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Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Luiz Gama


Em 23 de setembro de 1870, 12 anos antes de sua morte, em São Paulo, Luiz Gama legava como herança para o seu único filho, Benedito Graco Pinto da Gama, conselhos e exemplos de vida de um homem que fez de sua existência na terra uma luta constante e incansável pela abolição da escravidão e pelo fim da monarquia no Brasil. No século XIX, ser negro não era necessariamente sinônimo de ser escravo. Havia africanos livres que vieram para terras brasileiras por conta do comércio transatlântico e aqui viviam, alguns aqui nasciam e permaneciam livres e outros tantos que conseguiram comprar a própria liberdade e até mesmo provar na Justiça que eram livres. Luiz Gama, paradoxalmente, viveu essas duas realidades.

No rol dos brasileiros esquecidos, negligenciados pela historiografia, despontou, durante muitos anos, Luiz Gama. Graças, no entanto, ao esforço de intelectuais, pesquisadores e instituições, felizmente esse cenário vem mudando nos últimos anos.

Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em Salvador, Bahia, em 21 de julho de 1830, filho de uma negra livre, Luíza Mahin, e de um fidalgo branco de origem portuguesa (cujo nome jamais citou). Gama veio ao mundo na condição de negro livre. Sua mãe, segundo ele mesmo conta, participou da Revolta dos Malês, em 1835, a maior rebelião de escravos do Brasil, e da Sabinada, em 1837, que proclamou a República Bahiense, era uma verdadeira revolucionária. Devido à participação nessas revoltas, Luiza teve que fugir para o Rio de Janeiro, deixando Gama aos cuidados do pai e sem qualquer informação posterior sobre ela. Por um ano, Luiz Gama viveu sob os cuidados do pai, que o vendeu quando contava dez anos de idade, na condição de escravo, segundo consta, para pagar dívidas de jogo. Foi assim que, da noite para o dia, um ser humano livre e dono de si, tornou-se uma “peça”, um escravo. Daí iniciou a trajetória de superação que faria de Luiz Gama um exemplo para negros e brancos na sua luta obstinada pelo fim da escravidão.

Na condição de escravo, Gama fora contrabandeado para o Rio de Janeiro onde foi vendido ao negociante, contrabandista e alferes, Antônio Pereira Cardoso e levado para ser revendido em São Paulo. O fato de ser baiano fazia de Gama um escravo indesejado onde quer que fosse colocado à venda. A história de revoltas de escravos na Bahia dava aos negros vindos de lá o título de revoltosos e insubordinados. Foi assim que, não conseguindo vender a criança e outro escravo também baiano a nenhum fazendeiro no estado de São Paulo, restou a Antônio Cardoso levá-los para a sua própria fazenda. O jovem Luiz aprendeu a trabalhar como copeiro e sapateiro, a lavar e consertar roupas.

Aos dezoito anos de idade, Luiz Gama aprendeu a ler e escrever com a ajuda do jovem Antônio Rodrigues do Prado Júnior, que se hospedava na casa de seu senhor. Nessa idade, Gama conseguiu “secretamente”, segundo ele, as provas de sua liberdade. Foge da casa do seu dono e ingressa na Marinha de Guerra, na qual serviu por 6 anos, alcançando a patente de cabo-de-esquadra. Após ato de insubordinação a um oficial, nas suas palavras, insolente, Gama ficou 39 dias preso, sendo expulso em seguida daquela força. Em 1856, torna-se amanuense  da Secretaria de Polícia da Província de São Paulo. Gama frequentou, por algum tempo, como ouvinte, a Faculdade de Direito de São Paulo, onde sofreu preconceito e repulsa de professores e estudantes, à época todos brancos e quase sempre de origem aristocrática. Sem diploma de bacharel em Direito, torna-se um rábula  e liberta, pela via judicial, mais de 500 escravos do cativeiro. Um feito sem igual na história mundial da advocacia Quando não conseguia libertar um escravo nos tribunais, comprava a alforria com dinheiro arrecadado por ele mesmo através de esmolas, às vezes com a ajuda dos irmãos da Maçonaria ou dos membros do Círculo Operário Italiano.

