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Jovens discutem moda, racismo e história no Youtube


Durante o mês de novembro, plataforma de vídeo promove conteúdos de canais de jovens youtubers negros que misturam a questão racial com diversos assuntos do cotidiano.

Durante todo o mês de novembro, quando se comemora o Dia da Consciência Negra (dia 20), o Youtube vai divulgar o trabalho de jovens youtubers negros, que produzem vídeos que estimulam a discussão racial. No último sábado (11), com a plataforma promoveu debate com produtoras de conteúdo negras que fazem sucesso nas redes sociais com o tema A Representatividade do Negro no Youtube.


Foi através do canal Afros e Afins que a estudante de ciências sociais Nátaly Nery, que esteve presente no debate, conseguiu ampliar a discussão do feminismo negro e do combate ao racismo. Produzindo vídeos há um ano e quatro meses, o canal já tem mais de 115 mil seguidores.

Para ela, o Youtube é uma ferramenta para fazer a disputa de narrativas: "Por que a gente não pode entrar com os nossos ideais, com a luta antirracista, antissexista na internet e tentar construir uma nova realidade?", questiona Nátaly, em entrevista à repórter Michelle Gomes, para o Seu Jornal, da TVT

           

A discussão também contou com a presença de Ana Paula Xongani, do canal Xongani Moda Afro, e Xan Ravelli, do canal Soul Vaidosa. Ana Paula considera o Youtube um espaço democrático que deve ser mais utilizado pelos negros para falar o que quiserem, não apenas sobre a questão racial. "Que eu fale da minha cor preferida, de quem eu sou. É importante que a gente fale da militância, mas é importante também que a gente fale da gente."


Outro caso de sucesso é do youtuber do jovem Pedro Henrique Cortês, de 14 anos, que angariou inúmeros seguidores ao produzir séries de vídeos contando a história de heróis negros brasileiros, como Machado de Assis, Luís Gama e Zumbi dos Palmares.


'É importante que a gente fale da militância, mas é importante também que
a gente fale da gente'/ Reprodução/ TVT.



Consciência negra na Educação e na escola (para além de novembro)


Pra que se desenhe um programa que lute contra os detalhes, as sutilezas e os rombos do racismo o ano inteiro e não apenas montar uma palestra e um show em novembro em sua escola, vem estas sugestões mirando o sabor das dúvidas e o encanto dos corpos pensantes. Dialogando com as disciplinas e lugares, questionando nossa formação e enfrentando o racismo cotidiano que pesa em nossa história. Mas pra isso é necessário, absolutamente necessário, limparmos as vistas e toparmos caminhar no que, por via do embrutecimento e violência plantada em nosso pensamento há 500 anos, parece para muitos ser estranho e mal-quisto, alienígena e feio. Em tempos atuais inclusive, pela exploração da fé e desespero alheio, o termo “demoníaco” surge e impede estudos e posturas diante do problema. (Dizem que a nossa crença pra gente é religião, mas a do outro é superstição, folclore, fanatismo… Confere?)”

Primeiro: Que tal compreender a presença negra para além dos 4 séculos de escravidão oficial em nosso país? Sim, eles são estruturais para cada minuto de nosso hoje, em todos os campos, mas podemos refletir sobre os povos africanos antes de sua vinda ao que se chamou de Brasil e antes das fronteiras atuais, volta e meia em ebulição, definidas em 1885 pelas mãos armadas dos europeus colonizadores desconsiderando os territórios autônomos e em constante comunicação e trato.

Que tal pensar nas ciências, na arquitetura, nos sistemas de poder e nas linguagens desenvolvidas antes de chegarem os rifles e da sede pelo ouro e diamante? Por exemplo, considerar a astronomia trançada à Poesia, do povo dogon, que está onde hoje é o Mali e desvendou mapas estelares que a Nasa apenas no século 20 foi decifrar. Ou a sapiência na mineração e na metalurgia vindas do oeste africano, que influenciaram tanto nossa história a partir das lidas em Minas Gerais, e os fundamentais papeis dos ferreiros e caçadores. Ou pesquisar e abordar as diferenças do cristianismo etíope, anterior ao Vaticano, ou a geometria nas grafias e contações dos Sona, ainda hoje recitadas e escritas nas areias de Angola. Se é sedutor e saudável chamar a música, esta grande pedagoga e organizadora dos tempos, que tal abrir mão só um tiquinho dos nossos grandes mestres, os tambores, e também aguçar a orelha e o peito pras cordas e violas africanas, milenares, ou pras mbiras e calimbas, percussivas das lâminas em cabaças que mesclam melodia e ritmo? Há física na vibração destes sons e há biologia na sensibilidade da construção destes instrumentos? E em que momentos eles são tocados ou reverenciados? São ciências traçadas há muitas luas, na elaboração de barcos, dicionários, moradias e fornos, antes dos tempos em que povos hoje europeus se abocanhavam e se estripavam em guerras avassaladoras como as movidas por Napoleão e Hitler, guerras que hoje a mídia graúda insiste em carimbar apenas nas costas de orientais ou africanos e que têm pauzinhos mexidos por multinacionais, governos ocidentais e seus cupinchas das elites dos países que se destroça. Bem, focar nas histórias africanas antes da chegada de portugueses e árabes, mesmo quando no oceano Índico já se tratava com chineses e indianos, por exemplo, é só um pedaço do tanto possível e já servirá pra se perceber que a história não começa no navio-negreiro…

