17 de outubro de 2015

Preto, Pardo ou NEGRO. Qual a diferença?



A divulgação, por parte da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), de notícia sobre a ausência de pessoas pretas nos cursos mais concorridos da Universidade de São Paulo (USP) alimentou uma polêmica sobre a forma mais correta de se classificar a população pela cor ou raça. Com a bandeira do "politicamente correto" levantada, alguns defenderam que seria melhor utilizar os termos negros ou afrodescendentes. Mas é errado chamar alguém de preto?

O debate começou porque a Fuvest, responsável pela seleção dos alunos da USP, adotou o padrão de classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divide a população do País em cinco grupos: pretos, pardos, brancos, amarelos e indígenas.

A alegação é histórica: o primeiro censo demográfico do Brasil foi feito em 1872 e perguntava aos brasileiros em qual dos quatro grupos eles se enquadravam: preto, pardo, caboclo ou branco. Ao longo de mais de 140 anos, foram feitas algumas mudanças na nomenclatura, mas ainda não há consenso sobre a forma de classificar a população.

Este blogueiro  possui a mesma visão da Unegro. O termo correto para definir alguém quanto a cor/raça é NEGRO, porém
não aceito, apesar de entender, a classificação do IBGE que define ao invés de NEGRO, o PRETO. Foto: Lucélia Muniz.

José Luiz Petruccelli, que faz pesquisas sobre diversidade racial há mais de 20 anos no IBGE, reconhece que a classificação pode ser aprimorada, embora defenda que o modelo segue uma série histórica e mudanças poderiam prejudicar a comparação dos dados. "Esse é um tema muito polêmico. Alguns defendem que deveríamos usar a classificação negro, mas o negro é uma identidade social. Leva em conta uma visão política, a identidade de um povo muito mais do que a cor da pele", defende.

O especialista diz não ser correto, para efeito de pesquisas, reunir pardos e pretos em um só grupo, de negros. Segundo ele, a discriminação contra os pretos é muito maior do que a verificada entre as pessoas que se autodeclaram pardas, e essa diferença precisa estar presente nos levantamentos demográficos. "Existe diferença no comportamento social entre pretos e pardos: quanto mais escuro, mais discriminado", afirma.

Já a União de Negros pela Igualdade (Unegro), organização de movimentos sociais criada na Bahia e presente em 24 Estados, defende que o mais adequado é usar o termo negro, embora aceite as regras do IBGE. "Como não existe um critério científico para essa classificação, acordou-se em usar a nomenclatura do IBGE para pesquisas, que seria o mais próximo do viável", disse Alexandre Braga, diretor de comunicação da entidade.

Apesar de concordar que quanto mais escura a cor da pele, maior a discriminação, a Unegro acredita que o IBGE possa vir a usar apenas a classificação negro no futuro. "As pessoas se identificam mais como negras do que pretas ou pardas", afirma Alexandre.

Preto e pardo

Nas pesquisas do Censo feitas pelo IBGE, é apresentada uma relação com as cinco nomenclaturas utilizadas e as pessoas precisam indicar a qual cor pertencem. Segundo Petruccelli, cada pessoa tem liberdade para dizer a sua classificação. Ele explica que pretos normalmente são as pessoas que se enxergam com a cor mais escura. Mas em relação aos pardos não há consenso. "Normalmente são as pessoas que se classificam como ‘morenas’ ou ‘mulatas’, mas isso depende na região", afirma.

O pesquisador diz ainda que nas regiões Sul e Sudeste, a população que se declara parda normalmente é de origem africana. Porém, no Norte, muitos pardos são, na verdade, descendentes de indígenas. Ele ainda conta uma história curiosa sobre a situação no Distrito Federal. "A população local, por mais branca que seja a sua pele, se classifica como parda porque vê os brancos como os funcionários públicos que vieram de fora".

De acordo com o pesquisador do IBGE, a presença de pretos é menor no Brasil, por isso existe a tendência em reunir pardos e pretos em um grupo de negros. Ele diz que apenas para as pesquisas o termo não se aplica, mas que na convivência social é válido agrupar as duas nomenclaturas. Para o representante da Unegro, ocorre também a resistência em assumir a cor preta e muitos preferem ser incluídos na lista dos pardos - que seria uma forma intermediária. "A identidade do negro é muito maior, por isso defendemos a utilização desse termo", afirma.

E o afrodescendente?

