19 de fevereiro de 2016

O jornalismo vai ser viral?, por Alana Maria


Alana Maria. Foto/facebook.
A contínua ascensão da internet em nossas vidas transformou, entre tantos outros serviços, trabalhos e aspectos, a experiência jornalística. Poder acompanhar as notícias de sua cidade, do país e do mundo a uma simples combinação de toques numa tela faz parte do cotidiano de muitas pessoas e, veja bem, isso é ótimo. Essas mudanças aproximaram o leitor da notícia, difundiram um maior nível de informações e possibilitaram a exploração e combinação de novas ferramentas para se contar histórias.

E com os benefícios, vieram também os desafios: como manter o jornalismo relevante diante de um cenário cada vez mais pulverizado? Como a reportagem ganha o interesse em meio às listas de gifs dos ‘24 gatinhos mais fofos da internet’? Como manter a qualidade e acompanhar a velocidade desse novo meio? Como fazer um jornalismo viral? Como rentabilizar a notícia na era digital? Essas questões vêm ecoando há algum tempo na cabeça de muitos repórteres e editores.


Alguns caminhos estão sendo testados: a correria nas redações para acompanhar a “novidade”, muitas vezes pulando etapas básicas de apuração, resultando em textos mau elaboradores, com informações falsas ou descontextualizadas. Erratas correm a torto e a direito nos grandes portais de notícia 24h. Essa já se mostrou desqualificada. Já estratégias Buzzfeed, The Huffington Post ou OMG Facts de artigos colaborativos, com um banco infinito de listas e mais listas com as ‘25 situações que só quem usa óculos vai entender’ e derivados, ou Dose.com e Hypeness com matérias recicladas diversas vezes por dezenas de outros grandes sites captam a atenção, perdem em qualidade, mas atraem likes, views e shares.

Em reportagem de fôlego, a The New Yorker explica o efeito:

No rodapé de uma postagem no Dose, em geral se vê um hat tip (H/T), uma pequena menção à fonte da informação. Muita gente nem nota, se é que o texto é lido até o fim. No primeiro dia de existência do site, a lista que fez mais sucesso trazia o título “Vinte e três fotos de pessoas do mundo todo e o quanto cada uma come por dia”. Era uma sacada inteligente da diversidade, mas também da desigualdade global. Um caminhoneiro americano segurava uma bandeja com hambúrgueres e frappuccinos do Starbucks, ao passo que uma mulher masai exibia 800 calorias em leite e mingau. Abaixo da última fotografia, um textinho em cinza dizia “H/T Elite Daily”. Era um link para uma postagem que o Elite Daily, um website nova-iorquino, havia publicado um mês antes (“Veja as diferenças incríveis no consumo diário de comida ao redor do mundo”), postagem esta que, por sua vez, provinha do UrbanTimes (“Oitenta pessoas, trinta países e quanto cada uma come por dia”). O UrbanTimescreditava a informação ao Amusing Planet (“O que as pessoas comem no mundo todo”), que, na realidade, apenas citara uma entrevista radiofônica de 2010 com Faith D’Aluisio e Peter Menzel, a escritora e o fotógrafo por trás daquele projeto – na verdade, um livro intitulado What I Eat.

Lançamento da ferramenta Instant Articles para editores pelo facebook/reprodução.
Se cada vez mais acessamos notícias pela internet, o destaque aqui fica para o local onde encontramos essas notícias: a maior rede social da atualidade, o Facebook. Em 2015, a empresa de Zuckerberg entrou no jogo do mercado de notícias e recentemente anunciou que todos os editores poderão criar e depositar seus conteúdos diretamente na rede social, a partir da nova ferramenta Instant Articles para dispositivos móveis.

A novidade promete atrair tanto o pleito de usuários quanto os editores pela sua facilidade de interação, rapidez no carregamento e nível de qualidade na experiência de leitura das matérias. Até então, acessar esse tipo de conteúdo a partir do Facebook podia ser lento e desastroso para os padrões da empresa, perdendo o leitor em menos de 10 segundos.