Poeta, Luiz Gama lança, em 1859, o livro Primeiras Trovas Burlescas, conjunto de poemas líricos e de crítica social e política. A partir da década de 1860, passou a contribuir ativamente em vários jornais da imprensa paulista, entre eles o Diabo coxo (1864-1865) e Cabrião (1866-1865), primeiros periódicos ilustrados de São Paulo, os quais ele ajudou a fundar. Durante sua vida, sempre utilizou da imprensa em prol da causa abolicionista e republicana.

O prestígio de Gama, amealhado por conta das suas sucessivas vitórias nos tribunais na libertação de cativos, muitos escravizados ilegalmente, ultrapassou as fronteiras de São Paulo atraindo escravos de outras províncias. Nesse período, ele ganhou o epíteto “O terror dos fazendeiros”. Junto ao título de libertador vieram as ameaças de morte por parte daqueles que se sentiam incomodados com a ação de Gama. Foram essas ameaças que o levaram a escrever a carta- herança a seu filho em 1870.

Na esfera política, a luta de Gama caracterizou-se pela defesa de uma república brasileira, os “Estados Unidos do Brasil”. Fez parte da Convenção de Itú em que fora criado o Partido Republicano Paulista (PRP). Consciente de que naquele espaço dominado por fazendeiros e senhores de escravos suas ideias abolicionistas não encontrariam apoio, passou a denunciá-los e condená-los de todas as formas. Apesar das decepções com o PRP, Gama continuou fiel às ideias republicanas.

Com o passar dos anos, o vigor mental do revolucionário abolicionista permanecia irretocável, todavia o seu corpo não mais respondia com tanta vontade. Em 1882, o diabetes já dificultava sua locomoção. Na manhã de 24 de agosto daquele mesmo ano, Gama perdeu a fala e, mesmo diante dos esforços de mais de vinte médicos, faleceu naquela mesma tarde, aos 52 anos de idade.

Nunca antes tinha se visto tamanha quantidade de pessoas em um cortejo fúnebre na cidade de São Paulo. As ruas foram enfeitadas como nas mais importantes datas festivas do ano e o comércio cerrou as portas em sinal de luto. Brancos, negros, pobres e ricos, anônimos e figuras ilustres, muitos foram aqueles que acompanharam o féretro de Luiz Gama. Entre paradas e discursos, o povo conduziu o corpo do herói abolicionista por mais de três horas, de sua casa, onde esteve sendo velado, até o Cemitério da Consolação. Sobre o seu caixão, juraram todos manter viva a luta em favor da abolição da escravidão e pelo fim da monarquia.

Luiz Gama legou à causa antiescravagista o Centro Abolicionista, com forte participação de seu amigo Antônio Bento, que tinha como presidente Alcides Lima. Alguns dias antes de sua morte, foi publicado o primeiro jornal do Centro, o Ça Ira, em 19 de agosto de 1882. No jornal, um artigo de Raul Pompéia tinha como subtítulo a frase de Gama: Perante o Direito, é justificável o crime de homicídio perpetrado pelo escravo na pessoa do senhor.

Sob a inspiração e influência de Luiz Gama, seu amigo, o advogado e maçom Antonio Bento de Souza e Castro organizou os Caifazes, movimento radical de libertação de escravos, que organizava fugas coletivas de escravos das fazendas e os encaminhava para o quilombo do Jabaquara, nas cercanias da cidade de Santos.

Luiz Gama, poeta, jornalista e advogado, defensor dos oprimidos, pobre por opção, é o patrono da cadeira nº 15 da Academia Paulista de Letras.


Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Lima Barreto


Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu em 1881 na cidade do Rio de Janeiro. Enfrentou o preconceito por ser mestiço durante a vida. Ficou órfão aos sete anos de idade de mãe e, algum tempo depois, seu pai foi trabalhar como almoxarife em um asilo de loucos chamado Colônia de Alienados da Ilha do Governador.

Concluiu o curso secundário na Escola Politécnica, contudo, teve que abandonar a faculdade de Engenharia, pois seu pai havia sido internado, vítima de loucura, e o autor foi obrigado a arcar com as despesas de casa.

