“Fausta Venâncio David: o exemplo, o ensino, a devoção”. Conheça a patrona do altaneirense José Evantuil



O professor e sindicalista altaneirense José Evantuil foi empossado na cadeira 01 da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe no dia 14 de julho do ano em curso no auditório da Escola Municipal de Ensino Fundamental 18 de Dezembro, no centro de Altaneira.

Durante sua posse, ele apresentou trabalho de pesquisa sobre a professora Fausta Venâncio, ou simplesmente “Dona Fausta” como passou a figurar no imaginário do povo altaneirense. A pesquisa constitui requisito necessário para os acadêmicos e acadêmicas ingressarem e permanecerem como “imortais”. Além “de contribuir de alguma forma para o despertar da arte de escrever, uma maneira de garantir que se tenha produtividade”, pontuou certa vez o presidente da Seccional Araripe, Adriano Sousa.

Evantuil conta que Dona Fausta viveu até os 101 anos. Ela nasceu em 12 de outubro de 1915, em Santana do Cariri e faleceu em 17 de dezembro de 2016 em Altaneira. Por aqui, Fausta fixou residência no pós emancipação política em 1958, montando em sua morada uma mini escola de apenas uma sala que funcionou até os anos 90 do século passado. O acadêmico relatou que ela chegou a participar de campanha que culminou na construção da capela de São José, localizada no centro da cidade e que foi assediada para se envolver na política no grupo de Frutuoso José de Oliveira, mas que optou pela área educacional. Ela foi inclusive a primeira professora deste município. Mencionou ainda que esteve mais presente na vida dela nos anos que antecederam seu falecimento. “Costumava fazer visita-la sempre no dia 12 de outubro, dia do seu aniversário”, disse. Para ele, ter Dona Fausta como patrona da cadeira que terá assento é uma das formas de poder render homenagens a esta figura que sempre teve relação estreita de prestação de trabalho aos altaneirenses.

No seu trabalho intitulado “Fausta Venâncio David: o exemplo, o ensino, a devoção”, ele faz um passeio pelo seu histórico de vivência na comunidade, sua participação decisiva no processo educacional do município de Altaneira - tida como a primeira professora -, até o seu envolvimento com a política partidária.

Seu pulso firme e o desapego as benesses do poder foi um marco nas suas decisões políticas. Derrotado o seu grupo politico e após rejeitar diversos convites a assédios para assumir posições, optou pelo chão da sala aula. Ali em meio as crianças realizou todos os seus desejos de semear sonhos sem nada querer em troca”, descreve o entusiasmado Evantuil.

Abaixo o trabalho sobre sua Patrona.

A VIDA NA COMUNIDADE

Nome: Fausta Venâncio David, nasceu em Santana do Cariri, em 12 de outubro de 1915. Passou infância e adolescência entre os Sítios Lagoa de Don’ana e Taboquinha. Perdeu o pai quando ainda era muito jovem. Fato que a “fez forte para suportar a dureza da vida que teve que levar”. Aprendeu a ler com as tias. E quando já sabia tudo teve a estrada da vida como mestra.

Fausta Venâncio ainda bem jovem. (Foto: Acervo da Família).

Nunca amou ao luxo. Sempre via a flor como símbolo do que é a estrada do homem. Hoje é lindo e perfumado, a manhã já não existe mais. Pois era uma rosa o que mais gostava de ganhar. Logo enfeitava-se o cabelo e o resto era só sorriso.

Foi com essa simplicidade que a garota Fausta iniciou a participação na comunidade de Santa Tereza.

A dureza que a vida lhe reservou tornou-a forte para encarar a vida com sorrisos. Ela logo escolheria lidar com tantos sorrisos inocentes e sinceros das crianças.

Moça bela, órfã, culta e sincera. Tantas qualidade para ser uma boa dona de casa, mas não era o seu forte servir de espelho para alguns filhos. Optou por ser redentora de uma legião de alunos. Tantos que perdeu a conta.

Aos 13 anos, viu-se diante da necessidade de ajudar a formar o povoado que escolheu para viver. E a Vila Santa Tereza viu uma jovem decisiva encorajando tantos outros jovens a angariar recursos para construção da Capela de Santa Tereza. Talvez ali teve que aprender a conquistar o mundo com simpatia e doçura. Liderou grupos de jovens pelos sítios e vizinhança a busca de donativos e “esmolas” para impulsionar os gastos da construção sob a liderança de Frutuoso, atitude que foi um marco da primeira construção pública do povoado nos idos 1927. Marcaria também a descoberta da vida devota que assumiria até ao fim da vida, voltada para servir ao próximo.

O talento espiritual de servir aos caprichos da devoção aos trabalhos da igreja logo foram decisivos para voltar o foco de serviços ao ensino de crianças e a juventude do lugar.

Em 1939 criou sua primeira escola, chamada de Escola particular 13 de Maio. A longa devoção e dedicação às novenas, quermesses, leilões e a todas as alegrias proporcionadas dos festejos do mês mariano, e a devoção a Maria, pode está por trás da motivação de escolha do nome da escola.

