O sabotador da Democracia: Aécio evoca a instabilidade que ele mesmo cria para justificar o golpe

Do DCM
Aécio é uma pândega.

Ele fala coisas que nada têm a ver com o que ele próprio faz.

Na campanha, como um papagaio passou a usar a palavra “meritocracia”. Ora, Aécio jamais praticou a meritocracia. Encheu o governo de Minas de parentes, amigos e assemelhados. A eminência parda de suas gestões foi, meritocraticamente, sua Andrea, aquela que dava dinheiro público de publicidade oficial para a mídia amiga e sufocava à míngua a mídia independente.

Demagogo e golpista.

Sua própria trajetória é a negação da meritocracia: Aécio ganhou tudo de bandeja – de empregos a votos – por ser integrante de uma oligarquia mineira.

Bem, fiel a sua tradição de falar coisas absurdas, ele agora declarou, em tom acusatório e olhando para Dilma, que há muita instabilidade no Brasil.

Ora, ora, ora.

O nome da instabilidade é Aécio. Ele vem promovendo acintosamente instabilidade no país desde que saíram os resultados da eleição em que ele foi derrotado.

Aécio esteve à frente de todas as manobras sujas para contestar o desejo do povo expresso nas urnas. Ele já começou renegando os números e exigindo recontagem.

Quer dizer: os votos que elegeram Alckmin eram limpos, mas os que deram um segundo mandato a Dilma eram sujos.

Daí para a frente, Aécio não parou mais de estimular instabilidade pelo país. O terceiro turno se tornou uma obsessão sua, uma coisa mesquinha, patológica, alimentada pelos coronéis da mídia e abençoada por FHC.

Se Aécio fizer um exercício reflexivo sobre quais foram suas atividades no ano que se encerra, uma linha será suficiente. Ele fez um terceiro turno.

Nem a direita venezuelana, um exemplo mundial de predação e exclusão, chegou aos extremos de Aécio, FHC e cúmplices.

Aécio e FHC, somados e misturados, viraram um Frankstein que você pode batizar de Carlos Lacerda.

Lacerda passou a vida destruindo democracias e votos dos brasileiros. Recebeu a merecida resposta do destino depois do golpe militar pelo qual ele tanto se bateu. Ele queria que os militares derrubassem Jango e lhe dessem de bandeja a presidência.

Terminou cassado, e morreu do amargor de ver o colapso de seus planos sórdidos. Passou para a história como um corvo, como um conspirador impenitente, como um inimigo do povo e de suas escolhas.

Getúlio Vargas, para cujo suicídio ele tanto contribuiu, é uma figura de extraordinário relevo na história nacional. É merecidamente reconhecido como o presidente que construiu um Brasil novo, no qual greves, sindicatos e questões sociais já não eram mais “caso de polícia”, para usar a infame expressão de um antecessor de GV.

Aécio receberá da história a justa resposta. Será lembrado como um golpista, um demagogo que fala em democracia ao mesmo tempo que a sabota de todas as maneiras possíveis.

Aécio usar a palavra instabilidade para promover sua causa suja é o mesmo que Nero apontar para as chamas de Roma e bradar contra o incêndio.

Como Lacerda, e como Nero, o lugar de Aécio – e de seus comparsas como FHC – já está garantido no panteão dos inimigos da democracia.

Estivéssemos em 1964, ele estaria rastejando de quartel em quartel — as vivandeiras dos bivaques como celebrememente se referiu o general Castelo Branco aos civis que pediam aos generais que depusessem Jango.

Aécio não é mais nem menos que isso: uma vivandeira modelo 2015.

11 322 eleitores de Araripe escolheram em eleição suplementar novo prefeito neste domingo



Do TRE-CE

Os eleitores de Araripe, município da região sul do Ceará, que fica a 526 quilômetros de Fortaleza, voltaram às urnas neste domingo, 6 de dezembro, para eleger o novo prefeito. Venceu o candidato Giovane Guedes Silvestre, com 72,82% dos votos válidos, da coligação PT/PR/DEM/PSDC, que tem como vice-prefeito Francisco de Sales Alves Andrade.

O novo prefeito Giovane Guedes Silvestre derrotou Damião Rodrigues de Alencar, da coligação PSD/PP/PROS, que tinha como candidato a vice-prefeito Francisco Bosco dos Santos e alcançou 27,18% dos votos válidos.

