Na
opinião de Audálio Dantas, os veículos independentes exercem um papel
fundamental no jornalismo atual. “ A mídia alternativa tem uma função parecida
com a que veículos como Opinião, Movimento, entre outros, tinham durante a
ditadura, ainda que estejamos em um período de democracia”, diz. No entanto,
Dantas ressalta que a realidade democrática ainda não é a ideal: “Às vezes
esquecemos que rádios comunitárias são discriminadas descaradamente, por
exemplo. A sociedade tem que dispor de instrumentos para que trate de defender
seus interesses, que é o direito à comunicação”.
Audálio
Dantas, hoje aos 80 anos e membro do Conselho Consultivo do Barão de Itararé,
presidiu o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo durante a ditadura militar e
também foi deputado federal. “Havia uma luta cerrada, pela qual dediquei meio
mandato parlamentar meu, contra a concessão de canais de televisão e rádio a
parlamentares ou seus laranjas. São concessões públicas, de propriedade do
Estado, usadas indevidamente não só por políticos e seus interesses paroquiais,
mas também usadas indevidamente por grandes grupos de comunicação”.
Ricardo
Kotscho, que também exerceu a profissão de jornalista sob a vigilância dos
censores da ditadura militar, afirma: “Se a reportagem está morrendo eu não
sei, mas nós continuamos vivos, porque nos fazemos esta pergunta a mais de 30
anos”. O jornalista destaca a importância da questão do controle da informação
pelos donos de grandes veículos no Brasil, afirmando que “o tema é fundamental
para a democracia no país. No entanto, Kotscho dispara contra a apatia que
aflige as redações nos dias de hoje.
“Apesar
de vivermos em um período democrático, eu acho que o controle da informação é
maior hoje do que no tempo da censura. Quando eu trabalhava em uma grande
redação, durante a ditadura, nós, jovens repórteres, tínhamos plena autonomia
para elaborarmos pautas, escrever e editar. Hoje, não há liberdade de pauta,
nem liberdade para escrever ou editar. Essa é a grande contradição que eu vejo
no jornalismo atualmente”, diz.
Além
de elogiar a carreira de Audálio Dantas e seu livro Tempo de reportagem –
lançado oficialmente durante o debate –, Kotscho destacou que já não vemos
muito mais reportagens como as feitas por Dantas. Ele lembra que a classe
jornalística tem sua parcela de culpa: “Quando os censores saíram das redações,
parece que os jornalistas deixaram de lutar e de enfrentar a situação. Tem que
haver luta nas redações, que não pode se esvaziar”.
O jornalismo após a Internet
Parte
de uma nova geração de jornalistas, Natalia Viana garante que a crise é da
indústria da comunicação e não do jornalismo. “Nunca estive em uma grande
redação, mas ao longo de 12 anos consegui fazer reportagens que tiveram
repercussão e foram consideradas boas por muita gente. Por que isso? Porque o
mercado está em uma crise profunda, em grande parte alavancada pela Internet”,
diz.
De
acordo com ela, vivemos um momento de renovação do jornalismo: “A indústria
está em crise eu não tenho a menor dó dela. Isto possibilidade outras formas de
se fazer jornalismo crítico. A morte da mídia tradicional e dos jornais
impressos não significam a morte do jornalismo, pelo contrário”. Em sua
avaliação, devemos buscar novas formas de fazer, organizar, experimentar, financiar
e difundir a reportagem. “É isso que fazemos na Agência Pública e que vem
pipocando no Brasil e no mundo”, diz.
O
problema, para ela, é que os grandes veículos não querem abrir mão de seu
poder, mas o caso Pinheirinho, diz, é um exemplo de como o cenário mudou. “A
mídia alternativa vem sendo referência do que é informação, como no caso do
Pinheirinho. O caso marcou um momento importante para o jornalismo. Já houveram
muitas desocupações violentas como a do Pinheirinho, mas isso nunca havia
chegado no Jornal Nacional e nas capas do Estadão e da Folha. A cobertura
consistente dos veículos independentes e de cidadãos que estavam no local
forçou que o assunto não fosse ignorado”.
Democratização da comunicação
Audálio
Dantas aproveitou a ocasião para falar sobre a importância da criação de um
novo marco regulatório para as comunicações. Ele apontou a grande concentração
dos meios de comunicação como um dos maiores problemas para a democracia
brasileira. “Sempre houve uma oposição muito grande dos donos dos meios de
comunicação em relação a este tema, que é um dos principais problemas que
cerceia a liberdade de expressão no país. Essa concentração provoca a defesa de
interesses de grupos e não do interesse público”, diz.
O
jornalista também critica a apropriação da bandeira da liberdade expressão
pelos grandes conglomerados do setor: “A liberdade de imprensa é um escudo que
os empresários usam toda vez que se ameaça o enorme poder dos grandes veículos.
Na verdade, deviam chamar liberdade de empresa”.
Kotscho
endossou a necessidade de democratizar a comunicação, ressaltando a
partidarização da grande mídia brasileira. “A liberdade de imprensa é um
negócio para meia dúzia de famílias que controlam veículos de comunicação e,
pior que isso, estes meios transformaram-se em verdadeiros partidos”.
Com informações do Portal Vermelho