantem não ser possível provar a existência divina.

Crer ou não crer? - Os números da religião e do ateísmo no mundo

Suécia: 85%
População: 8,9 milhões
Ateus: 7,6 milhões

Vietnã: 81%
População: 82,6 milhões
Ateus: 66,9 milhões
O budismo e o taoísmo, religiões comuns por lá, são vistos como uma tradição, e não crença.

Dinamarca: 80%
População: 5,4 milhões
Ateus: 4,3 milhões
Um levantamento da ONU aponta que países com boa taxa de alfabetização tendem a ser mais descrentes.

Noruega: 72%
População:4,5 milhões
Ateus: 3,2 milhões

Japão: 65%
População: 127 milhões
Ateus:82 milhões

Em 2008, o pesquisador britânico Richard Lynn concluiu que países com alto QI são mais ateus. É o caso da população japonesa, que mantém a média 105 - uma das mais altas já registradas.

República Tcheca: 61%
População: 10 milhões
Ateus: 6,2 milhões

Finlândia: 60%
População: 5,2 milhões
Ateus: 3,1 milhões

França: 54%
População: 60,4 milhões
Ateus: 32,6 milhões

Coreia do Sul: 52%
População: 48,5 milhões
Ateus: 25,2 milhões

Crenças no mundo

Cristianismo: 33,3% ou 2 bilhões de pessoas (católicos: 16,8%; protestantes: 6%; ortodoxos: 4%; anglicanos: 1,2%)
Outras: 23%
Islamismo: 22,4% ou 1,2 bilhão de pessoas
Hinduísmo: 13,7% ou 900 milhões de pessoas
Budismo: 7,1%
Sikhismo: 0,3%
Judaísmo: 0,2%

Ateísmo por idade

18 e 34 anos - 54%
35 e 49 anos - 24%
50 a 64 anos - 15%
65 anos - 7%

Países com maior número de ateus
181,8 milhões de chineses são ateus - A China ocupa o 36º lugar no ranking de países com mais percentual de ateus (14%). Em números absolutos, porém, é onde vivem mais pessoas sem crença.
Japão: 82 milhões.
Rússia: 69 milhões.
Vietnã: 66 milhões.
Alemanha: 40 milhões.
França: 32 milhões.
Eua: 26,8 milhões.
Inglaterra: 26,5 milhões.
Coreia do Sul: 25 milhões.

Os mais fiéis - Países cuja maioria da população tem alguma crença:

Itália: 90% (53 milhões)
Filipinas: 80% (75 milhões)
México: 76% (96 milhões)
Brasil: 73% (137 milhões)

Ateísmo por sexo

Homens: 56%
Mulheres: 44%

Ateus no mundo - 749,2 milhões (11% da população mundial)

Na ciência - 50% dos cientistas têm alguma religiosidade. Entre eles, 36% acreditam em Deus. Ateus: 10%. Cristãos: 2%.

Por que gosto de História em 1 minuto, por Leandro Karnal


Imagem capturada do vídeo no youtube.

O historiador e professor de História da América na Universidade de Campinas (Unicamp),  Leandro Karnal expõe em um minuto e seis segundo o porquê de gostar da disciplina de História.

Para ele a História “mostra a desnaturalização de todas as coisas que antes nós considerávamos naturais”.  Karnal que é autor da Contexto conta que a História “mostra a liberdade que os homens tem para construir e destruir todas as instituições”. "Eu amo a história porque eu quero ser livre e a história é a base dessa liberdade", pontua ele.

O historiador que é conhecido por suas palestras e crítico das doutrinações religiosas foi também curador de várias exposições, dentre elas  “A Escrita da Memória”, no estado de São Paulo.

Confira o vídeo abaixo


           

Por que correr faz bem para o coração?



O coração é um órgão muscular e, por isso, o treinamento físico intenso e regular pode alterar suas características, como estrutura, tamanho e ritmo. Praticantes de exercícios aeróbicos, como a corrida, desenvolvem maiores cavidades cardíacas (átrios e ventrículos), responsáveis pela circulação sanguínea, gerando uma espécie de hipertro­fia.

