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IMAGEM ILUSTRATIVA |
"Segundo
Ives Gandra, em recente artigo nesta Folha ("Fundamentalismo ateu"), existe uma coisa chamada "fundamentalismo ateu", que
empreende "guerra ateia contra aqueles que vivenciam a fé cristã".
Nada disso é verdade, mas fazer os religiosos se sentirem atacados por ateus é
uma estratégia eficaz para advogados da cúria romana. Com o medo, impede-se que
indivíduos possam se aproximar das linhas do livre-pensamento.
É
bom saber que os religiosos reconhecem o dano causado pelo fundamentalismo, mas
resta deixar bem claro que essa conta não pode ser debitada também ao ateísmo.
Os
próprios simpatizantes dos fundamentos do cristianismo, que pregam aderência
estrita a eles, criaram a palavra "fundamentalista". Com o tempo, ela
se tornou palavrão universal. O que ninguém parece ter notado é que, se esses
fundamentos fossem tão bons como querem nos fazer crer, então o fundamentalismo
deveria ser ótimo!
Reconhecer
o fundamentalismo como uma praga é dizer implicitamente que a religião só se
torna aceitável quando não é levada lá muito a sério, ideia com que
enfaticamente concordam centenas de milhões de "católicos não
praticantes" e religiosos que preferem se distanciar de todo tipo de
igrejas e dogmas.
Já
o ateísmo é somente a ausência de crença em todos os deuses, e não tem qualquer
doutrina. Por isso, fundamentalismo ateu é um oximoro: uma ficção ilógica como
"círculo quadrado".
Gandra
defende uma encíclica papal dizendo que "quem não é católico não deveria
se preocupar com ela". No entanto, quando ateus fazem pronunciamentos
públicos preocupa-se tanto que chama isso de "ataque orquestrado aos
valores das grandes religiões".
Parece
que só é ataque orquestrado se for contra a religião. Contra o ateísmo,
"não se preocupem".
Aparentemente,
para ele os ateus não têm os mesmos direitos que religiosos na exposição de
ideias.
A
religião nunca conviveu bem com a crítica mesmo. Já era hora de aprender. Se há
ateus que fazem guerra contra cristãos, eu não conheço nenhum. Nossa guerra é
contra ideias, não contra pessoas.
Os
ateus é que são vistos como intrinsecamente maus e diuturnamente discriminados
pelos religiosos, não o contrário. Existem processos movidos pelo Ministério
Público e até condenação judicial por causa disso.
O
jurista canta loas ao "respeito às crenças e aos valores de todos os
segmentos da sociedade", mas aqui também pratica o oposto do que prega:
ele está ao lado da maioria que defende com entusiasmo que o Estado seja
utilizado como instrumento de sua própria religião.
Para
entender como se sente um ateu no Brasil, basta imaginar um país que dá
imunidade tributária e dinheiro a rodo a organizações ateias, mas nenhum às
religiosas; que obriga oferecimento de estudos de ateísmo em escolas públicas,
onde nada se fala de religião.
Um
país que assina tratados de colaboração com países cuja única atividade é a
promoção do ateísmo; cujos eleitores barram candidatos religiosos; que ostenta
proeminentes símbolos da descrença em tribunais e Legislativos (onde se começam
sessões com leitura de Nietzsche) e cuja moeda diz "deus não existe".
E
depois os fundamentalistas que fazem ataque orquestrado somos nós."
Créditos: História e seus afins
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