9 de outubro de 2012

Mãos ao alto: Serra quer tratar de valores

JOSÉ SERRA (PSDB)
Serra estreou a sua falta de jeito e carência programática no segundo turno da disputa municipal em SP, revelando certa afoiteza diante do vazio. Entrou no salão, cuspiu no assoalho e engatilhou a única arma de que parece dispor para superar a pior votação recebida em casa nos últimos anos.

O tucano avisou que vai usar o STF como cabo eleitoral para atacar Haddad 'na questão dos valores'. Atente-se: quem está dizendo isso chama-se José Serra. A palavra valores não lhe cai bem. Exceto, talvez, quando a quantia é mencionada, mas neste caso, Paulo Preto seria o interlocutor mais adequado, não Haddad.

Afoitezas e cifras à parte, não seria descabido indagar: ademais de obras e ações urgentes, quais valores éticos ostentados por um prefeito poderiam fazer a diferença em uma cidade como São Paulo?

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman cunhou a palavra ' mixofobia' para descrever aquele que seria, em sua opinião, o medo típico das grandes cidades contemporâneas: a fobia de se misturar com outras pessoas. Em que medida um caráter como o de Serra contribuiria para romper essa galvanização individualista, matriz de desdobramentos políticos, sociais e culturais de gravidade presumível?

Um exemplo aleatório: na manhã do último domingo, enquanto o Brasil comparecia às urnas, um travesti era arrastado pelo carro de um provável cliente na zona Sul de São Paulo. Morreria em seguida, em consequência dos ferimentos.

Segundo a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) foi a 86ª vítima de uma série de assassinatos de travestis registrados em todo o Brasil este ano. Em 2011, a violação de direitos humanos contra LGBTs somou 6.806 casos.

Entre as origens do fenômeno encontra-se a sensação de impunidade desfrutada em ambiente contaminado pelo ódio à diferença, irradiado ou sancionado por lideranças e figuras públicas.

A guerra é o exemplo clássico dessa dinâmica deformadora: contra inimigo, tudo. A permissividade bélica transfigura indivíduos aparentemente normais em máquinas mortíferas. Se é legítimo bombardear uma cidade inteira, por que não o seria torturar e degradar peças individuais do estoque? Abu Ghraib: o ponto dentro da curva.

Um barão do século XVIII, Montesquieu, já sinalizara que a virtude não está nos indivíduos, mas nas instituições (o que torna especialmente hipócrita, diga-se, um tribunal encenar rigor no varejo, e omitir-se diante da usina indutora de caixa 2 que é a legislação eleitoral vigente).Caçadores de pecados, auto-ungidos em guardiães dessa moral das conveniências, abundam. Do alto de seus púlpitos --ou debaixo das togas-- comandam milhões de almas desprovidas de outro abrigo de identidade, num meio social evanescente.

O pastor Silas Malafaia é um dos centuriões armados de borduna e tacape espiritual. Sua especialidade é impedir a educação para a tolerância, talvez um dos valores mais importantes para reverter a mixofobia de Baumann, da qual a matança denunciada pela ABGLT pode ser uma expressão clínica.

Malafaia, que usa gravatas de um dourado ofuscante, e lenço combinando, nem pisca. No 1º turno, twitou ordens sagradas de voto em Serra; 'contra o kit gay', comandava. O tucano não desautorizou a associação do seu nome à figura do 'caçador de kit gay'.

Não se pode responsabilizar ninguém pela loucura no seu entorno. Mas o intercurso de Serra com a intolerância extrapola a ordem unida disparada por Malafaia.

A esposa do tucano fez da caça ao aborto seu bordão de campanha na disputa presidencial de 2010 . Disse Monica Serra a um transeunte na Baixada fluminense, em 14-09-2010: "Ela (Dilma) é a favor de matar criancinhas" (Estadão). Não só. O braço direito de de Serra , Andrea Matarazzo, transformou as impiedosas rampas anti-mendigo em um dos símbolos do higienismo social adotado na fugaz passagem do tucano pela prefeitura de São Paulo, que abandonou com um ano e meio de mandato para concorrer ao governo do Estado, em 2006.

Kassab, saído da mesma cepa, vice campeão nacional em rejeição, proibiu há pouco a distribuição de comida aos moradores de rua - 'por questões de higiene'.

O conforto de Serra nessa curva reveladora não se resume à esfera dos costumes. Dentro do próprio PSDB o candidato é conhecido como uma pessoa que tem na intolerância um traço de caráter e um método político.

