Uma
calça comprida, uma blusa e uma saia estampadas com imagens de mulheres negras
em situação de escravidão ensejaram uma chuva de críticas e acusações de
racismo contra a marca Maria Filó, após o relato de uma consumidora negra
criticando os produtos viralizar nas redes sociais nesta sexta 14.
Publicado
originalmente na Carta Capital
"Começo a olhar as roupas e me pergunto:
Confere? É uma estampa de escravas entre palmeiras. É uma escrava com um filho
nas costas servindo uma branca? Perguntei à vendedora se aquela estampa tinha
alguma razão de ser ou se era só uma estampa racista mesmo. Ela, me dirigindo à
palavra pela primeira vez, não soube responder", relatou Tâmara Isaac
no Facebook, em publicação com mais de 1,1 mil compartilhamentos. O caso
ocorreu em uma loja de Niterói, no Rio de Janeiro.
As
peças, com preços entre 239 e 329 reais, que faziam parte da coleção Pindorama,
estavam à venda nas lojas físicas e virtuais da marca até o início da tarde da
sexta 14. Com a repercussão negativa, as roupas para venda online não estão
mais disponíveis. A Maria Filó também passou a responder às críticas em seu
perfil oficial no Facebook.
"Gostaríamos
de fazer um esclarecimento. A estampa em questão buscou inspiração na obra de
Debret. Em nenhum momento tivemos a intenção de ofender. Pedimos sinceras
desculpas e informamos que já estamos tomando as devidas providências para que
a estampa seja retirada das lojas", justificou a marca.
Também
pelo Facebook, a atriz Taís Araújo expressou críticas à Maria Filó: "A
escravidão não pode virar 'pop', não pode ser vendida como uma peça de
moda"
Para a filósofa política e feminista negra Djamila Ribeiro, as estampas naturalizam uma situação de opressão da população negra que foi escravizada no Brasil como se fosse algo comum. "Se fossem estampas aludindo ao Holocausto seria um problema enorme", exemplifica a secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Ela classifica como insuficiente a justificativa de que se tratou de uma alusão ao pintor francês pintor francês Jean-Baptiste Debret, que retratou, entre outras, cenas da escravidão no Brasil no século XIX. "Há outros recortes na obra dele".
Ribeiro
também chama atenção para o fato de o caso vir à tona justamente após o
comentário de uma consumidora negra. "Ela
ter reparado nisso diz muito. Muitos participaram da concepção e comercialização
das roupas com essas estampas e sequer se incomodaram. Isso diz muito sobre a
falta de uma discussão séria sobre o racismo e sobre a falta de diversidade
nessas marcas", critica a colunista do site de CartaCapital.
O
Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão, o que só ocorreu às
vésperas do século XX, em 1888. Os cálculos sobre o número de africanos
transportados como escravos para os portos brasileiros varia, mas estima-se que
entre 1550 e 1855, quatro milhões foram trazidos à força para o Brasil.
Submetidos a condições extenuantes de trabalho e castigos físicos, a estimativa
de vida de um homem negro escravizado no Brasil em 1872 era de 18,3 anos, bem
inferior à média da população, de 27,4 anos.
A
grife já esteve envolvida recentemente em outra polêmica, quando o empresário
Alberto Osório, dono da rede, disse para uma funcionária grávida que só
contrarará trabalhadores gays no lugar de mulheres "porque eles não
engravidam". A declaração, ocorrida em setembro de 2015, gerou uma avalanche
de críticas.
![]() |
Com estampa a retratar a escravidão, blusa da coleção pindorama era vendida por R$ 329. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!