Dos 17.127 eleitores, apenas 11.322 compareceram às urnas neste domingo.

A eleição suplementar foi realizada em decorrência de decisão do Pleno do TSE, no último dia 22/9, no Recurso Especial n.º 13426, que ratificou decisão da Corte do TRE-CE, mantendo a cassação do prefeito e do vice-prefeito de Araripe, José Humberto Germano Correia e Guilherme Lopes de Alencar, e determinando a realização de novas eleições.

Na eleição deste domingo, em Araripe, compareceram às urnas 11.322 eleitores dos 17.127 aptos a votar, registrando uma abstenção de 33,89%. Houve ainda 4,43% de votos nulos e 3,21% de brancos. Os eleitores votaram em 64 seções com urnas espalhadas em 40 locais do município. Nenhuma das urnas apresentou problema e as eleições se desenrolaram com tranquilidade. A apuração foi concluída às 18h43.

O juiz da 68ª Zona Eleitoral, Marcelo Wolney Alencar Pereira de Matos, presidiu o pleito, tendo como chefe de cartório, Gilson Carvalho, e, atuando como promotora eleitoral, Nara Rúbia Silva Vasconcelos Guerra.

Metodologia da afrodescendência: uma discussão introdutória, por Henrique Cunha*


As ordens de fatores que relacionam a necessidade, a disponibilidade e o interesse pela pesquisa em determinado tema e com enfoque especifico quanto a base teórica, metodologia e caminhos interpretativos e organizativos da produção de conhecimento é um terreno de conflito e que se explicita com grande força quando se trata da pesquisa com opção da metodologia afrodescendente. A principal razão explicita é que ocorre uma ruptura de perspectiva sobre o conhecimento, este elege a população negra como fonte ativa do conhecimento e não como objeto. De maneira subjetiva interfere na relação intima da nossa sociedade sobre os racismos antinegro mentais, a nossa sociedade é perpassada pela ideia da superioridade e de supremacia do pensamento ocidental. Propor o africano e afrodescendente como pensadores ativos fere as ordens mentais instituídas e praticadas. Varias são estas ordens de fatores que relacionam a pessoa do pesquisador, seu coletivo de origem e os temas e posturas sobre os temas e sobre a forma científica de trata-los (questionamentos que eram apenas realizados como uma opção entre o popular e erudito, entre o despossuído e possuidor (despossuído de poder político, cultural e social ou apenas despossuído de poder dos meios de produção), ou entre funcionalismo e marxismo, hoje com a presença dos afrodescendentes falando de conhecimento africano e de populações de origem africana introduz novo e precioso debate na epistemologia das ciências no Brasil. Debate ainda não declarado como existente e necessário, mas em vias de explicitação, explicitação que renasce com a fundação da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e não ganha corpo nacional em razão da timidez de ações realizadas pelos próprios afrodescendente, timidez explicada em face das pressões a que estamos submetidos.

Professor Henrique Cunha, da UFC.
Foto: Rede Social Facebook.
O tema de pesquisa eleito é percebido como estar na ordem das rupturas e das normalidades cientificas, reside no campo da especificidade ou da universalidade do conhecimento, traduz a persistência da pratica sobre a teoria ou da teoria sobre a pratica, ou da alternância entre elas?. A ordem pessoa do pesquisador, sua filiação subjetiva e objetiva com o tema e com a forma da pesquisa.? Trata-se de uma ordem de ser e ter propriedade de dentro ou de fora da porteira do horizonte do tema de pesquisa?. Carrega a ordem de pensar a pesquisa no campo micro complexo e microfacetado ou com parte do campo macro ordenado ( o conflito é parte do macro-ordenamento)?. Poderíamos de forma resumida e pouco explorada sintetizarmos estas ordens nos seguintes grupos de problemas sobre a aquisição do conhecimento e sua sistematização (vejam que a aquisição é diferente de sistematização, conhecer é diferente de dar a saber que conhece, que dar a saber como difunde) como: ordem do conhecimento e a ciência ocidental- universal;ordem da relação sujeito-sujeito ou de sujeito-objeto de pesquisa, melhor dizendo o pesquisador dentro da pesquisa e em transformação ou consolidado e apenas operador do conhecimento, ser operador do conhecimento ou ser parte do conhecimento em processo, ser transformador-transformado; a ordem do ator-pesquisador ou pesquisador o pesquisador, onde mesmo atua inscrevendo os atos ou atua como participante da plateia, a ordem de compreensão dos contextos, tanto da pesquisa como do tema pesquisado. A pesquisa é importante para um movimento da dinâmica social do qual o pesquisador faz parte ou faz parte do interesse pessoal apenas, o que é amplamente legitimo importante e de consequências ambas importantes, mas que de interações com a sociedade e com a sociedade cientifica muito particulares.