Por 53 anos funcionou a escola Particular 13 de Maio. De 1939 a 1992. Residiu e exerceu a pedagogia por mais de cinco décadas à Rua Apolônio de Oliveira, ali no canto inferior da Praça Manuel Pinheiro de Almeida, até ao fim da vida.

Na década de 60 oficiou como titular no 1º Cartório do Registro Civil por Farias Brito sediado no recém criado município de Altaneira, como Oficiala do Registro Civil. O status de Oficiala do Registro Civil colocou Fausta no caminho de outros tantos que viriam aos anais da nação como brasileiros por suas mãos, em registro de nascimento, óbitos e casamentos no estado civil.

Suas convicções políticas firmes pode configurar como a única pessoa a passar mais tempo fora da situação política. Nunca se dobrou por empregos ou proteção de quem quer que seja.
A década de 60 foi decisiva na carreira política. Já na primeira eleição e na ocasião da corrida pelo comando do município, decidiu acompanhar o grupo liderado por Frutuoso José de Oliveira, vice na chapa do Dr. Vicente da Frota Cavalcante, ambos derrotados por Feneleon Pereira.

Viria a rejeitar todas os convites de todos os prefeitos que a chamasse para ocupar qualquer função na administração pública.

Não era de esperar reação diferente. Fausta iniciou sua atuação na comunidade liderada por Frutuoso na ocasião da construção da capela. Seu pulso firme e o desapego as benesses do poder foi um marco nas suas decisões políticas. Derrotado o seu grupo politico e após rejeitar diversos convites a assédios para assumir posições, optou pelo chão da sala aula. Ali em meio as crianças realizou todos os seus desejos de semear sonhos sem nada querer em troca.

Conciliou o funcionamento de sua escola ao mesmo tempo com todas as outras atividades e sua devoção.

Teve uma vida toda dedicada as atividades da igreja. Recomendava os falecidos e desvalidos que passavam na igreja. Na inexistência de atendimento, era Fausta que confortava os corações de parentes presentes e com dulçura ditava doces palavras a dura e longa caminhada da alma adormecida em corpo presente. Um credo! Algumas Ave Marias! Tornava a ser a mesma professora de cada dia.

Após passar a sobreviver de apenas uma aposentadoria de um salario mínimo por mês, finalmente dá descanso a velha palmatória. Faleceu a 16 de fevereiro de 2016 em sua residencia em Altaneira aos 100 anos.

O ARDOR COMUNITÁRIO

É difícil de explicar o tamanho da motivação por ações comunitárias de Fausta quando se observa a forma que a mesma dedicou-se dentro da comunidade por tantas décadas a fio.

Estreia no voluntariado trabalho de arrecadar fundos para fundar aqui as bases da obra espiritual da igreja, ainda pela ocasião da fundação do povoado de Santa Tereza. Obra vitoriosa e promissora até aos dias de hoje. Arrecadou “esmolas” e donativos em forma de coletas para a construção da Capela de São José, na é era de Santa Tereza. A construção inciou em 1927 e inaugurada em 1936. Ali Fausta pode celebrar as primeiras missas ao lado do jovem padre Joaquim Sabino.

O empreendedorismo voltado para os mais carentes aflora a cada instante. Aos 23 anos inicia a árdua missão de levar a instrução, o ensino no “desarme” de meninos leigos e pobres de sua comunidade. Um pequeno passo para ela, mas um grande salto de emancipação pessoal para aqueles que só podiam tirar esperança do cabo das ferramentas de trabalho braçal.

Tal vocação empreendedora culminaria com uma sala abarrotada de meninos de todas cores e tamanhos sedentos de saber. Carentes de carinho. Fugindo da roça e do destino selado dos pais. Para talvez  ser cidadãos da praça. E muitos foram ao longe.

A vocação ajudar a comunidade desenvolver-se se arvorou no campo da organização dos festejos em homenagem aos ícones religiosos. Sempre fez parceria com a irmã Raimunda(Dodó) e Chiquinha Almeida no zelo das coisas da igreja. Por anos a fio, foram elas que estiveram a frente dos festejos, e organização de novenas, em suas datas, a festa da padroeira e o apoio as missas encomendadas aos falecidos.

A partir de 1949, continua a escrever sua linda História em Altaneira. De comportamento que ela mesma se auto declara como uma pessoa “carrasca”. Tudo pela autorização verbal outorgada pelas próprias famílias em disciplinar as crianças, fazendo as vezes de pai ou mãe. “eu era dona do rebanho dos meninos”, como firmou em entrevista a estudantes que a procuravam para falar sobre sua história. Não temos dúvidas que as dificuldades do Magistério moldavam uma personalidade que não encontrou facilidade alguma na vida.

Foi o status de escola particular, apenas por não ser ligada a administração municipal, as mensalidade eram simbólicas, “10, 20 mil réis de pagamento por aluno”. Muito pouco, pra manter a própria sobrevivência e às vezes inalcançável as posses de muitas famílias.