Agora mesmo você pode logar em sua conta e testar a ferramenta já estreada por alguns parceiros do projeto, The New York Times, BBC News, Buzzfeed, The Guardian The Huffington Post, Nacional Geographic, entre outros. Todo conteúdo poderá ser rentabilizado com venda de publicidade. Videos com auto-play, introdução de áudio no meio do texto e zoom interativo em fotos de auto resolução são algumas das vantagens.

Alguns analistas de medias sociais, designers e editores consideram a mudança mais uma estratégia na disputa dos espaços de informação na internet. É mais uma mutação desse jornalismo que vive em crise, quase sempre em estado frágil, mas que ainda não quebrou e se adapta.

Texto publicado originalmente no Cariri Revista

18 de fevereiro de 2016

Menina prodígio de 10 anos se matricula em universidade



Esther Okade é uma criança britânica-nigeriana de 10 anos de idade, que odiava ir à escola. Esther mora em Walsall, uma cidade industrial na região de West Midlands, no Reino Unido. Sua mãe, Omonefe, notou o talento da filha para números logo depois que ela começou no maternal, aos 3 anos de idade.


A mãe conta que depois de algumas semanas na escola particular, Esther teve um comportamento estranho. Explodindo em choro ela dizia que nunca mais voltaria para a escola. “Eles nem me deixam falar” – reclamava Esther. Desde então Esther tem aulas em casa com a sua mãe. Ela adora álgebra, equações de segundo grau, números complexos, etc.

Foi super fácil. A minha mãe me ensinou de uma forma agradável – conta Esther

        

Desde os 7 anos Esther queria entrar para a universidade, porém seus pais eram cautelosos. Só agora ela realizou seu sonho. Com 10 anos de idade ela se matriculou na Universidade Aberta, uma faculdade de ensino à distância do Reino Unido. Além de seu prazer pela Matemática, Esther dedica também seu tempo em escrever uma série de livros de Matemática para crianças chamado “Yummy Yummy Algebra”.

Por que é dada importância e destaque para notícias como esta?

Matemáticos acabaram com a Segunda Guerra Mundial, matemáticos criaram sistemas de criptografia avançados; que hoje utilizamos em dispositivos móveis, protocolo de internet, senhas de bancos, rotadores de rede, e milhares de outras aplicações, cuja a importância se dá a contribuição de grandes gênios matemáticos.

Crianças com habilidades deste tipo, são selecionadas por universidades prestigiadas, que os preparam para os problemas teóricos do milênio, ou orientam em busca de um caminho em que darão contribuições significativas para o nosso mundo.

Estas universidades têm programas de ensino específicos para crianças com estas habilidades e veem nelas futuros gênios.

17 de fevereiro de 2016

Forrozeiros reivindicam que São João se torne feriado nacional



Cerca de 20 dos principais nomes do forró tradicional nordestino estiveram hoje (17) nos ministérios do Turismo e da Cultura para pedir, entre outras reivindicações, empenho dos ministros Henrique Eduardo Alves e Juca Ferreira para que o dia de São João se torne feriado nacional.

O Ministro do Turismo, Henrique Alves, durante encontro com artistas e grupo de forró de nove estados brasileiros.
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Atualmente, o São João, comemorado em 24 de junho, é feriado em alguns estados do Nordeste, como Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Paraíba. Em agosto de 2015, o deputado Valmir Assunção (PT-BA) apresentou um projeto de lei na Câmara dos Deputados para que o feriado seja nacionalizado.

Gostaríamos que o São João se tornasse uma festa do calendário oficial do governo brasileiro, que o 24 de junho seja feriado nacional e que nós tenhamos força como movimento cultural do Brasil, porque o São João é a maior festa brasileira”, disse o cantor e compositor cearense Alcymar Monteiro.

Os artistas argumentam que, enquanto festas como o carnaval têm seus eventos concentrados em algumas poucas capitais brasileiras, o São João está mais presente nas pequenas cidades do interior. Com a nacionalização do feriado, os forrozeiros esperam que os governos de regiões com tradição mais tímida de festas juninas passem a investir mais na data.