Como leu bastante após a conclusão do segundo grau, sua produção textual era de excelente qualidade, foi então que iniciou sua atividade como jornalista, sendo colaborador da imprensa. Contribuiu para as principais revistas de sua época: Brás Cubas, Fon-Fon, Careta, etc. No entanto, o que o sustentava era o emprego como escrevente na Secretaria de Guerra, onde aposentaria em 1918.

Não foi reconhecido na literatura de sua época, apenas após sua morte. Viveu uma vida boêmia, solitária e entregue à bebida. Quando tornou-se alcoólatra, foi internado duas vezes na Colônia de Alienados na Praia Vermelha, em razão das alucinações que sofria durante seus estados de embriaguez.

Lima Barreto fez de suas experiências pessoais canais de temáticas para seus livros. Em seus livros denunciou a desigualdade social, como em Clara dos Anjos; o racismo sofrido pelos negros e mestiços e também as decisões políticas quanto à Primeira República. Além disso, revelou seus sentimentos quanto ao que sofreu durante suas internações no Hospício Nacional em seu livro O cemitério dos vivos.

Sua principal obra foi Triste fim de Policarpo Quaresma, no qual relata a vida de um funcionário público, nacionalista fanático, representado pela figura de Policarpo Quaresma. Dentre os desejos absurdos desta personagem está o de resolver os problemas do país e o de oficializar o tupi como língua brasileira.

Vejamos um trecho de Triste fim de Policarpo Quaresma:

(...)

Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, língua originalíssima, aglutinante, é verdade, mas a que o polissintetismo dá múltiplas feições de riqueza, é a única capaz de traduzir as nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa natureza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais e cerebrais, por sua criação de povos que aqui viveram e ainda vivem, portanto possuidores da organização fisiológica e psicológica pare que tendemos, evitando-se dessa forma as estéreis controvérsias gramaticais, oriundas de uma difícil adaptação de um língua de outra região à nossa organização cerebral e ao nosso aparelho vocal – controvérsias que tanto empecem o progresso da nossa cultura literária, científica e filosófica.”
(...)

Lima Barreto faleceu no primeiro dia do mês de novembro de 1922, vítima de ataque cardíaco, em razão do alcoolismo.

Obras

Romance: Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909); Triste fim de Policarpo Quaresma (1915); Numa e a ninfa (1915); Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919); Clara dos Anjos (1948).

Sátira: Os bruzundangas (1923); Coisas do Reino do Jambom (1953).

Conto: História e sonhos (1920).


Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: João Cândido – O “Almirante Negro”


João Cândido Felisberto nasceu no Rio Grande do Sul, no dia 24 de Junho de 1880. Seus pais eram escravos, ele desde pequeno ele costumava acompanhar seu pai quando este viajava conduzindo o gado.

João Cândido começou sua participação política cedo, aos 13 anos apenas, quando lutou a serviço do governo na Revolução Federalista do Rio Grande do Sul, no ano de 1893. Com 14 anos se alistou no Arsenal de Guerra do Exército e com 15 entrou para a Escola de Aprendizes Marinheiros de Porto Alegre. Cinco anos depois foi promovido a marinheiro de primeira classe e com 21 anos, em 1903, foi promovido a cabo-de-esquadra, tendo sido depois novamente rebaixado a marinheiro de primeira classe por ter introduzido no navio um jogo de baralho. Serviu na Marinha do Brasil por 15 anos, tempo durante o qual viajou por este e outros países.

Participou e comandou a Revolta dos Marinheiros do Rio de Janeiro (Revolta da Chibata) no ano de 1910, movimento que trouxe benefícios aos marinheiros, com o fim dos castigos corporais na Marinha, mas que trouxe prejuízos a João Cândido, que foi expulso e renegado, vindo a trabalhar como timoneiro e carregador em algumas embarcações particulares, sendo depois demitido definitivamente de todos os serviços da Marinha por intervenção de alguns oficiais.
Só recentemente João Cândido saiu da condição de personagem esquecido da historiografia oficial para o papel de protagonista. 