É esse personagem que pretende levar a discussão de 'valores' ao 2º turno em SP. Não se subestime a octnagem da mixofobia entranhada num ajuntamento de 11 milhões de pessoas que compartilham (majestático) o mesmo espaço urbano em São Paulo. Menos ainda se subestime o efeito conflitivo que uma prefeitura pautada pelos 'valores' de José Serra pode acarretar nesse ambiente.




























Com informações do Carta Maior

Em 15 municípios cearenses candidatos indeferidos podem ser eleitos



As eleições em 15 municípios no Ceará dependem ainda de decisão judicial. Os candidatos indeferidos nessas cidades tiveram as maiores votações. Eles estão recorrendo e, a depender da manifestação da Justiça, será definido o resultado do pleito.

Caso o candidato tenha tido mais da metade dos votos e seja definitivamente indeferido, será necessária a realização de nova eleição.
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE) divulgou nesta segunda-feira o resultado obtido pelos candidatos indeferidos. Confiram quem seria eleito:

Acaraú - Indeferido com recurso - Alexandre Ferreira Gomes da Silveira - 16.177 - 50,47%

Boa Viagem - Indeferido com recurso - Fernando Antonio Vieira Assef - 15.190 - 50,81%

Cedro - Indeferido com recurso - Francisco Nilson Alves Diniz - 8.285 - 51,41%

Deputado Irapuan Pinheiro - Indeferido com recurso - Maria Rizoleta Pinheiro Moreira - 3.202 - 59,08%

Horizonte - Indeferido com recurso - Manoel Gomes de Farias Neto - 22.610 - 60,78%

Iguatu - Indeferido com recurso - Aderilo Antunes Alcantara Filho - 30.203 - 58,86%

Meruoca - Indeferido com recurso-  João Coutinho Aguiar Neto - 5.094 - 58,91%

Mucambo - Indeferido com recurso - Wilebaldo Melo Aguiar - 4.933 - 53,58%

Nova Olinda - Cassado com recurso - Francisco Ronaldo Sampaio - 4.978 - 51,83%

Orós - Indeferido com recurso - Simão Pedro Alves Pequeno - 7.637 - 55,92%

Pacoti - Indeferido com recurso - Edson Leite Araujo - 4.368 - 52,39%

Quixeramobim - Indeferido com recurso - Cirilo Antonio Pimenta Lima - 22.733 - 53,94%

Redenção - Indeferido com recurso - Manuel Soares Bandeira - 10.952 - 59,15%

Reriutaba - Cassado com recurso - Galeno Taumaturgo Lopes - 6.102 - 52,63%

Tururu - Indeferido com recurso - Raimundo Nonato Barroso Bonfim - 5.648 - 51,28%

Confira a votação de outros candidatos a prefeito indeferidos no Ceará, mas que não venceriam mesmo que tivessem os votos validados:

Antonina do Norte - Indeferido com recurso - Francisco Iteildo Roque de Araujo - 2.336 - 49,00%

Aquiraz - Indeferido com recurso - Ritelza Cabral Demetrio - 15.604 - 41,35%

Aurora - Indeferido com recurso - Francisco Carlos Macedo Tavares - 7.728 - 47,73%

Baixio - Indeferido com recurso - Armando Quaresma Trigueiro - 2.000 - 46,20%

Cedro - Indeferido com recurso - João Viana de Araújo - 7.831 - 48,59%

Chorozinho - Indeferido com recurso Jose Sinval de Carvalho Lima 27 37 0,27%

Fortaleza - Indeferido com recurso - Antonio Valdeci Cunha - 2.112 - 0,17%

General Sampaio - Indeferido com recurso - Raimundo Acinesio Bezerra - 2.680 - 48,90%

Granja - Indeferido com recurso - Hélio Fontenele Magalhães - 11.740 - 39,46%

Ibicuitinga - Indeferido com recurso - Francisco Anilton Pinheiro Maia - 4.596 - 43,72%

Icó - Cassado com recurso - Marcos Eugênio Leite Guimarães Nunes - 17.086 - 47,13%

Independência - Indeferido com recurso - Jose Silvestre Vieira - 8.117 - 49,37%

Itarema - Indeferido com recurso - Jose Stenio Rios - 10.012 - 45,42%

Jaguaribara - Indeferido com recurso - Edvaldo Almeida Silveira - 2.508 - 37,73%

Jijoca de Jericoacoara - Indeferido com recurso - Araújo Marques Ferreira 15 4.132 42,03%