No bojo da sua pedagogia de caráter pessoal, incluía-se alem rigor a aprendizagem da Língua Portuguesa, mas também Moral e Cívica, Estudos Sociais e Catecismo.

Sua residencia sempre permaneceu acessível a vizinhança e aos compadres. Possuidora de tantos afilhados sempre os tratava como se filhos fosse.

DEVOÇÃO, ORGANIZAÇÃO E VOCAÇÃO

De devoção católica, foi a que mais deixou acentuar as marcar do evangelho. Com o lema viver para servir. Talvez nas raízes da família tenha obtido a convenção na fé em Deus. A menina órfão não podia se dar ao luxo de agarrar-se ao conforto espiritual já que a vida só reservava-lhe os castigo e o sofrimento. A fé era essencial.

A verdadeira devoção sempre foi dedicada aos santos e aos pecadores. Impunha aos seus alunos conhecimentos básicos de catecismo como alicerce para uma vida no temor a Deus, respeito aos mais velhos e postura de cidadão honrados.

No calendário anual de atividades religiosas incluía a frequência as missas semanais, novenas de São José de 12 a 19 de março, novenas por todo o mês de maio em reverência a Maria Santíssima, novenas de 6 a 15 de outubro, pela ocasião dos festejos a Santa Tereza Dávila, reverência aos mortos com visita ao cemitério local em 2 de novembro, na visita de cova e reverencia ao natal do menino Jesus.

A mais fiel aos costumes e tradições católicas, sendo a única a preservar o costume de usar o véu preto durante as missas.

O hábito de rezar pelos falecidos se mostrava muito forte quando via a movimentação de chegada de algum corpo na igreja. Numa época que o azul de caixões de “anjos” se confundia com o azul do céu, pela grande mortalidade de crianças e mesmo adultos. Logo aproximava-se indagando pelo nome do falecido. Ao saber o inseria no “pé” da reza fazendo as melhores recomendações para que alcançasse sorte de receber o perdão e ir ao um bom lugar ao seio do Pai. Assim agradava tanto a vivos como a mortos.

OFICIALA DO REGISTRO CIVIL

O primeiro Cartório do Registro Civil instalado no município foi comandado por Fausta Venâncio David. Um fato histórico na vida da comunidade. Muitos filhos da terra vistos apenas em ocasiões de eleição, e somado com o analfabetismo presente só tirava os documentos quando ia casar, votar ou viajar. Muitos vivendo na indigência até mesmo quando adultos. O esforço de autoridades de Farias Brito e a confiança em seu trabalho presto culminou com a importante prestação de serviço aos agora altaneirenses. Muitos vieram a pertencer a nação de fato e de direito graças ao assentamento no registro civil. Sem falar nas uniões entre casais seladas pela lei e o carimbo de Fausta Venâncio.

A ESCOLA PARTICULAR 13 DE MAIO

Interior da escola. (Imagem do filme de Dr. Eluizo Tavares 1990).

A Escola Particular 13 de Maio aponta fortes laços com sua religiosidade, pois maio é o mês de maior devoção na comunidade, sendo uma das antigas, como lembra D. Nene Rodrigues que lembra

A comunidade do Tabuleiro fazia procissão do sitio até a Capelinha na data do dia três do mês de maio. Os organizadores eram da família Luis. O grupo eram animado por uma banda do tipo cabaçal. A comunidade tinha a tradição anual dessa devoção. Com o tempo e já desfrutando do estatus de Capela de Santa Tereza, a devoção a Maria fica apenas no seio da comunidade. (Depoimento de Nene Rodruigues, de 99 anos).

Com uma vara de bambu na mão e muitas ideias na cabeça, se pôs a praticar a pedagogia para os mais oprimidos. Os pais lhe davam toda autoridade sobre o comportamento dos estudantes. Quando um pai ou mãe não concordava com o rigor da disciplina empregada em seus filhos, tratava de “tirar” o filho da escola sem mesmo informar o verdadeiro motivo, tal era o respeito conquistado na comunidade, como lembra a ex aluna Maria Lúcia de Lucena que relata:

Como aluna, sabia que D. Fausta era rigorosa. Ela colocava de castigo. Alertava os meninos tocando com a vara de bambu na cabeça. D.Fausta já estava sem paciência com tanta danação que os meninos faziam. Um dia, quando foi castigar com a vara de bambu, Lucena girou o rosto e a ponta da vara feriu o delicado rosto.... Nada aconteceu. A mãe secretamente transferiu-a para outra escola e escondeu esse fato do seu pai. (Depoimento de Maria Lúcia de Lúcena, Ex-aluna de Fausta)

No bojo da sua pedagogia de caráter pessoal, incluía-se alem rigor a aprendizagem da Língua Portuguesa, mas também Moral e Cívica, Estudos Sociais e Catecismo.

Nenhuma outra atividade deu-lhe mais notoriedade como o trabalho como professora. Vários fatores chamam a atenção, pelo fato de uma escola tão simples permanecer ativa por mais de cinco décadas.