Existe uma dificuldade do trabalhador de outras regiões que não o Nordeste em participar da festa”, disse o cantor baiano Adelmario Coelho, que lidera o movimento “São João – Um Novo Produto do Turismo Cultural para Unir o Brasil”.

Entre as principais queixas apresentadas pelos músicos durante a reunião com o ministro Henrique Eduardo Alves, está a descaracterização das festas juninas. Parlamentares das bancadas da Bahia e de Pernambuco também participaram do encontro.

Segundo os artistas, atualmente, grande parte do dinheiro investido nas festas juninas é destinado a bandas com músicas de apelo sexual, muitas vezes de objetificação da mulher. “Poucos controlam [os patrocínios], inclusive com conteúdo machista, e nós não podemos fortalecer isso com dinheiro público”, disse Coelho.

Garantia de recursos

O grupo que veio a Brasília está preocupado em garantir recursos para a realização das festas juninas deste ano, no momento em que diversas cidades brasileiras enxugaram o orçamento para o setor cultural. Dezenas de prefeituras cancelaram o apoio oficial ao carnaval deste ano, por exemplo.

Uma das principais reivindicações é que os artistas tenham maior inserção no Cadastur, do Ministério do Turismo, para que possam se beneficiar de programas como o Artista do Turismo, que paga cachês para shows por meio de convênios com os municípios.

O secretário de Turismo da Bahia, Nelson Pelegrino, sugeriu na reunião que o cadastro seja aprimorado para facilitar o acesso dos forrozeiros e que empresas públicas, principalmente bancos, repassem mais recursos de patrocínio às festas de São João.

Outra preocupação dos artistas é garantir que sejam liberadas emendas parlamentares destinadas a financiar o São João, tradicionalmente uma das principais fontes de recursos para as festas. No ano passado, devido ao atraso na aprovação do orçamento federal, o empenho dos recursos para as festas juninas foi prejudicado, segundo a senadora Lídice da Matta (PSB-BA).

Foram também colocados muitas condicionantes para que as emendas de promoção do São João fossem liberadas. Este ano esperamos que seja diferente, embora não tenha sido apresentado ainda nem o contingenciamento fiscal”, disse a senadora.

O empenho de emendas em eventos foi praticamente proibido no ano passado, e sem essas emendas fica difícil a participação efetiva dos deputados na garantia da festa”, reclamou o deputado Wolney Queiroz (PDT-PE).

Promessas

O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, se comprometeu a trabalhar para que uma emenda parlamentar de R$ 13 milhões, aprovada pela Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados, seja liberada pelo Ministério do Planejamento e empregada integralmente na promoção das festas juninas.

Alves disse que vai conversar com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, para que eventos relacionados à cultura junina do Nordeste e ao forró tradicional sejam incluídos na programação oficial dos Jogos Olímpicos do Rio 2016.
O ministro também se comprometeu a incluir a cultura junina nas apresentações de promoção do turismo no Brasil feitas pelo Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) em outros países. “Vamos fazer com que essa festividade, tão entranhada no nosso Nordeste, possa tomar conta do país e do mundo”, disse o ministro.

Se eles fizerem metade do que dizem, já saímos daqui vitoriosos”, comentou o cantor e compositor paraibano Genival Lacerda, antigo parceiro de Luiz Gonzaga e um dos artistas mais reverenciados do forró.

Luto na educação de Altaneira. Morre, aos 100 anos Fausta Venâncio


A educação do município de Altaneira, na região do cariri, está de luto. A santanense Fausta Venâncio David, mas com raiz fincada na “terras altas”, veio a falecer na manhã desta quarta-feira, 17 de dezembro, aos 100 anos.