Mombaça - Indeferido com recurso - Nelson Benevides Teixeira - 10.159 - 42,36%

Morada Nova - Indeferido com recurso - Glauber Barbosa Castro - 22.643 - 49,94%

Moraújo - Indeferido com recurso - José Juvêncio de Abreu - 2.652 - 48,13%

Mulungu - Indeferido com recurso - Francisco Cleanto Bezerra Uchôa - 781 - 11,58%

Pacajus - Indeferido com recurso - Auri Costa Araripe - 10.421 - 28,07%

Pacatuba - Indeferido com recurso - Renato Celio Chaves Rodrigues - 15.064 - 44,44%

Palmácia - Indeferido com recurso - Alexandre Martins Desidério - 147 - 2,01%

Piquet Carneiro - Indeferido com recurso - Maria Neuma Bezerra das Chagas - 2.991 - 33,67%

Quixelô - Indeferido com recurso - Gilson José de Oliveira - 4.818 - 45,67%

Santana do Acaraú - Indeferido com recurso - Roberto Carlos Farias - 9.118 - 45,17%

Tejuçuoca - Indeferido com recurso - João da Silva Mota Filho - 5.836 - 49,17%


Com informações do O Povo

8 de outubro de 2012

Eleições 2012: Delvamberto e Dedé Pio conseguem reeleição em Altaneira

DELVAMBERTO E DEDÉ PIO NO CALÇADÃO DEPOIS DO RESULTADO (FOTO - JOÃO ALVES)

O Município de Altaneira, na região do cariri, conheceu no final da tarde de ontem seu novo prefeito. O empresário Delvamberto Soares e seu vice, o comerciante Dedé Pio, ambos do PSB, no comando da prefeitura desde janeiro em virtude das eleições suplementares que se processaram em outubro de 2011, conseguiram a reeleição ao derrotar os oponentes Joaquim Rufino (PTB) e Marques Dorivam (PSDB), candidatos a prefeito e vice, respectivamente.

Dos quatro mil, novecentos e cinquenta e dois votantes (4. 952), Delvamberto obteve dois mil, seiscentos e cinquenta (2.650). O Tribunal Superior Eleitoral não computou e, ou, divulgou os votos obtidos pelo Professor Joaquim Rufino. Toda via, ainda no final da tarde de ontem foi divulgado pela equipe de comunicação da coligação Altaneira  de Todos que a maioria de Delvamberto foi de setecentos e cinquenta e seis votos (756).  Mais as informações eram um pouco desencontradas. Durante todo o dia desta segunda ainda estava incerta essa maioria. 

Segundo informações da coligação referida via rede social, esse número subiu chegando a alcançar setecentos e oitenta e dois votos (782), cento e vinte e um votos a menos quem ano passado, quando a maioria foi de novecentos e três (903). Pelos números o Professor Joaquim Rufino obteve hum mil, oitocentos e sessenta e oitos votos (1. 868).

Vale registrar que o índice de abstenções foi muito considerável.  Deixaram de votar novecentos e sessenta e seis eleitores (966) dos cinco mil, novecentos e dezoito (5. 918).

Em um balanço das eleições na região do cariri, pode-se verificar que dos 30 candidatos que disputavam as prefeituras, 16 concorriam à reeleição. Desse total, doze conseguiram o êxito. Nova Olinda, Gerlânio Sampaio (PSB), Santana do Cariri, Assaré, com Samuel Freitas (PT) e Juazeiro do Norte, Raimundo Macedo (PMDB) terão novos gestores. Potengi com Samuel (PCdoB), e, aqui, em Altaneira, o empresário Delvamberto Soares de Altaneira (PSB) estão no seleto grupo dos 12 que conseguiram a reeleição.

7 de outubro de 2012

Votação tranquila e lenta em Altaneira



É sabido que as urnas eletrônicas só estão liberadas para a votação a partir das oito horas (08h:00) da manha. Toda via, desde as sete horas (07h:00) já se tinha eleitores se dirigindo para os locais de votação no município de Altaneira, localizado na região do cariri, sul do Estado do Ceará.

Apesar do eleitorado ter que digitar somente nove teclas para concluir seu voto no vereador e no prefeito, o que em tese leva a um processo de votação bem mais rápido do que as eleições a nível estadual, não é o que está se percebendo neste ano. 

O primeiro tempo, ou melhor, até o meio dia o grande número de pessoas idosas e até mesmo de pessoas de idades que não se enquadram no perfil da terceira idade tem causado lentidão nas mais de vinte seções. Na Escola Joaquim Rufino que comporta as seções 001, 002, 003, tendo ainda a 004 agregada, quem chegou às oito horas, por exemplo, só conseguiu sair por volta das dez.