Em 2008, uma lei finalmente concedeu anistia póstuma a ele e a outros marinheiros. A reparação, porém, foi incompleta. No ano do centenário da Revolta da Chibata, João Cândido e os outros revoltosos continuam sem as devidas promoções e seus familiares sem receber indenização – como aconteceu com os que resistiram à ditadura militar, por exemplo. Os prejuízos com a expulsão da Marinha não foram compensados. “Sinto como se meu pai ainda fosse um renegado e não um herói”, diz Adalberto Cândido, o Candinho, 71 anos, filho de João Cândido. As comemorações pelos 100 anos da Revolta da Chibata não o animam. “Homenagens são bonitas, mas não enchem barriga”, desabafa Candinho.

Os grandes brasileiros podem ser figuras pouco comentadas nas salas de aula, esquecidas dos livros e da memória das pessoas. Mas alguns deles aparecem na música popular, mesmo que de forma sutil. É o caso de João Cândido Felisberto, militar brasileiro que liderou a Revolta da Chibata no ano de 1910. E a música, de autoria de Aldir Blanc e João Bosco, se chama O mestre-sala dos mares – o nome originalmente seria Almirante Negro, porém precisou ser alterado porque a censura julgou que ofenderia as Forças Armadas. Interpretada por Elis Regina, a letra diz:

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu.
Conhecido como o navegante negro tinha a dignidade de um mestre-sala.

No ano de 1917, ano em que sua primeira esposa faleceu, começou a trabalhar como pescador para sustentar a família, vivendo na miséria até os seus últimos dias de vida. Casou-se novamente, mas sua segunda esposa cometeu suicídio no ano de 1928. Dez anos depois a tragédia voltaria a acontecer, mas desta vez com uma de suas filhas. Ao todo foram três casamentos, tendo o último durado até o fim de sua vida, dia 06 de Dezembro de 1969.

Atuou na política durante toda a sua vida. Durante o governo de Vargas teve contato com o líder da Ação Integralista Brasileira (AIB) e com o Partido Comunista, chegou a ser preso por suspeita de relacionamento com os integrantes da Aliança Liberal e até o fim da sua vida continuou sendo “vigiado” pelas autoridades, sendo acusado de subversivo.

O “Almirante Negro”, como João Cândido ficou conhecido, morreu aos 89 anos e teve ao todo 11 filhos ao longo dos três casamentos. Faleceu na cidade de São João do Meriti, no Rio de Janeiro.




Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Grande Otelo


Grande Otelo, pseudônimo de Sebastião Bernardes de Souza Prata foi um famoso ator e compositor brasileiro, o qual ficou conhecido principalmente pela sua participação em filmes e comédias nos anos 1940/1950/'960.

Grande Otelo nasceu na cidade de Uberlândia, no estado de Minas Gerais (Brasil), sendo nesse local que conheceu uma companhia de teatro mambembe e foi embora com eles, com o consentimento da diretora do grupo, Abigail Parecis, que o levou para São Paulo.

Otelo então voltou a fugir, e foi parar no Juizado de Menores, onde foi adotado pela família do político Antonio de Queiroz.

Otelo estudou então no Liceu Coração de Jesus até a terceira série ginasial.

Participou na década de 1920 da Companhia Negra de Revistas, que tinha Pixinguinha como maestro.

Foi em 1932 que entrou para a Companhia Jardel Jércolis, um dos pioneiros do teatro de revista.

Foi nessa época que ganhou o apelido de Grande Otelo, como ficou conhecido.

No cinema, participou em 1942 do filme "It's All True", de Orson Welles.

Orson Welles considerava Grande Otelo o maior ator brasileiro.

Otelo fez inúmeras parcerias no cinema, sendo a mais conhecida a com Oscarito.

Depois os produtores formariam uma nova dupla dele com o cômico paulista Ankito.

No final dos anos 50, Grande Otelo apareceria em dupla em vários espetáculos musicais e também no cinema com Vera Regina, uma negra alta com semelhanças com a famosa dançarina americana Josephine Baker.

Com o fim da dupla com Vera Regina, Otelo passaria por um período de crise até que voltaria ao sucesso no cinema com sua grande atuação do personagens título de Macunaíma (1969), filme baseadao na obra de Mário de Andrade.