Morre aos 100 anos Fausta Venâncio - primeira professora contratada de Altaneira.  Foto para o ensaio fotográfico de meio século do município de Altaneira por Heloisa Bitu.
O falecimento de “Dona Fausta” (como passou a ser conhecida e povoar o imaginário dos altaneirenses), primeira professora contratado neste município foi noticiada nas redes sociais por vários navegantes. A Secretaria Municipal de Educação, através do titular da pasta Dhony Nergino se solidarizou com os familiares daquela que foi professora da grande maioria dos munícipes. “Nossos Sentimentos estão com os Familiares de Dona Fausta Venâncio a Primeira Professora de Altaneira que nos deixou e agora dorme com o Pai. Que Deus nosso Pai conforte a família e a todos nós...”, escreveu.  A professora e Gerente do PAIC Micirlândia Soares mencionou a contribuição de Fausta Venâncio na área educacional. “Altaneira perde no dia de hoje uma mulher guerreira e grande professora. Sua contribuição para Educação será sempre lembrada, principalmente por ter sido a primeira professora...”, pontuou.

O prefeito Delvamberto Soares (PDT) que se encontra na capital do Estado mencionou “perdermos hoje uma das pessoas que mais fizeram pelo o nosso município, dificilmente encontramos uma família altaneirense que não tenha como referências os ensinamentos da professora Fausta Venancio”, ao passo que lamentou por não poder se fazer presente no velório e deixou uma mensagem de conforto aos familiares.

Em outubro de 2015 em virtude do seu centenário, recebeu homenagens de amigos, familiares e ex-alunos, sendo ainda durante os festejos da padroeira do município Santa Tereza D’Ávila,  montado um Stand com um pequeno histórico.

Mini-Biografia

Nasceu em 12 de outubro de 1915 em Santana do Cariri. foi a primeira professora contratada em Altaneira, tão loco fixou residência no pós emancipação política desta localidade em 1958. Saiu do tradicional ambiente de ensino-aprendizagem e chegou a montar em sua própria morada uma mini escola de apenas uma sala, tendo funcionada até os anos 90 do século passado.

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16 de fevereiro de 2016

10 ideias que devem ser ditas desde cedo para as crianças


Algumas ideais precisam ser ditas desde cedo para as crianças se se quiser ter seres humanos saudáveis mentalmente e capazes de se posicionarem criticamente sobre o meio que o cerca:


1. Não existe paraíso;

2. Não existe inferno;

3. Paraíso e inferno foram criações humanas;

4. Mentir não faz com que o nariz cresça;

5. Mentir te torna uma pessoa sacana, nada confiável;

6. Não existe ninguém que resolve teus problemas, você é quem deve solucioná-los;

7. Não há coelhinho da páscoa, papei noel, tirador de fígado, isso são também invenções humanas;

8. Religião não salva ninguém, até porque os únicos que precisam serem salvos são os(as) fieis iludidos(as) por falsos(as) pregadores(as);

9. Não há salvadores da pátria;

10. A hipocrisia permeia a grande maioria das pessoas.

“Conhecendo a Constituição Federal de 88 - Conhecer para Respeitar". Art. 2º


Dentre os artigos que mais chamam a atenção na Constituição Federal de 1988 encontramos o 2º. A exemplos de muitos outros, este apresenta em seu texto uma excelente narrativa e que na grande maioria das vezes acaba gerando discórdia entre muitos detentores do poder outorgado pelo povo nas três esferas. Vamos a ele:


 São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. (Site do Planalto, acesso em 16 de fevereiro de 2016 às 08h20).

A organização política liberal passou a ser efetivada a partir do filósofo francês Montesquieu. Em leituras de Aristóteles e John Locke, nos ensaios Política e Segundo Tratado do Governo Civil, respectivamente, Montesquieu escreveu a obra O Espírito das Leis instituído o que se conhece hoje como a clássica divisão dos poderes. Por ela, explicava o filósofo iluminista, há o afastamento da possibilidade de se instituir governantes tirânicos, absolutista, pois serviria para estabelecer a autonomia e limites em cada poder. Logo, a constituição deveria ser redigida como lei máxima dos governantes e da sociedade, haja vista que nela e por ela haveria a instituição do freio inerente a cada poder.

No entanto, passado todos esses anos, cabe a pergunta, os que se revestem desse poder, representando por determinado tempo, respeitam esse artigo? Os que lhes outorgaram essa função sabem disso? São realmente os poderes harmônicos e independentes entre si?

