Fique por dentro da gastronomia AFRICANA. Conheça 10 pratos.


Arroz Jollof é o prato mais popular no oeste africano.

A gastronomia não se limita somente ao objetivo primário de matar a fome, com todas as suas variações ela se apresenta como instrumento de propagação da cultura e representa como ninguém os mais diversos povos e tradições. Se tratando de um continente tão complexo como a África fica ainda mais difícil resumir a preferência gastronômica de sua gente. O modo de fazer, os ingredientes selecionados, a criação de animais e os pratos refletem o ambiente em que cada pessoa vive e toda a tradição e história que envolvem o lugar.


A alta incidência de estrangeiros que desembarcaram na África ao longo dos séculos também deve ser levada em consideração na análise. Pensando nisso, o site Mail & Guardian Africa topou o desafio e selecionou os 20 pratos mais populares na cozinha africana e nós resolvemos destacar alguns deles, além de contar um pouco da história gastronômica de cada região.

A chermoula é uma mistura de ervas consumida basicamente
no Norte da África.
Vamos começar no século 7, quando os árabes chegam com suas famosas especiarias – açafrão, canela, gengibre e cravo – revolucionando a gastronomia no Oriente africano. A presença árabe na cozinha do leste do continente é fato bastante conhecido, a relação começou a mil anos atrás quando eles navegavam com arroz e especiarias, estes que hoje marcam presença na comida Suaíli das regiões costeiras. A partir do Novo Mundo eles descobriram o pimentão, tomates e batatas. Limões e porcos domésticos vindos da China e Índia completam a lista.

Ao se deslocar mais para o interior, é notável a presença do gado, ovelhas e cabras, todos considerados moeda de troca pelos pastores. Os animais também servem para a alimentação, contudo apenas para a confecção de produtos oriundos do leite, geralmente sua carne não é consumida. Os habitantes da região preferem a pesca – que fornece a proteína – e também o consumo de grãos, feijão e legumes.

Biltong é uma carne curada consumida em todo o continente.
Já a comida do Norte se destaca pelo cheiro. Egito, Marrocos, Líbia, Tunísia e Argélia, todos banhados pelo Mar Mediterrâneo, se caracterizam pelo consumo de erva-doce, alecrim, louro, cravo, canela e pimentas. A cultura do lugar foi fortemente influenciada pelos fenícios do primeiro século, que trouxeram a salsicha, seguidos pelos cartagineses, que introduziram o trigo, evidenciando a preferência da população por pratos feitos à base de trigo e de carne de cordeiro. Em tempo, muitos temperos migraram dali para países da Europa, como Espanha, França e Itália.

No chamado chifre africano, que engloba Etiópia, Somália, Djibouti e a Eritreia, a religião, especialmente as crenças islâmicas e cristãs, impactaram significativamente na mesa de jantar. Diferente de outros locais, aqui não há carne de porco, substituída pelas leguminosas, lentilha e grão de bico. Os pratos tradicionais da cozinha etíope e eritreia são semelhantes e ambos dominados por tsebhis (ensopados), que são servidos com injera – um crocante feito com teff, trigo ou sorgo -, também encontrado na Somália.

Chermoula, mistura de ervas, leva óleo, suco de limão,
alho, cominho e sal.
Com toda a diversidade citada ao longo do texto, pode-se dizer que a África Austral é dona de umas das maiores variedades culinárias de todas as regiões do continente. Isso se deve a mistura entre as culturas das sociedades tradicionais africanas com os índios, europeus e populações asiáticas. A África do Sul, por exemplo, fazia parte da rota marítima que ligava o Oriente ao Ocidente e com isso sua cozinha se diversificou bastante. Em geral os sul-africanos consomem carne vermelha e um dos pratos favoritos da população é o bobotie, um cozido de carne moída, pão, leite, cebola, castanhas, passas, damascos e  curry. A comida era uma das preferidas de Nelson Mandela.

Por fim falamos da África Ocidental e Central, que teve sua culinária muito menos influenciada pelos europeus do que os outros. Com o mínimo contato com o exterior, a cozinha destas duas regiões continuam próximas dos ingredientes e técnicas tradicionais. A única adição foi a mandioca, amendoim e plantas de pimenta, que chegaram junto com o comércio de escravos em meados do século 16.

As injera são úmidas e fofas e são consumidas principalmente na Somália e Etiópia.

