11 de maio de 2016

Conjuração Baiana: 4 negros esquecidos na História



Muito se fala da Inconfidência Mineira e o aclame por Tiradentes (sim teve seu papel importante na História) porém o quê e quem fala da Conjuração Baiana? E sobre Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luiz Gonzaga e João de Deus?
Publicado originalmente no Esquerda Diário

Primeiro vale expor dois pontos importantes:

A Inconfidência Mineira (1789) passa em um período em que era grande a extração de ouro em Minas Gerais e o qual era devido vinte por cento como imposto daqueles que o possuíam. A insatisfação principalmente dos fazendeiros rurais e donos de minas que queriam pagar menos impostos, membros da elite brasileira começaram reunir-se para buscar solução definitiva para o problema. Assim os inconfidentes lutavam pela liberdade definitiva. Mas e a questão da escravidão? (Estes não tinham uma posição definida).

Enquanto a Conjuração Baiana (1798) também em busca de liberdade porém com grande participação popular de pequenos comerciantes, soldados, artesãos, alfaiates e negros libertos buscavam a independência e proposta mais ampla incluindo a abolição da escravatura.

A ideia de liberdade e igualdade se contrastavam com a precária condição do povo, elevada carga tributária e escassez de alimentos levando a saques em estabelecimentos portugueses em Salvador. Na liderança do movimento destacaram-se Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luiz Gonzaga e João de Deus e participação de mulheres negras como as forras Ana Romana e Domingas Maria do Nascimento.

A violenta repressão metropolitana conseguiu deter e desarticular o movimento, prendendo e torturando os suspeitos. Após o processo de julgamento os quatros líderes são condenados à morte por enforcamento (assim como Tiradentes) em 8 de novembro de 1799. Outros como Cipriano Barata, Hernógenes Aguilar (tenente) e Francisco Moniz (professor) foram absolvidos assim como os pertencentes à loja maçônica ‘’Cavaleiros da Luz’’. Ainda há os que foram acusados de ‘’grave’’ envolvimento recebendo pena de prisão perpétua ou degredo na África.

Diante de tudo aqui abordado fica claro a punição dos condenados que eram pobres e negros e suas três gerações familiares seguintes com a memória amaldiçoada publicamente.

A indignação não é só ter quatro líderes negros esquecidos com suas participações no maior movimento social da época, mas também ver que três séculos depois seguimos com a população trabalhadora e negros sendo reprimidos, lutando por melhores condições de vida, pagando elevadas cargas tributárias, a ‘’justiça’’ sendo feita para os mais favorecidos, a violência da polícia nas periferias. E não é difícil expor essas lutas basta lembrar de do caso Amarildo, Claudia Ferreira, os 5 jovens negros assassinados em novembro de 2015 pela PMRJ, as recentes lutas de operários para manter seus empregos como Mabe, GM e tantas outras. O precário sistema de Saúde onde milhares de pessoas morrem em corredores nos hospitais, uma juventude tendo que enfrentar o sistema pelo direito da educação e sendo reprimidos, trabalhadores tendo seus direitos alterados ou ate mesmo retirados.

E até quando o passado vai se misturar com a atualidade? Até quando seremos esquecidos, reprimidos? Até quando iremos sustentar a elite?

Cotidianamente unimos forças pela liberdade, por melhores condições sociais mesmo sendo massacrados pelo sistema e na luta para que um dia nomes e histórias não caiam no esquecimento e principalmente para que o respeito e igualdade de humanidade enfim faça parte deste cotidiano.

Aqui pagamos a conta por não ter quem nos ouça e nada faz por nós, afinal só haverá dialogo quando o lado de quem sempre teve voz começar a ouvir o que a gente tem a dizer.

Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luiz Gonzaga e João de Deus - Líderes da Conjuração Baiana.

10 de maio de 2016

“Não É A Família Que Ajuda A Escola Na Formação Da Criança. É O Contrário.”




Uma fala de grande inteligência do professor Mário Sérgio Cortella, dizendo da diferenciação entre o papel da escola e o papel da família na educação das crianças. Fala-se, portanto, de Educação X Escolarização.
Publicado Originalmente no Portal Raízes

Segundo o professor, muitos pais confundem o seu papel na formação dos filhos, transferindo suas responsabilidades à escola.

