800 professores são empossados na rede pública de ensino do Ceará

 

Governador Elmano de Freitas (PT) deu posse a 800 professores do cadastro de reserva(foto: THAÍS MESQUITA).

Professores que compunham o cadastro de reserva do concurso público da Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) realizado em 2018 foram empossados nesta segunda-feira, 9. Os 800 profissionais devem atuar em 491 escolas distribuídas em 169 municípios cearenses.

Os primeiros 1.250 aprovados do concurso foram nomeados em março de 2021. Já a segunda turma, composta por 1.090 docentes, foi nomeada em 30 de junho do mesmo ano. Uma campanha foi realizada pelos aprovados no cadastro de reserva para criação de mais vagas na rede.

De acordo com o Sindicato dos Servidores Públicos lotados nas Secretarias de Educação e de Cultura do Estado do Ceará e nas Secretarias ou Departamentos de Educação e/ou Cultura dos Municípios do Ceará (Apeoc), além dos 800 professores empossados nesta segunda-feira, outros 612 continuam em cadastro de reserva.

A professora de Biologia Daiane Santos Lima, 35, espera que os colegas ainda não chamados possam receber a posse logo. Enquanto esperava a nomeação, Daiane trabalhou na rede pública da Prefeitura de Fortaleza. Agora efetivada, já sabe onde vai dar aula no próximo ano letivo, que começa no dia 30 de janeiro.

Vai ser perto da minha casa, no Pirambu. É uma mudança de vida para mim, para minha família, é ver meu esforço recompensado”, afirma a professora.

A ansiedade pela convocação também chegou ao fim para Jackson Martins, 33, professor de Química, morador de Crateús, no Interior. “Vou trabalhar do lado, em Novo Oriente, a uns 40 km de distância. A gente está feliz, agora é trabalhar”, diz o docente que deve ser lotado em turmas de segundo e terceiro ano do ensino médio.

A secretária da Educação, Eliana Estrela, relembra que o compromisso da posse dos 800 professores foi feito ainda durante a gestão da ex-governadora Izolda Cela (sem partido). “Desde o ano passado já havia acordo para a gente chamar, tinha essa carência. É importante para nós a presença dos professores concursados. Eles brevemente entrarão em exercício”, diz.

Para Elmano, os professores efetivos “ajudam no processo de qualificação” da educação do Estado. Durante a solenidade de posse, o governador afirmou que discutirá com a Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag) sobre novas nomeações do restante dos docentes.

O que for possível nós fazermos para ter os professores ingressando e ter o máximo de professores atendidos”, diz.

Escolas em tempo integral

A meta de universalização do tempo integral em escolas de ensino médio da rede estadual deve avançar em 2023. Segundo a secretária da Educação, mais 80 escolas devem ter matrículas na modalidade de ensino. Até o fim do ano, a expectativa do governo é que 80% de todas as escolas de ensino médio sejam integrais.

Defesa da democracia na solenidade

Durante a solenidade, os atos de terrorismo antidemocráticos registrados no domingo, 8, em Brasília, também foram repudiados. O governador Elmano de Freitas, a secretária-executiva do Ministério da Educação, Izolda Cela, os deputados Idilvan Alencar e Evandro Leitão e a secretária da educação, Eliana Estrela, pronunciaram-se contra as ações extremistas e a favor da democracia.

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Com informações do O Povo.

Deus me livre

 

Golpistas invadem sedes dos três poderes em Brasília - EVARISTO SA / AFP.

Por Alexandre Lucas, Colunista

"Invadimos tudo", grita o homem branco de camisa azul. Usa boné amarelo com bordado verde, inscrito B-38, o B pode ser de qualquer bobagem, já o 38 é uma referência a arma de fogo mesmo. "Estamos vencendo a guerra, graças a deus, em nome de Jesus estamos vencendo", continua gritando o homem. No seu entorno, outras pessoas gritam num clima de festa e destruição. O pastor transmite a invasão com entusiasmo e pede para o seguirem nas redes sociais.

Mulheres se ajoelham entre cadeiras quebradas e papéis espalhados. Algumas têm rostos pintados, lembra teatro, mas é real, elas cantam e oram. A oração parece que fortalece a cegueira do ódio e do destroço. Excluíram Jesus da cerimônia e usaram indevidamente o seu nome.

