Um
projeto arqueológico em Gurupá, na ilha do Marajó, surpreendeu pesquisadores
com evidências de novos contatos entre os povos da Amazônia. Através de
escavações e coleta de materiais, os arqueólogos encontraram peças com estilos
diferentes das cerâmicas tapajônica e marajoara, indicando que as civilizações
que viviam na floresta antes do descobrimento interagiam com mais povos do que
se pensava.
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Cerâmica encontrada em Guarupá tem traços do estilo Kariabo, encontrada em povos mais ao norte do Pará. Foto; Acervo Projeto OCA/MPEG. |
"Sabemos que a comunicação do passado
pre-colonial seguia o fluxo do rio. O Amazonas era uma grande avenida, mas o
que está nos surpreendendo é a ausência de semelhanças estilísticas entre a
cerâmica encontrada em Gurupá e as peças do restante do Marajó e de Santarém. A
semelhança é com artesanato Koriabo, que aparece nas Guianas e no Amapá",
explica a arqueóloga Helena Lima, coordenadora do projeto Origens, Cultura e
Ambiente (OCA).
De
acordo com a pesquisadora, a semelhança entre a cerâmica de Gurupá e de
civilizações ao norte do estado do Pará fizeram com que os arqueólogos
debatessem a possibilidade da interação entre povos que não são ligados pelos
grandes rios. "Percebemos
semelhanças muito fortes, então começamos a discutir o baixo Amazonas como área
de intenso fluxo estilístico, de idéias e estilos em sentido norte-sul ou
sul-norte", disse. "É
absolutamente viável pensar em comunicação fora do fluxo dos grandes rios",
afirma.
Tesouro oculto
Segundo
o Museu Goeldi, desde o século XIX o arquipélago do Marajó serve como
referência para pesquisa sobre as culturas da região antes da chegada dos
portugueses. Apesar disso, o projeto OCA é a primeira iniciativa a explorar o
potencial de Gurupá.
"O município de Gurupá, embora tenha
potencial arqueológico muito grande, com mais de 50 sítios, nunca havia sido
pesquisado. Houve um inventário do Iphan realizado em parceria com a Ufpa entre
os anos de 2008 e 2009 que resultou em uma publicação de um livro que já
apontava uma cerâmica diferente das demais culturas amazônicas, não relacionada
com conjuntos conhecidos", explica Helena Lima, coordenadora do projeto
, realizado pelo Museu Emílio Goeldi.
Riqueza ameaçada
A
cidade de Gurupá está localizado entre os Xingu e Amazonas, no arquipélago do
Marajó. O município possui pouco mais de 31 mil habitantes de acordo com o
censo do IBGE, e tem abundância de sítios arqueológicos espalhados pela Reserva
Ambiental de Jacupi, um local que desperta interesse de madeireiros e
loteadores.
Entre
os materiais coletados, os pesquisadores encontraram cerâmicas, carvões e
amostras de solo de diversas épocas. Há vestígios de povos desde antes da
chegada dos europeus à Amazônia até períodos mais recentes. Os itens foram
trazidos para a Reserva Arqueológica do Museu Goeldi onde são analisados.