A ciência tem as suas normalidades e as rupturas. A normalidade apresenta e representa a aceitação de um determinado estado de coisas. Normalidade foi atingida pelas teorias marxistas embora estejam em contraposição com a organização do estado liberal, com a organização da sociedade capitalista, com o poder econômico, e fale em nome das classes trabalhadoras, estas teorias estão em perfeita conformidade com um campo do conhecimento estabelecido e cristalizado de normalidade quanto a aceitação cientifica dos seus dogmas, princípios e bases teóricas. O marxismo é um modelo consolidado no campo cientifico, faz parte da normalidade e não mais da transformação inovadora em termo de aceitação cientifica. Perdeu seu potencia de introduzir novas ideias de base teóricas e criou um léxico de repetições e recriação das mesmas ideias e não de proposição de novas interpretações da sociedade e da cultura humana. Também representa o predomínio da pesquisa teórica sobre a empírica. Desta em perfeita harmonia estável com as teorias do racionalismo cientifico ocidental. Entrou para parte operante do conhecimento ocidental como forma de dominação sobre os conhecimentos africanos e asiáticos.

Entretanto o pan- africanismo os enfoques do conhecimento tendo como base a cultura africana, os princípios de parte dos conhecimentos Egípcios, Núbios, Etiopês, Bantos e Iorubanos, das concepções do conhecimento africano como fonte importante do conhecimento da humanidade estão ainda sobre forte contestação em relação ao conhecimento ocidental, trata-se de um campo de tensão, de ruptura. A Grécia e o conhecimento gregos não são os pilares do conhecimento ocidental, no entanto uma grande ideologia em torno deste paradigma produziu o ocidente como forma e força política, cultural, científica e econômica. Impõe a ordem de fatores na pesquisa cientifica, de que a teoria precede a pratica, o campo empírico perde seu potencial de fonte e torna-se apenas local de constatação, exemplificação e aplicação da teoria. Condiz com um paradigma cientifico do ocidente que a possibilidade de universalização do conhecimento. Diz que uma teoria pode abarcar todas as situações da vida humana. Aceita a proposição que a teoria é superior a pratica, os teóricos são ilustres os práticos são seus discípulos, portanto pensadores reprodutores e não pensadores instituidores de novos paradigmas e novas ideias.

Principal ordem de fatores é a relação do tema da pesquisa com o conhecimento de vida e envolvimento do pesquisador. A bagagem previa do autor, do pesquisador com tema modifica em muito as capacidades de acesso ao conhecimento e informação ofertado pelo tema pesquisado. Neste sentido a pesquisa afrodescendente é uma metodologia de postura nova, relacionando a ação a pesquisa, procurando uma dialética entre ação – pesquisa-ação , tendo como partida o campo e o conhecimento sobre o campo e procurando a construção explicativa teórica depois como consequência e não como fonte. Esta no campo da discussão da epistemologia das ciências e das rupturas necessárias para integração do continente africano, de africanos e descendentes como produtores de um conhecimento, com base na experiência criadora de populações africanas e negras na diáspora. Implica no caso brasileiro em considerarmos os africanos como colonizadores do Brasil, devido a herança cultural e material, e não os portugueses, como também reconhecer o africano e descendente, como pensador, vindo de comunidades pensantes e realizadores dos ato criador e civilizador também, como todos os outros povos. No campo ético o respeito ao conhecimento pelo nosso próprio conhecimento e protagonismo social. Não se trata de um conhecimento “vindo de baixo” como a historia tem apresentado como visão inovadora, trata-se de conhecimento produzido no fazer social, nas dinâmicas das sociedades.

*Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Quando a casa grande é tomada pela senzala


Na fazenda Roseira
O milho virou pipoca
Eu com meu tambu na mão
Sinhozinho não me toca.
(ponto de jongo)

Antes, o jongo acontecia nos terreiros das senzalas e, hoje, está no terreiro da casa grande!”. A fala de Alessandra Ribeiro, articuladora cultural da Casa de Cultura Fazenda Roseira, representa bem o que significou a resistência e, consequentemente, a conquista de toda uma comunidade e de alguns movimentos sociais: a ocupação da “casa grande”, a ocupação do casarão da Fazenda Roseira. Situado em meio a prédios e condomínios frutos da especulação imobiliária e em frente a uma das importantes avenidas de Campinas, cidade do interior de São Paulo, o casarão foi construído no século XIX e, agora, transformado em um centro de referência cultural de matrizes africanas, destacando-se por ser um espaço de fortalecimento e visibilidade da comunidade negra.

O casarão foi construído no século XIX e, agora, transformado
em centro de referência cultural de matrizes africanas.
Foto: Arquivo Casa de Cultura Fazenda da Roseira.
O local é gestado, juridicamente, pelo grupo de jongo “Dito Ribeiro” que, depois de sete anos de luta, conquistou, junto à prefeitura da cidade de Campinas, o Termo de Permissão de Uso do lugar. A conquista desse documento foi muito comemorada, pois, além de significar um reconhecimento da cidade pelo trabalho que já é desenvolvido, será a partir dele que novos investimentos, tanto federal como estadual, poderão ser viabilizados.

A história da resistência se iniciou quando o antigo proprietário da fazenda, André Cantúzio, começou a dilapidar o casarão e seu entorno. A fim de conseguir autorização da prefeitura para o loteamento de suas terras, a família Cantúzio, devido à legislação municipal, foi obrigada a doar a sede da fazenda e as construções próximas para serem transformadas em equipamento público comunitário. O problema é que esse antigo proprietário começou a desmontar todo o espaço. “Ele já havia desmanchado um galpão e levado todos os tijolos embora, mas a gota d’água foi quando começou a tirar as portas do casarão”, explica Alessandra ao se lembrar do dia em que o material começou a ser retirado e da reação da comunidade para evitar que um patrimônio público fosse saqueado.

Com o objetivo de lutar contra a discriminação, a fazenda
oferece retiros aos seguidores da umbanda e do candomblé.
Foto: Arquivo Casa de Cultura Fazenda da Roseira.
Inicialmente, a comunidade local instalou faixas no casarão lembrando às autoridades que aquele espaço já pertencia ao município e empreendeu uma vigília a fim de evitar a demolição da sede. A ocupação, ou seja, a tomada do local pelas famílias que residiam no entorno da fazenda impedindo a sua depredação ocorreu, de fato, quando o antigo proprietário estacionou um caminhão e iniciou a retirada das portas e de outros materiais. Nesse dia, o poder público foi acionado, a polícia foi chamada e a comunidade conseguiu impedir o crime. “A ocupação não foi pensada, foi reação à depredação” continua Ribeiro. Ainda segundo ela, “a elite prefere ver no chão algo que a pertenceu a ver o uso popular”. Em torno de 500 pessoas, entre integrantes da comunidade e vários grupos culturais de Campinas, participaram do processo de intervenção e ocupação da fazenda.

Hoje, a Casa de Cultura Fazenda Roseira abre todos os dias à comunidade e promove vários eventos: “Não estamos sozinhos. Podemos contar com 500 pessoas, mas isso nos impõe, também, um compromisso com pelo menos 500 pessoas”, afirma Alessandra. O custo de manutenção desse espaço de uso público está orçado em R$40.000,00 anuais. Tal valor é levantado, principalmente, por meio da promoção de eventos como o arraial afro-junino do jongo e a feijoada das Marias do jongo, bem como pelo oferecimento de cursos de formação sobre história e cultura afro-brasileiras.

O espaço tem como pilares de sustentação a educação – formação de jovens e professores; a cultura – promoção do jongo e do intercâmbio com comunidades que vivem no continente africano; e a etnobotânica – cultivo de plantas de origem africana e luta contra o racismo ambiental. A casa de cultura é uma comunidade de tradição e de ciência, pois faz registro de brincadeiras, cuida da história de seus antepassados e compartilha conhecimentos por meio de aulas de dança, cursos de línguas e biblioteca com temática afro. Promove, também, com o objetivo de lutar contra a descriminação, retiros entre seguidores da umbanda e do candomblé, entendendo que, apesar de essas serem religiões distintas e de possuírem diferenças, aproximam-se pela raiz africana e pela exclusão a que são submetidas.