De acordo com o diretor da Unegro, o termo afrodescendente - ou afrobrasileiro - está em desuso. "Acredito que hoje seja muito mais adequado chamar alguém de negro do que de afrodescendente. Essa é muito mais uma nomenclatura política, de ação dos movimentos sociais na luta contra discriminação do que para designar a cor", explica.

MEC apresenta novidades em relação ao Enem



O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), utilizado como método de ingresso em universidades públicas e de acesso à programas sociais como o Prouni, será aplicado nos próximos dias 24 e 25. Dos 7,7 milhões de candidatos, mais de 2,2 milhões ainda não sabem o local de realização da prova, de acordo com dados do Ministério da Educação.


O Enem deste ano traz novidades, como o fortalecimento nos procedimentos de segurança para evitar fraudes e assegurar a eficácia da prova. “O respeito ao participante também é questão de segurança, então há muito rigor nessa parte ”, disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

Neste ano, candidatos não vão receber a confirmação do local
do exame pelos correios.
A Polícia Federal anunciou a realização de um cruzamento de dados dos candidatos e fiscais – que acompanham o exame – para identificar possíveis riscos. O monitoramento será intenso para evitar o uso de celulares e redes sociais, que também serão vigiadas. “Mesmo que o candidato faça a prova, se identificarmos qualquer fraude, ela será anulada”, alerta o ministro.

Além do reforço na segurança, com a intenção de evitar desperdícios de recursos públicos e conter gastos, uma portaria publicada hoje (16) determina que o candidato isento de taxa de inscrição pode perder o benefício nas próximas edições do exame, caso não compareça nos dois dias sem justificar ausência.

Outra medida adotada com finalidade de minimizar os gastos foi a não impressão da confirmação dos locais de prova. Em outras edições, os candidatos recebiam os cartões pelos Correios, já neste ano, a orientação é para acessarem a página do Enem e verificar onde realizarão o exame. De acordo com o ministro, isso representa uma economia de R$ 46 milhões para os cofres públicos.

Nos dias de prova, os portões dos locais de realização serão abertos às 12h e fechados às 13h, com a tradicional pontualidade. Serão 14.455 endereços de aplicação em todos os estados do país e no Distrito Federal. É recomendado para os candidatos a visitação prévia da região aonde será realizado o exame, para garantir uma adequação tranquila aos horários nos dias do exame.

Intelectuais realizam ato contra impeachment de Dilma e divulgam carta



Um grupo de intelectuais e acadêmicos se reuniu nesta sexta-feira em São Paulo para um ato de resistência ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. No encontro, também foi divulgada uma carta em que o coletivo defende que as “pedaladas fiscais” não são crime de responsabilidade e que, portanto, o que existe hoje é uma “busca sôfrega” por setores da política de um fato para justificar o afastamento da presidente.

Intelectuais se reúnem em São Paulo para criticar pedido de impeachment contra presidente Dilma Rousseff. Agência o Globo/Silvia Amorim.
A reunião aconteceu no Centro Maria Antonia, da Universidade de São Paulo (USP), um símbolo da resistência ao regime militar na capital paulista. Participaram do ato a historiadora Emilia Viotti da Costa, uma das maiores historiadoras brasileiras sobre a transição da mão de obra escrava para o trabalho assalariado; o professor e físico da Unicamp Rogério Cerqueira Leite; o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, ex-secretário de Direitos Humanos; o professor de ciência política da USP Andre Singer; o escritor Fernando Morais; o jurista Fabio Konder Comparato; a filósofa Marilena Chauí; o presidente da Associação Nacional de Direitos Humanos, Guilherme de Almeida; o ex-senador italiano José Luiz del Roio; o historiador Luiz Felipe de Alencastro; a socióloga Maria Victoria Benevides; a historiadora Heloísa Starling, ex-vice reitora da Universidade Federal de Miinas Gerais (UFMG); Margarida Genevois, que foi presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, entre outros. O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) e o diretor do Instituto Lula Paulo Vannuchi acompanharam a reunião.

Impeachment foi feito para punir governantes que efetivamente cometeram crimes. A presidente Dilma não cometeu qualquer crime. Impeachment é instrumento grave para proteger a democracia, não pode ser usado para ameaça-la”, diz um trecho da carta.

Em outro momento o documento se dirige ao Congresso:

Os parlamentares brasileiros devem abandonar essa pretensão de remover a presidente sem que exista nenhuma prova direta e frontal de crime. O que vemos hoje é uma busca sôfrega de um fato ou interpretação jurídica para justificar o impeachment. (...) Busca-se agora interpretações bizarras nunca antes feitas neste país”.

