No
terceiro dia como vereador de São Paulo, Fernando Holiday (DEM), líder do grupo
direitista MBL, disse que vai apresentar uma proposta para revogar o Dia da
Consciência Negra, data celebrada em 20 de novembro. O vereador também disse em
entrevista à TV Câmara nesta quarta-feira que vai propor o fim das cotas
raciais em concursos públicos municipais da capital paulista.
Em
novembro do ano passado, Holiday publicou no facebook que é "um
absurdo" existir uma data como o Dia da Consciência Negra, que
"homenageie um homem assassino escravagista”. Tal declaração sim é um
grande absurdo, pois o dia 20 de novembro foi escolhido como homenagem à morte
de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, maior quilombo
brasileiro que esteve a frente da resistência contra o tráfico de africanos e a
escravidão negra, e foi assassinado neste dia justamente devido a sua luta
contra a escravidão.
Fernando
Holiday ainda afirmou que levará suas propostas de campanha a frente, que são
as propostas da direita racista, machista e LGBTfóbica do MBL. "Vou ter
propostas de várias frentes, algumas delas mais polêmicas, como propor o fim
das cotas raciais em concursos públicos municipais em São Paulo", explicou
na TV Câmara.
O
vereador recém eleito, assim como seu grupo MBL, que já investigamos aqui no
Esquerda Diário, e também seu partido DEM e toda sua direita misógina e racista
aliada, não possuem nenhum interesse em de fato combater o racismo e nem
nenhuma forma de opressão. Fernando Holiday surge como uma figura jovem,
carismática, negro e homossexual, para ajudar a direita a “surfar na onda” da
representatividade - que vem ganhando força principalmente no movimento negro e
de mulheres - e assim ganhar a confiança desses setores oprimidos para fazer a
política da direita dentro da câmara.
Mais
uma vez o discurso da representatividade mostra suas debilidades. A direita
consegue se apropriar das demandas democráticas mais latentes dos setores
oprimidos e colocar um jovem negro em evidência para defender políticas
racistas, uma grande contradição que só é possível quando a opressão é vista de
maneira isolada e completamente descolada de elementos de classe.
O
Dia da Consciência Negra foi uma conquista do movimento negro para que a
resistência contra a escravidão não seja apagada da história do país, sendo
feita a partir da memória de Zumbi dos Palmares. Assim como as cotas, que não
são reparação histórica, mas representam também uma conquista do povo negro,
que estatisticamente (e visivelmente) é o que ocupa os postos de trabalho mais
precários, enche as filas do desemprego e as celas da prisão e possuem menor
acesso à educação de qualidade. Tanto o Dia como as cotas são medidas
elementares que dão um bem pequeno passo em escancarar que a escravidão
brasileira acabou oficialmente, mas em seguida os negros foram jogados nas
favelas e empregos precários, pagando o custo do racismo institucional até
hoje.
Fernando
Holiday não representa o povo negro. Não representa LGBTs. Apenas representa a
direita ao dizer que a resistência negra é que reforça o racismo, falando da
necessidade de uma “consciência humana”, discurso comum dos racistas. Ora, se
vivemos em um país onde negros são maioria populacional, mas ínfima minoria nas
classes mais altas, entre os ricos, empresários e políticos, e a maioria
assassinada pelas armas da polícia e do Estado – inclusive crianças – onde
entra a ideia de que todos somos iguais e humanos, e a cor da pele não pode
influenciar nisso? Esses são os argumentos de Holiday para suas propostas, mas
a realidade mostra na prática que a cor da pele tem sim seu significado quando
Rafael Braga segue preso por carregar um pinho-sol, mas racistas destilam seu
ódio e violência livre e impunemente.
A
cor da pele negra para o povo negro significa resistência, e as propostas do
MBL servem apenas para tentar tirar do movimento negro as poucas conquistas
arrancadas com muita luta. Mas a resistência continua e se organiza, com os
trabalhadores e a juventude, contra o racismo e todas as formas de opressão que
o capitalismo se apropria para seguir nos explorando mais e mais. Não
aceitaremos perder as parcas conquistas, e seguiremos em luta por muito mais,
até derrubar não apenas Holidays, MBL e sua direita, mas para colocar fim no
racismo, machismo, LGBTfobia e todas as formas e opressão e exploração. Holiday
quer nos intimidar, quer nos calar, mas seguiremos, até que caia o capitalismo.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Zumbi_dos_Palmares
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