Depois da introdução, com vocês alguns dos destaques da lista:

Biltong – Original da África do Sul, é uma carne curada consumida em todo o continente. Geralmente o prato é preparado com pimenta preta, salta, açúcar, vinagre e molho barbecue.

O Fufu (em amarelo) é feito com mandioca e inhame. O prato é bastante popular em Gana. Foto/Blog Mundi.

Fufu – Popular no Oeste, é feito a partir da fervura da mandioca e do inhame (pode ser substituído pela banana) e em seguida é batido até ficar com a consistência de massa.

Parecido com o bolinho de chuva, o mandazi é um dos principais da culinária Suaíli.

Mandazi – Com forma que lembra o nosso bolinho de chuva, o prato é um dos principais na culinária Suaíli e acompanha qualquer prato ou pode servir de aperitivo. Os ingredientes básicos são amendoim, leite de coco e amêndoas.

Injera – Crepe com farinha fermentada na água por dois ou três dias. Depois eles são assados numa chapa de ferro ou blaca de barro, colocadas sobre um fogão. As injera são úmidas e fofas e consumidas principalmente na Somália e Etiópia.

Arroz Jollof – O prato mais popular no Oeste africano, o alimento tem como ingredientes básicos arroz, tomate, molho de tomate, cebola, sal e pimenta vermelha. Ele é consumido principalmente na Nigéria, Togo, Gana, Serra Leoa e Libéria.

Chermoula – Uma mistura de ervas, leva óleo, suco de limão, alho, cominho e sal. Ele é consumido basicamente no Norte e os ingredientes variam de acordo com o país.

O Nyama Choma é uma carne assada servida em restaurantes chiques ou no comércio de rua. Popular no Quênia.
Nyama Choma / Braaivleis / Mechoui – Com nomes e técnicas de cozinhar diferentes, é apreciado quase que em todo o continente. É um tipo de carne assada servido em restaurantes chiques ou no comércio de rua de Nairóbi, no Quênia. Também vai bem com cerveja.

O cuscuz, que também está presente na mesa dos brasileiros, é apreciado na Argélia e Marrocos.
Couscous – Alternativa interessante para o arroz e massas no Norte da África, o cuscuz é feito no vapor e com trigo. O prato também está presente na mesa dos brasileiros.

Original de Portugal, o piri-piri é um molho picante e adotado pela cozinha sul-africana.
Piri Piri – Original de Portugal, é um molho picante e adotado pela cozinha sul-africana.


Dandara, Mahin, Tereza e Aqualtune. Por mais Heroínas Negras



Novembro é considerado o mês da Consciência Negra, por conta do dia de hoje (20 de novembro). Nesse período, vemos muitas homenagens para Zumbi dos Palmares que foi líder do quilombo de Palmares e um guerreiro contra a escravidão no período colonial. Concordo que Zumbi seja uma importante figura histórica, mas e as mulheres negras como Dandara, Tereza, Luisa e Aqualtune? Elas também lutaram e resistiram bravamente, na liderança dos quilombos e nas comunidades de luta contra a escravidão e o racismo. Mesmo com toda essa luta, ainda assim só os homens são lembrados. Essas mulheres também precisam ter seus nomes, histórias e lutas expostos.



Mas enquanto essas mulheres tão notáveis e com tamanha importância raramente recebem o devido reconhecimento, as mulheres negras, atualmente, também encontram dificuldade para conseguirem qualquer reconhecimento nas mais diversas áreas da sociedade.

Vemos muita divisão até na luta das mulheres por igualdade. Como pode?

Uma das mais fortes reivindicações das mulheres brancas é o mercado de trabalho ou o combate aos estereótipos que representam as mulheres como o sexo frágil. Enquanto isso, as mulheres negras enfrentam há tempos a luta contra a escravidão moderna, uma cópia mais "light" do que era imposto até o século XIX. Muitas mulheres brancas, patroas, acabam com a moral das suas empregadas ou babás que, em sua maioria, são negras. Quando não as veem como rival, pois mulheres negras ainda são vistas como objeto sexual por alguns patrões, herança da cultura escravista do país, em que os "senhores" estupravam as escravas.

Vemos tudo isso ser representado nas novelas. Raramente vemos novelas em que não se tenham empregadas negras, ou que se tenham protagonistas negras. Só me lembro da Tais Araújo, única, na minha geração.

Nós, mulheres, devemos nos unir, juntar forças para vencermos.