                         

Impeachment: OEA e Corte Interamericana apontam ilegalidades no processo



Em audiência pública, nesta segunda-feira (9), na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, e o presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, Roberto Caldas, criticaram a falta de base jurídica e a antecipação de votos que permeiam o processo de impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff.

Publicado originalmente na Agência Senado

Almagro reafirmou aos senadores a posição da OEA, manifestada em nota em meados de abril: a denúncia contra a presidente não apresenta “qualquer juízo de indício de crimes de responsabilidade, quanto mais de certeza”.

— Desrespeitar os limites determinados no sistema constitucional brasileiro afeta a estrutura de funcionamento desse sistema e distorce a força e a operacionalidade que devem ter a Constituição e as leis — disse.

Como observou o secretário-geral da OEA, os países sul-americanos enfrentaram ditaduras militares e são hoje conscientes da importância das regras democráticas. Os eleitores, frisou, devem ter garantia de liberdade para exercerem sua expressão pelo voto e os políticos, a máxima garantia para serem eleitos e cumprirem seus mandatos.

— Isso é muito importante, pois, no sistema presidencialista, existe um contrato entre as pessoas e o presidente eleito. Isso tem que ser respeitado, com a máxima certeza jurídica que embasa a democracia, para garantir o cumprimento desse mandato — ressaltou Almagro.

Pré-julgamento

Roberto Caldas, da Corte Interamericana de Direitos Humanos, destacou o fato de o impeachment ser constitucional em países presidencialistas, mas frisou que todo o rito deve ser norteado pelos princípios do Estado de Direito.

— Por esse rito, deputados e senadores tornam-se juízes e são imbuídos da missão de realizar o mais importante julgamento de uma nação, que é o impedimento de quem chegou ao posto pelo voto direto — afirmou Caldas.

Nesse papel, completou, os parlamentares têm os mesmos requisitos dos juízes, de imparcialidade e obrigação de ouvir acusação e defesa, até formar opinião.

— A formação de opinião só pode ser realizada após todo o procedimento legal de um julgamento. O fato de se ter visto parlamentares anunciando previamente os votos assustou o mundo jurídico internacional. Não se pode ter quebra da imparcialidade até o momento final. Manifestação de opinião é pré-julgamento, e quem pré-julga está impedido de votar. Quem anuncia voto não pode julgar — disse.

Manipulação

Presente ao debate, o advogado Aldo Arantes, ex-deputado federal e parlamentar constituinte, alertou a sociedade brasileira para que esteja atenta às motivações de revistas semanais e grandes jornais em apoiar o impeachment.

— A grande mídia trabalha para impedir que a sociedade entenda o que está acontecendo. Vivemos uma situação grave, pois se utilizam da corrupção para confundir a sociedade e gerar um sentimento de ódio e o crescimento do nazifascismo.

Arantes disse ser responsabilidade de todos os juristas alertar a população para a gravidade da situação e mostrar que a visão predominante na mídia é uma tentativa de impor a vontade de grandes grupos econômicos, em detrimento do interesse dos trabalhadores.

A advogada Sueli Bellato e o professor de Direito Constitucional da Universidade de Brasília, Alexandre Bernadino Costa, também apontaram a manipulação da opinião pública e o risco de retrocesso nos direitos sociais conquistados nos últimos anos.

Eles cobraram um posicionamento mais firme da classe jurídica em defesa da Constituição e foram apoiados por Patrick Mariano, representante da Rede de Advogados Populares.

No debate, os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Fátima Bezerra (PT-RN), Donizeti Nogueira (PT-TO) e Paulo Rocha (PT-PA) destacaram a falta de provas na denúncia contra a presidente Dilma Rousseff.

Ao final, Lindbergh leu a decisão do presidente em exercício da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão, de anular a votação pelo impeachment realizada naquela Casa no dia 17 de abril.


— Naquela votação da Câmara não houve imparcialidade e parece que o presidente interino da Câmara estava a escutar os senhores — disse Lindbergh, ressaltando os alertas feitos pelos especialistas quanto a ilegalidades do processo de impeachment em curso.

Foto: Pedro França/Agência Senado.