O ato durou cerca de duas horas e algumas propostas de mobilização foram discutidas. O coletivo não quis fazer comentários sobre a atual situação politica e, com críticas à imprensa, negou que o governo esteja tentando um acordo com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para salvar o mandato de Dilma.

— Não vamos debater aqui questões político-partidárias — disse Paulo Sérgio.

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Marilena Chauí comparou o clima político de hoje ao do período da ditadura militar e disse que “hoje não vamos perde porque somos mais experientes".

— Nós perdemos naquela época porque não tínhamos experiência — afirmou Marilena.
Singer alertou para os riscos que o impeachment significaria para a democracia. O escritor Fernando Morais foi um dos que reforçou a importância de levar aos movimentos sociais como MST, CUT e MTST as conclusões do coletivo de intelectuais. A avaliação é de que falta informação sobre esse debate.



16 de outubro de 2015

Questão de gênero: A violência simbólica contra a mulher nas charges da Revista KodaK



Surgidas na Europa em meados do século XIX, as revistas ilustradas traziam assuntos os mais diversos, que vão da área científica a textos literários. A diversidade de informações, favorecida pelo preço acessível, fez com que esse estilo de periódico se popularizasse rapidamente, pois, diferentemente do jornal, as revistas ilustradas eram repletas de imagens e possuíam poucas páginas, sendo uma composição tecnicamente mais elaborada, com assuntos mais aprofundados. Podiam ser semanais, quinzenais, trimestrais, semestrais ou anuais.

Ao longo do tempo, as revistas ilustradas consolidaram-se “como ramo expressivo da imprensa” (MARTINS, 2001, p.39), disputando espaço com jornais, trazendo muito além de notícias sobre a sociedade, mas também estreitando a relação com o humor e a crítica incisiva sobre política.

No Brasil, a imprensa periódica ilustrada teve seu apogeu após enfrentar inúmeros problemas técnicos. Em um período em que a imprensa passava por um processo de renovação, interessada em formar padrões de conduta e comportamento, acompanhando os progressos das cidades e as mudanças na vida social e cultural dos cidadãos, elas proliferaram no Brasil como expressões mais apuradas de uma imprensa em processo desenvolvimento, interessada em transitar entre o local e o universal, abrindo-se às novas tendências comportamentais.

Em Porto Alegre, um marco na imprensa periódica ilustrada inaugurou uma fase completamente nova, com maior avanço técnico e autonomia comercial: a Revista KodaK, com seu mais completo acervo encontrado no Arquivo Histórico Regional em Passo Fundo no Rio Grande do Sul, contava com uma tiragem semanal de três a quatro mil exemplares, tendo sua primeira edição esgotada na data do seu lançamento em setembro de 1912.

A revista circulou entre os anos de 1912 a 1920/23 com períodos de interrupções. Foi a primeira revista a trazer uma grande quantidade de fotografias, conteúdos independentes, ilustrações e, com o passar do tempo, anúncios de publicidade. Direcionada a arte, a literatura, a vida social da população gaúcha.

Mas o que essa revista tem a ver com as mulheres?

Como Bourdieu ensina, a violência simbólica de gênero refere-se aos constrangimentos morais que as representações sociais de gênero impõem. Decorrente de uma sociedade historicamente machista e patriarcal, onde são comuns reproduções que disseminam tais representações, cuja principal característica consiste no constrangimento e na degradação da imagem da mulher.

A base da violência são as estruturas que defendem a ideia de superioridade masculina, mantendo-a viva e favorecendo a manutenção dessa cultura que, segundo Bourdieu (2007), encontra na própria sociedade condições para sua disseminação. Disso decorre a importância de problematizar a questão de gênero, bem como a história das mulheres numa perspectiva crítica, observando a sua reprodução e a violência simbólica reforçada por padrões patriarcais de conduta de gênero. Esses aspectos se relacionam ao domínio masculino quando se defrontam questões sobre autonomia de pensar e produzir intelectualmente de acordo com uma realidade desigual, que excluía as mulheres de uma condição material independente.

Nessas revistas através de algumas charges que foram publicadas na Revista KodaK nos anos de 1912 a 1919, escolhidas através de um levantamento em mais de 100 edições, pode-se verificar que tratam da questão da mulher e seu papel na sociedade. Apresenta-se, neste artigo, apenas a questão da violência simbólica de gênero em três charges dos anos de 1915 e 1918.

