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LULA EM VISITA A DILMA EM PARIS FOTO: RICARDO/INSTITUTO LULA |
Luiz
Inácio Lula da Silva fez um de seus mais primorosos discursos hoje à noite,
quarta-feira 12, na Fundação Jean-Jaurès, em Paris, onde, em parceria com o
Instituto Lula, foi organizado o “Fórum pelo Progresso Social: o Crescimento
como Saída da Crise”.
O
presidente francês François Hollande e a presidenta Dilma Rousseff, esta em sua
primeira visita de Estado à França, abriram o fórum na terça-feira 11, mas foi
Lula quem fez o último discurso.
Humor
não escasseou na fala do ex-presidente.
“É
a primeira vez que pessoas secundárias fazem o discurso final”, disse Lula
referindo-se ao discurso a anteceder o seu do ex-premier socialista Lionel
Jospin.
“Isso,
na França, é muito ruim, porque somos pessoas sem mandato.”
A
plateia visivelmente apreciou o discurso sério de um exímio orador que soube
engajar personalidades presentes (como Jospin) e mesclar sua própria
experiência com a crise econômica global.
“Não
estou acostumado a ter medo. Durante toda minha vida vivi em crise. Sou de uma
terra que se até 5 anos e idade você não morreu de fome é um milagre”, ofereceu
Lula.
Os
risos começaram com as primeiras palavras do ex-presidente. “Não falo francês,
inglês e nem português.” Disse, então, que falaria devagar para as tradutoras
entenderem o que ele diria.
Lula
caçoou, ainda, de sua falta de opção na vida. Um jornalista, por exemplo, pode
escolher sua profissão. Um metalúrgico não escolhe nada: ele vira metalúrgico
para sobreviver.
No
entanto, ao longo de mais de uma hora de discurso, ficou claro que o
metalúrgico pode ser muito mais sábio do que jornalistas não somente na
oratória, mas também na maneira de tratar quem o cerca.
Em
2002, quando subia a rampa do Palácio do Planalto, após ser eleito no primeiro
mandato, Lula era criticado pelos “sociólogos” (especialmente por um
específico), e pelos “economistas”. “Eles sabem tudo”, argumentou Lula, não sem
sua costumeira ironia. Todos, na sua galgada ao Palácio do Planalto, “puxavam
minha manga”.
“Não
vai”, repetiam.
“Eles
me diziam que o Brasil estava quebrado”, contou Lula para o deleite da plateia
parisiense. “Mas eu queria fazer algo de diferente. A primeira coisa era que
nos respeitássemos. Não somos uma republiqueta.”
Naquela
época, contou o ex-presidente, os líderes latino-americanos ficavam presos em
seus grotescos paradigmas. Quem, por exemplo, era o melhor amigo de Bill
Cintion?
Segundo
Lula, o Brasil dava as costas para a América Latina, e, de forma ignorante, para
a África, por acreditar que o Oceano Atlântico é uma fronteira.
Em
um momento, Lula declarou: “É muito fácil cuidar dos pobres, e muito mais
difícil cuidar dos ricos”.
Antes,
disse Lula: “O Brasil era um país capitalista sem capital”. O programa de inclusão
social Bolsa Família, está claro, fez ingressar milhões de brasileiros na
classe média.
Lula
fez mais pelos pobres. Investigou, por exemplo, por que eles não tinham acesso
ao crédito. “Porque o pobre não oferecia garantias”, descobri. Mas o ex-presidente
acabou por acertar que o crédito do trabalhador é seu salário. E, assim, 40
bilhões de dólares foram colocados nas mãos dos pobres.
Por
este e outros programas, muitos empresários não votaram em Lula nos seus dois
mandatos, argumentou o próprio. “Eles têm medo de mim.” E emendou: “Mas hoje
sabem que nunca ganharam tanto dinheiro – e nunca empregaram tanta gente”.
O
ex-presidente disse que a crise pode abrir uma oportunidade para os governantes
assumirem responsabilidades e tomarem decisões importantes. “Essa crise está
nos chamando para as grandes decisões políticas que desaprendemos a tomar
depois de um longo tempo de bem-estar social.”
Lula
chegou até a questionar o dólar como moeda padrão internacional aqui em Paris.
Para ele, é um absurdo um brasileiro ter de comprar um colar boliviano em
dólares.
O
ex-presidente arrancou aplausos quando disse que se a ONU pôde criar Israel em
1948, mas não faz o mesmo para um verdadeiro Estado da Palestina.
Por
fim, ele criticou os banqueiros. “Vocês já viram banqueiros presos nas
manchetes de jornais? Não?”
É
simples: eles financiam a mídia.
Créditos: Carta Capital