Mas devemos pensar também os povos negros aqui no Brasil depois da falsa abolição (aliás os espinhos e abandonos deste longo 14 de maio, tão pesado, não será eterno porque não deixaremos). Marcados pelo escravismo e criando rumos de liberdade como se fundaram os bairros de preto em sua cidade e quais foram seus desafios? Como lidaram com o ambiente e a topografia de sua região? Como ocorriam as migrações internas e como a especulação imobiliária, essa forca ainda contemporânea, foi enfrentada? Em geral proibidos pela segregação na porta de empregos, clubes e elevadores, como se organizaram e em que ofícios martelaram para criar suas famílias os clubes negros que mesclavam bailes, turmas de letramento e passeatas pela circulação livre em ruas e praças segregadas? Eis aqui princípios da Educacão Popular? E as Confrarias e Irmandades de negros criadas para garantir enterros dignos aos seus congregados, como se relacionavam com a Santa Sé e as cúrias estas irmandades cansadas de ver seus cadáveres jogados às valas? Como se realizaram campeonatos de futebol por quem era proibido de jogar nos times grandes e como se organizavam estas equipes? Como gente preta narrou ou bolou programas, engenhou equipamentos, lotou auditórios e limpou os palcos das rádios, fundamentais pra entendermos o século 20, principalmente nas raias urbanas? O mesmo acontecido com os transportes aquáticos ou os trens: além de limpadores de bitolas e trilhos, como as associações ferroviárias foram importantes ao povo preto? Isso orna com a geografia a se ensinar? Há economia, circulação de materiais e ideias no vento que acaricia pela janela do trem um rosto marcado pela guerra silenciosa e às vezes não declarada de cada dia? Onde está a química?

Além de umedecer a gramática e nutrir o vocabulário das falas e parágrafos brasileiros, o que já é notório, quais elementos sintáticos e morfológicos brindamos em nossas frases e que vêm das línguas quimbundo e quicongo, do pessoal que embarcou forçado em Luanda e Cabinda há séculos? No jeito de bolar o plural de artigos e substantivos e de lidar com ditongos, como nossas rezas, receitas e cantorias bebem a fonte destas línguas? Aliás, serão línguas, dialetos ou o quê? Por quê? Ainda na praia da língua, da literatura, é lastimável a ausência de canetas e autorias negras em nossos programas, editoras, livrarias… Creio que isso tu já percebeu: se não for famoso ou não couber no estereótipo, está fora da assinatura que se exporta. Veja aí qual o prisma e a cor dos passos dos personagens que pintaram nos nossos cadernos? História, poesia, filosofia… Cabe aqui? Podem, melhor do que considerados isolados, dialogar com os chamados clássicos (aliás, quem alçou os clássicos a esta categoria?) sobre temas cortantes da nossa vida como o desespero, o amor, a saudade, a luta, o susto e a fé? E se filosofia é debate amplo que mais e mais se esparrama: como o Tempo, a Morte, a Ética, a Saude e a Política, por exemplo, são aprofundados por filósofos africanos ou por escritoras negras das Américas? Isso se entrosa com os currículos e pautas pra tua classe?

E pela América Latina e pelos subúrbios dos Estados Unidos, como reverberou nas comunidades negras a luta pelas independências africanas entre as décadas de 50 e 70 do século passado? Em tempo de ditaduras vibrou Consciência Negra? O que temos de distinto e em comum no cotidiano caseiro, nas praias, nas cadeiras universitárias entre tantos países onde ocorreu a diáspora africana? Ah… Ela está viva hoje, seja nos bairros de Lisboa, Londres e Paris ou nas praças de cá, com senegaleses, angolanos e haitianos. Por que saem? Como se constroem suas economias por lá e por aqui?

Carece também até mesmo sair do tripé Rio-Bahia e São Paulo, questionando como lá pros anos 30 e 40 se consolidaram como símbolos da cultura nacional muito do que hoje é cartão postal e chavão quando se cita a “cultura negra”. Mas o que será esta cultura, quais seriam seus elementos fundamentais e como ela se movimenta na contradição básica de nossa história: a negritude ser central em nosso país desde o princípio e, ao mesmo tempo, ser escanteada e pulsante nas bordas. Nas beiradas para onde foi e ainda é tão relegada ou então enfiada entre holofotes, estereótipos e entretenimento descartável.