A casa é espaço de eventos como o arraial afro-junino do jongo e a feijoada das Marias do Jongo, bem como pelo oferecimento de cursos de formação sobre história e cultura afro-brasileiras.
Foto: Arquivo  Casa de Cultura Fazenda da Roseira.
Os resultados de toda essa luta e resistência começam a ser percebidos. Alessandra lembra que o ano de 2014 foi o primeiro, desde que começaram os trabalhos, em que não receberam alguém perguntando se apenas negros poderiam frequentar o local e participar dos eventos. Com muito bom humor, questiona: “a Macarronada Italiana é só para italianos? Restaurante chinês é só para chinês?”. Maria Alice Ribeiro, mãe de Alessandra e pessoa fundamental durante a resistência e a ocupação da fazenda, comenta que, nas primeiras visitas das crianças da comunidade, elas lhe perguntavam se ela era a ‘tia Nastácia’. Ambas, mãe e filha, lembram, também, que nessas primeiras visitas, algumas crianças choravam ao vê-las com turbantes e tocando tambor, pois achavam que eram “capetas”. Isso mostra como o trabalho de desmistificação que fazem é importante e necessário. “Trabalho para que elas vejam como isso é bonito, e não assustador”, arremata Alessandra.

Outro ganho de todo o trabalho feito é a relação que a comunidade conseguiu criar com a mídia, principalmente, a campineira. Ribeiro comenta, fazendo menção à tese de mestrado de sua autoria intitulada Requalificação urbana: a fazenda Roseira e a comunidade Jongo Dito Ribeiro Campinas/SP , “a gente ocupou a Roseira e fez mestrado. A mídia sabe com quem está lidando. Assumimos um papel de protagonista”. No entanto, mesmo tendo conseguido conquistar o respeito e algum espaço na mídia, Alessandra sabe que o senso-comum jornalístico não trata bem a questão da negritude e que a relação da mídia tradicional com os movimentos não é positiva. Ela credita esse tratamento diferenciado ao fato de o Brasil ser um país racista, salientando a necessidade de se desconstruir essa ideia imposta e a imagem errônea e estereotipada que se faz do negro. “Acabar com o racismo não é função unicamente dos negros, é de todo ser humano!”

Atualmente, corre um pedido de tombamento imaterial do casarão, uma vez que o tombamento material seria muito difícil, visto que o local sofreu algumas reformas na década de 1920 que o descaracterizaram. O argumento de patrimônio imaterial vem da necessidade de defender a memória, “mas não a memória da elite branca, da casa do senhor. Quando olho para o casarão, vejo as contribuições dos meus ancestrais como as técnicas construtivas, por exemplo. Aí está a memória que defendo”, finaliza Alessandra. Dessa forma, a “senzala” não deixa a história ser apagada nem mal contada e resgata a presença africana na construção e no desenvolvimento da cidade de Campinas.

Impeachment: Somos espectadores de um enredo assustador, a negar a democracia que acreditamos viver



Em qual país dito democrático o destino do governo e do seu partido fica sujeito à chantagem do presidente da Câmara dos Deputados, disposto a vender caro a sua pele de infrator?

Somos espectadores de um enredo assustador, a negar a democracia que acreditamos viver, mas nem todos entendem que o espetáculo é trágico.

Etapas de uma história de violência, prepotência, corrupção, sempre imunes.
O PT nega-se a uma capitulação ignominiosa e preserva o que lhe resta de dignidade, logo Eduardo Cunha parte para a vingança. Também o gesto do presidente da Câmara é tipicamente brasileiro, ao exprimir a situação de um país que há tempo perdeu o senso e a compostura.

Se já a teve, a capacidade de entender a gravidade do momento político, sem contar o aspecto pueril e os complicadores econômicos e sociais.

Até ontem, o governo jogou contra si mesmo, ao ensaiar a rendição à chantagem: desenhou-se nas últimas semanas a tendência a instruir os integrantes petistas da Comissão a votarem a favor de Cunha, donde a pergunta inevitável do cidadão atento aos seus botões: quer dizer que todos os envolvidos têm telhado de vidro?