Este blogueiro em alguns momentos antes das tradicionais corridas de fim de tarde. Capa/Informações em Foco.
Um maratonista, que “exercita” o órgão por mais tempo, tem maior e­ficiência no bombeamento sanguíneo, sendo capaz de bombear mais sangue a cada batimento. Isso explica por que atletas apresentam diminuição dos batimentos quando estão em repouso. Mas esse ganho de e­ficiência e hipertrofia por conta do exercício não é uma descoberta recente. No século XIX, pesquisadores notaram que o coração de animais selvagens era maior que os de animais domésticos, por conta da maior frequência de atividade. Além disso, a avaliação de esquiadores cross country olímpicos da época revelou que estes apresentavam corações maiores que os da população em geral. A constatação de que a prática regular de exercício físico intenso, e por longo período, deixa o coração maior, gerou a necessidade de a comunidade médica diferenciar o chamado “coração de atleta” de um coração doente – dilatado por enfermidades, o que leva à insu­ficiência cardíaca. Essa diferença entre um órgão saudável ou não pode ser detectada por meio de exames como eletrocardiograma de repouso, radiografia do tórax, ecocardiograma e eletrocardiograma de esforço.

- A atividade física intensa e constante hipertrofi­a o coração. Como consequência, o órgão precisa de menos batimentos por minuto (menor frequência cardíaca) para bombear o sangue de que o corpo necessita, por conta das suas contrações mais e­ficientes.

- A corrida de longa distância estimula adaptações cardiovasculares benignas. Além de mudanças veri­ficadas em exames, como hipertro­fia ventricular esquerda, alteração de condução atrioventricular e repolarização ventricular precoce (alterações normais em atletas), os corredores possuem FC de repouso reduzida, que pode ser moderada (entre 40 e 50 bpm) ou severa (menor que 40 bpm). Vale ressaltar que a redução da FC de repouso, mesmo que abaixo de 40 bpm, não é, por si só, prejudicial à saúde do corredor.

- As quatro câmaras que formam o coração (átrios e ventrículos) são contraídas para impulsionar o sangue oxigenado dos pulmões para o corpo. Em corredores mais experientes e bem treinados, sobretudo maratonistas, essas câmaras são maiores e mais e­ficientes.

- A e­ficiência cardíaca adquirida com o exercício faz com que o coração seja capaz de ejetar maior quantidade de sangue. Um corredor de elite chega a bombear 115 ml de sangue com uma frequência cardíaca de 45 bpm. Um atleta amador, 86 ml com FC de 60 bpm e um sedentário, perto de 65 ml com uma FC de 80 bpm.

Exames vitais

Todo corredor deve fazer uma consulta clínica. As avaliações cardiológicas podem detectar doenças preexistentes e até então desconhecidas pelo corredor. As informações clínicas são fundamentais, porque, apesar do baixo risco cardíaco em atletas (um para cada 300 mil/ano), o desconhecimento de uma doença cardiovascular eleva em cem vezes a chance de algum problema.

Do Outras Palavras: O Elogio da Intolerância


Só ela nos separa dos incapazes de sonhar e cansados de viver. Só ela gera o conflito necessário para frear nossa corrida rumo à catástrofe.
Por Nuno Ramos de Almeida | Imagem: Sebastião Salgado

Where climbing was and bright
is darkness and to fall
(now wrong’s the only right
since brave are cowards all)
E. E. Cummings

Na obra-mestra de David Fincher, The Fight Club, há uma cena-chave em que Tyler (Brad Pitt) quer acordar para a vida Jack (Edward Norton) queimando-o com ácido, enquanto lhe diz, agarrando-o: “Este é o maior momento da tua vida e tu não estás cá, vais perdê-lo.” Para Jack, a violência é divina, usando o conceito de Walter Benjamin, quando nos permite descobrir o nosso corpo e realidade pela dor, despertando-nos de um mundo anestesiado onde vivemos. Um mundo em que somos espetadores de sofá e interagimos com cliques, nos meandros de um qualquer ato de consumo.

O “projeto destruição” descrito no filme, esta irrupção aparentemente anárquica de toda a violência, permite um renascer nas ruínas da desordem. A destruição de todos os arquivos financeiros, centros de poder fáticos, seria esse novo big bang.