Pelo que se pode observar, algumas pessoas levavam até 10 minutos para conseguir votar em uma seção, vindo a ocasionar mais de cinquenta minutos na fila.  Além da lentidão, houve pequenos problemas. Um eleitor foi levado ao hospital, mas nada que tire, até o fechamento dessa postagem, a tranquilidade do processo eleitoral.

6 de outubro de 2012

Eleições 2012: Mais de cinco mil eleitores vão as urnas neste domingo para eleger os novos vereadores e o prefeito em Altaneira

ALTANEIRA - IMAGEM: FABRÍCIO FERRAZ


Os eleitores de todo o Brasil irão às urnas neste domingo, sete (07), para escolherem os novos componentes dos legislativos municipais bem como também seus novos gestores.

No município de Altaneira, localizado na região do cariri, sul do Estado do Ceará, mais de cinco mil eleitores irão digitar nove teclas no processo de escolha dos nove nomes que irão compor o legislativo e o novo prefeito e vice – prefeito. Ao todo o município dispõe de cinco mil novecentos e dezoito eleitores (5. 918)  aptos a votar distribuídos em vinte  cinco seções (25) segundo o Tribunal Regional Eleitoral – TRE.

Dezoito concorrentes disputam nove vagas na Câmara. Deste número a situação aparece com dez nomes, a saber: Alice Gonçalves, Robercivânia, ambas do PSB, Francisca Maurício, Lélia de Oliveira, Flávio Correia e Deza Soares, todo pelo PCdoB, Edezyo Jalled, Antonio Nevoeiro, Raimundinho e Antonio Leite. Estes últimos concorrem pelo PRB.

Do lado oposicionista aparecem o Professor Adeilton (PP), Antonio Henrique e Francisco Ponciano pelo (PV), Professor Gilson (PSL), Genival Ponciano e Fátima Teixeira, ambos pelo PTB, Zuleide Ferreira e Celiete, ambas pelo PSDB.

Disputam o cargo de gestor pela oposição da coligação Melhor para Todos o Professor Joaquim Rufino (PTB) e Marques Dorivam (PSDB), candidatos a prefeito e vice, respectivamente. Delvamberto Soares e Dedé Pio que fazem parte da coligação Altaneira de Todos vão em busca da reeleição pelo Partido Socialista Brasileiro - PSB.

Essa é a segunda vez em um ano que os altaneirense irão as urnas. Em outubro passado os munícipes passaram pelas eleições suplementares ocorrido devido à cassação dos gestores Antonio Dorival de Oliveira e Francisco Fenelon Pereira, prefeito e vice, por abuso do poder econômico. 

5 de outubro de 2012

Ficha Limpa ameaça quase três mil candidatos nestas eleições



Até o fim desta sexta-feira, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recebeu 6.535 recursos sobre registros de candidaturas para as eleições deste domingo, entre os quais 2.985 recursos relativos à Lei da Ficha Limpa. Segundo balanço da Corte, até agora 2.835 recursos já foram julgados com decisões favoráveis e contrárias aos candidatos.

Em relação aos 2.985 relativos à Lei da Ficha Limpa, 678 recursos já foram julgados, mas estão pendentes porque há recursos contra decisões, em sua grande maioria, dadas de forma individual pelo ministros (decisões monocráticas). Há outros 155 recursos da Lei da Ficha Limpa, que têm decisão definitiva do TSE.

O candidato que não conseguiu uma decisão definitiva em relação a seu registro de candidatura participa da eleição, mas só assumirá, se for eleito, depois de uma decisão definitiva da justiça em seu favor. Quando o registro é negado pelo TSE, o candidato pode receber os votos, mas eles não são computados. É preciso aguardar o julgamento final de seu caso. Quando o registro é garantido pelo TSE, mas ainda cabe recurso, os votos são computados, mas pode ser desconsiderados, se a decisão final não for favorável ao candidato. Normalmente, a decisão final do registro é dada pelo plenário do TSE. Mas há quem tente recorrer ao plenário do Supremo Tribunal Federal, instância final de recurso.

O Tribunal ainda divulgou que 395 cidades vão receber auxilio de forças federais. Apenas na sessão de ontem do tribunal, os pedidos por forças armadas feitos por 127 cidades foram votados ontem. Outros ainda podem ser decididos hoje.






