Ora, ora. Impeachment era, e continua a ser, golpe. Quanto a Cunha, suas mazelas são mais que evidentes. Então, por que o governo cederia à chantagem? Quem se deixa acuar está perdido.

Tempo de chantagem, a delação premiada resulta dela também, a partir de prisões preventivas que põem em xeque a presunção da inocência, o indispensável in dubio pro reo. Esta é a democracia à brasileira, diariamente chantageada pela mídia nativa. Segundo uma pesquisa Datafolha, a maioria dos entrevistados enxerga na corrupção o calcanhar de aquiles do País.

Não procuro saber das técnicas empregadas para chegar a esse resultado, de todo modo é certo que a corrupção não passa de uma consequência de 500 anos de desmandos na terra da predação. O poder verde-amarelo muda seu endereço, mas não altera propósitos e comportamentos. É sempre o mesmo, desde as capitanias hereditárias. Feroz, hipócrita, velhaco. E impune.

De pé, ainda e sempre, a casa-grande e a senzala, e também sobrados e mocambos. Gilberto Freyre referia-se ao Nordeste, mas a dicotomia se impõe até hoje do Oiapoque ao Chuí, e é mesmo possível que agora, nas terras do historiador pernambucano, seja menos acintosa do que em outros cantos.

Permanece, em pleno vigor, a lei do mais forte, e desta brotam os nossos males, a começar pela desigualdade, pelo assassínio anual de mais de 60 mil brasileiros, pelo caos urbano. E assim por diante. Supor que a situação atual tem alguns responsáveis, identificados pela Lava Jato, não esclarece a real dimensão do problema.

Responsável é quem usa o poder em proveito próprio. Colonizadores, escravagistas, bandeirantes, capitães do mato, os senhores do império, os militares golpistas que proclamaram a República etc. etc.

O golpe de 64 foi precipitado para evitar uma mudança apenas vagamente esboçada graças à convocação dos gendarmes fardados, coroada a operação 20 anos após, paradoxalmente, pelo enterro da campanha das Diretas Já.

O poder verde-amarelo muda seu endereço, mas não altera
propósitos e comportamentos.
A chamada redemocratização foi uma farsa, com a contribuição dos fados que levaram à Presidência Sarney, principal artífice da derrota da Emenda Dante de Oliveira, a favor das diretas, e vencedor da batalha da indireta à sombra de uma Aliança pretensa e hipocritamente apresentada como Democrática.

A casa-grande e sua mídia elegeram Fernando Collor, para apeá-lo quando passou a cobrar pedágio alto demais, e Fernando Henrique, que “não é tão esquerdista assim”, como dizia Antonio Carlos Magalhães.

O governo tucano em oito anos cometeu as maiores infâmias contra os interesses nacionais, esvaziou as burras do Estado, organizou com as privatizações a maior bandalheira da história brasileira, comprou votos a fim de reeleger FHC, para não mencionar as aventuras do filho do então presidente, grandiosas e silenciadas. Quem pode, pode.

Lula, Dilma e o PT são intrusos nesta pantomima e esta presença, usurpada na visão dos antecessores no poder, explica por que hoje são visados como únicos réus. A eleição do ex-metalúrgico em 2002 ofereceu uma esperança de renovação, e assim pareceu divisor de

águas no rumo do progresso. No poder o PT portou-se como os demais partidos (partidos?) e os bons augúrios minguaram progressivamente. É bom, para a dignidade do governo e do seu partido que enfim não capitulem diante da chantagem de Eduardo Cunha.

Seria o suicídio. Infelizmente, há muitos outros erros morais e funcionais, falhas, deslizes, e até tramoias, trambiques, falcatruas, a serem remidos, e não é fácil imaginar que o serão.

Às vezes me colhe a sensação de que atravessamos a fase final do longo processo da decadência crescente e inexorável de um país destinado a ser o paraíso terrestre e condenado ao inferno por sua elite, voltada a cuidar exclusivamente dos seus interesses em detrimento da Nação.

E de administrá-los contra a lei, se necessário. Na circunstância, cheia de riscos e incógnitas, a saída pela Justiça soa como o recurso natural. Não seria o STF o guardião da Constituição ofendida, o último defensor do Estado de Direito?

Os botões me puxam pelo paletó: que esperar desta Justiça desvendada, embora tão verborrágica, empolada, falsamente solene?