A história mostra-nos, desde o início dos tempos, como a violência é uma dinâmica imanente às grandes rupturas. É quase sempre pela violência que o gesto revolucionário lança as sementes de algo novo, de uma nova ordem.

A própria constituição do político como escolha e alternativa está ligada a esta definição de inimigo. Não há ato político sem esse gesto.

O mundo em que vivemos castrou-nos as escolhas, fazendo substituir a ideia de conflito pela ideia da “tolerância”.

Contra um mundo sem paixões ou compromissos, é preciso manter-se intolerante com as desigualdades, e com a capacidade de constituir um novo conflito e fabricar uma nova hegemonia, terá condições de evitar esta corrida para a catástrofe.

Há muito tempo, Friedrich Nietzsche percebeu que a civilização ocidental estava a caminhar em direção ao Último Homem, uma criatura apática sem grandes paixões nem compromissos. Incapaz de sonhar, cansado de viver, esse homem não corre riscos, procurando apenas o conforto e segurança”, escreve o filósofo Slavoj Zizek.

A “tolerância” mascara o conflito social e minimiza a luta na conquista dos próprios direitos. Se disséssemos em 1 de Dezembro de 1955 a Rosa Parks, a mulher que na cidade de Montgomery se recusou a dar o lugar do ônibus a um branco, como mandavam as regras da segregação, que ela procurava “tolerância”, ter-nos-ia mandado bugiar. O seu gesto, que lhe custou a prisão, provocando um conflito onde só havia sujeição, era a afirmação de um direito, não de tolerância. “Estou cansada de ser tratada como uma pessoa de segunda classe”, disse ela ao condutor.

Vivemos num mundo dividido em condomínios privados e subúrbios tendencialmente selvagens. São assim as grandes cidades; é assim a divisão entre um espaço organizado, envelhecido, do Primeiro Mundo, e o espaço falido e desordenado dos países educados à bomba. Nos espaços marginais contidos pela violência do Estado ou dos exércitos apenas parecem campear os bandidos e os fundamentalistas. Como se lê no “Segundo Advento” de William Butler Yeats, “aos melhores falta convicção e aos piores sobra apaixonada intensidade”.

Esta oposição entre bombardeamentos e fundamentalistas que se alimentam reciprocamente é incapaz de ultrapassar a divisão entre espaços crescentemente desiguais: de um lado, os espaços civilizados, vigiados, e por outro lado os espaços selvagens, onde sobreviverá um número crescente de humanos em condições sub-humanas. A sua dinâmica pressupõe essa divisão e justifica-se com ela.

Só uma nova violência ligada a um projeto intolerante com as desigualdades, e com a capacidade de constituir um novo conflito e fabricar uma nova hegemonia, terá condições de evitar esta corrida para a catástrofe.

Estamos num momento de transição. O mundo que vivemos não tem condições e não conseguimos ver as alternativas possíveis. Uma coisa é certa: elas não são possíveis sem uma ideia de intolerância à desigualdade e possibilidade de ação violenta. A violência é o gesto que nos permite mostrar a injustiça de uma situação.

Numa das tragédias clássicas do teatro grego, de Sófocles, Antígona opõe-se às leis da cidade que a impedem de enterrar o irmão, que combateu pelas tropas inimigas. Para ela, as leis da cidade não estão acima do dever. À medida que se desenrola a tragédia, o tirano Creonte vai tentando quebrar a jovem e obrigá-la a cumprir a sua lei, sem o conseguir. A recusa de Antígona custa-lhe a vida, mas o seu sofrimento vai derrubar a tirania, mostrando a irracionalidade de um poder repressivo que até ali estava disfarçado na vida de todos os dias. Há milhares de anos, como agora, a liberdade vale mais que os repressores de turno. Basta um gesto para o perceber.

Ao contrário dos contos de fadas ou dos filmes em que se come pipocas, nada obriga a que depois de uma tragédia haja um final feliz. Mas na nossa liberdade está inscrita a possibilidade de mudar as coisas. Por vezes, basta um gesto corajoso.