Em
2009, o presidente da república em exercício, José Alencar, sancionaria a lei
que instituiu o Dia do Historiador. A data, 19 de agosto, foi escolhida para
homenagear o nascimento de Joaquim Nabuco (1849-1910). Filho do senador Nabuco
de Araújo, proveniente de uma família tradicional de Pernambuco, Nabuco
encarnava o modelo de homem admirado e invejado na época. Mesmo sem possuir
fortuna, o diplomata, político e homem de letras tinha uma formação intelectual
sólida, boas maneiras, beleza e estava sempre elegante, em harmonia com as
modas que dominavam os salões mais refinados.
Nabuco
afirmou: “A escravidão permanecerá por
muito tempo como a característica nacional do Brasil”. Infelizmente, ele
estava certo. Essa frase tem sido bastante lembrada até os dias de hoje quando
se discutem questões centrais da nossa sociedade, como racismo, trabalho
doméstico, cotas, segurança pública. Amigo de D. Pedro II, Nabuco ficou
conhecido pela atuação na campanha abolicionista e seus belos discursos na
Câmara dos Deputados. Mas, não apenas por isso. O Correio do Povo, na ocasião
de sua morte, informava que ele era considerado “o moço mais belo do Rio de Janeiro, no período de 1864 a1880,
constituindo-se um verdadeiro árbitro da elegância e encantando as mulheres com
seus dotes excepcionais da sua formosura física e com o deslumbrante prestígio
de seu valor intelectual. A sua entrada num teatro ou salão de baile produzia
sensação entre as damas, que todas elas o admiravam e muitas delas o amavam…”.
Passou
os primeiros anos de vida, entre os canaviais que faziam a riqueza de
Pernambuco e os cativos que ali trabalhavam. Desde cedo aprendeu a detestar a
escravidão. Era conhecido como “o iôiô
que não castigava escravos”. Entre
1858 e 1870, estudou nas melhores escolas, inclusive o Colégio Pedro II,
preparando-se para ir para São Paulo. Queria estudar Direito, nas Arcadas.
Datam desta época os primeiros escritos contra a escravidão e sua ligação com o
jovem poeta baiano, Castro Alves, autor do célebre poema “Navio Negreiro”. Ali,
também conheceu Rui Barbosa e os futuros presidentes Rodrigues Alves e Afonso
Pena.
Joaquim
Nabuco voltou ao Recife para terminar os estudos e escandalizou a Província ao
defender, no tribunal de Olinda, um escravo duplamente homicida: o negro Tomás.
O processo fez história, pois Nabuco não mediu palavras: o responsável pelo
crime? A violência da própria escravidão! Recife reagia chocada. O ambiente
conservador e rígido da cidade, iria transformá-lo num radical.
Um
caso amoroso com certa senhora casado foi o estopim para o início da carreira
diplomática. Em 1876, seguiu para Washington como adido diplomático. Mas não se
adaptou ao jeito americano de viver. De lá, foi para Londres, trabalhar no
escritório da legação diplomática brasileira. Nabuco tinha admiração pelas
instituições políticas inglesas e a cultura francesa. Em 1878, faleceu seu pai,
o famoso senador Nabuco de Araújo e ele voltou ao Brasil. Tinha início a sua
carreira política.
Foi
eleito em 1878, derrotado em 1881 e reeleito em 1884. A plataforma eleitoral se
chocava com os interesses dos senhores de escravos. Sua bandeira: “guerra à escravidão”. A ela se somavam
outras ideias como liberdade religiosa e liberalismo. Ligou-se ao abolicionista
André Rebouças e junto com outros intelectuais fundou O Abolicionista, folha
mensal para a qual colaborava. No meio tempo, voltou à Londres, de onde
escreveu um livro-propaganda, O Abolicionismo, onde denunciava as mazelas do
sistema. Em 1886, com a volta dos conservadores ao poder, Nabuco não conseguiu
se eleger. Afastou-se, então, da vida política e passou a colaborar com o
Jornal do Comércio, a convite de Quintino Bocayuva.
Em
1887, ele foi a Roma. Em visita ao Papa Leão XIII, pediu apoio para a causa
abolicionista. Nabuco sabia das ligações da princesa Isabel com o papado e
achou que esta seria uma boa forma de pressionar a família imperial. Resposta de Leão XIII: “O que lhe toca, toca também ao coração da Igreja”. De volta ao
Brasil, Nabuco ajudou ao chefe do gabinete conservador, João Alfredo de
Oliveira, apressar a Abolição.
Em
1889, Joaquim Nabuco casou-se. Afastado da vida política, pode dedicar-se à
doméstica. Tinha uma enorme nostalgia dos tempos do Império. A República,
frustrou a muitos liberais e ele foi um dos decepcionados. Recusava-se a
participar do novo regime político até que foi convidado a defender o Brasil
numa disputa diplomática com a Inglaterra. O tema? As fronteiras das Guianas.
Embora tenha perdido a questão, se tornou o chefe da legação brasileira em
Londres (1900-1905) e depois o primeiro embaixador brasileiro nos EUA
(1905-1910). Ali, abraçou e defendeu a causa do “pan-americanismo” – a
integração entre as Américas, visando à aliança mais estreita entre Brasil e
EUA. Em 1909, registrou: “Não fui feito
para velho”.
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Imagem/ Divulgação. |