Altaneira terá atuação de 6 Agentes de leitura


A Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult) lançou no último dia  26 de abril o Edital de Bolsas para Agentes de Leitura 2016, através do qual serão selecionados 232 novos agentes, que vão atuar em 34 municípios, de diferentes regiões do estado.

Segundo informações colhidas no portal da Secult, o edital está orçado em R$ 918.720,00, recursos advindos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop) e destinados a promover o incentivo à leitura, com os agentes indo de casa em casa, realizando atividades de integração social e fruição literária, em um programa que também faz parte do Ceará Pacífico, beneficiando famílias dos municípios contemplados.

Além da capital cearense (Fortaleza) que terá atuação de 22 (vinte e dois) agentes, Sobral e Juazeiro do Norte, ambos com 11 (onze), os municípios de Abaiara, Acopiara, Aiuaba, Antonina do Norte, Ararendá, Assaré, Cariré, Cariús, Croatá, Dep. Irapuan Pinheiro, Farias Brito, Granja, Ipaporanga, Itapiúna, Mauriti, Milhã, Novo Oriente, Parambu, Pedra Branca, Poranga, Porteiras, Quiterianópolis, Quixelô, Reriutaba, Saboeiro, Salitre, Santana do Cariri, Tarrafas, Uruoca e Viçosa do Ceará, também receberão os serviços de 6 (seis) agente de leitura cada um.

Estes serão selecionados através do edital e dedicarão 20 horas semanais ao projeto, recebendo bolsa de complementação de renda no valor de R$ 440,00, e atuarão nos bairros/comunidades onde vivem, atendendo diversas famílias com a disponibilização de livros e promovendo mediação para a leitura, incentivando a frequência na atividade.

A Secult informa que o acompanhamento das ações é feito por meio de relatórios mensais elaborados pelos agentes e enviados à Secult, de reuniões quinzenais com os agentes articuladores e de outras atividades promovidas pela Coordenação do projeto Agentes de Leitura.

Inscrições

Podem se inscrever para concorrer às vagas de Agentes de Leitura pessoas físicas, com Ensino Médio concluído em escola pública, na faixa etária de 18 a 29 anos, que possuam residência em um dos 34 Municípios contemplados no Edital. As inscrições são gratuitas, devendo ser apresentadas em envelope entregue na sede da Secult (Rua Major Facundo, 500, Centro, Fortaleza-CE), ou enviadas por Correios.

O edital e os formulários para inscrição que seguem até o dia 17 deste mês estão disponíveis no site da Secretaria da Cultura do Estado e em suas páginas nas mídias sociais. Entre os critérios de seleção estão prova escrita (redação), prova oral (leitura em voz alta de texto literário escolhido por sorteio), entrevista (perguntas e respostas) e análise de currículo.

O município de Altaneira receberá a atuação de seis Agentes. Em 2014 foram disponibilizadas cinco vagas e eles atuaram  nas localidades do Distrito do São Romão, Sítios Serra do Valério e Taboquinha, além da sede.


Agentes de Leitura de Altaneira em 2014. Foto: Arquivo de Blog.

RBS - afiliada da Globo embranquece Saci do Internacional. A quem serve esse embranquecimento?




A RBS, afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul, vem sofrendo uma série de críticas por ter praticado o que torcedores e ativistas entendem como racismo. Ao anunciar, no fim da partida entre Internacional e Juventude, neste domingo (9), a conquista do hexacampeonato estadual do colorado gaúcho, a emissora colocou na tela a imagem de um “Saci branco” no lugar do mascote tradicional do clube, que é um Saci negro, com um cachimbo na boca, conforme descrito no folclore brasileiro e na cultura popular.


Publicado originalmente na Revista Fórum


Comparativo entre o Saci inventado pela RBS e o mascote tradicional do clube. (reprodução).
O saci é o único mascote negro dos clubes de futebol. Porque ele ficou branco na comemoração do hexa campeonato do meu colorado?”, escreveu, em seu Facebook, a deputada federal Manuela D’ávila (PCdoB-RS), que é torcedora do clube.

Pelo Twitter, internautas também criticaram.