Fonte: Revista Kodak, ano III, n 113 de 09. jan. 1915.
Na primeira charge, a primeira vista, parecem ser apenas três cidadãos andando normalmente até que se vê a legenda da imagem que diz: “Elle (varado)” ao se referir ao homem reforça que ele estava atônito, completa: “Meu Deus, que perna!”. A mulher responde: “Ella (à parte) – Que estúpido! O algodão que puz (sic) dentro da meia é que m’a faz assim grossa…”.

Observa-se na imagem um forte desrespeito à mulher no espaço público, naturalizando uma violência que conhecemos hoje na linguagem popular como “cantada”, violência que configura, muitas vezes, o assédio moral e sexual, visto que não é respeitado o direito das mulheres de usar os espaços públicos sem sofrer constrangimentos com relação a sua aparência, corpo ou maneira de se vestir.

Fonte: Revista Kodak, ano III, n 44 de 15. jun.1918.
Na segunda charge, a imagem não explicita nenhum ato de violência até lermos a legenda que diz: “- Comadre Theresa, é verdade que teu marido, quando se zanga, para se conter, conta de um até 20?” Na resposta, o ato de violência contra a mulher fica claro: “É verdade, mas meu lombo é que lhe serve de marcador”.

Como sabemos a violência contra a mulher é um problema sério e universal. Só no Brasil são 5 casos a cada 2 minutos, o país é 7º no mundo com mais casos de violência contra a mulher. A mídia que transmite esse material em suas páginas reforça a violência de gênero, pois essa reproduz e ironiza uma situação de violência real e naturalizam uma cultura de discriminação contra as mulheres, tanto no âmbito público, como vemos na primeira charge, mas também no âmbito privado, em exemplo a essa e a charge a seguir.

Fonte Revista Kodak, ano III, n 43 de 08. jun. 1918.
Diferentemente das outras imagens, essa não explicita violência em falas escritas, mas sim na própria imagem, que retrata mais uma vez uma situação de violência real sendo ironizada pela legenda de “a via dolorosa de um homem”. A charge acaba por banalizar esse tipo de crime que é a morte da mulher resultante da violência que ela sofre, passando a ser algo, então, costumeiro.

Sendo assim, pode-se dizer que, de certo modo, a Revista KodaK contribuiu para a naturalização daquilo que Pierre Bourdieu chama de violência simbólica. O poder simbólico, segundo o próprio sociólogo, são estruturas estruturantes da sociedade que conduzem instrumentos de dominação, para legitimar o poder,“[…] é com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem”. (BOURDIEU,1998. p.7-8).

A violência simbólica não é simplesmente mais uma forma de reforçar a desigualdade entre os gêneros, mas também a legitimação das diferenças que ficam claras através das estruturas de poder, nesse caso, a imprensa periódica ilustrada gaúcha, a Revista KodaK.


Desconstruindo o conceito de Meritocracia




De forma quase didática, um ilustrador australiano resumiu bem como a ideia de que as pessoas têm as mesmas oportunidades não é verdadeira; confira

É muito comum no Brasil, principalmente depois da ascensão de parte da população com os programas de transferência de renda do governo, algumas pessoas recorrerem ao conceito de “meritocracia”. Essa ideia é, normalmente, utilizada para criticar as medidas sociais usando a justificativa de que todos têm as mesmas oportunidades e que o mérito verdadeiro – o sucesso profissional, por exemplo – depende unica e exclusivamente do esforço individual.

De modo simples e quase didático, o ilustrador australiano Toby Morris consegue desconstruir esse conceito. Por meio de duas histórias distintas, em um quadrinho intitulado “On a Plate” [em português, De Bandeja], Morris resume bem a condição a que muitos estão submetidos e expõe os privilégios que os defensores da meritocracia carregam consigo e não enxergam.

Confira a versão com a tradução livre feita pelo Catavento.


14 de outubro de 2015

Será exibido na TV aberta desenho que valoriza a cultura negra


Segundo informações do portal Rádio e Cultura Foz, a TV aberta brasileira passou a exibir pela primeira vez desenhos que contem no elenco negros exercendo o papel de protagonistas.


A TV Brasil em homenagem ao dia das crianças passa a mostrar em quatro episódios sequenciados no horário das 09h45 e às 13h. Os episódios tiveram início na última segunda, 12 de outubro.