Participou também do filme de Werner Herzog, Fitzcarraldo, de 1982, filmado na floresta amazônica.

Teve cinco filhos, um deles o também ator José Prata.

A partir dos anos 1960 Otelo passou a ser contratado da TV Globo, onde atuou em diversas telenovelas de grande sucesso, como "Uma Rosa com Amor", entre várias outras.
Também trabalhou no humorístico Escolinha do Professor Raimundo, no início dos anos 1990.

Seu último trabalho foi uma participação na telenovela Renascer, pouco antes de morrer.
Grande Otelo morreu em 1993 de um ataque do coração fulminante, quando viajava para Paris para uma homenagem que receberia no Festival de Nantes.

Grande parte do Acervo Grande Otelo, recebido oficialmente pela Fundação Nacional da Arte (FUNARTE) em dezembro de 2007.

O acervo de Grande Otelo encontrava-se há vários anos em um apartamento da Tijuca, guardado em caixas de papelão, nas quais foram descobertos manuscritos, livros de autoria do ator, e outros com dedicatórias de amigos e personalidades reconhecidas da cultura brasileira; letras de música compostas por ele e parcerias, discos em vinil, fitas-cassete com os mais variados conteúdos (entrevistas, músicas e programas apresentados pelo artista); prêmios e homenagens (troféus, placas, diplomas e certificados) recebidos durante a sua carreira, roteiros de cinema, TV, teatro, rádio, shows, partituras, correspondências, livros, monografias, poemas, fotos, obras de arte, recortes de jornais e revistas.
O trabalho de restauração e catalogação do material se iniciou em 2004.

O material catalogado foi fundamental para o conteúdo do Projeto 90 anos de Grande Otelo, fornecendo informações inéditas sobre o ator para a biografia feita pelo escritor Sérgio Cabral, um site, um documentário e um espetáculo teatral.

Após o término do projeto, o acervo restaurado, higienizado e digitalizado foi entregue oficialmente à Funarte.

Grande Otelo morreu em 26/11/1993 com 78 anos de idade em Paris - França, vítima de infarto fulminante.


Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Dragão do Mar (Chico da Matilde)


Francisco José do Nascimento, Dragão do Mar ou Chico da Matilde, foi o líder dos jangadeiros nas lutas abolicionistas. Ele nasceu no dia 15 de abril de 1839, há 160 anos, em Canoa Quebrada, Aracati.

Chico da Matilde, como era conhecido, juntamente com seus companheiros, impediram o comércio de escravos nas praias do Ceará. Seu avô antecipara seu destino: fora engolido pelo mar em sua jangada. Já o pai de Francisco José do Nascimento o "Dragão do Mar", morrera no oceano dos seringais amazônicos. Sua mãe, Matilde Maria da Conceição, o criará em meio a muitas dificuldades. Assim, "Chico da Matilde", se viu, desde cedo, envolvido no cotidiano do litoral. Foi garoto de recados, em veleiro chamado de Tubarão.

Só aos 20 anos de idade que Chico aprendeu a ler. Jangadeiro, considerado o maior herói a favor da libertação dos escravos no Ceará. Em 1859 trabalhou nas obras do Porto de Fortaleza e iniciou o trabalho como marinheiro em um navio que fazia a linha Maranhão - Ceará.

O revolucionário mulato de Canoa Quebrada, em 1874 foi nomeado prático da Capitania dos Portos convivendo com o drama do tráfico negreiro, se envolve na luta pelo abolicionismo, e uma de suas principais atitudes foi o fechamento do Porto de Fortaleza, assim impedindo o embarque de escravos para outras províncias. Em vigília, localizava alguma embarcação que entrasse no Porto do Mucuripe e conduzia sua jangada até ela para comunicar o rompimento do tráfego negreiro no Estado. A história registrou seu brado literário.

"Não há força bruta neste mundo que faça reabrir o Porto ao tráfico negreiro. E, sob sua liderança, os jangadeiros cearenses abriram as velas de suas embarcações, na recepção de José do Patrocínio, em 1882"

Não foi à toa, que ele estava na sessão da Assembléia, em 24 de maio de 1883, quando Fortaleza libertou seus escravos. Em 25 de março de 1884, acontece a libertação de todos os escravos da província. O que não concluiu suas lutas.