Confira










9 de maio de 2016

Ivan Valente: Mesmo com decisão de Renan, processo fica em aberto e cabe recurso ao STF


Apesar do senador Renan Calheiros ignorar a decisão de Waldir Maranhão que na manhã de hoje anulou a sessão que aprovou o impeachment da presidente Dilma, o processo segue em aberto e cabe recurso ao STF.
Publicado em sua página no facebook

A decisão de Renan de dar continuidade ao processo no Senado pode se configurar em mais uma ilegalidade no já tortuoso e fartamente questionado processo de deposição da presidente Dilma. Caberia ao plenário da Câmara contestar a decisão de Waldir Maranhão, ou então, do próprio STF. No entanto, não cabe ao Senado ignorar a decisão da Câmara dos Deputados.

É importante lembrar que Eduardo Cunha recebeu e engavetou a petição da AGU no dia 25/4 e não deu ciência da existência dela aos demais parlamentares. Guardou com mais um trunfo em sua prática de chantagens que o manteve por tanto tempo na presidência da Câmara. Isso não tira a legitimidade do recurso apresentado dentro do prazo.

De qualquer modo, a decisão de Waldir Maranhão serviu para escancarar o desespero e ódio dos golpistas a menor possibilidade do golpe ser interrompido. Sabem que agem contra o tempo, que os argumentos para o impeachment são frágeis, que a população refuta um eventual governo Temer, que sabe que ele não é solução, pelo contrário, vem com um programa de mais ataques aos direitos e sacrifícios dos trabalhadores.

Muitos dos que saíram às ruas em defesa do impeachment, hoje, já refletem que a solução dada não resolve o problema, que em nome do combate à corrupção o resultado será um governo loteado de corruptos, urdido de um golpe parlamentar com base em farta promessas de cargos e benesses.

Ivan Valente é Deputado Federal pelo Psol(SP)

Votação do impeachment de Dilma na Câmara é anulado por presidente interino


O presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), determinou nesta segunda-feira 9 a anulação das sessões da Casa que culminaram na aceitação da admissibilidade do pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, realizadas entre 15 e 17 de abril.

Publicado originalmente no Carta Capital

Em comunicado à imprensa, Maranhão afirma que acolheu parte dos argumentos apresentados pela Advocacia-Geral da União “por entender que efetivamente ocorreram vícios que tornaram nula de pleno direito a sessão em questão".

De acordo com Maranhão, "não poderiam os partidos políticos ter fechado questão ou firmado orientação para que os parlamentares votassem de um modo ou de outro, uma vez que, no caso, deveriam votar de acordo com suas convicções pessoais ou livremente”.

Isso, afirma o interino, "caracteriza prejulgamento e clara ofensa ao amplo direito de defesa que está consagrado na Constituição".

Diante de sua decisão, já encaminhada ao Senado, Maranhão determinou a realização de uma nova sessão da Câmara para discutir o impeachment, em um prazo de cinco sessões.

As idas e vindas de Maranhão

Após mudar de opinião duas vezes, Waldir Maranhão, um aliado de primeira ordem de Eduardo Cunha, presidente da Câmara afastado pelo Supremo Tribunal Federal na semana passada, votou contra a abertura do processo de impeachment de Dilma em 17 de abril,

De acordo com o portal UOL, sua decisão final teria sido motivada pela promessa da candidatura ao Senado em 2018, na chapa do governador Flávio Dino (PCdoB-MA), que tentará a reeleição. A vaga, até então, cabia ao PDT. O partido, aliado do governo ao longo da tramitação do impeachment na Câmara, abriu mão da candidatura na chapa.

No fim de semana, de acordo com informação do jornal O Estado de S.Paulo, o presidente interino da Câmara esteve no Maranhão, onde teria se encontrado com Flavio Dino. Os dois viajaram juntos de São Luís a Brasília em um avião da Força Aérea Brasileira.

Ao chegar à capital federal, Waldir Maranhão teria se encontrado com o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, segundo informação da Folha de S.Paulo.

Waldir Maranhão tem também problemas com a Justiça. Além de investigado pela Operação Lava-Jato, é alvo de outro inquérito no STF sobre um esquema de desvio de verba de fundos de previdência municipais para aplicações controladas por doleiros.