Difícil de ser superada pelo poder público. A motivação sobrevinha da vontade de ajudar ao próximo afastar-se da ignorância e aproximar-se da luz do saber.  Iluminar mentes e encantar corações. Alimentar sonhos. Dar asas a imaginação. Um pouco de ingredientes que estiveram sempre num trabalho tão vitorioso e aplaudido. Difícil de ser superada por quem quer que seja.

O espaço físico da escola lembrava o próprio espaço familiar. Cobrava-se uma mensalidade simbólica. As crianças se acomodavam em bancos de madeira numa sala de casa comum. Olhar fixo ao velho e bom quadro negro de madeira. Em mão o manuseio de “cartas de ABC”, sob o olhar atento e a ameaça da vara de bambu.  De tempos em tempos as chamadas para arguição eram acompanhadas de competição por saber a lição. Um exercício de sorte e auto controle. Quem mais sabia assumia a carrasca missão de “dar bolos” com a palmatória nos alunos que não lembrava da tarefa. Ao final, os castigados recebiam a missão de aprende tudo novamente.

Na hora de lanchar quem podia ia rápido em casa comer qualquer coisa. Os demais permanecia apreensivos pela segunda etapa da aula. Tudo era uma fantasia em poder estudar em local tão mágico.

AS HOMENAGENS DEVIDAS PELOS SERVIÇOS PRESTADOS

Não era de não se espera que uma pessoa que serviu a tanta gente e por muito tempo ao fia e ao cabo não passasse a receber devidas homengens por aquele que tiveram a sorte de trocar com Fausta a ignorancia pela luz do saber tão escasso naquelas épocas. E essas homenagens forma notórias.

* Dr Eluizo 1990

Em 1990, por ocasião do aniversário foi reconhecida com uma justa homenagem organizada pelo médico Dr. Eluizo Tavares. O evento festivo culminou com uma missa onde renderam-lhe leituras de reconhecimento a sua personalidade e trabalho prestado. Desse trabalho de Dr. Eluizo foi produzido um documentário em curta metragem documentando seu local de trabalho em horário de aula com alunos, e a missa. Esse trabalho de Dr Eluizo versou o seu olhar sobre o município de Altaneira. Durante a missa foi lido mensagens por alunos atuais e ex-alunos. Emocionada a sua irmã Raimunda(Dodó) também dedicou-lhe uma linda poesia de gratidão por tudo que representava. Grafo os versos da poesia:

Fausta
Esta palavra tão pura
Possui encanto e ternura
E muito a se dizer
A palavra irmã traduz
Muito afeto e muita luz
E isto eu vejo em você.

Você transmite pureza
Muita alegria e beleza
No ensino das crianças
Em seus gestos há calor
Muita doçura e amor
Carinho, vida e esperança.

Você me lembra Maria
Que muito me contagia
Em ver voce nessa imagem
Eu busco em sua pessoa
Que sempre tem coisa boa
Amor, palavra e mensagem.

Minha irmã não quero ver
Um dia você sofrer
E nem nunca ficar triste
Você não pode chorar
Para assim não magoar
Tudo de belo que existe.
(Dona Dodó), 12 de outubro de 1990

Homenagem do Poder Público

Em 12 de outubro de 2015, e já centenária a professora recebeu em sua residencia uma legião de ex-alunos, parentes, amigos e admiradores onde foi festejada a longevidade e lucidez de uma mulher que foi antes de tudo humana, carismática e forte. O poder público através da Secretaria de Cultura acompanharam a mobilização de reconhecimento pela igreja. Uma missa celebrada ali mesmo em frente a sua casa/escola. Após a missa, todos esforçavam para fazer um registro fotográfico ao lado de uma vida de 100 anos de existência, porém uma história viva que desafiava a posteridade com seus ensinamentos e encantos.

Muitos ex-alunos, esforçavam-se para garantir a menos uma foto ao lado dela como se voltasse ao jardim da infanica a imitar as cenas do cotidiano escolar.

WAGNER BRAGA DAVID

Ainda em 2015, WAGNER BRAGA DAVID deixou um novo comentário sobre uma matéria veiculada no Blog Mandibula de Altaneira. "A PROFESSORA FAUSTA VENÂNCIO COMEMORA 100 ANOS":

Nessa mensagem esse admirador e ex-aluno traduz com fidelidade seu sentimento e o que foi Fausta Venâncio.