"Deus, pátria, família e liberdade" se repete como eco entre a multidão hipnotizada, que avança sobre os cavalos, as vidraças, as obras de artes e as pessoas, nada deve ficar intacto. Criam uma notícia falsa para o terror, os lobos se dizem cordeiro.

O homem com a bandeira do Brasil, sobe em cima de um quadrado de madeira branco, desses que colocam obras de artes, desce as calças e simula obrar.

Outro pastor Mala, insiste, insiste em vender o ódio como amor. Solta frases aceleradas, sem ponto, vírgula e ar. Incita o caminho da violência pela via do morde e assopra. "Deus tenha misericórdia do Brasil", grita furioso e espumando os beiços de mentira.

Não se sabe ao certo o que esse povo quer.  Uma é coisa certa: não querem que o peixe e o pão sejam divididos, como ensinou um jovem revolucionário, há muito tempo atrás, devia ser comunista, mas foi abandonado por seus falsos discípulos nas rampas conflituosas do poder. 

Alexandre de Moraes determina afastamento de Ibaneis Rocha, governador do DF

 

(Foto | Renato Alves |Agência Brasília).

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu na madrugada desta segunda-feira (9) afastar o governador do Distrito Federal do cargo por 90 dias.

No domingo (8), as forças de segurança do DF não contiveram vândalos bolsonaristas que invadiram e depredaram o Congresso, o Palácio do Planalto e o prédio do STF.

Moraes tomou a decisão ao analisar um pedido do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e da Advocacia-Geral da União.

Moraes disse que os atos terroristas do domingo só podem ter tido a anuência do governo do DF, uma vez que os preparativos para os atos eram conhecidos.

A escalada violenta dos atos criminosos resultou na invasão dos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, com depredação do patrimônio público, conforme amplamente noticiado pela imprensa nacional, circunstâncias que somente poderia ocorrer com a anuência, e até participação efetiva, das autoridades competentes pela segurança pública e inteligência, uma vez que a organização das supostas manifestações era fato notório e sabido, que foi divulgado pela mídia brasileira", escreveu Moraes na decisão.

O ministro afirmou ainda que os ataques aos prédios e às instituições da Republica foram "desprezíveis" e não ficarão impunes.

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Com informações da Mídia Ninja.

Antonieta de Barros integrará livro dos heróis e heroínas da pátria

 

(FOTO/ Memorial Antonieta de Barros).

Por Nicolau Neto, editor

2023 começou com algumas mudanças. Dentre elas, a ocupação em postos de poder de homens e mulheres pretas. É sabido que é ocupando espaços de decisão junto a luta constante nas ruas que o racismo estrutural no país pode ser combatido de forma mais eficaz.

Valorizar quem antes de nós lutou para uma educação antirracista é um passo importante. Dentro desse movimento, a jornalista, educadora e política Antonieta de Barros, a primeira deputada preta do país integrará o livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Sua luta nas primeiras décadas do século XX incorporou três ideias caras e necessárias e ainda ausentes neste século, a saber: educação de fato para atender a todos, a emancipação e empoderamento feminino e a valorização da história e cultura negra.

Como primeira mulher preta a assumir um mandato popular de deputada estadual em Santa Catarina, ela foi a autora do projeto de lei que criou o Dia do Professor.

A iniciativa de incluir Antonieta no livro é do deputado Alessandro Molon (PSB | RJ). E uma das primeiras ações de Lula (PT) enquanto presidente é esta salutar medida que teve a assinatura da Ministra da Cultura e da Ministra da Igualdade Racial, Margareth Menezes e Anielle Franco, respectivamente.

Antonieta, PRESENTE Sempre. Afinal, como diz a ativista Angela Davis "ao colher o fruto das lutas do passado, vocês devem espalhar a semente de batalhas futuras".

Lula sanciona Dia Nacional de Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé

 

Integrantes da caminhada contra a intolerância religiosa em Juazeiro do Norte. (FOTO |Acervo do blog).