Os diversos índices e pesquisas sociais no Brasil mostram,  frequentemente, evidências de que as mulheres negras vivenciam os níveis mais altos de violência e violação de direitos. A desigualdade salarial entre homens e mulheres, quando analisada sob a perspectiva racial, se torna também uma desigualdade salarial entre mulheres brancas e negras. As mulheres negras estão entre a maioria das vítimas de feminicídio (perseguição e morte intencional de pessoas do sexo feminino, classificado como um crime hediondo, no Brasil.). Quando o tema é a ilegalidade do aborto, as consequências da clandestinidade também são mais pesadas para as mulheres negras por serem maioria pobre na estatística de classe social e que, por isso, não têm as mesmas oportunidades que as mulheres brancas de interromper a gestação em outro país ou em clínicas particulares.

Gente, de que adianta Consciência Negra se não temos um combate contra o machismo em paralelo?

Pra realmente surtir efeito, não ser mais uma data em que são feitas homenagens, falsas promessas e declarações, além de feriados em muitas cidades e da pergunta típica: "feriado de que mesmo?", é preciso realizar reflexões, fazer um resgate histórico, analisar as consequências da escravidão e como os negros e as negras estão vivendo hoje no país.

Não tem como existir luta por igualdade de gênero sem combater o racismo. Assim como não há luta antirracista sem a luta por igualdade de gênero. A intersecção das lutas contra as opressões é necessária. Por isso, o feminismo negro é necessário.

As pessoas devem entender que mulheres negras não têm escolha sobre a possibilidade de sofrerem um ou outro tipo de discriminação; ambas as violências se repetem de maneira interligada, em moldes direcionados exclusivamente e especificamente às mulheres negras.

Ainda hoje, há muitas diferenças entre as questões das mulheres brancas e negras. De maneira similar, por mais que estejam unidos na luta contra o racismo, há certos tipos de violência que os homens negros não enfrentam. Infelizmente, tanto nos movimentos de mulheres quanto nos movimentos negros, as mulheres negras ainda lutam para que suas necessidades sejam ouvidas e representadas. À exemplo das guerreiras negras na história do Brasil, nem sempre a dedicação à luta é o suficiente para que as nossas demandas sejam atendidas ou contempladas.

Encerro esse texto citando um poema com autoria de Zuleika dos Reis:

SER NEGRA - Homenagem ao Dia da Consciência Negra

Negra é a mulher que tem sido minha irmã, que nos ajuda, há muito, a mim e a minha mãe, a segurar as barras do cotidiano insalubre.

Negra é a pele que me vai por dentro, herança dos meus ancestrais.

Negro é o blues que me invade, com todas as suas línguas feitas de saudade e de desterro.

Negras são certas saudades: volúpia, sofrimento.

Negra é a linda canção que cantava a filha daquele que foi meu homem, canção que ela aprendeu de sua avó.

Negra é a negra noite, quando se sonham os sonhos mais profundos.

Negro de belezas é o silêncio dos amantes plenos um do outro.

Negra sou eu quando deixo que acordem em mim todas as áfricas.

Negra é a África, berço do mundo.

Felizes dos que se alegram, dos que se orgulham pelo negro, pela negra que todos carregamos por fora, por dentro; negritude que nos amplia, que nos ensina, que nos ultrapassa, que fere os nossos limites, para que possamos prosseguir.

Mulheres Negras marcharam contra o racismo, a violência e a favor do bem viver




Na capital do país, o dia foi de luta contra o racismo. Ativistas de norte a sul se reuniram nesta quarta-feira 18 para a 1ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, que tomou as ruas da cidade.

Mulheres Negras do Cariri estiveram presente na Marcha em Brasília nesta quarta, 18. Foto: Divulgação.
Segundo a organização, cerca de 10 mil pessoas participaram do ato, que teve por objetivo chamar a atenção para o combate à discriminação e para a necessidade de ampliação das políticas públicas de promoção da igualdade.

De acordo com o Mapa da Violência 2015, divulgado neste mês pela Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais, a quantidade de mulheres negras mortas cresceu 54% de 2003 a 2013, enquanto o número de mulheres brancas assassinadas caiu 10% no mesmo período.
As estatísticas mostram que os desafios ainda são grandes para a superação do preconceito e da violência contra este que é considerado o segmento mais vulnerável da população.

Para a ministra Nilma Lino Gomes, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), o evento mostra a capacidade de articulação e mobilização das mulheres negras de todo o Brasil. Ela destaca a importância de valorizar o protagonismo de pessoas que normalmente têm poucas oportunidades de expressão.