São coisas da nossa formação, orquestrada de cima pra baixo entre o terror e o desejo. E de baixo pra cima abrindo vãos, contemplando momentos e espaços de vitalidade e autonomia, questionando o que é imposto como “correto e direito”. Aliás isso voga agora em nosso nariz. A luta pela sobrevivência e contra a tortura não se limita aos séculos passados: diante do escancarado genocídio e encarceramento de nossa juventude, as Mães de Maio hoje pelejando contra o assassinato de nossos filhos têm tudo a ver com as Mães de Ontem, com as irmandades já citadas ou com quem tramou mocambos e quilombos para viver livre, fossem urbanos em intensa comunicação com seus algozes ou em guerra declarada, cultivando suas matemáticas nas hortas, suas meteorologias em fuga ou suas preces e sorrisos em roda.
Percebemos porém que mais do que preencher programas é necessária uma reflexão pedagógica e didática sobre as maneiras de se partilhar e contemplar essas dúvidas e saberes, sem desconsiderar a dadivosa abstração e a crescença individual, mas de acordo com as intenções e patamares de sua turma no ensino fundamental ou no médio para também envolver os poros na ciência e agir em coletivo. Trançando as disciplinas (aliás “interdisciplinaridade” é marca destes saberes, por precisão e gosto) e, enfim, praticando e aprofundando o que até já se tornou lei federal, a 10639/03, que depois foi ampliada para contemplar também a fonte, a necessidade e a grandeza dos muitos povos indígenas.

Vamos? Para além de novembro, por favor.



Mas afinal como será o nosso Novembro Negro?




O Decreto nº 1.331, de 17 de fevereiro de 1854, estabelecia que nas escolas públicas do país não seriam admitidos escravos, e a previsão de instrução para adultos negros dependia da disponibilidade de professores. Mais adiante, O Decreto nº 7.031-A, de 6 de setembro de 1878, estabelecia que os negros só podiam estudar no período noturno e diversas estratégias foram montadas no sentido de impedir o acesso pleno dessa população aos bancos escolares (BRASIL, 2004, p. 7).

Nesse mês da consciência negra, temos acompanhado um processo explosivo de luta da juventude em defesa da educação, contra os ataques do governo Alkimin. Esse processo de luta aparece em um importante momento e deve servir como elemento de reflexão, para essa juventude que se levanta, assim como pros negros e negras que têm tocado a luta antirracista.

O maior país negro fora da África não só carrega em suas costas uma longa história de escravização de negros e negras sequestrados de suas terras, como para garantir seu papel na divisão internacional do trabalho tem como um de seus alicerces estruturais o racismo. Ainda hoje a burguesia não consegue esconder a gritante diferença social em nosso país, que de um lado possui uma elite branca profundamente ligada aos países imperialistas que concentram uma enorme parte da renda, e de outro a classe trabalhadora e os setores oprimidos, constituídos hegemonicamente por negros, que possuem uma péssima condição de vida. Mesmo entre a própria classe trabalhadora, e entre os setores oprimidos há grandes diferenças entre negros e brancos.

Essa relação étnica e econômica coloca o racismo não só como um fenômeno a ser combatido na sua expressão mais cultural, mas também na sua base material que o torna um elemento aprofundados dos problemas sociais primeiramente para os negros, mas com reflexos para o conjunto dos oprimidos e explorados. Nesse sentido a educação se coloca como elemento democrático que deve ser encarado como uma demanda negra, desde seu acesso até seu conteúdo e as relações étnicas no próprio cotidiano escolar.

A história da educação e da escolarização, como parte da produção cultural da humanidade (fruto das relações de trabalho), não só caminha lado a lado com a luta de classes como carrega dentro de si as contradições de classe de sua época. No Brasil isso não é diferente. As primeiras experiências de educação do Brasil Colônia aparecem com os jesuítas. As missões jesuíticas são mandadas ao país para cumprir o papel de catequizar os povos originários, indígenas, e ajudar na colonização do território.

No século XIX a elite abre uma grande discussão na imprensa sobre a necessidade ou não de educar as classes populares e quais deveriam ser as finalidades dessa educação. Apesar de haver uma grande ruptura entre classe dominante e o resto do povo, para que pudesse avançar no seu projeto de construir uma nação civilizada nos trópicos seria preciso educar os cidadãos. Uma educação que fosse suficiente para a população ter um mínimo de civilidade.

Os negros não se encontrava entre os cidadãos que deveriam ser educados. Carregando um forte sentimento racista e se baseando principalmente no pensamento eugenista, a elite defendia que era preciso acabar com os negros. A miscigenação serviria como arma para conseguir branquear a população, uma etapa necessária, os mestiços seriam apenas um processo de transição para uma sociedade mais avançada. É por isso que os negros não estavam inclusos em nenhum projeto social da elite.

Na primeira república se expande o número de escolas públicas de nível primário, esse aumento leva também a uma maior demanda por livros de leitura. Esses materiais versavam sobre dois temas principais: as belezas do país e o povo brasileiro. Esses temas tem uma forte relação com a necessidade de uma república que acaba de se emancipar de tentar encontrar uma identidade nacional e se livra de todo o seu passado obscuro. Como podemos imaginar esse material carregava consigo todo o ideário da classe dominante, portanto impregnado de um forte racismo. Esse é parte do processo necessário para que o país negasse todo seu passado negro e pudesse caminhar para um futuro branco.