Por Nicolau Neto, editor

Foi sancionada nesta sexta-feira, 06, pelo presidente Lula (PT) a Lei 14.519/2023, que institui o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, a ser celebrado anualmente no dia 21 de março.

O deputado Vicentinho (PT | SP) é o autor do projeto que deu origem a referida Léo que foi aprovado no último dia 21 de dezembro de 2021 no Congresso Nacional.

Além de Lula, as ministras da Igualdade Racial é da Cultura, Margareth Menezes e Anielle Franco, respectivamente, também assinaram a lei publicada na edição desta sexta-feira, do Diário Oficial da União (DOU).

Morre Zé Mariano, aos 70 anos, o poeta cordelista de Altaneira

 

Morre Zé Mariano, o poeta cordelista de Altaneira. (FOTO/ Reprodução/ YouTube/ Papo Social PodCast).

Por Nicolau Neto, editor

Recebi com muita tristeza na tarde desta terça-feira, 03 de janeiro, a morte Zé Mariano, o poeta cordelista de Altaneira. Segundo informações extraoficiais, ele sofreu um infarto. Familiares e amigos e amigas participaram da missa de corpo presente da Igreja Matriz na manhã desta quarta, 04, onde se despediram de um dos representantes da cultura popular local.

José Mariano de Lima, O poeta Zé Mariano, nasceu em 06 de junho de 1952 no município de Princesa Isabel, no Estado da Paraiba. Com seis anos de idade mudou-se junto à família para Juazeiro do Norte, no Ceará, fugindo da “seca” como ele mesmo descreveu em sua última aparição no Papo Social Podcast, da Fundação ARCA, apresentado pelo educador social Fábio Barbosa.

Seu Zé Mariano relatou que seu pai, Raimundo Mariano, possuía familiares na Baixa Grande e que através deles vieram para Altaneira ainda em 1958. Segundo ele, nesse período vinham participar da feira aqui. “Eram só três ruas. Mas tinha feira, tinha tudo”, disse. A vida estudantil não foi fácil para ele, como também não era para muitos da mesma época. Chegou a andar mais de 8 quilômetros para chegar até a escola. “O ensino era muito decorativo. Eu tinha que ler uma página e decorar para dizer para a professora. Não podia errar uma letra se não palmatória comia de esmola”, destacou.

O gosto pela poesia, pelas rimas veio com o contado com os cordéis que ele via e comprava nas andanças pelas feiras. Ele contava que começou a ler e comprar. E não parou mais. Mas somente depois dos 50 anos é que ele voltou a estudar. “Eu sabia ler e escrever, mas não entendia o que lia”, contou ele no podcast em novembro de 2021. “Então fui incentivado a voltar a estudar pela primeira dama e secretária de educação de Altaneira na época, a Damares Arraes”, frisou. Concluiu o fundamental e o contato com a tecnologia e a internet só veio durante o ensino médio na Escola Santa Tereza a partir do professor de História e Filosofia Fabrício Ferrraz, hoje residente em Brejo Santo – CE. “O professor Fabrício chegou pra mim e disse: seu Zé Mariano, o senhor é poeta e participa de apresentações nos eventos. Então eu vou lhe ajudar”, comentou ao mencionar que por meio de Fabrício aprendeu a digitar suas poesias e as publicar no blog criado para esta finalidade.

Hoje, o blog desatualizado (http://opoetacordelista.blogspot.com/) conta com várias poesias de sua autoria, dentre elas a autobiografia; a que fala sobre o ex-vereador e médico popular Euclides Nogueira Santana (seu Quido), já falecido; a Lagoa Santa Tereza, onde fontes orais destacam ter surgido o município de Altaneira; a riqueza do sertão; elogio do sertão; a 1ª conferência dos idosos de Altaneira e interpretação do Hino de Altaneira.

O poeta deixa uma esposa, quatro filhos, nove netos, um irmão e uma irmã.

Zé Mariano, assim como os já falecidos João Zuba em 24 de fevereiro de 2017 e Dona Angelita em 24 de novembro de 2021, são exemplos de patrimônios histórico-culturais do município.