Fonte: Notícias Yahoo

4 de outubro de 2012

Leituras da Escravidão

Manolo Florentino


O historiador capixaba Manolo Florentino, docente do Instituto de História da UFRJ, é hoje uma das maiores referências em escravidão no Brasil. Sua obra mais famosa, “Arcaísmo como Projeto”, escrita em parceria com o historiador João Fragoso (UFRJ), se tornou leitura obrigatória entre estudantes de história e completa 20 anos em 2013. Na entrevista dada ao Café História, Florentino comenta sobre o sucesso do livro, mas vai muito além: fala de sua trajetória acadêmica, sobre suas mais recentes pesquisas e, claro, sobre o panorama dos estudos sobre escravidão no Brasil. Revela, por exemplo, que a historiografia brasileira sobre escravidão não gira apenas no que é produzido no “Eixo Rio-São Paulo”. Segundo o professor da UFRJ, “a novidade dos anos recentes tem sido o Norte e o centro Oeste”.
Manolo Florentino é especialista em escravidão no Brasil e na entrevista fala sobre a complexidade e a riqueza de interpretações que o tema oferece ao historiador.
Confira:
CAFÉ HISTÓRIA: Professor, o senhor cursou a graduação, o mestrado e o doutorado em um momento em que boa parte da intelectualidade, dos políticos e das pessoas em geral buscava repensar a experiência histórica brasileira (1977-1991). Escolher a escravidão como tema de especialização tem a ver com esse momento?

MANOLO FLORENTINO: Escolher graduar-me em História, sim, foi uma opção que certamente guardou alguma relação com a conjuntura política brasileira dos anos de chumbo. Naquela época, mais do que hoje, muitos dos jovens que elegiam estudar História ou outras ciências sociais faziam-no com a ingênua pretensão de adquirir instrumentos para melhor compreender o mundo – em particular o nosso país – e atuar. Eram tempos de maior engajamento, de maior “politização”, com enorme peso acadêmico das diversas vertentes do marxismo. Estava-se contra ou a favor e pronto, não precisava justificar. O ambiente era tão polarizado que, certa vez, reagindo de modo evidentemente pueril às noções de representação social dos então novos pós-modernistas, um de nossos mais famosos marxistas foi visto nos corredores de sua universidade dando socos na parede a gritar – “o real existe!, o real existe!”.

Mas se estudar história de algum modo resultou do clima cultural e político da época, eleger o escravismo como campo de especialização foi algo absolutamente fortuito. Me explico. No início dos anos 80 tive a chance de fazer mestrado no Colégio do México (Colmex), uma instituição de grande prestígio no âmbito acadêmico latino-americano. Recém-graduado, eu andava doido para sair do Brasil, não importando muito para onde nem para estudar o quê. Por então a Unesco buscava criar uma pós-graduação em Estudos Africanos em algum país da América Latina e o lugar óbvio deveria ser o Brasil. Creio que questões políticas levaram o projeto para o Colégio do México, e eu fui junto. Comecei a estudar a história social do tráfico atlântico de escravos de um ponto de vista africano, suas consequências econômicas, sociais etc. Anos depois, ao regressar ao Brasil, me dei conta de que a única maneira de utilizar o conhecimento acumulado em África era embrenhar-me pela escravidão brasileira. Em suma, adentrei a escravidão pela porta da África, uma África distante da cálida Mãe Preta que os mitos de origem insistiam em veicular, da qual os anos de estudo no exterior me ajudaram a esconjurar.

CAFÉ HISTÓRIA: Por muitos anos, o escravo apareceu em trabalhos de história apenas como uma peça no sistema colonial, alguém que se sujeitava a uma força muito maior que ele. Hoje, no entanto, sabemos que a realidade era bem diferente. O escravo fazia parte de uma rede bastante ampla, onde havia algum espaço para negociações. Mas o que exatamente isso quer dizer? A escravidão deve ser compreendida para além da violência e da coerção?

MANOLO FLORENTINO: Creio que a escravidão nos espanta porque atenta contra uma conquista muito recente da humanidade: os direitos do indivíduo. Talvez por isto uma parte de nossa historiografia opere em um registro abolicionista, como se ainda fosse necessário inventariar os horrores da escravidão para denunciá-los. Com isso se perde aquilo que, em minha opinião, representa um de seus aspectos mais intrigantes, que é o fato do escravismo se constituir uma ordem cultural extremamente estável e rica. Se lermos com atenção a Gilberto Freyre, observaremos que ser este um dos sentidos de sua observação segundo a qual a África civilizou o Brasil.