Dês do inicio do processo de colonização a educação brasileira carrega um caráter altamente excludente, principalmente para os negros. Mesmo com o desgaste das teorias racistas mais abertas que defendiam a eliminação dos negros para que o país pudesse avançar e com o fortalecimento da tese da democracia racial os negros ainda sofrem no ambiente escolar. Hoje a culpa por anos de escravidão e marginalização que geraram uma enorme desigualdade racial é individualizada. Ou seja, a partir da proliferação da tese da democracia racial se fortalece a visão de que se os negros não conseguem sucesso na escola, a culpa é deles, pois brancos e negros supostamente possuem igual oportunidade.

O que vemos é que mesmo muito antes de adentrar a escola o racismo aparece como barreira social para que negros e negras possam estudar. As condições de vida da maioria dos negros são uma pressão concreta para que não consigam avançar nos estudos. Esses problemas começam dês da falta de creches públicas, se expressam também na necessidade de adentrar no mundo do trabalho, na violência estatal que prende e mata a juventude negra e em mais uma gama de problemas que o racismo impõe.

Os baixos índices de escolarização enfrentados pelos são fruto de uma política histórica de marginalização e opressão. As condições precárias de vida se juntam a uma política clara de exclusão dos negros do ambiente escolar dês de o fim da escravidão. Na cidade de São Paulo, assim como em todo o país as diferenças em dados como o índice de morte entre negros e brancos já é uma clara demonstração de como diferentes fatores interferem na diferença de escolarização.

Segundo o IPEA:

Apesar do crescimento na média de anos de estudo da população em geral (aproximadamente 1,5 anos) ao longo da década 1993-2003, o diferencial entre negros e brancos caiu muito pouco neste período. Se em 1993, esse diferencial era de 2,1 anos a favor dos brancos, em 2003 ele cai apenas para 1,9. Mas estes diferencias são menores para pessoas com 15 anos ou mais de idade e maiores ainda para 12 anos ou mais de escolaridade

Dados do IBGE mostram que em 2003 a média de anos de escolaridade dos brancos era de 8,1 enquanto de negros era de 6,7, já em 2009 esse número sobre para 9,1 para brancos e 7,6 para os negros. Mantendo ainda uma grande desproporção nos anos de estudo. Todos esses dados mostram o resultado de uma política de Estado racista que na educação já apresenta seus primeiros resultados nas dificuldades que a juventude negra tem de terminar a sua educação básica, se falarmos do nível superior os números são ainda piores.

Dentre tantos outros fatores que podemos levantar, no Brasil existe uma segregação espacial que impõe à maior parte dos negros a morar nas zonas periféricas dos grandes centros urbanos. Nesses locais os aparelhos públicos, incluindo as escolas, quando existem são em sua maioria precários, seja na sua estrutura física ou mesmo na sua qualidade. Aos negros então sobram as escolas de pior qualidade, o que dificulta ainda mais seu processo educacional.

A realidade é, que apesar dos anos de luta do movimento negro por educação, sabemos que, mesmo com algumas melhoras, ainda hoje somo nós os mais excluídos do processo educacional desde os seus níveis mais básicos.

Segundo o IBGE, a proporção populacional é 37% de negros na cidade de São Paulo, essa população se concentras nas regiões periféricas e ainda apresenta um baixo nível de escolaridade e de condições de vida em relação ao brancos que aqui vivem. O governo da cidade de São Paulo lançou um documento que deve nos ajudar a compreender essa disparidades para entender o papel do movimento negro na luta em defesa da educação.
A tabela abaixo mostra o desenvolvimento do nível de escolaridade segundo raça na cidade de São Paulo entre 2000 e 2010:

Os negros possuem índices escolares menores dos que os brancos, e sabemos que são inúmeras as questões que levam à juventude negra abandonar o ensino. Possuem um pouco menos que o dobro do índice de brancos dos que não conseguem completar nem mesmo o Ensino Fundamental, ao mesmo que quando vemos o índices dos que possuem Ensino superior completo o índice nos negros fica perto de ¼ dos brancos.

Bom, depois de vemos essa disparidade no nível educacional, não é difícil chegar a conclusão de quem será o setor mais prejudicado pela “reorganização” do governo do estado.
É a juventude negra quem mais vai sofrer com esses ataques, é essa a parcela da juventude que já possuí acesso a uma educação precarizada e que agora vai ter esse acesso ainda mais dificultado; que como se já não bastasses o aumento dos índices de desemprego, os trabalhos precarizados ainda tem de viver com a realidade das chacinas policiais e a possibilidade da redução da maioridade penal.

Num país onde a questão de classe e raça se mistura tão profundamente, não é possível separar a luta negra da luta contra as mazelas dos oprimidos. O racismo aparece como um fator agudizador de todos os problemas sociais, sendo assim, ao tratar das demandas mais elementares de nosso pais é preciso lembrar e levantar as especificidades negras junto as pautas mais universais, ao mesmo tempo que o verdadeiro combate ao racismo tem como desafio acabar com toda a estrutura social e política que tem interesse em sua continuidade.

É por isso que nós, militantes negros e negras, devemos tomar essa luta como nossa, e não só isso, devemos encara-la no marco de uma luta contra o racismo, uma luta que é de raça e também de classe.