Nas eleições de 2010 doou a si mesmo um valor 33 vezes maior que o declarado na Justiça Eleitoral. Na eleição de 2010, a prestação de contas de Maranhão registra doações de R$ 557,5 mil, em espécie, para si mesmo, o equivalente a 72% do total da declaração de bens (R$ 776,5 mil). Na ocasião, ele havia declarado dispor de R$ 16,5 mil em espécie. O resto do patrimônio era composto por um imóvel, cotas em empreendimentos e um carro.

O Ministério Público Eleitoral constatou irregularidades e pediu a cassação do mandato, mas, em 2015, com o início da nova legislatura, o processo foi arquivado. Em 2014, o patrimônio foi a R$ 813,6 mil — um aumento de 4% —, composto por um imóvel e cotas imobiliárias. Não há registro na declaração de valores em bancos ou guardados em casa.

Em março, o presidente interino da Câmara teve um veículo Toyota Hilux penhorado pela Justiça do Maranhão para assegurar parte do pagamento de uma dívida com uma gráfica, referente à campanha de 2014.

Dilma reafirma luta contra "golpe"

A presidenta Dilma Rousseff soube da decisão de Maranhão durante anúncio de criação de cinco universidades federais, em evento no Palácio do Planalto, e pediu “tranquilidade”.

Não sei das consequências, então, por favor, tenham cautela. Acredito que nós temos que continuar percebendo o que está em curso”, disse Dilma. “É uma disputa cheia de dificuldades”, continuou, pouco antes de prometer: "Vai ter muita luta, vai ter muita disputa".

"Todos sabem que há um golpe sob a fachada de um processo de impeachment sem base e sem legalidade, baseado nas chamadas pedaladas fiscais. (...) Não me acusam de enriquecimento ilícito, porque não tenho. Não me acusam de ter contas no exterior, porque não tenho. Não me acusam de usar dinheiro público para me beneficiar, porque não fiz isso. Esses seis recursos estão previstos na lei orçamentária", disse Dilma. A presidenta comparou ainda o uso dos recursos nos governos que a antecederam.

Veja a nota à imprensa da Presidência da Câmara q explica a decisão de anular a sessão q autorizou o impeachment:

1. O Presidente da Comissão Especial do Impeachment do Senado Federal, Senador Raimundo Lira, no dia 27 de abril do corrente ano, encaminhou à Câmara dos Deputados, ofício em que indagava sobre o andamento de recurso apresentado pela Advocacia-Geral da União contra a decisão que autorizou a instauração de processo de impeachment contra a Sra. Presidente da República, Dilma Rousseff.

2.Ao tomar conhecimento desse ofício, tomei ciência da existência de petição dirigida pela Sra. Presidente da República, por meio da Advocacia-Geral da União, em que pleiteava a anulação da Sessão realizada pela Câmara dos Deputados, nos dias 15, 16 e 17 de abril. Nessa sessão, como todos sabem, o Plenário desta Casa aprovou parecer encaminhado pela Comissão Especial que propunha fosse encaminhada ao Senado Federal para a eventual abertura de processo contra a Sra. Presidente da República, Dilma Rousseff, por crime de responsabilidade.

3. Como a petição não havia ainda sido decidida, eu a examinei e decidi acolher em parte as ponderações nela contidas. Desacolhi a arguição de nulidade feita em relação aos motivos apresentados pelos Srs. Deputados no momento de votação, por entender que não ocorreram quaisquer vícios naquelas declarações de votos. Todavia, acolhi as demais arguições, por entender que efetivamente ocorreram vícios que tornaram nula de pleno direito a sessão em questão. Não poderiam os partidos políticos ter fechado questão ou firmado orientação para que os parlamentares votassem de um modo ou de outro, uma vez que, no caso deveriam votar de acordo com as suas convicções pessoais e livremente. Não poderiam os senhores parlamentares antes da conclusão da votação terem anunciado publicamente os seus votos, na medida em que isso caracteriza prejulgamento e clara ofensa ao amplo direito de defesa que está consagrado na Constituição. Do mesmo modo, não poderia a defesa da Sra. Presidente da República ter deixado de falar por último no momento da votação, como acabou ocorrendo.

4. Também considero que o resultado da votação deveria ter sido formalizado por Resolução, por ser o que dispõe o Regimento Interno da Câmara dos Deputados e o que estava originalmente previsto no processamento do impeachment do Presidente Collor, tomado como paradigma pelo STF para o processamento do presente pedido de impeachment.