Em 3 de março de 1889, reassume o cargo de prático, por ordem do imperador,cargo esse que havia perdido com o envolvimento nas lutas abolicionistas, assim tornando-se Major Ajudante de Ordens do Secretário Geral do Comando Superior da Guarda Nacional do Estado do Ceará.

O que não o impede de casar-se com a sobrinha de João Brígido, Ernesta Brígido, em 1902. Defendia a participação da mulher na sociedade cearense, que insistia em dar mostras de conservar intacto o seu racismo. Dois anos depois, revolta-se contra a indicação, por sorteio, de chefes de família para a prestação de serviços militares, quando apenas os negros haviam sido sorteados.

Seu poder de liderança volta a ser constatado: promove uma greve dos trabalhadores de embarcações, mesmo sob as ameaças do governador Pedro Borges. Um morto e mais de 90 feridos cobram justiça em frente ao Palácio da Luz. O governador manda dispensar os rebeldes, mas a imponência do Dragão do Mar é mais convincente, marcando seu último ato de bravura, antes de falecer, cinco anos depois, em 6 de março de 1914.

Francisco José do Nascimento é considerado, portanto,  o maior herói popular pela da libertação dos escravos no Estado do Ceará.


Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Ernesto Carneiro


Ernesto Carneiro Ribeiro foi um médico, professor, linguista e educador brasileiro, conhecido entre os historiadores brasileiros, por exemplo, pela polêmica mantida com Ruy Barbosa, seu ex-aluno, acerca da revisão ortográfica do Código Civil Brasileiro.

Ele nasceu na Ilha de Itaparica, na Baía de Todos os Santos, onde aprendeu os primeiros fundamentos educacionais. Mudou-se para a Capital, onde estudou humanidades, preparatórias para a Faculdade de Medicina da Bahia, onde se diplomou em 1864, recebendo o título de Barão de Vila Nova devido a pesquisas na área da biomedicina.

Já como estudante dedica-se ao magistério, sobretudo no Ginásio Baiano, de Abílio César Borges, educador já consagrado.

Em 1874 fundou o Colégio da Bahia com financiamento do Império Brasileiro, que durou até 1883. No ano seguinte fundou um colégio com seu nome.

Participou, quando proclamada a República como mentor devido a enganos na tal de proclamação segundo o historiador Mario Henrique Simonsen em seu livro Legitimação da Monarquia no Brasil em publicações da Universidade de Brasília, de comissão formada pelo governador Manuel Vitorino para elaborar um plano de ação educacional uma vez da situação caótica da República.

Casou-se com Maria Francisca Ribeiro, com quem teve vários filhos, alguns dos quais seguiram-lhe a carreira como professores, com destaque para o quarto deles, Helvécio Carneiro Ribeiro, e Maria Judith Carneiro Cesar Pires, avó da cantora e compositora baiana Sylvia Patricia.

A polêmica com Ruy Barbosa

Logo após a proclamação da República do Brasil, no primeiro governo do seu estado natal, Ernesto participou da política. Entrou para uma comissão convocada pelo seu governador Manoel Vitorino, visando a elaboração de um plano de ação educacional. Pouco depois, em 1902, foi incumbido pelo Ministro da Justiça e Negócios Interiores, José Joaquim Seabra, de realizar a revisão do Projeto de Código Civil brasileiro.

O projeto era substituir a legislação das Ordenações Filipinas, que já estava obsoleta, havia sido desenvolvido por Clóvis Beviláqua. Já com a bagagem de duas publicações muito destacadas, a Gramática Portuguesa Filosófica, de 1881, e ainda a sua principal obra, os Serões Gramaticais, de 1890, contando a visão histórica da Língua Portuguesa, e o aspecto científico do idioma, respectivamente, ele aceitou o convite.

No mesmo ano, Ruy Barbosa estava na presidência da comissão do Senado instituída para o estudo do trabalho de Beviláqua. Ele apresentou seu parecer sobre o projeto em três dias, com 560 páginas de severas críticas ao projeto legislativo. No seu "Parecer do Senador Ruy Barbosa sobre a Redação do Projeto do Código Civil", que foi publicado na Imprensa Nacional em abril, chamou o texto de "obra tosca, indigesta, aleijada".