É preciso unificar as demandas especificas do movimento negro à luta por um direito que deve ser universal, potencializando a luta contra um único inimigo ao mesmo tempo que vamos ao poucos ampliando o leque de parceiros. Os estudantes tem a cada dia mostrado sua força e a criatividade para manter as ocupações e garantir o seu futuro, em muitas escolas os jovens negros tem se colocado como linha de frente desse processo.

Em um momento, onde existe um nível de politização importante, onde a questão da identidade racial tem conseguido furar a barreira da democracia racial, onde a população negra e principalmente a juventude tem sofrido uma série de ataques, é preciso see audaz, sair da rotina ocupar as escolas também com a nossa luta. O movimento negro há anos se apropriou do dia 20 de novembro como um dia de luta contra o racismo, e todos os anos nos organizamos para marchar e colocar nossas pautas na rua. Mas um dia de luta contra o racismo, que não possa se ligar aos processos de luta reais, se torna só mais um dia no calendário.

Hoje, a pergunta que devemos responder é: como será o nosso Novembro Negro?



No XVII Congresso, MNU lança campanha em defesa do feriado de 20 de novembro


O XVII Congresso Nacional do Movimento Negro Unificado, realizado em agosto, próximo passado, encaminhou uma resolução para a realização de uma Campanha em defesa do Feriado Nacional em 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra.

Sendo fundamental a participação de ativistas do campo democrático e popular, organizações do movimento negro e dos movimentos populares sociais, parlamentares, representações institucionais e população em geral.

A importância dessa ação garantirá um momento de reflexão e mobilização nacional que reconheça a memória material e imaterial do povo negro no Brasil e no Mundo.

A sociedade brasileira contemporânea precisa de um grande axé, ou seja, reconhecer que em nossa história houve uma experiência de Estado Democrático, Multirracial, Laico, e Socialista conquistado por “ZUMBI” e “ DANDARA “, no “QUILOMBO DOS PALMARES”.

Além disto, é legítimo que os afrodescendentes que perfazem 51% da população brasileira tenham um dia de celebração de suas conquistas e contribuições para a construção do nosso país.

No Brasil, o legado do povo negro, em sua ancestralidade civilizatória, trouxe em suas insurreições políticas e manifestações religiosas a essência da construção de uma Nação Independente e Democrática.

O Feriado de 20 de Novembro é um marco federativo à resistência das oligarquias capitalistas, que detém o poder econômico regional e, se integram ao conservadorismo racista, machista, xenófobo e intolerante contra os negros, nordestinos, pobres e a população LGBT.

Em suas atividades a campanha tem o caráter livre de iniciativa popular, na organização de debates que fortaleçam a pauta de combate ao racismo.

As agendas poderão acontecer em manifestações em redes sociais, organização de audiências públicas, petições, atos, seminários, caminhadas e outras manifestações.

Bem como, nas iniciativas dos poderes executivo, legislativo e judiciário para a aprovação dos projetos que tramitam no Congresso Nacional.

As organizações do movimento social negro estarão em articulação constante para conquistar êxito pela aprovação do feriado.

Na pauta da campanha estão importantes temas nacionais, “entre outros”:

1 – Reforma Política do Ponto de Vista do Povo Negro.
2 – Comissão da Verdade da Escravidão Negra , aprovada pelo Conselho Federal da OAB.
3 – Contra o Genocídio da Juventude Negra.
4- Titulação das Terras Remanescentes de Quilombos.
5 – Apoio e participação na Marcha das Mulheres Negras em 2015.
6 – Aprovação do Fundo Nacional de Reparação.
7 – Retirada das tropas brasileiras do Haiti.
8 – Contra a Homofobia e Intolerância à população LGBT.
9 – Contra a xenofobia no Brasil e no Mundo.
10 – Contra o crescimento dos movimentos neonazistas no Brasil.
11 – Pela implementação da Lei 10.639.
12 – Pela rediscussão do CONNEB, Congresso de Negras e Negros no Brasil.
13 – Pela rearticulação Pan Africanista de Solidariedade Internacional; África, América Latina, Central , Caribe, Oriente Médio.
14 – Pelo acesso a tecnologias e mídias contemporâneas e a regulação e democratização da comunicação contra o monopólio da mídia comercial.
15 – Pela liberdade de expressão da Religiosidade de Matriz Africana e a defesa dos territórios de resistência e tradição das culturas negras.
16 – Pela defesa do meio ambiente e a sustentabilidade global.
17 – Por Trabalho e Renda e Políticas Públicas de Emprego.
18 – Por Direito à Moradia e Habitação Digna.
19- Pela Reparação aos Povos Espoliados Pelo Escravismo.



Ações afirmativas do negro é alvo de reflexões na EEEP Wellington Belém de Figueiredo


Alunos/as, professores/as, coordenação e demais funcionários no auditório da EEEP Wellington Belém de Figueiredo
durante encontro reflexivo sobre a contribuição do negro na formação do Brasil.
A Escola Estadual de Educação Profissional Welington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda, realizou na última quinta-feira, 20, ato reflexivo sobre a contribuição dos negros e negras na formação da sociedade brasileira a partir de ações afirmativas desse grupo social. A ideia partiu do projeto intitulado “Cultura Afro-brasileira na Escola” que vem sendo desenvolvido desde que esta instituição de ensino iniciou suas atividades letivas no dia 05 de maio do corrente ano.