Um rápida análise das discussões percebe-se que a todo momento essa independência e essa harmonia são confundidas (nas três esferas). Alguns inclusive acabam interferindo nas funções de outros, enquanto que há a falta de executividade por parte desses poderes constituidos.

Nos municípios de pequeno porte percebe-se mais nitidamente que legislativo e executivo não se entendem simplesmente pelo fato de naquele que tem por funções típicas legislar e fiscalizar ser na sua grande maioria (o corpo de edis) contrário ao executivo. O contraditório também é verídico. O legislativo altaneirense está constantemente sendo alvo de críticas por não respeitar a legislação e se utilizar de forma errônea dessa independência para não ser harmônico.



Sobre a nova Barbie e os padrões de beleza: uma mercadoria pode ser revolucionária?



Após mais de meio século ajudando a ditar um padrão de beleza irreal para a maioria das meninas e mulheres, a Mattel, fabricante da icônica Barbie, resolveu diversificar. Agora, a boneca apresenta quatro tipos de corpo e 24 de cabelo, sete tons de pele e 22 cores de olhos.

Isso vem com atraso, em um momento em que a própria Barbie perde a relevância, simbólica e comercial, frente a videogames, smartphones e computadores. A mudança, portanto, é mais consequência de um mundo que se transforma do que vetor de transformação desse mundo.

É claro que isso contribui para o debate que vem sendo travado incansavelmente na sociedade sobre padrões ditados pela indústria da moda e do entretenimento e de como isso torna a vida de milhões de pessoas um inferno. Então, toda a ação é válida.


Mas uma amiga, sábia e antenada pesquisadora, me lembrou que a previsível satisfação de pais e ativistas pela mudança encobre uma discussão de fundo. Pois não é a “consciência'' da corporação que leva a essa mudança, mas a oportunidade de novos nichos de mercado.


Um produto para consumo de massa que representa uma narrativa de “direitos humanos'' ou de “desenvolvimento sustentável'' é , antes de tudo, um produto. E, portanto, seu objetivo é ser vendido. E em grande quantidade a fim de dar lucro aos acionistas de uma corporação, se possível – afinal de contas, estamos falando de negócios, não de caridade.

Para tanto, ele demanda uma grande quantidade de recursos naturais e de mão de obra para fabrica-lo. E para que seja rentável à empresa que o planejou, faz-se necessário que esses custos (matéria prima e trabalho) sejam os mais baixos possíveis. É claro que dá para produzir pagando preços justos de matéria-prima e trabalho, mas aí o produto para consumo não seria tão de massa assim. Ou os lucros não seriam tão grandes. E talvez nem pudesse ser embutida a obsolescência programada de uma sociedade em que nada é feito para durar.

Dito isso, não se pode negar a engenhosidade do capitalismo, que captura o desejo de mudança em um símbolo, transforma esse símbolo em mercadoria, o fabrica em série, realiza campanhas para explicar o motivo pelo qual o povo deve ama-lo, empacota-o e o vende a prestações em uma loja perto de você. Parece que ele está sendo revolucionário, mas apenas quer ganhar dinheiro com quem deseja aquele símbolo.

A fetichização é tão velha quanto o comunista barbudo – Marx, não Jesus. Mas conseguimos sempre superar o seu alcance.

O problema é que a produção em massa desses símbolos pode encobrir, como já citado, a exploração irracional dos recursos naturais e do trabalho humano. Sim, não raro por trás de mercadorias que representam mudanças sociais, há – ironicamente – desmatamento, poluição, trabalho infantil, escravos.

Pode parecer paradoxal, mas é apenas mais uma das contradições do sistema. E ele, quer dizer, nós, vivemos muito bem com isso.

Por exemplo, há denúncias contra fornecedores da Mattel por seus trabalhadores na China não contarem com proteção adequada, atuarem por longas jornadas com poucas ou nenhuma pausas, estarem sujeitos a péssimas condições, desrespeitando, inclusive, as leis trabalhistas locais. A empresa nega.