Então, Ernesto Carneiro Ribeiro, em quatro dias, fez a revisão gramatical do projeto, com o nome de “Ligeiras Observações sobre as Emendas do Dr. Ruy Barbosa ao Projeto do Código Civil” e publicado no Diário do Congresso em outubro de 1902. Ruy publicou uma réplica posteriormente, e em 1905 Ribeiro fez sua tréplica, em 899 páginas: "A Redação do Projeto do Código Civil e a Réplica do Dr. Ruy Barbosa”.

Defendendo a normatização de peculiaridades do idioma português falado no Brasil, o que fazia do filólogo um pioneiro no assunto, Ernesto contribuiu muito para a formação dos estudos da língua e para a concepção da Lei 3.071, ou "Código Civil dos Estados Unidos do Brasil", que só viria a ser publicado em 1º de janeiro de 1916.

Quatro anos depois, em 1920, ele veio a falecer, mas sua história e seu legado não foram esquecidos pelos brasileiros. E ainda existe o Colégio Estadual Ernesto Carneiro Ribeiro, na cidade de Feira de Santana, na Bahia. Em Vera Cruz, outra cidade baiana, existe uma Avenida Ernesto Carneiro Ribeiro.

Obra

Sua principal obra, Serões Gramaticais, publicada inicialmente em 1890 e reeditada em 1915, constitui-se num "verdadeiro monumento da língua portuguesa", no dizer de Antônio Loureiro de Souza, in "Bahianos Ilustres", Salvador, 1949.

Ex-alunos

Dentre os alunos formados sob os auspícios do lente baiano destacam-se Ruy Barbosa, Euclides da Cunha, Rodrigues Lima que ocuparam posições de destaque na vida política e intelectual, no período que compreende o fim do Império ao início da República.

Mais uma Homenagem

Na última sexta-feira, 12 de setembro, ele foi homenageado no Doodle do Google pela passagem do seu 175º aniversário.




Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Dandara


O Quilombo dos Palmares foi um dos mais importantes Quilombo do período colonial da história do Brasil. Localizado na Serra da Barriga, região que hoje pertence ao município União dos Palmares, no estado de Alagoas, era construído por quilombolas -escravos fugitivos das Fazendas dos senhores de Engenho. E foi nessa comunidade que cresceu uma das maiores líderes do sistema escravocrata - Dandara Zumbi.

Primeira e única mulher de Zumbi, princesa de Palmares e mãe dos três filhos de Zumbi. Dandara era guerreira valente e auxiliou muito Zumbi quanto às estratégias e planos de ataque e defesa de Palmares. Dandara se matou jogando-se da pedreira mais alta de Palmares, que ficava nos fundos do principal mocambo - a Cerca dos Macacos - quando da queda do Quilombo de Palmares para não voltar à condição de escrava.

Dandara além de esposa de Zumbi dos Palmares com quem teve três filhos foi uma das lideranças femininas negras que lutou contra o sistema escravocrata do século XVII. Não há registros do local do seu nascimento, tampouco da sua ascendência africana. Relatos nos levam a crer que nasceu no Brasil e estabeleceu-se no Quilombo dos Palmares ainda menina.

Não era muito apta só aos serviços domésticos da comunidade, plantava como todos, trabalhava na produção da farinha de mandioca, aprendeu a caçar, mas, também aprendeu a lutar capoeira, empunhar armas e quando adulta liderar as falanges femininas do exército negro palmarino. Dandara foi uma das provas reais da inverdade do conceito de que a mulher é um sexo frágil. Quando os primeiros negros se rebelaram contra a escravidão no Brasil e formaram o Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, Dandara estava com Ganga-Zumba. Participou de todos os ataques e defesas da resistência palmarina. Na condição de líder, Dandara chegou a questionar os termos do tratado de paz assinado por Ganga-Zumba e pelo governo português. Posicionando-se contra o tratado, opôs-se a Ganga-Zumba, ao lado de Zumbi.