Os irmãos Guilhermina e Candelário são risonhos e muito imaginativos. Eles são negros e vivem às margens de uma praia na casa dos avós. Passam o dia brincando, fazendo descobertas e inventando coisas. Os irmãos Guilhermina e Candelário compõem uma família negra, muito parecida com milhões de famílias brasileiras, atualmente pouco representadas nos meios de comunicação.

A partir da terça-feira, dia 13, o desenho passou a ir ao ar de segunda a sábado, na Hora da Criança.

                          

13 de outubro de 2015

Segundo especialista, pouca presença de negros na TV leva a racismo na infância


Para marcar a passagem do Dia da Criança, TV Brasil começa a exibir hoje o desenho colombiano Guilhermina e Candelário, que mostra o dia a dia de dois irmãos negros.

O estudante Anderson Ramos passou boa parte da 4ª série (hoje 5º ano) sendo chamado de "macaco", "preto fedido", "sujo" e ouvindo "piadas" por causa do cabelo crespo. As ofensas vinham de colegas da escola que, assim como ele, tinham 10 anos. O menino relatava os casos para a professora, que nada fez, e para a mãe, que demorou a entender que o filho estava sendo vítima de injúrias raciais.


"Quando comecei a chorar muito para não ir à escola e pedi para raspar o cabelo, minha mãe percebeu que eu estava sofrendo com aquilo, mesmo sem eu saber direito o que era", afirma Ramos, hoje com 20 anos. "Quando a gente é criança, não tem maturidade para fazer a leitura do que acontece, mas sente a dor que o racismo causa. E não é brincadeira de criança, é racismo", diz o estudante.

Apesar de pouco discutido, o racismo na infância e nas escolas existe e precisa ser enfrentado, na opinião de professores e especialistas. Eles destacam a pouca representação de crianças negras nos meios de comunicação como uma das causas do problema.

Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da instituição, Renísia Garcia Filice acredita que o racismo existe dentro das escolas e ocorre de forma cruel, efetiva e naturalizada. Para ela, essa atitude na infância é fruto do que a criança viu ou vivenciou fora do ambiente escolar.

"A criança pode ter vivenciado isso numa postura dos pais, em algum comentário ou até em algo que os professores fizeram ou deixaram de fazer", diz Renísia. Segundo ela, alguns professores se omitem em situações de racismo pela falta de informação, por naturalizar os casos ou achar que não é um problema. "Por isso, são necessárias práticas pedagógicas para que as crianças se percebam iguais e com iguais direitos", acrescenta.

Ildete Batista dá aula para crianças de 5 anos em uma escola no Distrito Federal. Ela afirma que as questões raciais aparecem principalmente no momento de disputa e durante as brincadeiras. Professora há mais de 20 anos, Ildete afirma que faltam referências para as crianças. "O que fica como belo é o que se aparece na TV, nos livros – inclusive nos materiais didáticos. A gente vê muitas propagandas, livros de histórias infantis em que os personagens são brancos."

A professora desenvolve, na escola, um trabalho contra o racismo e para colocar mais referências africanas na educação. Isso, segundo Ildente, vem dando resultados. "No início do ano, uma menina me disse que não gostava do cabelo dela, por ser crespo. Em um desenho, por exemplo, ela se fez loira do olho azul. Agora, no final do ano, ela se desenha uma criança negra com cabelo enrolado. Isso mostra que o trabalho tem que ser feito e, se ele é feito com respeito, a gente consegue vencer esses problemas", acredita.

Segundo o professor do curso de direito da UnB Johnatan Razen, quando há ofensas entre crianças, no colégio, os pais devem relatar o caso à escola, para a que a instituição promova ações educativas. "Se o caso envolver um professor ou a ofensa vier da instituição – como obrigar uma aluna a alisar o cabelo –, cabe acionar a Justiça", orienta. Se tiver conhecimento de atitudes racistas dentro do espaço e se omitir, a escola também pode ser responsabilizada penalmente, de acordo com Razen.

Representação

Para a professora do curso de comunicação social da Universidade Católica de Brasília (UCB) Isabel Clavelin, há uma tendência de aumento na representação de crianças negras nos meios de comunicação, nos últimos anos. "Mas elas figuram em papéis de coadjuvantes, e a representação está aquém da proporção de negros no Brasil", diz a pesquisadora.