É claro que para a estabilidade do cativeiro colaboraram a violência e a coerção. Entretanto, a escravidão não era apenas uma relação de trabalho, mas também e principalmente uma relação de poder. Isso significa que sua reprodução se sustentava em grande medida na esfera política. Daí parecer-me tão importante aprofundar o estudo de instituições como a família escrava (um fator de ordem antropológica) e a incessante busca por parte dos escravos em obter algum controle sobre seu tempo de trabalho. Sobretudo em países como o Brasil, estratégias que levavam à formação de famílias e à adoção do trabalho por tarefas foram fundamentais para a acumulação de pecúlio e a obtenção da alforria. Aliás, observe-se que não temos ainda uma noção mais clara do peso demográfico das manumissões em nossa história, razão pela qual não sabemos se a população escravizada e liberta conhecia ou não índices positivos de reprodução natural, como ocorria em algumas áreas do sul dos Estados Unidos e em Barbados. Parece que isto também acontecia em Minas Gerais e no Espírito Santo. De todo modo, quanto mais descobrirmos regiões onde a população escrava e liberta obtinha saldos positivos de reprodução natural, mais nos afastaremos da demografia plantacionista devoradora de homens inventada por Joaquim Nabuco.

CAFÉ HISTÓRIA: A mobilidade social parece ser um dos temas mais interessantes e desafiadores para os historiadores que se debruçam sobre ao tema da escravidão no Brasil. A miscigenação foi a principal estratégia de mobilidade ou podemos citar outras?

MANOLO FLORENTINO: Eu diria que a miscigenação racial, um dos traços característicos do Brasil escravista, somente pode ser decifrada por meio da mobilidade social. Sabemos terem sido altas as taxas anuais de alforrias, sobretudo nas cidades, com amplo predomínio de manumissões de mulheres escravizadas. Semelhante perfil pode ter várias razões, mas para mim uma das principais era a clareza por parte dos escravos de que os filhos herdavam o estatuto jurídico das mães. Ora, uma vez na civitas, com quem se encontrava essa imensa quantidade de mulheres que ascendiam socialmente por meio das alforrias? Com seus maridos escravizados, que ajudavam a libertar, com alforriados com os quais se casavam, e com homens brancos pobres provenientes de norte de Portugal e das ilhas atlânticas, cujo número superava o de mulheres portuguesas em uma proporção que não raro alcançava 9 por 1. O que nossos historiadores demógrafos têm demonstrado é que se tratava de homens desvalidos cuja ilusão de enriquecer (“fazer o Brasil”) e regressar a Portugal se esvaía em poucos anos. Acabavam, pois, por se estabelecer definitivamente na colônia e exercitavam um critério de escolha matrimonial que dista um pouco do que Gilberto Freyre chamava de “plasticidade” sexual do homem lusitano: primeiro buscavam casar com as poucas portuguesas existentes, depois com as mulheres brancas nascidas na colônia; esgotados estes mercados matrimoniais, buscavam as mestiças e negras, inclusive as mulheres forras. Logo, na base de nossa miscigenação estaria a pobreza pura e simples, que promovia o encontro entre as cativas que alcançavam a civitas e os homens pobres de origem lusitana. A miséria partejou o nosso famoso “pardo”.

CAFÉ HISTÓRIA: O livro “O Arcaísmo como Projeto”, escrito pelo senhor e pelo professor João Fragoso (UFRJ), tornou-se uma obra de referência na historiografia brasileira. Uma de suas maiores contribuições foi compreender a economia colonial brasileira a partir de sua própria elite, a partir de sua lógica e de suas dinâmicas. Como a relação escravo-senhor se inscreve nesta perspectiva historiográfica?

MANOLO FLORENTINO: “O Arcaísmo como Projeto” ainda hoje me surpreende, especialmente por sua vitalidade teórica. Um dos problemas que na época de seu lançamento eu e Fragoso tentávamos compreender era a imensa capacidade de reprodução da economia colonial, sobretudo em fases B (de retração) do mercado internacional. A escravidão aparecia então como uma das variáveis centrais, na medida em que, por reproduzir-se por meio do tráfico atlântico, permitia acesso a trabalho barato. O cerne da questão radica na separação promovida pela produção social do escravo na África entre o valor do cativo enquanto ser de cultura e seu preço de mercado, baixo pois em geral tratava-se de um prisioneiro de guerra. O baixo preço de mercado do escravo se transmitia em cadeia através do Atlântico e chegava às fazendas e cidades da América portuguesa. Combinado ao ínfimo valor social da terra e dos alimentos, o reduzido custo social do escravo representava uma variável fundamental para o contínuo crescimento da economia colonial, independentemente das fases de retração do mercado internacional.

CAFÉ HISTÓRIA: Como foi a repercussão do lançamento deste livro no âmbito acadêmico, sobretudo por parte dos historiadores que tiveram suas teses contrariadas?