5. Por estas razões, anulei a sessão realizada nos dias 15, 16 e 17 e determinei que uma nova sessão seja realizada para deliberar sobre a matéria no prazo de 5 sessões contados da data em que o processo for devolvido pelo Senado à Câmara dos Deputados.

6. Para cumprimento da minha decisão, encaminhei ofício ao Presidente do Senado para que os autos do processo de impeachment sejam devolvidos à Câmara dos Deputados.

Atenciosamente,
Deputado Waldir Maranhão
Presidente em exercício da Câmara dos Deputados

Waldir Maranhão (PP), assumiu como presidente interino da Câmara após afastamento provisório ordenado pelo STF de Eduardo Cunha.

8 de maio de 2016

Cinco pensadores modernos africanos que tratam de identidade, língua e regionalismo


Esta matéria contém links que levam a outras páginas, inclusive em outros idiomas, caso você queira se aprofundar no assunto.

A filosofia africana é geralmente negligenciada no estudo de Filosofia, sem que se saibam claramente as razões para isso. Alguns argumentam que o fato de ela estar estreitamente vinculada às suas tradições orais tornaria difícil compartilhar a sua extensa história com uma audiência mais ampla. Outros argumentam que a sua natureza afrocêntrica a faria menos atraente para o resto do mundo.

Publicado originalmente no Global Voices

O filósofo nigeriano K.C. Anyanwu define a filosofia africana como “aquela que se interessa na maneira que o povo africano, do passado e do presente, entende o seu destino e o mundo no qual vive”. Apesar de em grande parte permanecer um mistério para os outros países, a filosofia africana é uma disciplina sólida, enriquecida por séculos de pesquisa, que datam desde a filosofia do Egito antigo, até o pensamento pós-colonial moderno. Ao longo de sua história, a filosofia africana contribuiu significantemente à filosofia grega, notadamente através do filósofo egípcio  Plotino – figura fundamental na continuação da tradição da Academia filosófica de Platão, e à filosofia cristã, através do pensador argelino Agostinho de Hipona, que estabeleceu a noção do pecado original.

Para entender melhor a atual evolução da filosofia africana contemporânea, aqui estão cinco pensadores do continente que devem ser observados:

1. Séverine Kodjo-Grandvaux (Costa do Marfim)

Natural da Costa do Marfim, Séverine Kodjo-Grandvaux escreve para a revista “Jeune Afrique” (“África Jovem” em tradução livre do francês) e é a autora da obra “Philosophies Africaines” (“Filosofias africanas”, em tradução livre do francês), na qual ela analisa a atual elite de filósofos africanos. Ela estabelece que a filosofia africana moderna é geralmente classificada em quatro grupos principais: etnofilosofia, sagacidade filosófica, filossofia ideológica-nacionalista e filosofia profissional. No entanto, Kodjo-Grandvaux acredita que a definição da tendência da filosofia moderna africana pode ser resumida em como ela evoluiu de sua influência colononial.
   
Num debate sobre o livro, o seu colega na revista “Jeune Afrique”, Nicolas Michel, faz um sumário da origem e evolução da filosofia africana contemporânea  e as teorias de Kodjo-Grandvaux:

Como uma arqueóloga das ideias, Séverine Kodjo-Grandvaux explora as camadas de uma epistomologia que, ao longo do último século, foi construída essencialmente em reação ao Ocidente. Num primeiro momento, sob o jugo da influência imperealista colonial, posteriormente, em reação contra esse domínio. Na medida que os movimentos de independência se espalhavam pelo continente (nos anos 50), a filosofia de busca do retorno à “identidade africana” e de afastamento do molde ocidental tornou-se mais forte. Kodjo-Grandvaux argumenta que tal ideologia de “retorno às origens” é uma proposta arriscada. Ela escreve: “À medida que a filosofia se encaixa na busca de um padrão ‘regionalista’  – isto é, continental, nacional ou étnico – ela deve evitar várias armadilhas, entre elas, a do pensamento homogêneo e do isolamento excessivo”. A contribuição da filosofia ocidental e de outras correntes de pensamento não devem ser rejeitadas.