O ensaio científico corrobora para a efetivação da Lei nº 10. 639/2003, tendo, portanto, o propósito de conscientizar o alunado desse nível de ensino, da importância dos negros e das negras e de sua história na formação da sociedade brasileira. Na abertura do encontro, a professora e coordenadora Ana Maria afirmou “neste dia em que a sociedade brasileira se volta para falar sobre a consciência negra, é preciso que estejamos atentos e vigilantes quanto a promoção da igualdade racial. Pensar assim é perceber que não é só em um dia que iremos extirpar de vez esse câncer social que nos assola, o racismo, tampouco será em um único momento que iremos contribuir para a inserção do negro e da negra nos livros didáticos como promotores e formadores da sociedade brasileira” e completou discorrendo que “só se constrói uma sociedade antiracista e recohecedora da importância dessa classe social se se tiver uma discussão constante e cotidiana e é extamente por isso que nossa escola está desenvolvendo semanalmente atividades que corroboram para uma educação que valoriza e reconhece o negro como sujeito protagonista da história”.

Como parte integrante do projeto idealizado pelos professores das ciências humanas – Edisângela Sales (Geografia), José Nicolau (História) e Yane Moura (Sociologia/Filosofia), houve a promoção de atividades durante todo o dia. Pela manhã a educadora Dayze Vidal, do Pretas Simoa – Grupo de Mulheres Negras do Cariri, ministrou palestra ao qual dedicou cerca de 60 (sessenta) minutos para arguir sobre “A Implantação e a Aplicabilidade da Lei 10.639/03 nas Redes Públicas de Ensino”. Em sua fala apareceram noções como a falta de formação para os profissionais do ensino no que toque a temática em evidência, o que acaba contribuindo para a abordagem de forma superficial dos conteúdos nas escolas. “E quando há o tratamento”, argumentou Dayze. Ela chegou a discorrer ainda sobre as conquistas, desafios e perspectivas da cultura afro retratada no seminário dos dez anos da lei que foi referência para a roda de conversa com alunos/as, professores/as, coordenação e funcionários da escola.


Ainda pela manhã houve a apresentação do Grupo “CultuArte Capoeira”, do município de Altaneira, coordenado pelo professor/mestre Cesar Rodrigues. Os alunos encerraram o momento matutino com a exposição em forma de ações afirmativas de pernsonalidades negras que mudaram o mundo. Fez parte dessa mostra homens e mulheres como Carolina de Jesus, Dandara, Martin Luther King Jr., Mestre Bimba, Nelson Mandela, Zumbi dos Palmares, Mestre Pastinha, Luis Gama, Machado de Assis, Franscisco José do Nascimento (Dragão do Mar), Abdias Nascimento, Grande Otelo, João Cândido (Almirante Negro), Mãe Stella, Cruz e Sousa, Lima Barreto, Antonieta de Barros, Tereza de Benguela, Luiza Mahin, Oliveira Silveira e Beatriz Nascimento.

À tarde, o cronograma seguiu com um documentário tendo como protagonistas os discentes que em roda de conversas trataram de temas como o racismo, as ações afirmativas do negro e da negra, assim como sobre a atualidade do continente africano. Com um dos coordenadores deste encontro reflexixo apresentamos um diagnóstico sobre o sentimento de pertencimento do alunado quanto a cor ou raça por curso e da escola. O gráfico não retrata de fato a realidade. Em todos os cursos o número de pessoas que se identificaram como negro foram sempre menores. Explicamos que os dados levam a uma reflexão que não foge a realidade e que é fruto de um processo histórico em que o negro sempre ocupou um papel inferior na sociedade, corroborando para que cânceres sociais como preconceito e o racismo se perpetue. Tal assertiva permite que a opressão seja alimentada pelo próprio negro que se esconde e tem medo de se autoidentifcar como tal, pois teme ser tachado como inferior, sem cultura e que não irá lograr êxito na vida. Citamos exemplos de que quando o assunto refere-se as diferenças e as desigualdades etnico-raciais na mídia não houve grande mudanças. Ao contrário, o que se percebe são discursos falsários e o negro e a negra sempre ocupando papeis inferiores em relação ao branco. Toda via, o gráfico serviu também para que pudéssemos contribuir (e acredito que estamos contribuindo) para o despertar da consciência crítica dos nossos alunos quanto as relações etnicos-raciais.

Fez parte também da programação o desfile da beleza negra (homens e mulheres), o recital do Poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves, Danças que retratam a cultura africana (Waka Waka), além da encenação sobre a música “Raiz de Kunta Kinte”, tendo como norte a relação feitores e negros escravizados.

Segundo Lúcia Santana, diretora da instituição, o dia foi muito proveitoso, pois são encontros como esses que podem contribuir para a construção de uma educação voltada para a igualdade racial.

A cobertura fotográfica foi realizada pelos professores Leonardo Barbosa, Yane Moura e Lucélia Muniz. 