Se for pensar na luta e na força, elas têm esse comando todo dia, só que muitas vezes é invisibilizado na nossa sociedade por um imaginário racista, por um imaginário sexista. Então, a Marcha é um momento de as mulheres negras colocarem essa visibilidade nacional e internacionalmente”, ressalta.

Essa é também a opinião da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que fez questão de pontuar a baixa representatividade do setor na política e a necessidade de vigilância para que não haja retrocessos nas discussões que permeiam o Congresso Nacional.

A colega de partido e ex-ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário (RS), lembrou que há apenas três parlamentares negras na Câmara e isso precisa ser mudado. Para a deputada, é fundamental que essa população ocupe os espaços de decisão e, assim, possa lutar por mais direitos. “Elas ainda são a base da pirâmide”, alerta.

Policial foi preso por atirar durante Marcha

Um homem foi preso em Brasília, no início da tarde da quarta-feira 18 por disparar quatro tiros para o alto durante a Marcha das Mulheres Negras na Esplanada dos Ministérios (assista a dois vídeos no pé deste texto). Ele é policial civil e acampava em frente ao Congresso Nacional junto a outros manifestantes que pedem a volta dos militares ao poder. Houve um princípio de tumulto entre as pessoas, que correram ao ouvirem os disparos.

De acordo com informações da Polícia Militar, o homem alegou ter se sentido ameaçado por conta do protesto. O objetivo do ato era justamente reivindicar políticas de combate à violência e à discriminação contra as mulheres negras, reunindo cerca de 10 mil ativistas de todo o país.

Mas afinal como será o nosso Novembro Negro?




O Decreto nº 1.331, de 17 de fevereiro de 1854, estabelecia que nas escolas públicas do país não seriam admitidos escravos, e a previsão de instrução para adultos negros dependia da disponibilidade de professores. Mais adiante, O Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, estabelecia que os negros só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares (BRASIL, 2004, p. 7).

Nesse mês da consciência negra, temos acompanhado um processo explosivo de luta da juventude em defesa da educação, contra os ataques do governo Alkimin. Esse processo de luta aparece em um importante momento e deve servir como elemento de reflexão, para essa juventude que se levanta, assim como pros negros e negras que têm tocado a luta antirracista.

O maior país negro fora da África não só carrega em suas costas uma longa história de escravização de negros e negras sequestrados de suas terras, como para garantir seu papel na divisão internacional do trabalho tem como um de seus alicerces estruturais o racismo. Ainda hoje a burguesia não consegue esconder a gritante diferença social em nosso país, que de um lado possui uma elite branca profundamente ligada aos países imperialistas que concentram uma enorme parte da renda, e de outro a classe trabalhadora e os setores oprimidos, constituídos hegemonicamente por negros, que possuem uma péssima condição de vida. Mesmo entre a própria classe trabalhadora, e entre os setores oprimidos há grandes diferenças entre negros e brancos.

Essa relação étnica e econômica coloca o racismo não só como um fenômeno a ser combatido na sua expressão mais cultural, mas também na sua base material que o torna um elemento aprofundados dos problemas sociais primeiramente para os negros, mas com reflexos para o conjunto dos oprimidos e explorados. Nesse sentido a educação se coloca como elemento democrático que deve ser encarado como uma demanda negra, desde seu acesso até seu conteúdo e as relações étnicas no próprio cotidiano escolar.

A história da educação e da escolarização, como parte da produção cultural da humanidade (fruto das relações de trabalho), não só caminha lado a lado com a luta de classes como carrega dentro de si as contradições de classe de sua época. No Brasil isso não é diferente. As primeiras experiências de educação do Brasil Colônia aparecem com os jesuítas. As missões jesuíticas são mandadas ao país para cumprir o papel de catequizar os povos originários, indígenas, e ajudar na colonização do território.

No século XIX a elite abre uma grande discussão na imprensa sobre a necessidade ou não de educar as classes populares e quais deveriam ser as finalidades dessa educação. Apesar de haver uma grande ruptura entre classe dominante e o resto do povo, para que pudesse avançar no seu projeto de construir uma nação civilizada nos trópicos seria preciso educar os cidadãos. Uma educação que fosse suficiente para a população ter um mínimo de civilidade.

Os negros não se encontrava entre os cidadãos que deveriam ser educados. Carregando um forte sentimento racista e se baseando principalmente no pensamento eugenista, a elite defendia que era preciso acabar com os negros. A miscigenação serviria como arma para conseguir branquear a população, uma etapa necessária, os mestiços seriam apenas um processo de transição para uma sociedade mais avançada. É por isso que os negros não estavam inclusos em nenhum projeto social da elite.