MANOLO FLORENTINO: Visávamos contrapor um modelo consistente à teoria da dependência, dominante na historiografia brasileira desde os escritos de Caio Prado Júnior. A julgar pela recepção do público, não nos saímos muito mal, e “O Arcaísmo como Projeto” é até hoje estudado em nossas graduações e pós-graduações em história. Sei que gerou algumas reações raivosas no plano estritamente paroquial, mas em geral foi muito bem recebido entre os especialistas em história econômica.

CAFÉ HISTÓRIA: “O Arcaísmo como Projeto” é um trabalho de fôlego produzido em dupla. O trabalho de equipe, entretanto, não tem sido visto com tanta frequência entre nós historiadores. Vemos muitos livros organizados por dois ou mais pesquisadores, mas não são exatamente a mesma coisa. Na sua opinião, escrever com outras pessoas é mais difícil? Como se deu essa dinâmica com o professor João Fragoso?

MANOLO FLORENTINO: Duas cabeças pensam melhor que uma, desde que haja sintonia. De minha parte, sempre gostei de trabalhar em equipe, pois as discussões são bem mais ricas. Reconheço entretanto não ser esta uma tradição intelectual brasileira, embora seja algo bem comum em países como os Estados Unidos e a Inglaterra, por exemplo.

CAFÉ HISTÓRIA: O senhor tem observado alguma tendência em trabalhos no campo da escravidão em trabalhos de pós-graduação? Talvez novos objetos ou abordagens?

MANOLO FLORENTINO: Se considerarmos, como já disse, que o caminho mais rico para se compreender a escravidão brasileira é encará-la como uma ordem cultural caracterizada por um enorme grau de estabilidade, é óbvio que a principal tarefa dos especialistas é romper com a polarização entre o cativeiro e a liberdade. Entre ambos os polos havia uma imensa gama de situações e combinações sociais possíveis. Por exemplo, estudando o caso do Paraná, a professora Cacilda Machado demonstrou que membros de uma linhagem de escravos podiam abandonar o cativeiro e duas ou três gerações depois seus descendentes regressavam à escravidão pela via do casamento com escravas. Eis uma perspectiva dinâmica de pesquisa, cujos resultados mostram claramente que a pobreza unia e direcionava inúmeros destinos pessoais. Outra linha de trabalho interessante tem sido desenvolvida por João José Reis, na Bahia, que busca acompanhar trajetórias de indivíduos alguma vez submetidos ao cativeiro. Seu livro sobre o liberto Domingos Sodré é um exemplo dos mais ricos de como a mobilidade social ascendente ocorria – o africano Domingos Sodré chegou ao Brasil escravo, conseguiu a alforria e morreu proprietário e cristão.

CAFÉ HISTÓRIA: Professor, Nos últimos anos, temos acompanhado um enorme debate público envolvendo as chamadas “ações afirmativas” no Brasil. Como o senhor enxerga esse tipo de política? Trata-se de um modelo importado? Alguns historiadores alertam que esse discurso gera um tipo de instrumentalização da história, sobretudo do tema da escravidão. O senhor concorda com essa crítica?

MANOLO FLORENTINO: Sem dúvida trata-se de um modelo de política pública importado mecanicamente, aspecto flagrante quando se compara a história das relações raciais nos Estados Unidos e no Brasil, onde os níveis de mobilidade social ascendente eram infinitamente maiores. Um exemplo de instrumentalização da história brasileira por parte dos adeptos das chamadas “ações afirmativas” é a própria noção de terras remanescentes de quilombos, cuja identificação está longe de ser fácil. Outro é o fato de que parcela expressiva de nossos pardos tem sido alocada ao grupo dos “negros”, quando na verdade derivam da mestiçagem entre brancos e indígenas – um tremendo etnocídio historiográfico, por certo.

CAFÉ HISTÓRIA: Em entrevista recente, o professor José Murilo de Carvalho (UFRJ) sublinhou que os principais trabalhos historiográficos sobre o Brasil continuam sendo feito a partir de um ponto de vista típico do “Eixo Rio-São Paulo”. E isso pode ser um problema. Podemos dizer que isso também ocorre nos trabalhos sobre escravidão? Se sim, por que isso acontece?