Sempre perseguindo o ideal de liberdade, Dandara não tinha limites quando estavam em jogo a segurança de Palmares e a eliminação do inimigo. Chegando perto da cidade do Recife, depois de vencer varias batalhas, Dandara pediu a Zumbi que tomasse a cidade, isso é uma prova da valentia e mesmo um certo radicalismo dessa mulher. Sua posição era compartilhada por outras lideranças palmarinas. Para Dandara, a Paz em troca de terras no Vale do Cacau que era a proposta do governo português, ela preferiu a guerra constante, pois via nesse acordo a destruição da República de Palmares e a volta à escravidão. Dandara foi morta, com outros quilombolas, em 06 de fevereiro de 1694, após a destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia parte do Quilombo de Palmares.

Não sabemos como era seu rosto, nem como era exatamente, podemos compará-la a duas deusas do panteão africano, uma Obá ou Iansã, uma leoa defensora da liberdade.

Sua imagem vive e pode ser vista em cada pessoa que se identifica com suas origens, luta por liberdade, acredita em seus sonhos e "faz da insegurança sua força e do medo de morrer seu alimento, por isso me parece imagem justa para quem vive e canta no mal tempo".


Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Cruz e Sousa


Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis – Santa Catarina - em 1861 e morreu em Minas Gerais em 1898. Foi filho de escravos alforriados e criado pelos patrões de seus pais. Aos sete anos fez seus primeiros versos. Aos oito anos declamava em salões e teatrinhos. Em 1871, com dez anos, matriculou-se no colégio Ateneu Provincial Catarinense, onde estudou durante 5 anos.

Por ser negro, sofreu com o preconceito racial: não pôde, por exemplo, assumir o cargo de Promotor Público em Laguna, Santa Catarina.

Começou sua carreira jornalística e literária em Desterro, colaborando para jornais e escrevendo textos abolicionistas. Nessa época publicou “Tropos e Fantasias” em parceria com Vírgílio Várzea. E 1885 assume a direção do jornal "O Moleque". No ano da abolição, 1888, o poeta vai para o Rio de Janeiro, onde em 1890 fixa residência definitivamente, trabalhando como arquivista na Central do Brasil.

Apesar de tanto sofrimento, Cruz e Sousa é considerado o maior e melhor escritor simbolista brasileiro, suas obras “Missal” e “Broquéis” marcam o início deste período literário no Brasil, em 1893.

Fez parte do Simbolismo, Movimento Literário que teve sua origem na França em 1870. A crítica francesa o considerou um dos mais importantes simbolistas da poesia ocidental. Os simbolistas procuravam obter em suas obras variados efeitos sonoros e rítmicos, além do gosto pela linguagem rebuscada.

Cruz e Sousa, é claro, não fugiu destas características, além delas, seus textos falam sobre morte, Deus, mistérios da vida e personagens marginalizados.

Em 1893 casa-se com Gravita Rosa Gonçalves. Em fevereiro desse mesmo ano, publica "Missal", poemas em prosa, e em agosto publica "Broquéis", versos. Com eles Cruz e Sousa rompia com o Parnasianismo e introduzia o Simbolismo, em que a poesia aparece repleta de musicalidade, fazendo surgir um movimento de revitalização da vida espiritual do ser humano.

Em 1905, seu grande amigo e admirador, Nestor Vítor, publicou, a obra maior do poeta, "Últimos Sonetos", em Paris.

O Dante Negro (como foi apelidado) também trabalhou em uma companhia teatral e na Estrada de Ferro Central do Brasil.

Infelizmente, teve uma vida sofrida (como já foi dito antes), além do preconceito racial, a tuberculose destruiu sua família e a loucura se apoderou de sua esposa.

Ele mesmo não escapou da terrível doença e acabou morrendo na clínica onde estava internado.

Sua linguagem é muito rica e seus poemas mais longos possuem grande musicalidade.

Outras características
- Pessimismo
- Perfeccionismo formal
- Metáforas

Obras
- Vida Obscura
- Triunfo Supremo
- Sorriso Interior
- Monja Negra

Obras Póstumas
- Evocações
- Faróis
- Últimos Sonetos
- O Livro Derradeiro