A vida nos prepara para superar obstáculos de uma forma digna e justa. A felicidade não se subtrai a custa de sonho e egoísmo. Existem pessoas que emergem ao mundo com a missão de fazer o bem e de forma justa e incansável; cumpre seu lema até o destino final dos seus dias. Não mais que isto, sem nutrir dentro de si a usura da busca por bens materiais, onde nunca lhe foi maior que os sonhos que externava através do brilho dos seus olhos. Sonhos ela distribuía aos outros,sem mensurar nada e incansável; em troca a vida lhes oferecia o sacrifício. Nunca buscou vender ideias nem nutrir ilusões fantasiosas. Mas dentro do seu mundo justo e grandioso soube como ninguém tirar da escuridão da ignorância pessoas que jamais conhecia. Buscou mostrar que no intimo de cada ser humano existe a luz do saber, da educação e acima de tudo a dignidade que todos nós possuímos. Ser justo, é elementar a qualquer ser humano. Ser digno não é produto de barganha e nem de auto afirmação. A humildade, dentro de cada um de nós existe e é passada para todos com quem convivemos. Não mais que isto, é saber conviver com o principio da harmonia em coletividade, é saber ofertar aos que merece tudo que desejamos para nós mesmos. Dedicar a vida a educar o próximo, foi a missão desta senhora a qual é merecedora de todas as dedicações que um ser humano possa desejar. A sua grandeza e ações, não há adjetivos para qualificar o tamanho da sua importância e exemplo de pessoa honrada que deixou para todos que conviveu e poderão num futuro, outras pessoas, saberem quem a Senhora Fausta Venâncio David foi e representou com o seu legado. Meu muito obrigado minha Tia pela convivência e carinho. seria egoísmo querer a senhora para sempre neste mundo. Apenas seja merecedora do silencio da paz que Deus dentro do seu mundo lhe espera. Para todos nós sera uma lacuna sem alguém a repor a sua falta”. Ósculos, Wagner Braga David.

DENOMINAÇÃO DE ESCOLA MUNICIPAL INFANTIL FAUSTA BENANCIO

Em 2017, e portanto já falecida Fausta homenagem através de Projeto de Lei da Câmara atribuído o seu nome ao da escola infantil Disneylandia. Passou a denominar-se Fausta Venâncio, com funcionamento na Rua Apolônio de Oliveira, nº 473, Centro, Altaneira – Ceará, Lei 698 de autoria da vereadora Silvânia Andrade. Homenagem justa.

Ao longo desse trabalho pudemos perceber a importância de Fausta Venâncio David para a história altaneirense. Enquanto viveu esteve a disposição de todos para oferecendo sua contribuição para o desenvolvimento intelectual e cultural de seu povo. No entanto faz-se necessário que agora agradeçamos por tudo o que se engrandece pelo seu nome.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O nome de Dona Fausta sempre povoou meus pensamentos tomando o primeiro lugar para figurar na Galeria dos Patronos da Academia de Letras do Brasil Seccional Araripe. Mas tive as dificuldades peculiares de biografar uma pessoa ilustre porem que nunca ocupou cargos públicos. Tudo que empreendeu fez por ideias patrióticos e idôneos.

Por vezes bateu o receio natural de que não encontrasse os dados necessários para a pesquisa ideal, dado que a mesma viveu uma centena de anos e por não ter construído uma família nuclear, e de fato, fiz esse trabalho com resquícios de pesquisas colhidas com antecedência.
A escassez de parentes em grau próximo, foi um desafio gigantesco. É tanto que incorri ao risco de quase na hora da impressão deste trabalho ainda está por construir parte dele. Foi tudo muito pressionado pelo prazo e tempo de conclusão. Mas valeu a pena.

Meus primeiros passos na Academia de Letas do Brasil Seccional Araripe foi em 05 de agosto de 2017, a posse na Cadeira 1 aconteceu em outubro seguinte. Para minha alegria, os dados para esta pesquisa foram possível através de depoimentos, documentos do Registro Civil, e da convivência que tive por privilegio com a homenageada por mais de uma década.
Portanto, resta-me torcer para que os leitores entendam a verdadeira mensagem que tentei projetar com o imensurável legado entre nós construído.
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Trabalho encaminhado via correio eletrônico a redação do Blog Negro Nicolau (BNN).


UFCA promove IX Semana da Filosofia – Africanidades, Educação e Resistência


IX Semana de Filosofia da UFCA - O Lado Negro da Filosofia. Africanidades, Educação e Resistência.
(Foto: Reprodução). 

De 19 (dezenove) a 23 (vinte e três) de novembro, universitários/as, professores/as, pesquisadores/as e demais representantes da sociedade civil irão se debruçar no compartilhamento de experiências e conhecimentos na IX Semana de Filosofia da Universidade Federal do Cariri (UFCA), em Juazeiro do Norte.

O evento organizado pelo Centro Acadêmico de Filosofia tem como tema “O Lado Negro da Filosofia: Africanidades, Educação e Resistência” e contará com mesas redondas, rodas de conversa, oficinas, minicursos, vivências e apresentação de produções acadêmicas e não-acadêmicas. Segundo informações divulgadas no site oficial do evento, a escolha da temática partiu da necessidade de “fazer afrontamento à ausência de estudos e pesquisas sobre africanidades e filosofia africana na UFCA e na academia de modo geral”, além de pretender “afrontar a problemática da construção e perpetuação de um espaço hegemonicamente branco, assim como a importância de reafirmar a necessidade da política de cotas raciais e sua efetivação na prática”. “Outro aspecto fundamental é pensar a permanência das pessoas negras nas instituições de ensino superior que são estruturalmente racistas”, justifica-se.