MANOLO FLORENTINO: Pode ser que isto ocorra em outros campos da historiografia, mas no que se refere à escravidão creio que a hegemonia do eixo Rio-São Paulo deva ser relativizada. Com a crescente disseminação dos cursos de pós-graduação, temos visto aparecerem excelentes trabalhos no sul do país, com destaque para o Rio Grande do Sul; no sudeste, os estudiosos da escravidão mineira e do Espírito Santo têm produzido teses e dissertações bem originais; o nordeste, em especial Bahia e Pernambuco, sempre foi um celeiro de boas pesquisas sobre cativeiro. A novidade dos anos recentes tem sido o Norte e o Centro Oeste, onde também aparecem trabalhos originais. Mas eu gostaria de ressaltar uma importante distinção teórica, estabelecida desde fins da década de 1960 pelo historiador Moses Finley, que ainda pode ser útil para quem estuda escravidão fora do eixo Rio-São Paulo e nordeste. De acordo a Finley, uma sociedade escravista é aquela em que a reprodução sociológica do lugar social da elite se dá mediante a renda acumulada com o trabalho escravo. Nos casos em que há escravos na população, mas a reprodução do lugar social da elite se dá por outros meios, teríamos apenas uma sociedade possuidora de escravos. Ou seja: escravista é toda sociedade em que a utilização do trabalho escravo serve para estabelecer s diferenciação entre os homens livres. Trata-se de uma perspectiva interessante, pois a natureza escravocrata de uma sociedade deixa de ser resultado da quantidade de cativos existentes ou, mesmo, da importância do setor da economia que eles ocupam, e passa a derivar de um movimento sociológico. Desconfio que entre os séculos XVI e XIX vastas áreas da América portuguesa configuravam regionalmente apenas sociedades possuidoras de escravos.

CAFÉ HISTÓRIA: Professor, muito obrigado por conversar com o Café História. Para finalizar nosso papo, uma curiosidade: o senhor está se dedicando a quais trabalhos atualmente?

MANOLO FLORENTINO: Tenho batalhado para traçar algumas características da comunidade de islamitas negros que se formou no Rio de Janeiro depois do levante Malê de 1835 na Bahia. É uma reconstituição difícil porque eles tendiam a manter certo sigilo sobre a sua identidade religiosa e, em 1904, de acordo a João do Rio, praticamente haviam desaparecido. Tomara que eu tenha sorte.


Fonte: Café História

No encerramento da campanha o Vereador e candidato a reeleição Deza reforça suas propostas

Deza (PCdoB), o 3º da direita para a esquerda. Foto: Micirlândia


Restando poucos dias para se conhecer os novos gestores municipais em todo o Brasil, a coligação ALTANEIRA DE TODOS formada pelas agremiações PSB, PT, PCdoB e PRB que apoia a reeleição de Delvamberto Soares e Dede Pio, ambos do Partido Socialista Brasileiro – PSB, candidatos a prefeito e vice, respectivamente, encerrou os trabalhos da campanha na noite de ontem (03), como um grande arrastão e um comício no calçadão, localizado no centro da cidade.

O evento teve início com uma concentração no ginásio poliesportivo a partir das 19:00, onde já se podia notar grande animosidade dos participantes que se efetivou em carreatas, algumas pessoas a pé, vindo a desembocar no calçadão.

Na oportunidade, discursaram o assessor jurídico da referida coligação e ex – gestor do município de Farias Brito, o Dr. José Maria, o candidato a prefeito de Assaré Samuel Freitas (PT), o Presidente do PMDB Adevaldo Arrais, todos frisando a importância de reeleger para prefeito de Altaneira o empresário Delvamberto Soares.

Dentre os candidatos ao parlamento municipal destaque para as palavras de Deza Soares (PCdoB) que tenta o seu quarto mandato. No ensejo ele ressaltou a sua intenção em continuar na Câmara e reforçou a sua trajetória política, onde se enquadra entre os parlamentares que mais apresentaram matérias, se tornando assim, o mais atuante, inclusive nesse último mandato.  Desta feita, Deza fez um breve levantamento de algumas propostas na qual irá fazer parte da sua luta nesse mandato 2013/2016, como por exemplo, ampliar o plano habitacional, na qual o mesmo tem matérias que faz referência a distribuição de forma criteriosa das casas e principalmente,  um dos maiores projetos, também de sua autoria, dizendo respeito a urbanização e revitalização da lagoa santa Tereza.

Para Deza esse último projeto fará com que se gera emprego e renda para os munícipes, além de colocar Altaneira na rota turística que é um dos principais pilares dessa nova administração. Encerrou o discurso agradecendo o apoio dos que estão fazendo a sua campanha crescer e fez menção ao seu plano de trabalho disponível nas redes sociais.

Acompanhe o plano de trabalho do Vereador Deza aqui