Na
última segunda-feira (26), a ativista e professora Angela Yvonne Davis
completou 71 anos, um ótimo momento para relembrar a trajetória desta brilhante
militante do coletivo Panteras Negras, que teve o seu nome, recentemente,
alçado à fama mundial por conta do documentário Free Angela Davis, que trata do
período em que esteve presa, o que provocou uma mobilização nacional pela sua
libertação.
A mais perigosa
Angela
Yvonne Davis é natural do estado do Alabama, considerado um dos mais racistas
do sul dos Estados Unidos e, de acordo com a sua autobiografia, desde criança
sofreu na pele humilhações racistas. Leitora voraz desde criança, aos 14 ganhou
uma bolsa para estudar em Greenwich Village, em Nova Iorque, fato que
transformaria a sua vida, pois é neste momento que ela entra em contato com as
teses comunistas e inicia a sua militância no movimento estudantil.
Ainda
nos idos de 1960, Davis tornou-se militante ativa do Partido Comunista e do
Panteras Negras, que à época lutava para conquistar o apoio da sociedade para
libertar três militantes negros que estavam presos: George Jackson, Fleeta
Drumgo e John Clutchette, conhecidos como os “irmãos soledad”, já que estavam
detidos na Prisão de Soledad, em Monterey.
Em
agosto de 1970, o FBI (Federal Bureau of Investigation) incluiu o nome de
Angela Davis na lista dos dez fugitivos mais procurados pelo FBI. Na mesma
época, o presidente de então, Richard Nixon, chegou a declarar que “Angela
Davis era uma ativista muito perigosa”. Assim, tornou-se a ativista negra
classificada pelas forças estatais como a “mais perigosa” e “mais procurada”,
pois estava em fuga.
No
dia 7 de agosto, Jonathan Jackson, irmão de George, juntamente com outros dois
companheiros, interromperam um julgamento onde o réu era o ativista James
McClain, que respondia pela acusação de ter esfaqueado um policial. Jackson e
os colegas conseguiram render McClain, porém, durante a fuga, houve troca de
tiros e Jackson e um outro membro foram mortos. O juiz Harold Haley também
acabou morto e as investigações levaram para o “fato” de que a arma utilizada
por Jonathan Jackson estava registrada no nome de Angela Davis.
A
prisão de Angela Davis foi decretrada e a fotografia de “procurada” estampada
nas vias públicas e nos principais jornais. Após dois meses, Davis se entregou.
O seu julgamento levou 18 meses, tempo em que esteve presa e que resultou no
livro “Angela Davis – Autobiografia de uma revolucionária”. A campanha pela
libertação de Angela Davis, que ganhou a chamada de “Free Angela Davis” teve
forte repercussão na sociedade norte-americana e contou com o apoio de figuras
como John Lennon e Yoko Ono e da banda The Rolling Stones, ambos compuseram
músicas em homenagem a Davis.
Da luta racial para a luta da
abolição
Em
1980 e 1984, Angela Davis foi candidata a vice-presidente da República pelo
Partido Comunista dos EUA na chapa de Gus Hall. Desde a sua saída da prisão,
Davis passou a entender o sistema carcerário como uma continuação das políticas
racistas contra negros e imigrantes dos Estados Unidos. Desde então, seu
ativismo político e acadêmico tem centrado fogo nesta questão.
Atualmente,
a sua principal luta diz respeito à eficácia das políticas de cárcere. “O
aprisionamento é a única maneira de tratar os crimes e as disfunções sociais?
As despesas prolongadas com os aprisionamentos valem os benefícios momentâneos
de supostamente deter o crime?”, questiona. Essa linha de pensamento é chamado
por Davis de “democracia da abolição”.
“A
democracia da abolição é, portanto, a democracia que está por vir, a democracia
que será possível se dermos continuidade aos grandes movimentos de abolição da
história norte-americana, aqueles em oposição à escravidão, ao linchamento e à
segregação. Enquanto a indústria do complexo carcerário persistir, a democracia
norte-americana continuará a ser falsa. Uma democracia falsa desse tipo reduz o
povo e suas comunidades à subsistência biológica mais crua, pois ela os exclui
da lei e da sociedade organizada”, explica Angela Davis.
A
ativista do abolicionismo do século XXI é muito objetiva ao dizer que é
necessário desmantelar as ferramentas de opressão e não passá-las às mãos
daqueles que a criticam. “O desafio do século XXI não é reivindicar
oportunidades iguais para participar da maquinaria da opressão, e sim
identificar e desmantelar aquelas estruturas nas quais o racismo continua a ser
firmado. Este é o único modo pelo qual a promessa de liberdade pode ser
estendida às grandes massas”, avalia Davis.
Angela
Davis também é uma crítica ferrenha a situação das mulheres em cárcere e o
assunto ganhou destaque desde a estreia da série Orange is the New Black, que
trata do cotidiano de mulheres encarceradas. Em entrevista ao jornal Los
Angeles Times, Davis foi questionada se assistia a série e qual era a sua
opinião. “Eu não só assisti a série, mas li o livro de memórias [de Piper
Kerman , que deu origem a série]. Ela tem uma análise muito mais profunda do
que se vê na série, mas como uma pessoa que olhou para o papel das prisões
femininas na cultura visual, principalmente filmes, acho que a série não é
ruim. Há tantos aspectos que muitas vezes não aparecem em representações de
pessoas nessas circunstâncias opressivas. Doze Anos de Escravidão, por exemplo,
uma coisa que eu perdi naquele filme era uma sensação de alegria, alguma
sensação de prazer, algum senso de humanidade”, critica Davis.
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