Minha lembrança de Zé, que ainda não era o poeta, vem da infância. Ainda criança quando morava no Mutirão – e as diversões preferidas eram brincar de pião e jogar bola no beco na casa de Dona Santana – era comum parar a noite e ouvir as histórias que ele contava. A que mais ficou gravada foi a que ele contatava entusiasmado da primeira missa no Brasil. “Frei Henrique Soares de Coimbra”, dizia.

Meus sentimentos à família, amigas e amigos de seu Zé, o poeta cordelista de Altaneira.

Como se eleger sem dinheiro? Crítica aos Partidos Políticos de Esquerda em consideração à candidatura de mulheres negras no Nordeste

 

Maria Raiane. (FOTO/ Acervo Pessoal).

Por Maria Raiane, Colunista

O texto foi publicado originalmente no Letras Negras, uma iniciativa do projeto “Enegrecer a Política” com o objetivo de divulgar o pensamento e as ações de pessoas negras do Norte e Nordeste. Segundo Raiane, foram selecionados 8 textos do norte e do nordeste. Do nordeste, um do Ceará, o seu.

Maria Raiane Felix Bezerra[1]

 

Após o feminicídio político de Marielle Franco no ano de 2018, houve um salto positivo de candidaturas negras. Algo surpreendente foi a quantidade de candidaturas coletivas que se formaram em todo o Brasil, principalmente, de mulheres negras que se colocaram na disputa para pleitear uma vaga nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras brasileiras, com destaque para a região Nordeste.

As mulheres negras, peças-chave para a mudança radical dessa sociedade em que vivemos, nas últimas eleições (2018, 2020 e 2022) ousaram se candidatar em um cenário em que estávamos quase perdendo os mínimos direitos sociais conquistados e que muitos foram totalmente extinguidos pelo governo Bolsonaro. O atual  governo representa/ou a forma mais antidemocrática, anti vida, punitivista, proibicionista, racista, feminicida, LGBTQIAPN+fóbico, entre outras violências, que o país já viveu desde o processo de redemocratização.

Acredito que o cenário caótico em que vivemos fez com que as pessoas negras se colocassem como ponta de lança, pois são elas que estão nas lutas árduas e cotidianas em prol das ações afirmativas e que finalmente conseguiu inserir, minimamente, essa população preta, periférica, das classes mais afetadas nos espaços que foram negados historicamente.

Refletir sobre a sociedade brasileira, me faz querer debruçar sobre os limites da falsa democracia e do sonho que ela se torne de fato realidade, pois com racismo não há democracia.

E é sobre isso que eu quero falar. Acredita-se que os partidos políticos considerados progressistas ou de “esquerda”, possuem programas partidários que mais se aproximam de um projeto para uma sociedade mais “igualitária”. Neste ponto, vale lembrar o mito da democracia racial, pois essa fantasia tem sido uma pedra no caminho da população negra no Brasil, visto que entrou com muita facilidade nas mentes daqueles/as que assim como a maioria no país, agem em negação quanto à existência do racismo estrutural.

Trago essa discussão para o debate, para conseguirmos vislumbrar o quanto esse conceito criado por um sociólogo nordestino[2] atravessou e fundou os partidos políticos de esquerda.  Ter esses fatos em mente, nos ajuda a diagnosticar e dimensionar o problema gerado pelo mito da democracia racial.

É preciso denunciar que existe um problema de formato estrutural que não é solucionado pelos partidos políticos, pois quando se trata das barreiras enfrentadas por pessoas negras, ou eles tratam subdividindo o problema em setoriais, ou, sequer fomentam iniciativas em seus programas de ações partidárias direcionadas à mitigação dessas barreiras, e tais omissões são classificadas como racismo. Até porque, quando não debatemos ou não tratamos de certos problemas, é porque negamos a sua existência. Se eles deixam de falar sobre ou colocam apenas pessoas negras para falarem do assunto, novamente, eles estão sendo racistas.

E quando se trata de candidaturas de mulheres negras que, felizmente, estão saindo em candidaturas coletivas ? O que os partidos de esquerda têm a declarar do apoio que dão ou deixam de dar para essas corpas? Consegue refletir de onde estou enxergando? Exponho todos estes pontos para finalmente chegarmos ao conceito de Racismo por Omissão.