Kodjo-Grandvaux destaca o debate sobre etnofilosofia, com o qual filósofos africanos vêm lidando por muito tempo: a ideia de que uma cultura ou região em particular possui uma filosofia específica, fundamentalmente diferente de outras tendências filosóficas, é em si controversa. No entanto, muitos filósofos africanos modernos argumentam que o trabalho deles é uma reflexão crítica sobre lideranças africanas e de seus impactos nas vidas diárias de seus compatriotas. Consequentemente, é fundamental que a filosofia africana se desenvolva no contexto do continente africano e que se comunique com uma audiência africana.


2. Souleymane Bachir Diagne (Senegal)

Souleymane Bachir Diagne, filósofo senegalês e pioneiro na nova cena
filosófica africana - Domínio Público.

Souleymane Bachir Diagne, filósofo senegalês e professor da Universidade de Columbia, acredita que os flósofos africanos precisam tornar o trabalho deles mais acessível aos seus compatriotas. Ele declara: 

Nós devemos produzir os nossos próprios textos em línguas africanas. Um dos meus antigos alunos americanos está trabalhando no sentido de produzir uma antologia de textos escritos por filósofos africanos, os quais foram incumbidos de escrever artigos em suas próprias línguas. Posteriormente, os falantes nativos dessas línguas farão a tradução para o inglês.

3. Léonce Ndikumana (Burúndi)

Além da importância de se comunicar melhor com seus seguidores africanos, atualmente surgem com destaque outras tendências de pensamento dos filósofos africanos. Léonce Ndikumana cresceu em Burúndi e hoje é professor de Economia da Universidade de Massachusetts em Amherst. Em seu livro “Africa's Odious Debt: How Foreign Loans and Capital Flight Bled a Continent” (Dívida odiosa da África: Como os empréstimos externos e a fuga de capital sangraram um continente), Ndikumana se dedica a combater muitas narrativas sobre a África que são lugar comum e tidas como fato no mundo todo, como, por exemplo, a crença de que a ajuda externa subsidia o continente. Na realidade, a fuga de capital do continente africano (US$ 1,44 trilhão desaparecem de países africanos sem deixar rastros e acabam aparendo em paraísos fiscais ou em outros países ricos) excedem em muito o capital da ajuda externa (US$ 50 bilhões para a África).

Ndikumana também é um dos principais líderes de opinião na África que rejeitam as diretrizes das agências internacionais que frequentemente vão de encontro à vontade dos cidadãos africanos.

4. Kwasi Wiredu (Gana) 

O combate às falsas narrativas é uma tendência crescente entre os intelectuais africanos. Entre aqueles que tentam fazer justamente isso, encontra-se o filósofo ganense Kwaisi Wiredu. Ele argumenta que o sistema político multipartidário, frequentemente visto como o fundamento para a democracia, nem sempre conduz à unidade e à estabilidade. Em vez disso, a democracia de consenso é muito mais adequada ao contexto africano:

Posto que a democracia é governo por consentimento, a questão é saber se um sistema menos conflitante do que o de partidos, o qual é vinculado ao sistema majoratório de tomada de decisão, não poderia ser concebido. É um fato importante o de que seres humanos razoáveis podem chegar a um acordo sobre o que deve ser feito pela virtude do compromisso, sem concordar em questões de moral e verdade.

5. Kwame Anthony Appiah (Gana)

Entretanto, Kwame Anthony Appiah, um outro filósofo ganense que atualmente ensina na Universidade de Nova Iorque, opõe-se à tendência de afrocentrismo dos filósofos do continente. Ele acredita que o afrocentrismo é um conceito ultrapassado. Ele defende que deve-se encorajar mais o diálogo entre culturas e menos “regionalismo”:

[Diógenes, filósofo da antiguidade grega] rejeitava a visão convencional de que toda a pessoa civilizada pertencia a uma comunidade entre outras comunidades[…] Uma comunidade global de cosmopolitas desejará aprender sobre outros estilos de vida no rádio e em programas de TV, por meio da Antropologia e História, por romances e filmes, por noticiários e jornais e na internet.

"Somos todos iguais perante a lei", em tradução livre. Filosofia de rua em City Bowl, Cidade do Cabo, Cabo Oriental, África do Sul, por Anne Fröhlich em Flickr - licença CC-NC-2.0