Na primeira república se expande o número de escolas públicas de nível primário, esse aumento leva também a uma maior demanda por livros de leitura. Esses materiais versavam sobre dois temas principais: as belezas do país e o povo brasileiro. Esses temas tem uma forte relação com a necessidade de uma república que acaba de se emancipar de tentar encontrar uma identidade nacional e se livra de todo o seu passado obscuro. Como podemos imaginar esse material carregava consigo todo o ideário da classe dominante, portanto impregnado de um forte racismo. Esse é parte do processo necessário para que o país negasse todo seu passado negro e pudesse caminhar para um futuro branco.

Dês do inicio do processo de colonização a educação brasileira carrega um caráter altamente excludente, principalmente para os negros. Mesmo com o desgaste das teorias racistas mais abertas que defendiam a eliminação dos negros para que o país pudesse avançar e com o fortalecimento da tese da democracia racial os negros ainda sofrem no ambiente escolar. Hoje a culpa por anos de escravidão e marginalização que geraram uma enorme desigualdade racial é individualizada. Ou seja, a partir da proliferação da tese da democracia racial se fortalece a visão de que se os negros não conseguem sucesso na escola, a culpa é deles, pois brancos e negros supostamente possuem igual oportunidade.

O que vemos é que mesmo muito antes de adentrar a escola o racismo aparece como barreira social para que negros e negras possam estudar. As condições de vida da maioria dos negros são uma pressão concreta para que não consigam avançar nos estudos. Esses problemas começam dês da falta de creches públicas, se expressam também na necessidade de adentrar no mundo do trabalho, na violência estatal que prende e mata a juventude negra e em mais uma gama de problemas que o racismo impõe.

Os baixos índices de escolarização enfrentados pelos são fruto de uma política histórica de marginalização e opressão. As condições precárias de vida se juntam a uma política clara de exclusão dos negros do ambiente escolar dês de o fim da escravidão. Na cidade de São Paulo, assim como em todo o país as diferenças em dados como o índice de morte entre negros e brancos já é uma clara demonstração de como diferentes fatores interferem na diferença de escolarização.

Segundo o IPEA:

Apesar do crescimento na média de anos de estudo da população em geral (aproximadamente 1,5 anos) ao longo da década 1993-2003, o diferencial entre negros e brancos caiu muito pouco neste período. Se em 1993, esse diferencial era de 2,1 anos a favor dos brancos, em 2003 ele cai apenas para 1,9. Mas estes diferencias são menores para pessoas com 15 anos ou mais de idade e maiores ainda para 12 anos ou mais de escolaridade

Dados do IBGE mostram que em 2003 a média de anos de escolaridade dos brancos era de 8,1 enquanto de negros era de 6,7, já em 2009 esse número sobre para 9,1 para brancos e 7,6 para os negros. Mantendo ainda uma grande desproporção nos anos de estudo. Todos esses dados mostram o resultado de uma política de Estado racista que na educação já apresenta seus primeiros resultados nas dificuldades que a juventude negra tem de terminar a sua educação básica, se falarmos do nível superior os números são ainda piores.

Dentre tantos outros fatores que podemos levantar, no Brasil existe uma segregação espacial que impõe à maior parte dos negros a morar nas zonas periféricas dos grandes centros urbanos. Nesses locais os aparelhos públicos, incluindo as escolas, quando existem são em sua maioria precários, seja na sua estrutura física ou mesmo na sua qualidade. Aos negros então sobram as escolas de pior qualidade, o que dificulta ainda mais seu processo educacional.

A realidade é, que apesar dos anos de luta do movimento negro por educação, sabemos que, mesmo com algumas melhoras, ainda hoje somo nós os mais excluídos do processo educacional desde os seus níveis mais básicos.

Segundo o IBGE, a proporção populacional é 37% de negros na cidade de São Paulo, essa população se concentras nas regiões periféricas e ainda apresenta um baixo nível de escolaridade e de condições de vida em relação ao brancos que aqui vivem. O governo da cidade de São Paulo lançou um documento que deve nos ajudar a compreender essa disparidades para entender o papel do movimento negro na luta em defesa da educação.
A tabela abaixo mostra o desenvolvimento do nível de escolaridade segundo raça na cidade de São Paulo entre 2000 e 2010:

Os negros possuem índices escolares menores dos que os brancos, e sabemos que são inúmeras as questões que levam à juventude negra abandonar o ensino. Possuem um pouco menos que o dobro do índice de brancos dos que não conseguem completar nem mesmo o Ensino Fundamental, ao mesmo que quando vemos o índices dos que possuem Ensino superior completo o índice nos negros fica perto de ¼ dos brancos.