Professores Nicolau Neto e Maria Telvira dividirão a mesa 2. (Foto: Reprodução).

A Semana que se norteará a partir de três eixos centrais inter-relacionados - africanidades, educação e resistência -, objetiva, dentre outros, refletir e fazer enfrentamento aos longos anos de injustiça e invisibilização epistemológica para com as produções de autores e correntes filosóficas de pensamento não-eurocêntricas, nesse caso específico, as de origem africana e afrodescendente. Para tanto, contará com a seguinte programação:

SEGUNDA-FEIRA (19/11)
16h: Credenciamento
18h30: Homenagem ao Mestre Moa do Katendê
19h às 21h30 - Mesa de Abertura - Origens Africanas da Filosofia: as muitas facetas do racismo epistemológico
Convidados: Prof. Dr. Reginaldo Domingos (UFCA), Prof. Alex Baoli e Prof. Dr.
Wanderson Flor (UnB)
Local: Auditório Bárbara de Alencar (Bloco E)

TERÇA-FEIRA (20/11) Dia da Consciência Negra
09h às 12h – Comunicações
14hrs às 17h – Oficinas
18h30 – Artistagem: Cypher de Break
19h às 21h30 – Roda de conversa – 130 anos depois: a juventude negra quer viver!
Convidadas/os: Pâmela Queiroz (UFCA) e Rapper Dextape
Local: Moringa (entre os blocos A e C)

QUARTA-FEIRA (21/11)
09h às 12h – Comunicações
14h às 17h – Oficinas
18h30 – Artistagem: Cota Não É Esmola (Canto)
Estudantes do Colégio Tiradentes
19h às 21h30 – Mesa 02 – Avanços e Percalços Entorno da Lei 10.639: história e cultura afro-brasileira na educação básica
Convidadas/os: Profa. Dra. Maria Telvira (URCA) e Prof. Nicolau (GRUNEC/ALB/Seccional Araripe)
Local: Auditório Bárbara de Alencar (Bloco E)

QUINTA-FEIRA (22/11)
09h às 12h – Minicursos
14h às 17h – Minicursos (continuação)
17h às 19h – Artistagem
19h às 21h30 – Roda de conversa: Interseccionalidades entre Raça, Classe, Gênero e Diversidade Sexual
Convidadas/os: Tiago Alexandre (URCA), Carlos Dias (URCA) e Frente de Mulheres de Movimentos do Cariri
Local: Moringa (entre os blocos A e C)

SEXTA-FEIRA (23/11)
18h30: Homenagem a Marielle Franco
19hrs às 21h30 – Mesa de encerramento – A carne mais barata do mercado...: a racialidade em tempos de fascismo
Convidadas/os: Me. Maria Yasmim (UECE) e Prof. Edson Xavier (URCA)
Local: Auditório Bárbara de Alencar (Bloco E)
22h: Cultural

Aos 97 anos, filha de escravizados luta para manter viva tradição musical das senzalas


Tia Maria do Jongo, filha e neta de escravo que luta para manter viva a tradição musical das senzalas.
(Foto: Reprodução/BBC Brasil).

Quase ninguém a conhece pelo nome de batismo, Maria de Lourdes Mendes. Ela atende mesmo por Tia Maria do Jongo, o sobrenome artístico emprestado da manifestação cultural que a rodeava desde que saiu da barriga da mãe, e que luta há quase um século para manter viva, ao longo de seus 97 anos de jongueira.

Tia Maria é a grande patrona do jongo no Rio, tradição de raiz africana que une canto, dança e toque de tambor e que era praticada em senzalas do sudeste do país.

Mas o ano começou com obstáculos para Tia Maria e para o Jongo da Serrinha, grupo que ajudou a formar há cerca de 50 anos, com o fechamento da Casa do Jongo, onde a ONG trabalha para preservar a tradição. Tido como precursor do samba, o jongo é reconhecido como patrimônio imaterial brasileiro pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Inaugurada no fim de 2015 para abrigar o Jongo da Serrinha e suas atividades, a instituição fechou suas portas no início de janeiro por falta de recursos, denunciando cortes na política de fomento cultural da prefeitura do Rio e a ruptura de uma parceria de longa data.

A casa foi criada com aporte de cerca de R$ 2,5 milhões da prefeitura na gestão de Eduardo Paes, mas não recebe recursos de fomento direto do município desde 2016.

A Secretaria Municipal de Cultura (SMC) do prefeito Marcelo Crivella, que assumiu em 2017, diz que foi forçada a cortar recursos para fomento direto à cultura devido "à crise pela qual passam o país, o Estado e o município" e ao déficit herdado da gestão anterior.

O fechamento da casa gerou protestos entre a classe artística e críticas à política cultural do Rio, com insinuações de que a gestão de Crivella estaria tirando recursos de manifestações de raiz africana. A prefeitura afirma que incentivar tradições afro-brasileiras e patrimônio imaterial é "um de seus eixos estratégicos" (leia mais sobre a disputa no fim da reportagem).