Confira mais fotos clicando aqui.



Com informações da EEEP Wellington Belém de Figueiredo

Revista 'CUT com Raça' traz debate sobre preconceito contra população negra


A Central Única dos Trabalhadores lançou a revista CUT com Raça na quarta-feira (12), em evento na capital paulista que reuniu representantes dos movimentos sindical e negro. A publicação é parte da campanha permanente ‘Basta de racismo no trabalho e na vida’, ação da Secretária Nacional de Combate ao Racismo da Central, e também faz parte do calendário da CUT para o Mês da Consciência Negra. A revista foi produzida em parceria com a Fundação Friedrich Ebert, entidade alemã que desenvolve programas de cooperação para a promoção do desenvolvimento e da democracia.

Publicação é resultado da campanha permanente 'Basta de
racismo no trabalho e na vida' 
"Os conteúdos foram pensados para ser trabalhados do ponto de vista da ação cotidiana de combate ao racismo, como informação e formação", disse Maria Julia Nogueira, secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, ao reafirmar a necessidade de promover essa discussão no dia a dia da classe trabalhadora.

O evento, que foi mediado pelo secretário-geral nacional da CUT, Sérgio Nobre, foi aberto pelo presidente da Central, Vagner Freitas. O dirigente destacou que qualquer discussão referente ao tema deve partir da constatação de que "o Brasil é um país racista, preconceituoso, desumano, desigual, injusto com as minorias". Para Vagner, a revista CUT com Raça é importante porque mostrará que o país "tem várias facetas e várias caras, e não só aquelas que nos apresentam".

A revista, segundo Júlia, reflete a pluralidade de opiniões e ideias por reunir a trajetória e histórias de lideranças negras brasileiras, como Zumbi dos Palmares e Lélia Gonzalez, informações sobre a Década Internacional de Povos Afrodescendentes (2015-2024), além de uma entrevista com o goleiro Aranha (do Santos), vítima de preconceito racial, e artigos assinados por dirigentes da CUT, de confederações filiadas à central e por militantes do movimento negro de todos o país.

A publicação traz ainda um estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), encomendado pela CUT, que constatou que 65% dos dirigentes da central se declaram como negros.

Ideias

Após o lançamento da revista, formou-se uma mesa para aprofundamento da discussão de dois eixos fundamentais: ações para combater a discriminação e os impactos do racismo na vida cotidiana.

A procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) e coordenadora nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade), Lisyane Motta, explicou que o órgão atua no combate à discriminação de maneira preventiva, repressiva e na promoção de direitos. A procuradora ressaltou a necessidade de que os trabalhadores conheçam e se apropriem dos instrumentos oferecidos pelo MPT. Para ela, o Judiciário deve manter estreita articulação com os movimentos sociais. “Se não houver articulação política e social, o Judiciário não responde”, afirma Lisyane.

Carlos Alberto Silva, ouvidor nacional da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), falou dos avanços nas políticas de igualdade racial, nos últimos anos, como a inclusão do crime de racismo como inafiançável na Constituição Federal de 1988 e a promulgação, em 2010, do Estatuto da Igualdade Racial, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira legislação específica a tratar de direitos da população negra, e não apenas ao combate da discriminação.

Outra medida destacada pelo ouvidor foi a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que garantiu uma mudança na forma como o Sistema Único de Saúde (SUS) tratava, até então, esse grupo da população. "São questões que não têm relação direta com o mundo do trabalho, mas é importante que os sindicatos se apropriem e defendam essas medidas que visam a garantir a saúde da população negra", alertou.

Para falar das implicações do racismo no dia a dia da população, Clédisson Júnior, membro da direção do Enegrecer (Coletivo Nacional de Juventude Negra), resgatou o legado da escravidão, que, segundo ele, colaborou para a deterioração do conceito de trabalho. "Quando você pergunta a uma criança o que ela quer ser quando crescer, dificilmente vai dizer que quer ser pedreiro, porteiro ou gari, porque são as profissões que majoritariamente os negros ocupam e dialogam historicamente com as heranças do período da escravidão", refletiu.

Já a secretária Nacional de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores (PT), Cida Abreu, que em sua explanação revisitou os principais momentos e fatos do movimento negro, do Quilombo de Palmares aos dias atuais, disse acreditar que a reforma política é também essencial para fazer avançar a luta contra a discriminação. "Financiamento público de campanha é que vai fazer a grande mudança no perfil dos que são eleitos. Se tem lista e financiamento público, tem eleição de pobres e negros", afirmou, defendendo a formação de listas preordenadas, com representação igualitária entre homens e mulheres, para os cargos legislativos.


Via Rede Brasil Atual

Mulher negra, nem escrava, nem objeto*






O racismo dos brasileiros está na vida cotidiana, muitas vezes em atitudes sutis e comentários aparentemente inofensivos. Essa realidade cria limites muito palpáveis sobre as possibilidades e oportunidades das pessoas negras, podando as opções de quem podem ser e até onde podem chegar na vida.