Bom, depois de vemos essa disparidade no nível educacional, não é difícil chegar a conclusão de quem será o setor mais prejudicado pela “reorganização” do governo do estado.
É a juventude negra quem mais vai sofrer com esses ataques, é essa a parcela da juventude que já possuí acesso a uma educação precarizada e que agora vai ter esse acesso ainda mais dificultado; que como se já não bastasses o aumento dos índices de desemprego, os trabalhos precarizados ainda tem de viver com a realidade das chacinas policiais e a possibilidade da redução da maioridade penal.

Num país onde a questão de classe e raça se mistura tão profundamente, não é possível separar a luta negra da luta contra as mazelas dos oprimidos. O racismo aparece como um fator agudizador de todos os problemas sociais, sendo assim, ao tratar das demandas mais elementares de nosso pais é preciso lembrar e levantar as especificidades negras junto as pautas mais universais, ao mesmo tempo que o verdadeiro combate ao racismo tem como desafio acabar com toda a estrutura social e política que tem interesse em sua continuidade.

É por isso que nós, militantes negros e negras, devemos tomar essa luta como nossa, e não só isso, devemos encara-la no marco de uma luta contra o racismo, uma luta que é de raça e também de classe.

É preciso unificar as demandas especificas do movimento negro à luta por um direito que deve ser universal, potencializando a luta contra um único inimigo ao mesmo tempo que vamos ao poucos ampliando o leque de parceiros. Os estudantes tem a cada dia mostrado sua força e a criatividade para manter as ocupações e garantir o seu futuro, em muitas escolas os jovens negros tem se colocado como linha de frente desse processo.

Em um momento, onde existe um nível de politização importante, onde a questão da identidade racial tem conseguido furar a barreira da democracia racial, onde a população negra e principalmente a juventude tem sofrido uma série de ataques, é preciso see audaz, sair da rotina ocupar as escolas também com a nossa luta. O movimento negro há anos se apropriou do dia 20 de novembro como um dia de luta contra o racismo, e todos os anos nos organizamos para marchar e colocar nossas pautas na rua. Mas um dia de luta contra o racismo, que não possa se ligar aos processos de luta reais, se torna só mais um dia no calendário.

Hoje, a pergunta que devemos responder é: como será o nosso Novembro Negro?



Mercado de Trabalho: presença de negros cresce, mas renda segue menor



Pesquisa da Fundação Seade e do Dieese, divulgada hoje (17), mostra alguns indicadores positivos quanto à presença dos negros no mercado de trabalho da região metropolitana de São Paulo, mas também aponta desigualdades cuja superação ainda deve demorar. "Apenas com longos períodos de crescimento econômico em conjunto com ações de políticas afirmativas é possível diminuir as desigualdades no mercado de trabalho e melhorar as oportunidades de inserção para a população negra", afirmam as entidades, que divulgaram estudo relativo ao Dia da Consciência Negra, celebrado na próxima sexta-feira (20).

Dos quase 38% de ocupados negros no ano passado, 20,5%
eram homens e 17,4%, mulheres.
Entre as melhorias registradas de 2013 para 2014, Dieese e Seade destacam o crescimento da participação dos negros entre os ocupados, de 35,2% para 37,9% do total. Esse aumentou ocorreu tanto para homens (1,7 ponto percentual) como para mulheres (1 ponto). Dos quase 38% de ocupados negros no ano passado, 20,5% eram homens e 17,4%, mulheres.

A distância entre as taxas de desemprego diminuiu, embora continuem sendo mais elevadas para os negros. Neste caso, a taxa ficou estável em 12%, enquanto para os não negros subiu de 9,4% para 10,1%, reduzindo a diferença de 2,6 para 1,9 ponto percentual. Dieese e Seade lembram que essa diferença chegava a 7,2 pontos em 2002 (a taxa de desemprego entre os negros chegava a 23,6% e a dos não negros, a 16,4%).

Do ponto de vista da garantia de benefícios trabalhistas e previdenciários, 62,9% dos não negros ocupados estavam inseridos em ocupações regulamentadas – assalariados no setor privado com carteira assinada e no setor público). Entre os negros, essa participação era um pouco menor, de 61,7%. Mas apenas entre assalariados no setor privado com carteira, a proporção entre os trabalhadores negros (55,2%) era um pouco maior que entre os trabalhadores não negros (54,2%).