'Crianças têm que conhecer passado da escravidão'

O casarão fica no pé do morro da Serrinha, tradicional comunidade em Madureira, na zona norte do Rio, onde Tia Maria nasceu e de onde "nunca mais" saiu, diz bem-humorada, ao receber a reportagem da BBC Brasil.

Na Serrinha, Tia Maria cresceu cercada por jongueiros e pelo forte movimento de samba que florescia nos terreiros das casas. Ela foi uma das fundadoras do Império Serrano, em 1947, e detém o título de "Número 1 do Império". A Casa do Jongo fica na rua Silas de Oliveira, em homenagem ao sambista que se imortalizou com "Aquarela Brasileira", clássico samba-enredo da agremiação. Ele era compadre da Tia Maria.

Um cadeado mantém o portão trancado para visitantes na entrada, entre as palavras "Rio 450" anos - alusão à celebração do aniversário do Rio em 2015 e ao calendário de eventos comemorativos promovidos pela prefeitura, do qual a inauguração da Casa do Jongo fez parte.

"As crianças têm que conhecer o nosso passado, porque isso elas não aprendem sobre a época da escravidão direito nas escolas", afirma ela. "As crianças têm que saber o passado do país."

O espaço é amplo e decorado, com piso de pedras portuguesas em padrões africanos, paredes forradas de tecidos coloridos, um canto destinado à história do jongo, com fotos e relíquias de seus precursores, e espaço para aulas de dança, percussão, cavaquinho, capoeira, inglês, arte, costura, ginástica, além de cineclube e estúdio musical.

O centro costumava receber 2 mil visitantes e 400 crianças por mês. Gerações de crianças nascidas na Serrinha aprenderam jongo neste imóvel e em sedes menores que a ONG manteve anteriormente.

Tia Maria chegou a ouvir boatos de que poderiam ser despejados da casa. A ONG tem cessão até 2024 para uso do imóvel, que pertence à prefeitura.

"Fiquei chocada, mas não acredito que isso possa acontecer. Eu sou muito religiosa, minha fé em Deus não acaba. Eu rezo muito. Tenho esperança de que tudo vai dar certo."

Aniversário numa semana, portas fechadas na outra

Os últimos dias de 2017 tinham sido só festa para Tia Maria. Ela comemorou seus 97 anos com um show de jongo em uma casa de samba na região portuária do Rio, arrancando aplausos boquiabertos do público quando resolveu ensaiar uma dancinha até o chão, sem se apoiar em ninguém para subir.

No dia 30 de dezembro, a festa continuou com almoço e pagode para dezenas de pessoas na Casa do Jongo. "Minha nora fez dois tachos de feijoada, daquela bem grossa e cheia de carne. Só o pagode é que acabou cedo demais. Fiquei com uma pena, adoro um pagode!", protesta com uma gargalhada.

A voz firme e animada ainda sustenta bem os versos do jongo, que cantarola nas pausas da conversa com a BBC Brasil, batucando na mesa de toalha estampada.

Tia Maria cresceu ouvindo relatos de sua avó sobre o passado da escravidão.

"Ela sempre contava que o jongo veio da África, que os escravos dançavam na senzala", lembra.

"E explicava que o jongo é um afro, não é religião. Aqui pode dançar evangélico, católico, macumbeiro, quem quiser", diz.

Dos velhos para as crianças

De acordo o Iphan, o jongo consolidou-se entre escravos que trabalhavam nas lavouras de café e cana-de-açúcar, sobretudo na região do vale do rio Paraíba.

Tem origem em ritos e crenças de povos africanos, principalmente os de língua bantu, e é praticado nos quintais das periferias e de algumas comunidades rurais da região Sudeste. Há grupos tradicionais de jongo em cidades como Valença, no Rio, e Piquete e Caxambu, em Minas Gerais.

Tia Maria nasceu em 1920, dez anos depois de sua mãe ter migrado de Minas Gerais para o Rio e se estabelecido na Serrinha, na periferia do Rio, que na época era uma área rural. "A minha mãe já veio para o Rio dançando jongo, cantando jongo. Eu digo que já nasci jongueira."

No início, entretanto, havia uma restrição etária intransponível: o jongo era coisa dos velhos. "Velho mesmo, não é jovem adulto não", ressalta Tia Maria.

Ela lembra da infância espiando por um buraco nas paredes de estuque da casa da mãe enquanto os velhos dançavam no terreiro de noite. Adorava cantar e dançar as músicas com a mãe dentro de casa - mas participar das rodas, nem pensar.

Isso começou a mudar na década de 60, quando a morte de velhos jongueiros começou a ameaçar as rodas de jongo. Quebrou-se assim o tabu que impedia as crianças de participar.

"Hoje não acaba mais. Aqui na Serrinha, toda criança gosta do jongo, bate o jongo, canta o jongo. Acho que o jongo vai ficar aqui eternamente."