Vejamos outros casos. Creio que todos lembram de “Wall.e'' – uma animação produzida pela Disney e a Pixar que conta a história de um robozinho cuja missão é organizar o lixo em que se transformou o planeta devido ao consumismo desenfreado dos habitantes e à ganância de grandes corporações.

De acordo com o filme, no futuro, a Terra terá se transformado em um lixão impossível de sustentar vida e os seres humanos terão se mudado para uma nave espacial à espera de que os robôs limpem as coisas. Paro por aqui para não dar spoiler – se bem que, a esta altura, você já deveria ter assistido ao filme.

Na época, na cadeira do cinema, fiquei matutando que Wall.e seria um bom instrumento para discutir com os mais novos a diferença entre consumir para viver e viver para consumir.

Pouco depois, passando por um loja, me deparei com uma prateleira inteira de produtos do filme. A vendedora me mostrou um Wall.e que funcionava à corda e cantava e dançava, um outro Wall.e para bebês (na verdade, para os pais dos bebês…) Explicou que a versão de controle remoto havia acabado, tamanha a procura.

Vale ressaltar que os brinquedos inspirados em filmes têm vida curta – duram o suficiente até o próximo sucesso de bilheteria trazer novos bonecos. Ou seja, dentro de pouco tempo viram lixo de plástico e ferro.

O que temos aqui? O licenciamento de um filme sobre o consumismo promovendo mais consumismo. A Disney e a Pixar poderiam ter revolucionado e não autorizado a produção de quinquilharias baseadas neste filme? Sim, claro, mas isso aconteceria em uma realidade paralela, na qual o céu é verde e leite dá em árvore.

Outro exemplo interessante, que reúne a questão do padrão de beleza e da responsabilidade sobre o consumo, é uma dobradinha de comerciais. A Dove lançou uma propaganda sobre a importância de conversar com as meninas a respeito de padrões de beleza antes que a indústria da beleza fizesse isso. O resultado é muito bom e pode ser visto abaixo:

                           

Pouco depois, o Greenpeace fez uma paródia do comercial, criando outro produto muito bom também, cutucando a Dove:

                         

Fale com a Dove – que utilizava, segundo o Greenpeace, óleo de plantações de palma que ocupavam áreas onde antes estavam florestas tropicais – antes que fosse tarde, diz o mote do filme.

É claro que a mensagem do segundo comercial não anula a do primeiro, da mesma forma que é importante que bonecas sejam mais próximas das meninas de verdade. Mas é fundamental lembrar que, para atingir o objetivo final, fabricantes de brinquedos, de produtos de beleza ou de qualquer mercadoria, se apropriam de qualquer discurso que possa dar lucro.

Pois, no fundo, empresas não vendem mercadorias, mas estilos de vida. Do que somos. Do que gostaríamos de ser. Do que deveríamos ser – não em nossa opinião, necessariamente, mas de uma construção do que é bom e do que é ruim.

Muitos de nós ficamos tanto tempo trabalhando que nos tornamos compradores compulsivos de símbolos daquilo que não conseguiremos obter por vivência direta. Através desses objetos, enlatamos a felicidade – pronta para consumo, mas que dura pouco, o tempo da já citada obsolescência programada. Mas também enlatamos o nosso ativismo por determinado tema ou uma fórmula mágica para se livrar da culpa por não conseguirmos nos dedicar àquilo que achamos importante para a vida em comunidade.

Afinal, se a empresa mostra no comercial que planta meia dúzia de dentes-de-leão para compensar toneladas de emissão de carbono, protege uma família de perequitos-que-dizem-ni e doa dez estojos de lápis aquarelados para uma comunidade onde são jogados os efluentes tóxicos a cada produto comprado, ok, vamos adquiri-lo. Assim fazemos nossa parte e nossa consciência fica leve após a operadora do cartão autorizar.

Celebrar um produto como algo redentor pelo que ele aparenta ser esconde, na verdade, o que ele pode representar de fato: uma cadeia produtiva extensa com uma série de problemas trabalhistas, sociais e ambientais, que trazem alegria a alguns e tristeza a muito mais.