Já no serviço doméstico, caracterizado por menor regulamentação e rendimento, estavam 9% dos negros ocupados e 5% dos não negros. Entre os autônomos, 16,4% e 14,8%, respectivamente.

O rendimento mostra de forma mais clara as diferenças no mercado de trabalho. O rendimento/hora dos negros representava, em 2014, 63,7% do recebido pelos não negros: R$ 8,79, ante R$ 13,8%. Em relação a 2013, enquanto o valor entre negros praticamente não variou (0,3%), entre não negros houve crescimento de 2,9%.

A desigualdade é ainda maior no setor de serviços: a proporção passou de 62,9%, em 2013, para 59,1% no ano passado. Na indústria, os negros recebiam 70,1% dos ganhos dos não negros e no comércio, 70,2%. No setor público, a proporção era de 66,2% e entre os autônomos, de 71%. No serviço doméstico, com maior participação de negros e rendimentos menores, a proporção cai para 1,5%.

Segundo pesquisa, quem bebe muito café tem menos possibilidades de adquirir várias doenças



Pessoas que relatam beber entre três e cinco xícaras de café ao dia têm menor propensão a morrer prematuramente de doenças cardíacas, suicídio, diabetes ou mal de Parkinson - é o que revela uma pesquisa norte-americana nesta segunda-feira.

Tanto o café comum quanto o descafeinado aparecem como benéficos, disseram os pesquisadores da Chan School de Saúde Pública da Universidade de Harvard em estudo publicado na revista especializada Circulation.

O estudo comparou as pessoas que não bebem café, ou beberam menos de duas xícaras por dia, com aquelas que relataram valores "moderados" de consumo de café, ou até cinco xícaras diárias.

O estudo não prova relação de causa e efeito entre o café e a probabilidade reduzida de certas doenças, mas descobriu uma aparente ligação que se alinha com a pesquisa anterior, e que os cientistas disseram que ainda investigarão mais.

"Componentes bioativos presentes no café reduzem a resistência à insulina e a inflamação sistemática", disse a principal autora do estudo, Ming Ding, doutoranda do departamento de Nutrição.

"Isso poderia explicar alguns dos nossos resultados. No entanto, mais estudos são necessários para investigar os mecanismos biológicos que produzem esses efeitos".


Nenhum efeito protetor contra o câncer foi encontrado neste estudo. Algumas pesquisas anteriores já apontavam para uma ligação entre o consumo de café e um menor risco de certos tipos de câncer. 

O estudo foi baseado em dados recolhidos a partir de três grandes questionários incluindo cerca de 300.000 enfermeiros e outros profissionais de saúde que concordaram em responder sobre suas próprias condições médicas e hábitos em intervalos regulares ao longo de 30 anos.

"Em toda a população do estudo, o consumo moderado de café foi associado à redução do risco de morte por doença cardiovascular, diabetes, doenças neurológicas como a doença de Parkinson, e o suicídio", afirma o estudo.

Os pesquisadores também apontaram como potenciais fatores de confusão o tabagismo, índice de massa corporal, atividade física, consumo de álcool e dieta. Mas o fato de que a pesquisa baseou-se em pesquisas que usam comportamento auto-relatado pode levantar questões sobre sua confiabilidade.

E os especialistas alertam que o café - uma substância adorado por muitos - pode ser bom para todo mundo.

"Consumo regular de café pode ser incluído como parte de uma dieta saudável e balanceada", afirmou Frank Hu, professor de nutrição e epidemiologia em Harvard.
"Algumas populações como grávidas e crianças devem tomar cuidado com o consumo elevado de cafeína proveniente do café e outras bebidas".

Sempre é tempo de Anastácia



A existência da escrava Anastácia é colocada em dúvida pelos estudiosos do assunto, já que não existem provas materiais da mesma.

Seu culto foi iniciado em 1968, quando numa exposição da Igreja do Rosário do Rio de Janeiro em homenagem aos 80 anos da Abolição, foi exposto um desenho de Étienne Victor Arago representando uma escrava do século XVIII que usava Máscara de Flandres que permitia à pessoa enxergar e respirar, sem, contudo, levar alimento à boca.