O conceito foi criado por Lélia González para denunciar o Partido dos Trabalhadores (PT) que nos anos 80, quase cem anos após a falsa abolição, não integrou ao seu programa partidário e nem denunciou em rede televisiva, a situação em que a população negra se encontrava no país.

Partindo desse conceito, como já busquei desenhar, tento refletir e expor as candidaturas recentes das mulheres negras no Nordeste. Principalmente, daquelas que denunciaram de forma aberta em suas redes sociais, as dificuldades de financiamentos negados ou não distribuídos de forma coerente pelos partidos de esquerda.

Este é o caso das vereadoras (Pretas Juntas) Elaine Cristina e Débora Aguiar do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), da cidade de Recife-PE, que mesmo recebendo mais de 3 mil votos em sua campanha para vereança, não receberam recursos suficientes do partido (PSOL), mesmo diante da magnitude da campanha.  Percebo isso como uma estratégia de boicote ao projeto político pensado e conduzido por mulheres negras, pois estamos falando de partidos políticos que tem um quantitativo que se autodeclara negro relevante. Mas que ainda segue os princípios branco, masculino, cis, hétero etc., por isso, para eles, só vale apostar financeiramente naquelas/es que “já estão ganhos”. Importante lembrar, que isso não é apenas uma situação isolada em Recife-PE.

Foi por meio dos financiamentos coletivos que várias campanhas coletivas de mulheres negras se sustentaram.  Foi com o apoio de uma coletividade, que as candidatas tiveram apoio psico-socio-político dos seus coletivos comprometidos com as pautas para continuarem no enfrentamento às desigualdades intrapartidárias.

Importante destacar que, os partidos políticos, ainda nos tratam como pessoas que estão propondo uma candidatura apenas por questões “identitárias”, algo que quem faz parte dos movimentos negros, de mulheres e outros escutam com frequeência. Mas vos digo, eles têm medo do que propõem as mulheres negras, pois estamos falando de atores sociais que pensam a sociedade como um todo.

Que deixemos bem nítido, não queremos apenas nos candidatar, queremos ser eleitas e para isso precisamos do compromisso real com a dívida não paga daqueles que nos devem e que estão alocados nas estruturas partidárias. Para a “esquerda”, deixo um recado, é preciso reconfigurar esse padrão que usa nossa imagem para cumprir coeficiente de representação, não iremos aceitar mais isso.




[1] Maria Raiane, negra jovem de 24 anos, pansexual, licenciada em ciências sociais pela Universidade Regional do Cariri (URCA), mestranda em Sociologia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), professora de sociologia e filosofia na educação básica, escritora independente/marginal, colunista do blog Negro Nicolau, pesquisadora do NEGRER; compõe a coordenação do Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC); ativista da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas RENFA; nascida e criada em Juazeiro do Norte, região do Cariri, no Estado do Ceará-Nordeste

[2] O conceito de “Democracia Racial” foi criado por Gilberto Freyre e na obra Casa-Grande e Senzala (1933) foi onde o conceito ganhou relevo e reconhecimento. Esse conceito, nega a existência do racismo no Brasil.

Escuto silêncios

 

Alexandre Lucas. (FOTO/ Acervo Pessoal).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Se essa rua fosse minha, abriria de silêncio e a fecharia para escutar o vento e os pássaros. Aqui faz barulho. As músicas brigam. Os cachorros não descansam e, à noite, a gatalhada se ama nas alturas.  Não dá tempo para se escutar. Ao ler um livro, o som esbarra no entendimento das palavras.

A rua não é minha. Escuto um jazz para distrair o barulho, no fundo, vozes de crianças celebram suas brincadeiras. Chupetinha, a velha louca, bêbada e solitária canta para encontrar companhia, as crianças se divertem. O carro com som volante anuncia um bingo, enquanto a furadeira do vizinho perfura as paredes.

Na calçada, homens e mulheres riem narrando a vida alheia. Dentro da casa, a família chora o assassinato do filho.

A polícia grita com a jovem preta e espanca o seu namorado que tem menos de 18 anos. A população grita por dentro e silencia por fora.

Como essa rua não é minha, aprendi a escutá-la e sentir como nossa.  Percebo que ela é mais silenciosa que os gritos contra a impunidade.