Rezar para antepassados

Tia Maria não gosta das representações que vê dos tempos da escravidão. Diz que não combinam com os relatos e a vivência de sua família. "Eles botam cada negro feio nos livros. Mentira! Na escravidão tinha cada negro bonito."

"E também não tinha só negro", diz. "O senhor levava as moças bonitas para ficar na rede com ele, com os filhos. Quando elas vinham de lá (da casa grande), vinham grávidas. Aquela criança não ia sair negra. Saía morena, bonita, filha deles lá de dentro. Aí criava ali na senzala. Ou, quando viam que a criança era bonita, se achavam que era cara, levavam para vender", relata.

Ela conta que a avó trabalhava na "casa grande", e com isso falava um português mais correto que outros membros da família - mas viu barbaridades dentro da casa dos senhores de escravos, em uma fazenda em Minas Gerais.

"Ela falava que tinha criança que a sinhá matava. Às vezes a mãe estava engomando as roupas da sinhá, e a criança gritando dentro da mala, morrendo. A sinhá fechava a mala para a criança morrer sufocada. E a mãe vendo aquilo e não podendo falar nada. Era escrava, né? Se falasse ia para o tronco, ou ia morrer também. Uma maldade."

"Ela dizia que o senhor gostava, porque o jongo tem aquela umbigada forte", diz, referindo-se ao "encontro de umbigos" que é um dos movimentos típicos da dança. "O senhor achava que aquela umbigada ia originar mais crianças para ele. Mais escravos."

A mãe de Tia Maria também foi escrava, até os 8 anos.

"Minha mãe era garota quando eles foram libertos, lembrava muito pouco. Mas ela sempre contava que um dia ela teve que lavar a dentadura do sinhô no rio, e de repente a água levou. Ela disse que nunca nadou tanto quanto naquele dia, desesperada para conseguir a ditadura do sinhô!", conta Tia Maria, hoje podendo rir da história porque afinal os dentes foram encontrados.

Para Tia Maria, o jongo ensina às crianças o respeito pelos mais velhos e pela história de seus ancestrais.

"O jongo era a dança dos escravos. Sempre que dançamos, rezamos um Pai Nosso, uma Ave Maria, antes de começar. Quando você bate um jongo, o espírito deles está ali. Rezamos para suas almas", diz.

Recursos da prefeitura

Dyonne Boy, uma das diretoras da Associação Cultural Grupo Jongo da Serrinha, diz que a situação financeira da Casa do Jongo começou a apertar em 2016, quando perderam o patrocínio da Petrobras.

Em 2017, sem conseguir captar mais recursos, pediram ajuda à prefeitura, apresentando um projeto em março.

"Era a nossa única esperança de ter um respiro. Quando tivemos essa resposta negativa, em outubro, vimos que íamos ter que fechar", diz Dyonne. "Nós e muitos outros grupos de cultura popular estamos sem ter como dar continuidade ao nosso trabalho."

De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura (SMC), o programa de fomento direto (ou seja, de investimento da prefeitura em projetos via editais) foi reduzido por conta da crise financeira.

"A nova administração municipal encontrou déficit de R$ 4 bilhões, herdado da gestão anterior. O orçamento de todas as secretarias foi reduzido em 25% logo no início da gestão. E a arrecadação permaneceu em queda ao longo de todo o ano", afirma a secretaria.

A SMC afirma que nunca suspendeu qualquer financiamento à Casa do Jongo e que, no ano passado, destinou R$ 140 mil à ONG, que seria o maior repasse financeiro já feito pela prefeitura à instituição, em comparação com valores de R$ 80 mil a R$ 100 mil repassados entre 2013 e 2016 pela gestão de Eduardo Paes por meio de editais.

Os valores, entretanto, se referem a mecanismos de incentivo diferentes. Os recursos de 2017 foram pagos pela Rede Globo por meio de fomento indireto, ou seja, pela lei de incentivo fiscal que abate parcelas do Imposto Sobre Serviços (ISS) para que empresas repassem o valor a projetos culturais pré-aprovados pela SMC.

Pela mesma via, a casa conseguiu captar R$ 120 mil da Globo neste ano. Dyonne afirma que o valor não é o suficiente para cobrir os cerca de R$ 50 mil de gastos mensais. O último repasse de fomento direto feito pela prefeitura à Casa do Jongo foi em 2016, no valor de R$ 90 mil.

A SMC destaca que disponibilizou R$ 1,5 milhão em três editais lançados no ano passado, um deles com o tema "Chamamento de Matriz Africana", distribuindo o valor de R$ 500 mil por 33 projetos.

"Não é verdade que a SMC e a prefeitura não possuam políticas culturais para as manifestações afro-brasileiras", diz a SMC.

Desde que a Casa do Jongo fechou, a diretora Dyonne Boy conta que o Jongo da Serrinha tem sido procurado por grupos privados e pela Secretaria estadual de Cultura do Rio para conversas sobre possíveis financiamentos. Ela diz que a ONG está correndo atrás de acordos para voltar a funcionar "o mais rápido possível." (Com informações da BBC Brasil).