No imaginário popular, a Escrava Anastácia era uma escrava de linda de rara beleza, que chamava atenção de qualquer homem. Ela era curandeira, ajudava os doentes, e com suas mãos, fazia verdadeiros milagres. Por se negar a ir para a cama com seu senhor e se manter virgem, apanhou muito e foi sentenciada a usar uma máscara de ferro por toda a vida, só tirada às refeições, e ainda sendo espancada, o que a fez sobreviver por pouco tempo, tempo esse durante o qual sofreu verdadeiros martírios. Quando Anastácia morreu, seu rosto estava todo deformado. Escrava Anastácia é cultuada tanto no Brasil quanto na África.
Existem santuários da Escrava Anastácia no Rio de Janeiro, mais precisamente na Rua Taubaté, 42, Oswaldo Cruz e Rua Couto de Magalhaes, s/n, Benfica.

A Escrava Anastácia (a sua história):

Nos meios que militam as lideranças negras, femininas ou masculinas, fala-se muito sobre quem foi e como teria sido a vida e a história da Escrava Anastácia, que muitas comunidades religiosas afro-brasileiras, particularmente, as ligadas à religião católica apostólica romana, gostariam de propor à sua Santidade, o Papa, para que fosse beatificada ou santificada, dentro dos preceitos e dos ritos canónicos que regem este histórico e delicadíssimo processo.

Pelo pouco que se sabe desta grande mártir negra, que foi uma das inúmeras vítimas do regime de escravidão, no Brasil, em virtude da escassez de dados disponíveis a seu respeito, pode-se dizer, porém, que o seu calvário teve início em 9 de Abril de 1740, por ocasião da chegada na Cidade do Rio de Janeiro de um navio negreiro de nome “Madalena”, que vinha da África com carregamento de 112 negros Bantus, originários do Congo, para serem vendidos como escravos nesse País.

Entre esta centena de negros capturados em sua terra natal, vinha, também, toda uma família real, de “Galanga”, que era liderada por um negro, que mais tarde se tornaria famoso, conhecido pelo nome de “Chico-Rei”, em razão da sua ousada atuação no circuito aurífero da região que tinha por centro a Cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais. Delmira, Mãe de Anastácia, era uma jovem formosa e muito atraente pelos seus encantos pessoais, e, por ser muito jovem, ainda no cais do porto, foi arrematada por um mil réis. Indefesa, esta donzela acabou sendo violada, ficando grávida de um homem branco, motivo pelo qual Anastácia, a sua filha, possuía “olhos azuis”, cujo nascimento se verificou em “Pompeu”, em 12 de Maio, no centro-oeste mineiro.

Antes do nascimento de “Anastácia”, a sua Mãe “Delmira” teria vivido, algum tempo, no Estado da Bahia, onde ajudou muitos escravos, fugitivos da brutalidade, a irem em busca da liberdade. A história nefanda se repete: Anastácia, por ser muito bonita, terminou sendo, também, sacrificada pela paixão bestial de um dos filhos de um feitor, não sem antes haver resistido bravamente o quanto pôde a tais assédios; depois de ferozmente perseguida e torturada, a violência sexual aconteceu.

Apesar de toda circunstância adversa, Anastácia não deixou de sustentar a sua costumeira altivez e dignidade, sem jamais permitir que lhe tocassem, o que provocou o ódio dos brancos dominadores, que resolvem castigá-la ainda mais colocando-lhe no rosto uma máscara de ferro, que só era retirada na hora de se alimentar, suportando este instrumento de supremo suplício por longos anos de sua dolorosa, mas heroica existência.

As mulheres e as filhas dos senhores de escravos eram as que mais incentivavam a manutenção de tal máscara, porque morriam de inveja e de ciúmes da beleza da “Negra Anastácia”. (Onde o seu espírito, combate a inveja, ciúmes e a injustiça).

Anastácia já muito doente e debilitada, é levada para o Rio de Janeiro onde vem a falecer, sendo que os seus restos mortais foram sepultados na Igreja do Rosário que, destruída por um incêndio, não teve como evitar a destruição também dos poucos documentos que poderiam nos oferecer melhores e maiores informações referente à “Escrava Anastácia” – “A Santa” (assim, é venerada dentro da Religião Afro-Brasileira), além da imagem que a história ou a lenda deixou em volta do seu nome e na sua postura de mártir e heroína, ao mesmo tempo.

Descrita como uma das mais importantes figuras femininas da história negra, Escrava Anastácia é venerada como santa e heroína em várias regiões do Brasil. De acordo com a crença popular, a Escrava Anastácia continua operando milagres.