"Isso tem um efeito devastador, porque a criança se vê ausente ou não se vê como ela realmente é. Ela está sempre atrás. A interpretação dessas mensagens tem um efeito muito danoso, que é a recusa, de se retirar do espaço da centralidade", afirma Isabel. "Enfrentar o racismo na infância é crucial e deve mobilizar toda a sociedade brasileira, porque ali estão sendo moldadas todas as possibilidades de identidade das pessoas", acrescenta.

A escritora Kiussam de Oliviera, que trabalha com a literatura infantil com o objetivo de fortalecer a identidade das crianças negras, afirma que falta representação positiva. "Em um país de maioria negra, não se justifica uma televisão totalmente branca, como nós temos. A partir do momento que as emissoras entenderem que o público negro é grande, nós viveremos uma fase diferente desta que estamos passando, onde há violência por conta da cor da pele, agressões focadas na raça – cada vez mais banalizada."

O estudante João Gabriel, de 11 anos, sente falta de mais crianças negras na televisão. "Nos desenhos e nos programas de TV, quem é gordo e negro está sempre sendo xingado, é sempre tímido e os outros zoam dele. Aí a gente vê isso e acha que é sempre assim. Os colegas acham que todos precisam ser iguais e ser diferente é ruim."

Novo Programa

Com a maioria dos personagens negros, começa hoje a ser exibido na TV Brasil o desenho colombiano Guilhermina e Candelário. Para marcar a passagem do Dia da Criança, a emissora exibirá quatro episódios em sequência, às 9h45 e às 13h. A partir daí, o desenho será transmitido de segunda a sábado, na Hora da Criança, faixa de programação de segunda a sexta das 8h15 às 12h e das 12h30 às 17h; e no sábado, das 8h15 às 12h.

A série mostra o cotidiano dos dois irmãos, cuja capacidade de sonhar transforma cada dia em aventura. A cada dia, eles esperam ansiosamente a chegada do Vô Faustino, a quem contam suas aventuras. O avô desfruta das histórias narradas pelos netos e compartilha sua experiência de vida e sabedoria.

Co-produzida pelo Señal Colombia e pela Fosfenos Media, a animação Guilhermina e Candelário é um dos primeiros desenhos do gênero com protagonistas negros a ser exibido na TV aberta brasileira.

Ex-professora Fausta Venâncio recebe homenagens de ex-alunos e do governo municipal de Altaneira


A residência da ex-professora Fausta Venâncio David, ou “Dona Fausta”, foi palco na tarde desta segunda-feira, 12 de outubro, de um ciclo de homenagens promovido pelo governo municipal de Altaneira, de amigos, familiares e ex-alunos, em face da passagens do seu centenário.

Ex-professora Fausta Venâncio recebe homenagens pela passagem do seu centenário. Foto: João Alves.
As homenagens à primeira professora desta localidade foram regadas à flores e acompanhada de uma missa celebrada pelo pároco titular da paróquia de Santa Tereza, o padre Alberto. Flores e missa à parte, a festa não estaria completa sem o tradicional parabéns entoado pela Banda de Música Municipal e o bolo.

O momento foi feito ainda de entrega de placa e troféu que ficou a cargo do prefeito Delvamberto Soares e do Secretário de Cultura, Esporte e Turismo, Antonio de Kaci.

Fausta Venâncio foi lembrada pelos principais portais de comunicação desta municipalidade, com destaque para o “Blog de Altaneira, o “A Pedreira”  e este, o Informações em Foco

Ao compartilhar artigo escrito por este signatário na manhã desta segunda, 12, sob o título Primeira professora de Altaneira completa um século de vida, a professora Socorro Lino foi sucinta e frisou “Parabéns Madrinha Fausta!”. Na mesma postagens, Lúcia Cristina Cordeiro completou “PARABÉNS DONA FAUSTA. QUE BOM TER TI CONHECIDO!” (Assim mesmo e em letras garrafais).

Há dois anos, a então estudante de jornalismo e agora graduada Alana Maria Soares teve a oportunidade de conhecer a história de vida desta eterna professora através de entrevista.

O servidor municipal João Alves registrou o fato na tarde de ontem, tendo ainda sido acompanhado por vários político-partidários, a exemplo dos edis Deza Soares, Antonio Leite, a vereadora e presidente do legislativo municipal Lélia de Oliveira, o ex-prefeito João Ivan, assim como o ex-vice prefeito e ex-vereador Mundim Soares, além de diretores de escola, professores, estudantes, servidores, vizinhos, empresários, advogados.

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