Não é por acaso que uma das lutas atuais do movimento feminista negro é pela quebra de estereótipos; por meio dos estereótipos e papéis sociais impostos para as mulheres negras, a questão do racismo acaba empurrada para debaixo do tapete. Onde há discriminação e exclusão, levanta-se uma falsa admiração, que na realidade é objetificação sexual e exotificação da mulher negra. Ou seja, para cobrir o preconceito que vem sendo nutrido e espalhado há séculos, rotula-se a mulher negra com as poucas permissões que lhes são concedidas. Para gerar a consciência antirracista tão necessária, é preciso em primeiro lugar compreender a violência das caricaturas impostas às mulheres negras.

A Escrava:

O estereótipo de mulher trabalhadora e incansável é um dos mais antigos e reforçados, vigorando há centenas de anos e se adaptando às mudanças econômicas e culturais da sociedade. Se séculos atrás a mulher negra era usada e explorada como trabalhadora braçal, supostamente dotada de resistência física infinita, na contemporaneidade esse papel continua sendo intenso, as mulheres negras ainda são exploradas em campos de trabalho escravo, que ainda existem nos dias de hoje. Muitas delas são obrigadas a trabalhar em condições precárias e perigosas em troca de um valor monetário insignificante, estando presente na grande maioria das cozinhas dos lares brasileiros, mas praticamente nunca como grandes chefs da gastronomia e sim como eternas subalternas, que vivem para servir as famílias brancas e ricas.

Não importa se querem sonhar mais alto ou se têm algum problema legítimo, se estão doentes ou passando por um período de luto – algo bastante frequente devido ao genocídio policial contra os homens negros -, as mulheres negras nascem e crescem com poucas alternativas. Para muitas, é difícil alcançar outra coisa além do trabalho doméstico para famílias brancas, geralmente em forma de faxinas pesadas e salários baixíssimos. A mulher negra é a maior trabalhadora de nossa nação, porém não possui seus esforços reconhecidos; ao invés disso, sua dignidade é barganhada com ameaças de demissão e risco de desemprego.

Mesmo na televisão, nas novelas ou nos filmes, a mulher negra só aparece para representar a escrava de tempos antigos ou a empregada doméstica atual. De que forma, então, pode se esperar que meninas e adolescentes negras consigam se ver em profissões adequadas, em vivências plurais e dignas? É por isso que tal estereótipo de guerreira e batalhadora é tão nocivo: sua existência poda o potencial e a autoestima dessas mulheres, servindo como grilhões de sua liberdade.

O objeto:

Para as mulheres negras que não são vistas como escravas do trabalho braçal, resta o rótulo do trabalho sexual – igualmente exploratório e limitado -, que existe sob a pretensão de elogio, atuando como uma exibição de pedaços de carne baratos e hipersexualizados, como se uma tendência à “promiscuidade” fosse característica genética.

Não é preciso pesquisar muito para encontrar em qualquer rede social uma enxurrada de charges e imagens que apresentam garotas negras como “vulgares” e irresponsáveis, que engravidam ainda na adolescência e não aprendem nunca a lição. Mesmo mulheres negras com um maior nível econômico, como por exemplo a atriz Taís Araújo, são vítimas da objetificação, como pode ser notado no próprio nome da novela da qual ela foi estrela, “Da Cor do Pecado”. Seja por meio de eufemismos ou discursos hostis, a mulher negra sempre transita entre a indesejabilidade e a exotificação: às vezes, é considerada tão feia e nojenta que todas as partes do seu corpo são causadoras de ojeriza, mas por outras consegue se enquadrar no papel de “mulata” sensual e provocante.

A questão é que exotificação não é elogio, é objetificação. Não há qualquer valorização ou prestígio em marcar todo um grupo de seres humanos como produtos com valores comparáveis. Isso é uma das formas mais perversas de racismo, pois está oculto e disfarçado, sendo frequentemente confundido com inclusão. No entanto, basta um pouco de senso crítico para perceber que a preta “da cor do pecado” não é verdadeiramente aceita em sociedade, ela é vista como o terror das pobres donas de casa, como a sujeita sem moral, oportunista e interesseira, que destrói casamentos e faz do mundo um lugar menos limpo. Essas afirmações podem soar muito fortes, mas essa é a realidade das milhares de meninas sexualmente abusadas, que apesar de serem crianças, não encontram defesa, pois desde a mais tenra idade são consideradas provocantes e feitas exclusivamente para o sexo.

O que esses estereótipos possuem em comum é a redução da mulher negra ao seu corpo, ou seja, às supostas características intrínsecas que possuem desde sua formação genética. Por serem retratadas como mais fortes e naturalmente mais sexuais, todos os tipos de violação de direitos humanos são impostos às meninas e mulheres negras.

Em pleno ano de 2013, no mês da Consciência Negra, ainda falta muito chão para que o Brasil consiga dar às suas cidadãs negras a valorização que merecem. Até que ponto as pessoas são capazes de refletir a respeito desses exemplos e trabalhar no enfrentamento do preconceito? Pode ser difícil ir além da superficialidade dos discursos de inclusão, mas sem a quebra de estereótipos, jamais será possível extinguir, ou mesmo amenizar o problema do racismo.

*Artigo de Jarid Arraes publicado no Portal Vermelho