Este texto é para reclamar de uma boneca? Não, apenas para lembrar que, na economia de mercado globalizada, o que os olhos não veem o coração tá pouco se lixando.

A humilhação que mulheres de presos enfrentam: De revistas íntimas a intimidações



A diferença de tratamento entre presidiários ricos e pobres não é o único problema do sistema carcerário brasileiro.  Os contrastes também se estendem a suas famílias, que herdam deles o tom com que serão tratadas. Embora tenha sido proibida em alguns estados do país, a revista íntima, também conhecida como “vexatória”, continua a ser uma prática comum na maioria dos presídios nacionais – exceto para mulheres e familiares de poderosos, como os empreiteiros presos pela Operação Lava Jato.


São inúmeros os relatos de humilhação a que as visitantes são submetidas. Elas têm que se despir, independentemente de sua idade, além de serem obrigadas a ficar de cócoras e tossir. Os agentes também inspecionam suas genitálias, alegando motivos de segurança. Na teoria, o objetivo é prevenir que celulares, drogas e armas sejam transportados para dentro das cadeias. Na prática, funciona como mais uma instância de discriminação entre o cidadão comum e aquele com poder suficiente para burlar o sistema.

Não há registros, por exemplo, de que mulheres de empresários presos pela Operação Lava Jato tenham passado pela revista vexatória durante suas visitas. Quando oito dos empreiteiros envolvidos no esquema foram transferidos para o Complexo Médico-Penal do Paraná, em julho deste ano, muito se falou sobre o assunto. A notícia era que, ao contrário do que acontecia na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba, familiares de nomes como Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht, e Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, seriam submetidos à prática caso quisessem visitá-los.

Deste então, nada foi dito a esse respeito, apenas rumores de que as visitas a Marcelo Odebrecht são reservadas, dando lugar inclusive a abraços de sua mulher, Isabela, e de sua irmã, Mônica, que é também advogada da construtora. Presos e seus familiares costumam se encontram em parlatórios ou locais destinados a esse fim, na sua maioria separados por um vidro.

Em contrapartida, os registros de cidadãs comuns sobre os desrespeitos e humilhações sofridos parecem não ter fim. Uma moradora da Rocinha conversou com o JB sobre o assunto e, por segurança, preferiu não se identificar. Ela relatou em detalhes sua rotina de visitas ao marido, preso em função de assalto. “Eles abrem a comida, remexem a comida toda. Eu estava com uma gravidez de alto risco e tinha que sentar em um banquinho que passa radiação. Mesmo com laudo médico, eles não queriam saber”, contou.

A experiência, de acordo com ela, é de pura humilhação. “Além de tirar toda a roupa na frente de todos, ainda mandam abaixar de perna aberta de frente, de lado e de costas, sacudir cabelo, abrir a boca. É uma bolsa por pessoa, a comida é limitada – tem que caber dentro deste saco de mercado a comida, a água, o refrigerante e as coisas de higiene para ele. Quando conseguia entrar, já estava quase na hora de vir embora. A visita particular tinha que ser paga. O banheiro é grudado no chão. Pra ir ao banheiro tinha que fica de ‘coque’ (cócoras)”, lembrou.

A diferença no tratamento também não se limita às visitas carcerárias. Para citar um exemplo atual, o envolvimento de Cláudia Cordeiro Cruz nas supostas contas não declaradas de seu marido – o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – inundam o noticiário. Extratos bancários mostram um significativo aumento de saldo nunca declarado à Receita Federal. Mesmo assim, ela não sofreu qualquer represália por parte da Justiça.

Já a mulher do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido em 2013, não recebeu o mesmo tratamento. O delegado responsável pelo caso chegou a emitir um pedido de prisão temporária para Elizabete Gomes da Silva, alegando que ela estava envolvida com o tráfico. Por falta de provas, o relatório foi desconsiderado pelo delegado titular da 15ª DP, Orlando Zaccone. Com medo da polícia, à época Elizabete afirmou que se tratava de uma forma de “sair do foco” das investigações para tentar envolvê-la.